Carry On Wayward Son escrita por Bella P


Capítulo 4
Capítulo 3




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Susan estava atrasada. Mais do que atrasada. E, por isto, quase tropeçou ao terminar de descer as escadas. Se acelerasse mais o passo com certeza conseguiria chegar ao Salão Principal para ao menos tomar um copo de leite antes da primeira aula do dia.

Dobrou uma esquina, deslizando pelo chão recém encerado eu parou abruptamente. Seus olhos negros ficaram largos, sua pele morena anormalmente pálida e um grito aterrorizante brotou do fundo de sua garganta. Um grito que ecoou pelas paredes, alto o suficiente para atrair a atenção de quem estava no Salão Principal.

Passos foram ouvidos, farfalhar de tecidos e logo professores e alunos surgiram no corredor onde Susan estava para verem qual foi a causa do grito.

— Professora Delacour. - Minerva chamou ao aproximar-se de Susan, empurrando a menina aterrorizada para os braços de Gabrielle, que a envolveu pelos ombros e a virou de costas pois mais à frente, no meio do corredor, uma imagem terrível se apresentava.

Lucky Hale não havia tido tanta sorte como o seu nome dizia, pois a sexta anista da Grifinória estava caída no meio do corredor sobre uma poça do próprio sangue. Sangue este que parecia ter escorrido de todos os poros do corpo dela. Os olhos amêndoas estavam vítreos, a boca aberta em um grito nunca solto e a pele estava cinzenta.

— Professor Longbottom, contate o Departamento de Aurores. - Minerva ordenou e soltou um suspiro cansado, conjurando um lençol o qual estendeu sobre o corpo. - Monitores, levem os alunos de volta ao Salão Principal.

Os monitores que estavam entre o grupo começaram a guiar os alunos de volta para o salão mas Ben, que estava mais ao fundo, aproveitou a confusão para afastar-se de todos e entrar em um corredor atrás de si, tomando um caminho alternativo para a torre da Grifinória. Estava há uma semana na escola, o que lhe deu tempo o suficiente para aprender todos os caminhos de Hogwarts e conhecer os seus colegas de casa assim como reconhecer alguns colegas de escola.

Em oito minutos ele chegou em frente a entrada da torre, rapidamente falou a senha e atravessou o salão comunal vazio, mas assim que pisou na escada que dava para o dormitório feminino, esta rapidamente virou um escorrega.

— Esperto... e antiquado. - murmurou, lançando um olhar caminho acima e vendo que no topo havia dois suportes para lamparinas. Com um girar de varinha, Ben conjurou uma corda a qual prendeu em um dos ganchos para lamparina e rapidamente escalou aquele tobogã mágico até o topo.

Procurou a porta do sexto ano e entrou no dormitório varrendo os olhos pelo mesmo, indo para os malões ao pé das camas, até encontrar um com as iniciais L.H.

Ajoelhou-se em frente ao malão, o abrindo e remexendo com cuidado o seu conteúdo, mas nada encontrou. Voltou os olhos para a cama e correu para esta, revirando cobertas, colchão e travesseiros, mas também nada. Mais uma vez percorreu o olhar pelo quarto, a procura de algo suspeito que fosse, até que viu alguma coisa caída no chão entre a cabeceira da cama e o criado-mudo. Algo que ao pegar Ben viu ser um ursinho de pelúcia.

Um ursinho de pelúcia novo, pois o pelo deste estava extremamente limpo e o laço do pescoço ainda sedoso e de um vermelho brilhante.

Ben revirou o brinquedo, mas este parecia normal. Entretanto isto não o impediu de pegar o canivete que sempre carregava do bolso de sua calça e perfurar todo o urso até sentir a lâmina bater em algo que ia além de enchimento. Ben rasgou o tecido e de entre a espuma tirou um saquinho de feitiços. O guardou no bolso interno do casaco do seu uniforme e atirou o urso nas chamas da lareira assim que chegou na sala comunal, minutos antes do quadro de entrada se abrir e seus colegas de casa passarem por ele.

— O que aconteceu? Por que estão todos aqui? - perguntou para James quando este se aproximou.

— A diretora cancelou as aulas do dia e mandou todos ficarem em suas salas comunais até segunda ordem. - explicou. - Mas então, me diz, qual é o seu tamanho? - James rapidamente mudou de assunto e Ben deu à ele um olhar de estranheza.

— Como?

— Roupas, o tamanho que você veste.

— Pra que que você quer saber?

— Para mandar encomendar o seu uniforme.

