Carry On Wayward Son escrita por Bella P


Capítulo 9
Capítulo 8




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Havia algo em Benjamin Campbell que estava intrigando Andrômeda.

Deste o momento em que o rapaz desceu as escadas acompanhando Lily e juntou-se a Rose em um dos sofás da sala de estar dos Weasley, que Andrômeda não conseguia parar de observá-lo.

Molly explicara que o menino era amigo de James, Lily e Rose em Hogwarts. Que ele foi educado sobre magia em casa antes de ir para a escola terminar os seus estudos e que estava na Grifinória. Entretanto, Andrômeda sentia que havia algo mais nesta história.

– Então... - ela se aproximou da dupla que conversava enquanto tomavam uma caneca de chocolate quente com biscoitos. Atrás de si Andrômeda podia ouvir Arthur e Molly comandando a distribuição dos presentes entre os netos. - Devo dizer que estou curiosa sobre você. É o primeiro amigo que eu vejo as crianças fazerem fora do círculo familiar. Geralmente eles têm colegas de escola, não amigos que trazem para a casa da avó no Natal.

– Tia Andrômeda! - Rose soltou chocada. Essa era a sua tia Andrômeda: mesmo que tenha contrariado toda a sua família com as suas escolhas, ainda sim era uma Black.

– Eu conheço os seus pais? - Andrômeda perguntou com as sobrancelhas franzidas.

– Acho que não. Eles são trouxas. - Benjamin respondeu calmamente. Não era estúpido, sabia muito bem quem era essa mulher por causa das histórias que a sua avó Narcisa lhe contou e do alerta que o auror Weasley lhe dera assim que chegou n'A Toca. Era a sua tia-avó que com certeza veria a familiaridade entre Draco e ele se Ben desse brecha para isto.

– Benjamin! - Molly o chamou, estendendo para Ben um embrulho em papel pardo. - Presente para você de... - ela revirou o embrulho, o mirando com desprezo, com certeza considerando o papel pardo uma péssima escolha para se embalar um presente. - Dean Winchester? - Benjamin praticamente voou para fora do sofá e arrancou o embrulho das mãos de uma Molly surpresa.

Não querendo desmerecer o restante da sua família, mas os presentes de Dean sempre eram os melhores. Drew concordava com ele nisto.

Rasgando o papel como uma criança excitada, Ben encontrou sob este uma caixa onde havia um bilhete colado na tampa.

"Resolvi começar uma nova tradição." dizia o bilhete. Curto e grosso do jeito que Dean sempre foi. "E como Sam e Gabe estão enrolando em me dar sobrinhos, achei justo passar o legado Winchester para você. Feliz Natal garoto. Dean."

O coração de Benjamin veio à boca, porque aquilo não podia ser o que ele estava pensando que era. Mas era, viu com olhos largos quando retirou a tampa da caixa.

O diário de caçada de John Winchester.

Caçadores costumavam ter diários para registrarem as suas caças. Mas o de John não tinha somente as notas dos trabalhos dele, mas também as anotações de Dean e Sam.

Coisas sobre demônios, sobre anjos, Apocalipse, coisas que somente os irmãos Winchester viveram. Aquilo era uma relíquia. Benjamin o considerava a bíblia da caçada. Andrew iria morrer de inveja.

– Um livro? - Rose disse incrédula. - Toda essa excitação por causa de um livro? - e quando foi estender a mão para a caixa para tocar na capa de couro, Ben fechou a mesma com um estalo da tampa.

O diário era somente para manuseio e olhos da família e Benjamin já se sentia possessivo em relação à ele quando não lhe pertencia. Agora que lhe pertencia, aí mesmo que ninguém iria por as mãos sujas de biscoito naquele caderno.

– É uma relíquia de família. - Ben explicou ao ver a expressão chocada de Rose por causa da sua atitude.

– E você não vai compartilhar essa relíquia? - Rose provocou.

