Carry On Wayward Son escrita por Bella P


Capítulo 2
Capítulo 1




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Harry largou o lençol, deixando que este cobrisse novamente o corpo de Josie estendido no corredor da Corvinal. Com um aceno de cabeça ele deu sinal para que os paramédicos se aproximassem para recolher o corpo. O laudo preliminar do legista havia sido mais do que óbvio. Afinal, havia lacerações que iam desde o pescoço da jovem até o seu quadril. Cinco cortes tão profundos que atravessaram músculos e atingiram órgãos, os perfurando.

Se Josie não morrera no primeiro golpe, com certeza morrera pela perda de sangue, pois este formava um enorme poça no chão.

– Testemunhas? - Ron perguntou ao se aproximar de Harry.

– A estátua da entrada e alguns quadros. - Harry meneou com a cabeça, indicando um colega auror que conversava com um dos quadros. Perto da equipe de paramédicos e observando o corpo coberto ser levado sobre uma padiola, estavam os pais de Josie que eram amparados pela Diretora McGonagall e pela professora Maximilian, diretora da Corvinal.

– Os quadros disseram que as sombras não ajudaram na visualização - o auror disse ao aproximar-se de Ron e Harry. - mas que era uma criatura de ao menos uns dois metros de altura, bípede, tronco largo, braços longos com dedos esqueléticos e garras. Ah... e tinha um par de chifres. - completou e Harry e Ron arquearam as sobrancelhas diante da descrição. - É, eu também tive a mesma reação. - o auror deu de ombros, fechando o seu bloco de anotações e afastando-se da dupla.

– Isto não faz sentido. - Ron começou. - A descrição sugeriria uma criatura das trevas, mas desde a reforma da escola depois da guerra, as barreiras foram reforçadas para não permitir que elas entrassem na propriedade sem prévia aprovação do conselho escolar.

– A questão não é apenas o ataque, mas sim por que a Josie Hawthorn. Os pais são comerciantes em Hogsmeade, sem participação na guerra. Ela era aluna exemplar, boas notas, carismática, sem atitudes suspeitas ou algo parecido.

– Harry, você e eu sabemos que nem tudo é o que parece ser. - Harry mais do que sabia desde um certo caso envolvendo os Malfoy há alguns anos.

– Certo. Começamos pela criatura. - começou a especular.

– O que você quer saber? Como ela entrou na propriedade? Chamo o esquadrão de feitiços então?

– Isso e também saber que criatura é essa. Porque até onde vão os meus conhecimentos, eu nunca vi ou ouvir falar de uma parecida no mundo mágico.

Sem motivo aparente Ron soltou uma breve gargalhada.

– O que foi?

– Parece até que a magia previu que o grande Harry Potter viraria um burocrata ao ser promovido chefe dos aurores e decidiu lhe dar um último caso cabeludo antes dele virar um preguiçoso que só sabe dar ordens. - Harry rolou os olhos. Desde que soube de sua promoção, Ron gostava de brincar dizendo que Harry ficaria mole e perderia o ritmo depois de meses atrás de uma mesa de escritório assinando papéis.

Harry apenas respondia ao amigo de maneira infantil, ou seja, com uma careta, e fazia questão de lembrar a Ron que Shacklebolt foi chefe dos aurores e um grande soldado durante a guerra, mesmo dando ordens e assinando papéis.

– Harry. - Ron indicou com a cabeça para além da faixa de isolamento onde alguns alunos curiosos estavam, entre eles James Potter com uma expressão lívida.

– Hey Jim. - Harry o cumprimentou após passar sob a faixa e colocou um braço sobre os ombros do garoto que já estava maior do que ele. Os filhos haviam herdado o gene para o "gigantismo" dos Weasley.

– É verdade o que estão dizendo? Aquela era a Josie?

– A conhecia? - Harry perguntou, guiando o filho para longe do grupo de curiosos.