— Potter, eu nem fiz esse maldito teste, nada garante que eu vá passar.

— Eu tenho certeza que você vai passar, sinto isto.

— E se eu passar e não quiser fazer parte do time? - Ben provocou, erguendo uma sobrancelha e cruzando os braços sobre o peito. James fez uma expressão sofrida e grunhiu.

— Você não pode fazer isto comigo cara, Albus está tirando a taça da Grifinória desde que conseguiu a vaga de apanhador da Sonserina. É humilhante ter que aguentá-lo se gabando o verão inteiro.

— Então por que fica na companhia dele se não o tolera?

— Ele é o meu irmão, não tenho como evitar. - James respondeu com um sorriso matreiro. - E então? Número?

— Potter!

— Ao menos me diga que você vai fazer o teste.

— Vou pensar no seu caso. - provocou, dando as costas para ele e indo procurar refúgio em seu dormitório, pois havia uma ligação que precisava fazer para o auror Potter.

A questão é que o "pensar no caso" de Ben terminou com ele parado no meio do campo de Quadribol em um fim de tarde de quarta-feira, sob uma chuva fina e vento gelado, obeservando os testes de seus colegas de casa. Fez uma careta quando um balaço acertou uma quarta anista que tentava a vaga de apanhador, antes mesmo dessa ganhar altura o suficiente para começar a procurar pelo pomo de ouro. A garota caiu da vassoura sobre o gramado como uma ave abatida e por minutos ficou lá estendida, piscando para o céu nublado, tentando entender o que aconteceu.

— Próximo! - James gritou de onde pairava perto dos gols, com o taco de apanhador apoiado no ombro esquerdo e com uma expressão sofrida no rosto. Metade das pessoas que se candidataram já havia feito o teste e todas elas foram reprovadas até o momento.

Um quinto anista, pequeno e franzino, que estava parado ao lado de Ben caminhou alguns passos a frente. O menino tremia feito vara verde e Ben não sabia dizer se era nervoso, pavor ou frio. James Potter mostrou ser um carrasco quando o assunto era Quadribol. Não exigia nada menos além de perfeição de seus jogadores e os treinos oficiais ainda nem tinham começado.

— Ele foi co-capitão nos últimos três anos. - Cecile Bell, uma sexta anista e artilheira do time, parada ao lado de Ben e observando os testes, comentou. - O capitão prévio não era lá muito dedicado ao time. Só ganhou a vaga porque o time de Quadribol inteiro havia se formado e ele foi o único que sobrou, então o professor Longbottom o nomeou capitão por falta de opção. Então James passou nos testes como batedor e começou a colocar ordem na casa.

— E por que o professor Longbottom não tirou a vaga do outro e deu para Potter? - Cecile deu de ombros diante da pergunta.

— Joseph era extremamente temperamental e um ótimo artilheiro. O nosso time não estava muito forte na época e não podíamos correr o risco de perder um dos poucos bons jogadores que tínhamos por causa de orgulho ferido. Então não fizemos a solicitação da troca. Mas todos sabiam que Joseph era capitão de fachada e quem realmente estava no comando era James.

— Próximo! - James gritou e Cecile e Ben interromperam a conversa para ver que o menino que havia ido fazer o teste acabava de sair do campo correndo e com lágrimas nos olhos.

— Isso não é bom. - Cecile comentou ao ver a expressão azeda de James. - Por favor, tente ao menos ficar sobre a vassoura por cinco minutos. - aconselhou a Ben antes dele afastar-se dela, passar a perna por sobre o cabo da vassoura da escola, e com um impulso levantar voo.

— As regras são simples. - James falou assim que Ben se aproximou dele. - Pegue o pomo e evite o balaço. - explicou, soltando o pomo de ouro que rodou entorno da cabeça de ambos antes de desaparecer.

Ben disparou na direção que o pomo foi, fixando o seu olhar no rastro dourado que fazia zigue e zagues pelo campo. Desviou de uma baliza quando a bolinha subitamente virou para a esquerda, bem a tempo de ver um balaço vir em sua direção. Freou a vassoura, deixando a bola passar direto, a centímetros de seu rosto, e quando ela se afastou, percorreu os olhos pelo campo a procura do pomo desaparecido.

James arqueou uma sobrancelha ao ver a reação rápida de Ben quanto ao balaço que quase o acertou. Diferente dos seus colegas, ele nem ao menos piscou ao ver a bola passar tão perigosamente perto de seu rosto. Isto já era um ponto positivo. De nada lhe servia um jogador que tinha medo de se machucar.