– Não. - Ben rebateu seco e Rose percebeu pelo tom de voz dele que era hora de encerrar o assunto por ali. Benjamin havia voltado para o círculo de amigos deles há pouco tempo e não estava disposta a perdê-lo de novo. Não sabia se conseguiria viver mais semanas com James a seguindo para cima e para baixo, como um cachorro abandonado, se lamuriando e se perguntando o que havia de errado com Ben.

A reação de Benjamin prontamente foi esquecida em favor dos presentes que Molly voltara a distribuir. Lily soltou um grito histérico ao abrir um tubo de papelão e encontrar um poster de Oliver Wood autografado e com dedicatória.

Rose abracou a avó ao ganhar dela o famoso suéter Weasley. James abriu com avidez a caixa contendo um kit de Quadribol e manutenção de vassouras de última linha. Molly empurrou na direção de Ben uma grande caixa a qual ele abriu com curiosidade, encontrando dentro dela vários presentes.

De sua tia Daphne, Benjamin ganhou uma adaga a qual ele nem tirou da caixa para que os outros não a vissem e começassem a fazer perguntas. De seu pai veio uma camisa nova do AC/DC para compensar a outra que tinha perdido durante a caçada. Sam, prático como sempre, mandara livros de pesquisa. Astoria mandou uma caixa de doces.

Mas foi quando chegou ao fundo da caixa que Benjamin teve uma surpresa. Porque lá havia uma pilha de livros com o título: Sobrenatural.

Benjamin grunhiu e soltou da capa do primeiro livro o post-it colado nesta.

"Garanto que esta leitura será muito mais interessante do que o tedioso diário do Winchester pai. Beijinhos, Gabriel."

Benjamin queria se socar.

A saga de livros Sobrenatural era uma coisa da qual toda a família passava longe. Sam e Dean porque não queriam reviver os traumas. Daphne, Astoria e Draco porque não queriam invadir a privacidade dos primos. Drew e Ben porque sabiam que os livros descreviam tudo o que tinha acontecido com Sam e Dean. Tudo mesmo, nos mínimos detalhes, e isto incluía os seus breves casos amorosos.

Existiam coisas sobre os irmãos Winchester que Benjamin realmente não queria saber. E ele iria matar Gabriel por isto.

– Ei! Eu conheço estes livros! Lily, olha só o que o Ben ganhou! A saga Sobrenatural. - Rose chamou e Lily saiu de onde estava e foi até eles.

– Jura? Você e fã também? - Benjamin mirou Lily chocado.

– Como assim fã? Vocês leem esta porcaria? - perguntou às duas meninas.

– Não é porcaria. É um clássico. - Lily defendeu, para o horror de Ben.

– Lily começou com o vício e depois me mostrou porque havia monstros no livro que não deveriam ser de conhecimento dos trouxas. Não estão nem relatados nos folclores e lendas trouxas, só em bruxas. Então achamos que o autor fosse um bruxo, mas nunca conseguimos contato com ele. E o vício ficou. O meu favorito é o Dean.

– Não! - Lily protestou. - O Sam é muito melhor.

– Eu ainda acho o Castiel bem interessante... Para um anjo. - Andrômeda intrometeu-se na conversa.

– Quem é Castiel? - Lily e Rose perguntaram em uníssono.

– Vocês não leram os manuscritos não publicados de Carver Edlund? Estão no blog oficial da saga. Meninas, eu não lhes ensinei nada? - e as três começaram uma discussão acalorada sobre Sobrenatural, com Andrômeda contando a Lily e Rose o que lera nos manuscritos.

Ben quis que um buraco se abrisse no chão e o engolisse. Aquilo era a história da sua família, por favor.

– Bem crianças. - Molly chamou quando terminou de entregar os presentes. - Quem vai me ajudar este ano na ceia? - todos os jovens Weasley e Potter grunhiram. Na noite anterior havia nevado e eles já tinham se programado para uma guerra de bolas de neve para aquela manhã.

– Eu ajudo. - Andrômeda se ofereceu, vendo estampado no rosto de todos os jovens os seus planos para aquele dia.

