P.O.V Sarah

Reativar o castelo não foi tão difícil quanto pensei que seria, apesar da amnesia, cada detalhe daquele lugar me parecia familiar. E voltar para lá na intenção de garantir a segurança de Chuck fazia eu me sentir útil novamente. A preocupação de manter Chuck seguro me rondava a cada minuto, e aquilo me deixava cada vez mais inquieta. Tudo estava em seu lugar ali, menos é claro, a presença de mais dois agentes: Carina e Parker, que me lançavam olhares desconfiados a cada passo meu e de Chuck. Eu não sei como fingi um romance por tanto tempo no passado, mas tenho que descobrir logo.

“Tudo bem com você?”— A voz de Carina soou baixa em meus ouvidos, estávamos na sala dos monitores. Eu observava as imagens de segurança: a casa em Eco Park e as sessões da Compre Mais.

“Sim, só estou atenta a qualquer movimentação estranha”— respondi tentando parecer segura do que estava falando.

“Você deu o relógio pra ele?”

“Sim, ele desconfiou um pouco, mas acabou cedendo.”

“Ele sempre cede com você, não é mesmo?”— Carina sorriu e não pude deixar de pensar em como Chuck tem sido paciente com essa situação toda.

“Sim, ele sempre cede”— Respondi, observando mais de perto o monitor. Chuck conversava alegremente com uma das clientes, ela entregou o celular para ele checar alguma coisa. Um flash passou rapidamente por mim, eu estava parada no balcão enquanto Chuck concertava algo em meu celular. Foi tão rápido que Carina sequer se deu conta de que minha expressão mudou. A moça sorriu bastante com algo que Chuck falou, e me perguntei o que poderia ser tão engraçado?

“Sarah? Ela não parece perigosa”— Carina observou para logo depois me encarar novamente: “Bem, pelo menos não no quesito assassino”— Ela deu um breve sorriso enquanto me encarava.

“É sempre bom manter a atenção”— Disse enquanto ainda observava a cena. Carina explodiu em uma gargalhada:

“O que você viu nesse cara?”

Virei o rosto para ela, um pouco confusa: “Do que estamos falando afinal?”— Antes que ela pudesse me responder, Parker apareceu carregando uma metralhadora:

“Sinto que vou me divertir muito por aqui”— Ele falou olhando para a arma e depois para mim: “Tivemos bons momentos aqui não é mesmo?”— Ele ensaiou um sorriso mas desistiu quando eu não dei atenção ao que ele falava. Acompanhei a cliente sair finalmente da Compre Mais, e observei Chuck. Ele parecia saber que estava sendo filmado e onde estava a câmera, olhou na direção do monitor e deu um sorriso fraco, suspirei pesadamente:

“Alguma novidade? Temos pistas do Carter?” — Perguntei para Parker tentando parecer o mais profissional possível, não estava com paciência para as cantadas dele. Ele colocou a metralhadora sobre a mesa e foi em um dos computadores, abriu alguns dados e informou:

“Ele foi visto no estacionamento da Compre Mais tem dois dias, não sabemos se ele viu ou não o Chuck. Ao que tudo indica, ele está fazendo buscas sutis, talvez observando cada passo para saber a hora certa de pegá-lo”.

“Talvez fosse melhor que eu acompanhasse Chuck 24 horas por dia então, posso conseguir um disfarce na Compre Mais”— Falei enquanto observava Parker e Carina se encarando.

“Não precisa, já temos um agente na loja”— Carina concluiu.

“Quem?”— Perguntei ainda sem entender, voltando os olhos para os monitores mais uma vez, tem um agente na loja?

“Eu”— A voz grave e firme me fez virar para a escadaria do castelo, um homem descia as escadas carregando uma pistola e sorrindo. John Casey. Sorri ao vê-lo, pelo menos teria alguém para me ajudar a suportar Parker e Carina me dando ordens.

“Você não deveria está com a Verbanski?”— Perguntei tentando lembrar mais detalhes da história.

“Tivemos bons momentos, mas fiquei sabendo que Bartowski está com problemas como sempre, essa ainda é minha missão.” – Casey olhou para mim e suspirou resignado, percebi que poderia ter nele um importante aliado.

“A general já passou todas as informações necessárias sobre o caso?”— Carina perguntou a Casey enquanto se sentava ao lado de Parker.

“Sim, já sei de tudo. Esse tal de Carter escapou da última vez, mas não vai acontecer de novo.”— Casey me encarou:

“Soube que sua memória está de volta! Fico contente por isso, você não merecia perder aquelas memórias”— Senti verdade nas palavras de Casey, mais tarde teria de explicar a ele toda a situação, pelo que Chuck me contou, ele fazia parte da equipe e eu poderia confiar nele. Ao mesmo tempo, as palavras dele só me faziam ter mais vontade de saber quantas memórias tão boas eu estou perdendo.

A manhã passou lentamente, eu encarava cada foto, cada documento, cada detalhe que pudesse nos dar pistas sobre Carter e seu esquema de contrabando de armas. Ao que parece, depois da morte de Quinn, ele passou um tempo recluso antes de reassumir o negócio. Quinn conseguiu enviar os dados sobre Chuck e sobre o intersect para um banco de dados da empresa. Claramente o intersect era uma arma perigosa demais para existir, mas mesmo com tantos esforços para destruí-la, ela acabava voltando a nos perseguir.

“Walker?”— Casey sussurrou atrás de mim: “Você não lembrou, não é mesmo?” Tirei os olhos dos relatórios e o encarei:

“Não. Mas não vou deixar que levem Chuck para um abrigo, ele já passou por coisas demais para ser enterrado em algum esconderijo da CIA. Seria muito injusto com ele”.— Falei o mais rápido que pude, observando se Carina ou Parker não nos observavam. Eles conversavam sobre algo na sala das armas. Casey suspirou e sentou-se ao meu lado, se curvando para que pudéssemos conversar sem ser ouvidos.

“Então estamos de volta, como no início. Você finge ser a namorada apaixonada e eu finjo ser o vendedor mal encarado.”

“Bem, acho que a parte de você ser mal encarado não poderia ser chamada de fingimento”— Tentei sorrir.

“Como se a parte de você sendo a namorada apaixonada fosse alguma mentira”— Casey me encarou e apertou os olhos. Baixei a cabeça novamente para os relatórios.

“Desta vez, não estou apaixonada”— Falei sem o encarar.

“Não me faça rir Walker, você sempre acaba apaixonada. Só espero que desta vez não seja por ele”— Casey fez um gesto com a cabeça, na direção de Parker.

“Sem chance”— Eu falei, olhando na mesma direção. Casey levantou e foi em direção às escadas.

“Preciso retomar meu emprego”— Ele parou por um instante: “E só pra reforçar, eu ainda não estou disponível.” Observe enquanto Casey subia as escadas e saía. Sei que ele já me disse isso uma vez, tive um pequeno flash da cena. Sorri com a frase e com o aviso escondido: não estou disponível e não gosto de Parker, portanto, se apaixone pelo Chuck.