Ben disparou novamente pelo campo ao ver o rastro do pomo de ouro passar rente as arquibancadas e acelerou o voo, esticando a mão na direção da bolinha, já sentindo as pontas dos seus dedos tocarem a mesma. Inclinou-se sobre a vassoura, esticando-se o máximo que pôde, e quando finalmente agarrou a bendita, foi no mesmo momento em que um balaço o acertou no ombro e o arremessou sobre os assentos vazios da arquibancada.

Caído sobre um dos assentos, Ben viu de rabo de olho James se aproximar, desmontar da vassoura e agachar-se ao seu lado, perto de sua cabeça.

— Tsc. E eu tinha tantas esperanças com você. - falou desapontado e Ben rolou os olhos e arremessou o pomo de ouro na testa de James que piscou surpreso. - Oh!

— É, “oh”. - Ben grunhiu, sentando-se vagarosamente na arquibancada. Com certeza amanhã acordaria com um belo hematoma no ombro, nada do que ele já não estava acostumado.

— Bem... - James pegou o pomo antes que este escapasse de novo e sorriu largamente para Benjamin. - Bem vindo ao time. - Ben considerou dizer não a proposta, pois só fizera o teste para Potter parar de perturbá-lo e como não ficaria muito tempo em Hogwarts, de nada adiantava entrar no time, mas o rosto esperançoso de James o fez engolir a sua negativa de pronto e apenas pôr-se de pé sem dizer mais nada. Tinha um certo fraco para garotos bonitinhos com carinha de cachorro abandonado. Fazer o quê?

— Meu tamanho é M. - falou e James sorriu, abraçando Ben pelos ombros e o acompanhando arquibancada abaixo e mais tarde de volta ao dormitório.

oOo

— No momento não temos nada ainda que ligue Josie, Gracie e Lucky. Elas não têm nada em comum, não eram nem do mesmo ano, da mesma casa, suas famílias não se conheciam, seus históricos escolares e pessoais são normais. Simplesmente nada. - Harry falou para Ben que torceu os lábios em uma expressão pensativa.

— Isso é impossível. - respondeu, recostando-se no parapeito de uma das grandes janelas do corujal. - Em minha experiência, em casos como este, as vítimas sempre têm algo em comum.

— A única coisa que elas têm em comum é que são todas bruxas e mulheres. Mais nada. E entre as coisas de Josie que foram confiscadas para investigação não foi encontrado o tal saquinho de feitiços.

— E eu não esperava que fosse encontrado. Josie morreu em um ataque direto, e este tipo de ataque requer mais do que uma simples maldição. A única coisa que podemos trabalhar agora é que seja quem for, tem acesso as salas comunais, ou ao menos chegaram perto o suficiente das vítimas para conseguir um objeto pessoal delas para fazer o feitiço.

— E isto pode ser qualquer um. Estamos falando de uma escola, querendo ou não você sempre vai ter contato com alguém direta ou indiretamente.

— O que os meus pais disseram? - Ben perguntou e Harry fez uma expressão de desagrado. Potter já não gostava da ideia de envolver Ben na história, menos ainda o restante dos Campbell, mas Ben se recusava a trabalhar sem ter o apoio de sua família guardando-lhe a retaguarda. Não interessava que Potter estaria disposto a colocar todo o Departamento de Aurores na cola de Ben para protegê-lo do perigo, ainda sim ele não se sentiria seguro. Só se sentiria seguro se estivesse com um Campbell, Greengrass ou Winchester ao seu lado, e ninguém mais. A família era para se confiar, os outros apenas para tolerar.

— Também estão sem pistas. Daphne ainda procura um meio de poder rastrear os saquinhos de volta ao bruxo, mas até agora voltou de mãos vazias. - Ben ficou em silêncio, pensativo.

— A prática da magia varia de região para região. Na Bretanha somos considerados praticantes merlinianos, descendentes de druídas, a primeira religião pagã existente na ilha. Nossa base de ensinamento são feitiços originários da língua antiga. Feitiços que requerem apenas poucas palavras para serem executados com perfeição. A Wicca é mais comum na América, onde os feitiços são recitados como poemas e os efeitos podem ser diversos, não diretos como os nossos fetiços.

— Uma bela aula de História da Magia, mas aonde você quer chegar?

— Não há escolas de magia na América. Os ensinamentos Wicca são passados de pais para filhos, um trouxa com aptidão para magia pode desenvolvê-la com a prática, mesmo não sendo um dom natural como o nosso caso – porque essa foi a única explicação que Ben encontrou ao conhecer Dean e Sam, seus primos trouxas, e vê-los usando feitiços durante algumas caçadas.