– Nós estávamos ficando. - respondeu e Harry nem ao menos reagiu a informação. Há tempos que ele parou de tentar acompanhar com quem James se relacionava ou não, apenas fazia questão de enfatizar que o garoto usasse proteção e fosse sincero em suas intenções com as suas companheiras. E enquanto não recebia nenhum berrador de algum pai ou menina reclamando de James, deixava passar. Com certeza era uma fase e o filho apenas não havia encontrado a pessoa certa para finalmente sossegar.

– Quando foi a última vez que você a viu? - perguntou, deixando um pouco de lado o pai preocupado e adotando a postura do auror em investigação.

– Ontem... - James hesitou um pouco. - Depois do toque de recolher nos encontramos naquela alcova do quarto andar.

– E? Ela falou alguma coisa? Que estava sendo perseguida, ameaçada ou algo igualmente estranho?

– Não... Mas nós ouvimos um barulho... Mas provavelmente era a Madame Bovari. Nos despedimos e ela foi para a Corvinal e eu para a Grifinória.

– Isso foi que horas?

– Umas 11:15 da noite?

– E que horas você chegou na torre? - James arregalou levemente os olhos.

– Eu sou suspeito?

– Não, mas eu preciso de todas as informações possíveis.

– Umas 11:25. Rose ainda estava acordada com uma amiga estudando para o simulado de Transfiguração, elas podem confirmar a hora. Mas pai... - James lançou um olhar para o casal Hawthorn que agora era levado por McGonagall corredor abaixo, com certeza para a sala dela para um chá calmante. - Estão comentando que ela foi estripada. - perguntou com os olhos largos.

Josie era uma menina sonhadora, cheia de planos para quando se formasse, e foi isso que chamou a atenção de James. Josie não era uma beleza estonteante, mas era carismática e possuía uma conversa legal. James não conseguia imaginar alguém lhe querendo mal.

– Não pense nisto, okay? Vá para a sua aula. - Harry o confortou com um abraço breve e um beijo na testa e James partiu.

– E então? - Ron perguntou ao amigo um minuto depois da partida de James.

– James e Josie estavam namorando e ele foi o último a vê-la viva. - Ron soltou um baixo assovio.

– Vocês Potter sempre no olho do furacão. - gracejou e Harry deu de ombros.

– O que eu posso fazer? É um dom.

oOo

Ron aproximou-se da mesa de Harry, encontrando a mesma atolada de livros e pergaminhos, enquanto o próprio Harry estava concentrado em um grosso volume em suas mãos.

– Relatório do legista. - declarou, jogando a pasta com os ditos documentos sobre uma pilha de livros velhos e que exalavam um forte cheiro de mofo. - O que você está fazendo? - perguntou enquanto puxava a cadeira do lado oposto à Harry e sentava-se nela.

– Pesquisando. - respondeu e Ron arqueou uma sobrancelha, sem nada dizer. Depois de um minuto de silêncio, com Harry folheando o livro em suas mãos, que ele finalmente falou alguma coisa. - Hermione vai ficar tão orgulhosa. - zombou e Harry rolou os olhos, fechando o volume com um estalo e o jogando sobre a mesa com um suspiro cansado.

– Eu revirei os pergaminhos, os livros, tudo que pude por as mãos nas últimas quatro horas, mas nada me diz o que poderia ter matado Josie Hawthorn. - resmungou, esticando os braços acima da cabeça e estalando a coluna para livrar-se da tensão que horas debruçado sobre os livros lhe causou.

– Então veja isto. - Ron recolheu a pasta que havia jogado mais cedo sobre a mesa de Harry, a abrindo e começando a ler o seu conteúdo. - Cabelo foi encontrado no corpo de Josie, dentro dos ferimentos, e o exame de DNA não bate com o dela.

– Bate com o de quem então?

– Não sabemos. Não consta no banco de dados. O cabelo é humano, no entanto.