– Eu gostaria de uma mão a mais que não fosse de Andrômeda. - Molly mirou os netos com ferocidade enquanto eles se entreolhavam, decidindo quem seria o pobre sacrificado naquele ano. Ajudar a avó com os preparativos da ceia equivalia a ficar o dia inteiro na cozinha e nenhum deles queria isto.

– Eu posso... - Ben abriu a boca para se oferecer, não era um chef francês mas sabia se virar, mas Molly prontamente o cortou.

– Você nem se atreva rapaz, pois você é visita. Seria um desaforo você fazer algo que é responsabilidade dos meus netos.

No fim, Lily e Victorie suspiraram derrotadas e se ofereceram para ajudar.

– Venha! - James puxou Ben pelo braço. - Guerra de bolas de neve em cinco minutos. - e subiu as escadas correndo, levitando os seus presentes atrás de si, sendo imitado por Benjamin.

Em minutos ambos os garotos chegaram ao quarto que dividiam e começaram a trocar os seus pijamas por roupas de inverno.

– Cara! Isso é uma tatuagem? - James apontou para o desenho no peito de Benjamin, bem sobre o coração dele. - Seus pais deixaram você fazer uma tatuagem?

Se deixaram? Quando Ben fez quinze anos Astoria o levou ao primeiro estúdio que encontrou e mandou o tatuador desenhar o sigilo contra possessão onde Benjamin escolhesse. Meses atrás Draco fizera o mesmo com Drew.

– Seus pais não?

– Mamãe me esfolaria se eu sequer considerasse. - Ben riu e jogou a camisa do pijama sobre a cama, virando-se para pegar da bolsa a camisa de manga que iria usar.

– Pelas barbas de Merlin cara! O que foi isso aí?

Ben sabia do que James falava e retesou os ombros.

Nas suas costas havia uma enorme cicatriz que começava no ombro direito e ia até dois dedos acima do quadril esquerdo. Lembrança de um certo demônio que não gostara nada de ter perdido a alma de Astoria Malfoy e resolveu caçar a família dela com afinco. Mas acabou dando-se mal ao encontrar a fúria dos irmãos Winchester que vieram apoiados, literalmente, pelos seus anjos da guarda.

Astoria havia sido ressuscitada pelo Céu. Portanto, a alma dela pertencia a eles agora e Castiel fez questão de lembrar ao demônio disto de maneira nada sutil. Só que antes de ser eliminado a criatura fez o favor de deixar como lembrança em Benjamin a cicatriz que ele tinha agora

Ela já havia sido maior. Na verdade, originalmente, ela ia do ombro até a lateral de sua coxa esquerda. Mas como Benjamin cresceu, a marca mudou de lugar, ganhando destaque no meio de suas costas.

– Acidente de infância. - foi a única coisa que Benjamin respondeu para James antes de vestir apressadamente a sua camisa, fazendo o mesmo em seguida com as calças, botas e casaco. - Você falou cinco minutos e ainda não te vi pronto. - Benjamin apontou para James que ainda estava parado no meio do quarto com uma expressão embasbacada. - Quando o seu cérebro resolver ligar desça, estou te esperando lá em baixo.

E partiu antes que o amigo pudesse dizer alguma coisa ou continuasse o olhando daquela maneira, causando um frio gostoso na boca do estômago de Benjamin.

oOo

Os Weasley quando davam festas com certeza não precisavam convidar ninguém mais do que os parentes mais próximos, porque esses somente já enchiam a casa. E entre ruivos, morenos e duas loiras (Fleur e Victorie), Benjamin já não sabia mais quem era quem. E os copos de uísque de fogo que James sorrateiramente colocou em sua mão não o ajudava a ser mais claro em sua diferenciação.

Assim como não ajudaram Ben a escapar de Andrômeda que tinha o encurralado em um canto da sala, insistindo que ele lhe era familiar.