Curiosa sobre esse fato, na época Daphne colocou uma varinha na mão dos irmãos e os ensinou um feitiço básico de levitação que eles tentaram pôr em prática sem sucesso. E isto levou a um estudo aprofundado por parte de sua tia sobre como funcionava o universo mágico na América e em outras regiões onde a religião Wicca tinha uma certa predominância entre os crentes sobre magia.

E então ela descobriu que todo ser humano nascia com uma centelha mágica dentro de si. Em alguns casos esta centelha se desenvolvia naturalmente, quando a pessoa ainda estava se formando no útero, e daí nasciam os bruxos que eles conheciam. Os que durante a infância podiam fazer magia de maneira instintiva e na adolescência iam para escolas especializadas para desenvolverem os seus poderes e aprender a controlá-los.

Em outros casos a centelha tinha que ser forçada a se desenvolver, e era aí que entrava a Wicca. Quanto mais cedo se começava a prática, maiores eram as chances da centelha crescer. Quanto mais tarde, a única coisa que poderia acontecer era tornar a pessoa apta a realizar um feitiço ou outro, mas não poderosa o suficiente para causas grandes estragos.

Dean e Sam eram o segundo caso.

— O mundo da magia lá é contido sob as regras Wicca. Não há uma comunidade mágica em específico como a nossa. Por isso que os casos de ataques sobrenaturais são mais frequentes lá, porque não há um Ministério com leis e regras controlando essas criaturas. Não há uma sociedade à parte.

— Ainda não vejo o seu ponto.

— Se não há um Ministério, não há uma integração. A comunidade mágica americana não se relaciona com a inglesa. Então, não há troca de informações. E se não há troca de informações...

— De onde o nosso assassino encontrou o conhecimento sobre esses saquinhos de feitiços. Você já tentou a biblioteca de Hogwarts? Ela tem um grande e variado acervo.

— Não aonde eu procurei.

— Já tentou a sessão restrita?

— Preciso de autorização.

— Neville com certeza a dará.

— Quem?

— Professor Longbottom.

— Ah.

— Sim. Bem, preciso ir. Qualquer nova informação me avise. - Harry estava prestes a desligar quando se lembrou de algo. - Ah! Parabéns por entrar no time de Quadribol.

— Como é que... James. - Harry riu.

— Seu pai está orgulhoso, embora um tanto decepcionado por ser a Grifinória e não a Sonserina. - Ben sorriu e rolou os olhos.

Draco não tinha exatamente chiado muito ao saber que o filho fora para a Grifinória, mas Daphne lhe dissera em carta que ele também não tinha ficado muito feliz. Isto até que Astoria o lembrou que Malfoys iam para a Sonserina, Campbells eram uma outra história.

— Boa sorte e cuidado. - Harry desejou e encerrou a ligação.

Ben ainda ficou um tempo no corujal, pensando sobre o que fazer. Havia passado uma semana desde o último ataque e o burburinho sobre este havia acalmado, mas não sumido. Surpreendeu-se ao ver que nada havia saído no Profeta Diário, mas sabia que era uma questão de tempo, e a expressão de Minerva, sempre séria e preocupada, a envelhecia mais do que a idade que ela tinha.

Alguns de seus colegas comentavam que isto tudo estava se tornando uma nova Câmara Secreta. Curioso, Ben investigou sobre o assunto e descobriu que em 1992, alunos de Hogwarts foram encontrados petrificados por alguma força misteriosa e ameaças em sangue apareceram nas paredes da escola. No fim, descobriu-se que o responsável pelo ataque foi Gina Weasley que encontrava-se sob a influência de uma horcrux de Tom Riddle, mais conhecido como Voldemort, e que a criatura que estava petrificando os alunos era um enorme basilisco que foi derrotado por Harry Potter.

O problema é que naquela época o inimigo era conhecido, a ameaça foi identificada e a razão por detrás dos ataques era simples: Voldemort e o seu ódio supremo por nascidos trouxa que ele considerava estarem arruinando a comunidade mágica. Este caso era diferente.

Não havia Voldemort, as vítimas eram desde sangue puros a nascidas trouxa. Não havia ameaças em sangue escritas na parede, não havia um denominador comum. O que havia era somente um rastro de sangue e corpos que a cada dia que passava deixavam Ben ainda mais frustrado e louco para atirar em algo. Ou em alguém. De preferência alguém. E de preferência o miserável responsável por tudo isto.


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