Meu relacionamento com Tris, na verdade, era uma linha tênue que separava o amor da aversão. Após aquele mês cheio de idas e vindas tudo finalmente parecia ter se acalmado. As coisas estavam tranquilas, nós estávamos tranquilos e as coisas estavam perfeitas em seus devidos lugares. Peter não mais procurara a loira e nem sequer dirigiu a palavra a mim, provavelmente, temendo uma nova surra.

Eu havia amolecido, admito, principalmente após ver Tris ferida no corredor. Peter lhe agredira de forma cruel e isso eu jamais perdoaria. No dia do ocorrido, pensei em procura-la e dizer que tudo o que tinha acontecido seria esquecido, mas eu estava magoado com o ouvi e já não tinha certeza se seria capaz de fingir que suas palavras não me atingiram.

Com toda a certeza, eu teria mantido distancia dela se não fosse a noite no Moondust. Tris e todos os nossos amigos conseguiram quebrar minhas camadas de proteção e acabei desistindo de ficar longe, afinal, eu a queria e isso era fato. Perdoei-a pelos deslizes e seguimos como um casal de amigos que se beijam. Porém, eu sabia que se nossa tentativa de relacionamento não desse certo, nunca mais conseguiríamos ser amigos novamente. Não como antigamente.

Terminei de ajeitar-me diante do espelho do banheiro e segui para fora da casa, apertando suavemente a chave do carro entre os dedos. Atravessei a cidade sem muita pressa, estava adiantado e tinha certeza que Tris ainda demoraria um pouco para se arrumar. Ao parar diante da casa, esperei dentro do carro por cerca de vinte minutos. O som estava ligado num volume mais baixo numa música lenta, o que contribuiu para me deixar tranquilo.

Ao avistar a loira saindo pela porta da frente, senti o sangue correr mais rápido em minhas veias. Tris estava linda, como sempre. Veio caminhando até o carro com um sorriso meigo no canto dos lábios, entrou e passou o cinto ao redor do corpo.

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Seu perfume, tão conhecido, preencheu todo o ar dentro do carro e a sensação de sentir seu calor tão perto de mim deixava-me em êxtase. Virei o rosto para ela, observando-a minuciosamente, e reprimi um sorriso que me quis escapar. Tris percebeu, vincou suavemente as sobrancelhas e questionou-me.

– Você é linda. – Olhei-a dentro dos olhos e deixei a cabeça tombar o suficiente para que nossos lábios se tocassem.

Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito

Nem que seja só pra te levar pra casa

Depois de um dia normal

Olhar teus olhos de promessas fáceis

E te beijar a boca de um jeito que te faça rir

(Que te faça rir)

– Obrigada – Sussurrou ao nos afastarmos. Estava um pouco rubra nas bochechas e aquilo me agravada. Deixá-la envergonhada era ótimo.

Tris ainda não sabia para onde iríamos, era surpresa. O percurso demorou menos de vinte minutos e então estávamos estacionados na entrada do parque de municipal da cidade. Apesar de já ser noite, havia pessoas caminhando e casais sentados em bancos. A noite agradável proporcionou um ótimo clima para dar passeios.

Levei Tris até o lago do parque, onde aluguei um barco para darmos um passeio. Assim que entrei, estendi a mão para que ela se apoiasse e não caísse dentro da água, mas a garota me olhou receosa e recuou.

– O que foi, Tris? Vem, eu ajudo você.

Hoje eu preciso te abraçar

Sentir teu cheiro de roupa limpa

Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz

Mantive a mão estendida e só depois de alguns segundos ela aceitou a ajuda para entrar. Nos sentamos e, com os remos, movi-nos pela água escura do lago. O céu estava bonito, livre de nuvens e bastante estrelado. A lua crescente brilhava fraca, mas não deixava de ser bela.

– Nunca vim aqui – ela comentou, olhando em volta – pelo menos, não durante a noite.

Dei um meio sorriso, agitando os remos para finalmente pararmos no meio do lago. Com um suspiro, ajeitei o corpo podendo então ficar mais relaxado. Estiquei a mão e toquei a bochecha da loira, fazendo uma leve carícia. Tris em olhou e repousou sua mão sobre a minha, acariciando as costas desta.

– Por que me trouxe aqui?

– Porque eu sempre gostei de vir aqui a noite para pensar. Sempre pegava um barco e ficava horas aqui, olhando o céu. Às vezes considero esse lugar o meu esconderijo.

Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua

Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria

Em estar vivo

Notei a discreta mudança em seus olhos. De repente, pareciam mais brilhantes e mais intensos. Deixei que Tris se aproximasse e tocasse seu nariz no meu, roçando seus lábios em minha pele de forma lenta e carinhosa.

– Tobias?

– Hm? – Fechei os olhos, apreciando o contato que deixava minha pele quente.

– Não quero te perder. Nunca.

As palavras arrepiaram minha pele e senti os cabelos da nuca se eriçarem com força. Estremeci de leve e guiei a mão até a nuca da loira, puxando-a para um beijo que começou lento, mas acabou se tornando muito intenso. Me perdi na explosão de fagulhas dentro do peito e quando me dei conta, já tinha puxado Tris para meu colo e sua jaqueta jazia largada no chão do barco.

Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar

Me dizendo que eu sou o causador da tua insônia

Que eu faço tudo errado sempre, sempre

Tudo estava muito quente e por mais que a brisa estivesse fresca, sentia o corpo pegar fogo de dentro para fora. Tris apertava meus ombros com força e mantinha o beijo urgente, sem separar-se nem um milímetro de mim. Deixei as mãos em sua cintura, mas acabei empurrando os dedos por baixo do pano fino da camisa vermelha que usava, sentindo sua pele macia esquentar-me ainda mais.

Pressionei os dedos naquela região e fui subindo-os para as costas delicadas da loira. Já estava no fecho do sutiã quando Tris afastou seus lábios, arfando, e encostou a testa na minha.

Hoje preciso de você

Com qualquer humor, com qualquer sorriso

Hoje só tua presença

Vai me deixar feliz

Só hoje

– Eu... por favor, vamos mais devagar. – As palavras saíram entrecortadas.

Abri os olhos e fitei seu rosto, demorando-me mais em observar os lábios inchados e róseos. Assenti com calma, retirando as mãos de dentro de sua camisa.

– Me desculpa, de verdade. – Pude sentir que ela havia esfriado totalmente e não consegui imaginar o motivo. Acabei ficando tenso também e ajudei-a se sentar de frente para mim.

– Shh, não tem que pedir desculpas. – Segurei seu queixo e a fiz me olhar. – Está tudo bem. Nós vamos levar na velocidade em que você achar melhor, está bem?

Tris assentiu e deu um sorriso leve, parecendo menos assustada. Segurou minhas mãos e levou-as para seu rosto. Acariciei suas bochechas com os polegares e depositei um beijo demorado em sua testa, sem deixar de fazer os carinhos.

Hoje preciso de você

Com qualquer humor, com qualquer sorriso!

Hoje só tua presença

Vai me deixar feliz

Só hoje

Só hoje

– E você não vai me perder. Nunca. – Murmurei antes de puxá-la novamente para meu colo, mas dessa vez, para mantê-la num abraço carinhoso e protetor de onde eu não queria que ela saísse.