– A sua tia é bruxa. Estudou em Hogwarts? - veio a nonagésima pergunta dela e se Ben não soubesse que socar a cara de Andrômeda deixaria a festa com um clima desagradável, já o teria feito.

– Beaubaxton.

– Hum, e eu realmente não conheço os seus pais?

– Meus pais são americanos, acho que a senhora não os conheceria.

– Mas a sua tia estudou na França..

– Minha família por parte de mãe e de lá. Minha tia e minha mãe nasceram na França. - não era exatamente uma mentira. O seu avô materno foi um ativista contra Voldemort nas duas guerras. Na primeira ele mandou a esposa grávida da primeira filha deles se refugiar na França para evitar retaliações. Quando a guerra terminou ele mesmo foi para o país e só voltaram quando Astoria tinha um ano.

Na segunda guerra ele morreu pela causa.

– Ainda sim, tenho certeza de que eu o conheço de algum lugar. - Andrômeda sabia que estava deixando Benjamin desconfortável com tantas perguntas, mas ele poderia ser a resposta de uma dúvida que a intrigava há anos.

Após o fim da segunda guerra, Narcisa e ela reataram os laços fraternos. Esteve ao lado da irmã durante o seu julgamento, do marido Lucius e do filho Draco. Assim como esteve ao lado dela quando a nora Astoria morreu junto com os filhos e Draco tornou-se fugitivo da justiça por ser o principal suspeito da morte da família. E Narcisa, por todo esse tempo, não derramou uma lágrima pelos entes queridos. Nem mesmo durante o enterro deles.

Andrômeda havia achado isso estranho. Sabia que a irmã havia ido implorar ajuda de Snape para livrar Draco da missão que resultou na morte de Dumbledore. Ela adorava aquele filho, com certeza adorava os netos, e mesmo assim não pareceu nem um pouco abalada com a perda. Assim como não parecia até hoje.

Narcisa agia como se Draco e a sua família não tivessem morrido, apenas se mudado para outra cidade.

E agora aparecia este garoto que era extremamente parecido com Draco quando este era adolescente.

– Acho realmente que não. Agora se a senhora me der licença, James está me chamando. - era mentira, é claro. James estava do outro lado da sala conversando algo com o tio que Benjamin ouviu dizer ser o dono das Gemialidades Weasley, que manteve o nome mesmo com a morte de um dos sócios, mas precisava de qualquer desculpa para se livrar da intrometida da Andrômeda.

Benjamin largou o copo de uísque sobre a primeira mesa que encontrou e serpenteando entre convidados, tomou o caminho da escada.

A Toca realmente fazia jus ao nome que tinha, pois era um labirinto de escadas e aposentos que ao invés de sumir terra adentro ia em direção ao céu como uma torre torta que obviamente só era mantida de pé por magia.

Com um suspiro, Benjamin sentou em um dos patamares da escada entre o terceiro e o quarto andar, onde havia uma pequena janela que dava vista para o vilarejo mais próximo onde luzes de Natal piscavam nas outras casas, iluminando aquela noite fria.

Apoiou a testa contra o vidro, imaginando como deveria estar a sua família. Geralmente no Natal eles iam para os EUA comemorar a data com a sua avó Sophia e os Winchester. Astoria e Sophia se encarregavam de decorar o bunker dos Homens das Cartas enquanto Draco, Drew e Billy, o novo marido de Sophia, iam procurar comida para a ceia e voltavam com uma mistura caótica de fast food, massas e comida chinesa.

A árvore de Natal era um galho seco onde eles colavam algodão e enfeitavam com luzes, purpurina, bolas de vidro coloridas e bibelôs e todos os anos Castiel e Gabriel brigavam sobre qual anjo teria a honra de ficar no lugar de destaque no topo da árvore.

Gabriel sempre vencia, é claro, sendo o anjo da anunciação e tudo mais e Castiel ficava com um bico enorme por boa parte da festa até Dean sussurrar algo na orelha dele que o fazia corar e abrir um sorriso. Algo que Benjamin suspeitava não ser nada angelical.

Gabriel costumava se vestir como uma duende de Papai Noel diretamente saída de um filme pornô, para a graça de todos e horror de Sam, e fazia questão de reencenar o dia da anunciação à Virgem Maria de uma maneira que Benjamin tinha certeza não estava na Bíblia. Não com aquele tanto de palavrões e gestos obscenos.

A meia noite eles trocavam presentes, coisas simples mas de grande utilidade para o dia a dia da caçada. Afinal, eles eram uma família especial.

E então Dean procedia em embaraçar Benjamin com perguntas sobre os seus relacionamentos, se tinha alguma garota em vista, até o dia em que Ben contou para a família que era gay e aí Dean somente piscou e continuou a embaraçá-lo, apenas mudando as perguntas sobre meninas para meninos.

Sam mandava Dean calar a boca e parar de envergonhar Benjamin, Dean respondia com uma ofensa e então a famosa discussão entre os irmãos Winchester começava. Gabriel conjurava um saco de pipoca para todos e sentava no sofá dividindo a sua torcida entre Dean e Sam. Castiel apenas rolava os olhos e ia ajudar Draco, Astoria e Sophia a recolherem os pratos e jogar fora o lixo. Billy já ressonava no sofá e Ben e Drew ignoravam os primos em favor dos seus presentes.

Isto era algo que acontecia todos os anos, mas que Benjamin não trocaria por nada, como ele fez neste ano, e agora sentia-se melancolicamente saudoso.

– Ei. - James sentou-se ao lado de Ben. - Sumiu da festa por quê?

– A sua tia Andrômeda estava me dando nos nervos com perguntas.

– É, eu sei. Me desculpe. Aparentemente você a lembra um sobrinho dela que morreu: Draco Malfoy.

– Quem? - Benjamin se fez de desentendido e James deu à ele um sorriso animado.

– Cara, a história dos Malfoy e famosa no mundo mágico. Não a parte em que eles foram Comensais da Morte, isto é notícia antiga, mas sim que a Mansão Malfoy, onde Draco cumpria prisão domiciliar, explodiu há uns quinze anos matando a esposa dele Astoria e os dois filhos pequenos: Scorpius e Nico. Draco foi o principal suspeito do crime, já que a explosão foi provocada, não acidental, mas morreu dez anos atrás em uma perseguição. Todos ficaram chocados, porque muitos que conheceram Draco Malfoy diziam que ele era um covarde.

Benjamin mordeu a bochecha para se impedir de dizer alguma coisa. O seu pai era o homem mais corajoso que conhecia e não admitia que ninguém dissesse o contrário, mesmo que este alguém fosse James.

– Diziam que nunca poderiam imaginar que ele fosse capaz de tamanha atrocidade. - Ben desviou o olhar do rosto de James e virou na direção da janela.

Seu pai não era um anjo, embora nem mesmo os anjos de verdade fossem totalmente puros e bons, mas também não era esse demônio que todos pintavam. Realmente não podia deixar de concordar com Draco quando ele dizia que de todas as pessoas que conheceu no mundo mágico, somente Astoria havia visto o verdadeiro Draco Malfoy. Por isso que se apaixonou por ela.

– E eu já vi umas fotos do quando Malfoy era jovem e vocês realmente se parecem. Mas isso com certeza é pura coincidência. Então peço desculpas pela minha tia Andrômeda.

Benjamin apenas deu de ombros. Não era apenas Andrômeda o amolando que o deixou de mau humor. Embora estivesse se divertindo na casa dos Weasley, ainda sim sentia falta da sua família. E a pressão e o estresse do caso em que estava trabalhando, a falta de pistas e o acúmulo de vítimas, não estava ajudando também.

– Vamos, desfaça essa cara amarrada. É Natal! Jesus nasceu. - James bateu de leve com o ombro no ombro de Ben que riu.

Tecnicamente, pelos relatos de Gabriel, o Natal não era exatamente naquela data. Mas agora que a moda tinha pegado não havia mais como mudar.

– Percebo que ainda não perdi o jeito de te fazer rir.

– Claro que não! - Ben rebateu divertido, virando a cabeça para mirar James. - A sua cara de palhaço já... - e engoliu as suas palavras ao ver o quão perto os olhos castanhos de James estavam dos seus cinzentos. - James? - chamou quando viu as íris escuras do amigo irem dos seus olhos para a sua boca e voltarem.

– Hum? - James murmurou distraído.

– O que você esta... - Ben começou a dizer mas foi calado quando lábios úmidos e com gosto de uísque de fogo pousaram sobre os seus.

Benjamin tentou se afastar em um gesto instintivo, mas então os dedos calejados de James roçaram a sua nuca, subindo por ela até fecharem-se nos fios do seu cabelo, o mantendo no lugar. Ben grunhiu quando a boca de James pressionou com mais força contra a sua e a língua dele pediu passagem.

Com isto, toda a racionalidade de Benjamin fugiu pela janela atrás dele e ele simplesmente relaxou e entregou-se ao beijo, colando mais o seu corpo no corpo firme de James, passando as mãos pelos cabelos negros do amigo, os bagunçando ainda mais. Deixando-se puxar por James até sentar no colo do outro grifinório.

– James... - Benjamin gemeu o nome do amigo depois de um minuto com este explorando a sua boca como um novo território a ser descoberto. James somente o apertou ainda mais contra o seu corpo, descendo as mãos do cabelo de Ben para a nuca. Da nuca para o ombro, dos ombros para as costas. Costas até os quadris e então fechou os dedos nas coxas firmes, as apertando até deixar marcas na pele sob a calça jeans que Ben usava.

Obviamente que um beijo acalorado causava reações no corpo. Ainda mais no corpo de dois adolescentes. Reações essas que eram confinadas de maneira incomoda por suas calças. De maneira instintiva James tentou aliviar a pressão ao esfregar a sua pélvis contra a de Benjamin e foi somente quando as ereções dos dois garotos roçaram, enviando um choque de prazer pelos seus corpos, que James pareceu acordar do transe em que estava, tirando o amigo de seu colo em um gesto brusco e o arremessando longe.

Benjamin bateu com as costas na parede atrás de si, caindo de maneira desajeitada sobre o degrau, e mirou com fúria James que tinha uma expressão horrorizada no rosto.

– Mas que merda Potter! - rosnou. Aquilo tinha sido um senhor balde de água fria na sua líbido.

– Ben... Eu... Eu... - James gaguejou aterrorizado. O que diabos ele tinha feito?

Benjamin mirou o outro jovem intensamente, vendo no rosto dele a expressão mais que familiar de negação.

– Você não sabe o que te deu, é isso? - soltou seco.

– Isso! - James disse com alívio. Ainda bem que Benjamin entendia.

– Claro. - Ben grunhiu com deboche e levantou-se do degrau lentamente, ajeitando de maneira displicente as suas roupas. A sua ereção já tinha perdido o entusiasmo fazia tempo e a calça voltara a ser confortável.

Com um girar sobre os calcanhares, Benjamin começou a subir as escadas.

– Aonde vai? - James chamou ao ver o amigo se afastar. - A festa é na outra direção!

– Perdi o espírito natalino. - Ben rebateu sem nem ao menos lançar um olhar para James e seguiu caminho até o último andar da casa onde ficava o quarto em que estava hospedado.

James retesou os ombros ao ouvir a porta bater ao longe e escondeu o rosto entre as mãos. O que, afinal, tinha acontecido? O que tinha dado nele? Em que momento ele achou ser normal considerar o amigo extremamente belo sendo iluminado apenas pelas luzes da vizinhança e que precisava beijar os lábios rosados com urgência?

É claro que James não precisava nem dizer que agora Benjamin não olharia mais na sua cara. Ele mesmo não tinha coragem de olhar na própria cara.

Parecia que teria que começar a ignorar espelhos de agora em diante. E Benjamin.

Principalmente Benjamin.


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