– Humano?

– Sim. Assim como foram encontrados fragmentos de queratina nas bordas dos cortes.

– Queratina?

– Principal elemento que forma as unhas dos nossos dedos.

– Ou seja, as garras do nosso atacante.

– O que nos deixa em uma encruzilhada. Nenhuma unha humana, por maior que seja, conseguiria causar o estrago que causou no corpo de Josie.

– Mesmo se forem reforçadas por magia?

– A magia deixaria rastros assim como o atacante deixou. Além do mais, se o assassino é usuário de magia, por que se daria ao trabalho de estripar a pobre menina?

– Fazê-la sofrer?

– Ainda sim a análise do legista não bate com a descrição das testemunhas oculares. Os quadros falaram em um monstro enorme com chifres e o que temos é unha e cabelo humano.

– Voltamos a estaca zero então. - Harry murmurou, esfregando os olhos cansados com as pontas dos dedos.

– Nem tanto. Ainda não temos a avaliação do esquadrão de feitiços. - Ron respondeu e viu o amigo começar a revirar os livros, procurando algo, até que puxou de entre dois volumes uma folha.

– As barreiras de Hogwarts estão intactas. Nada foi violado. Nada entrou ou saiu da propriedade sem autorização.

– Ou seja. O que quer que tenha sido já estava dentro de Hogwarts. Não faz sentido algum. Um monstro deste tipo acionaria o alarme. Especialistas de toda a Europa foram contratados pelo Ministério para implantar o melhor sistema de segurança no castelo...

– Espera! O que você disse?

– Especialistas de toda...

– Não. Antes disto.

– Um monstro deste tipo acionaria o alarme. - Harry arregalou os olhos.

– É isso! - exclamou, erguendo-se da cadeira em um pulo e recolhendo o seu casaco do encosto desta.

– O que foi?

– Eu tive uma ideia. - Ron franziu as sobrancelhas, mas seguiu Harry mesmo assim enquanto este saía desembestado do Departamento de Aurores a caminho dos pontos de desaparatação do Ministério.

– Tenho que dizer que em todos os anos que o conheço, ainda sinto um mau presságio cada vez que você diz isto.

– Deixa de ser dramático. As minhas ideias não são de todo ruim.

– Depende. Posso falar daquela vez que enfrentamos um cachorro de três cabeças?

– Ron... - Harry rolou os olhos.

– Ou aquela de “siga as aranhas”?

– Ron...

– Ou aquela de invadirmos o Ministério quando éramos Inimigos Público Número 1? Eu tenho a cicatriz daquele dia até hoje. - Harry rolou mais uma vez os olhos.

– E você sobreviveu, não sobreviveu? O que significa...

– Que eu tenho que agradecer muito por Hermione existir em minha vida. Porque sem ela, estaríamos ferrados. - Harry riu.

Nisto ele não tirava a razão de Ron.

oOo

Andrew retesou os ombros ao ouvir o galho seco quebrar sob o seu pé e fez uma careta diante da gafe. Prontamente sentiu a mão de Benjamin o estapeando na nuca e o viu rolar os olhos em sua direção enquanto fazia uma negativa com a cabeça e avançava pela trilha.

– Veja. - Ben falou baixinho, apontando para os respingos de sangue no chão. - Parece que você o acertou. - Drew deu um largo sorriso diante do elogio. - Acertou, não matou. - e rolou os olhos. Ben era tão difícil de agradar quanto o pai deles.

Um farfalhar nos arbustos à esquerda dos dois jovens os fez ficarem quietos e vagarosamente Ben engatilhou a sua espingarda enquanto Drew apertava com mais força o cabo do facão entre os seus dedos.

Ambos continuaram a passos silenciosos pela trilha, com os olhos atentos a qualquer movimento, até que um novo farfalhar de arbustos chamou a atenção deles para a criatura que surgiu de entre as folhas em um pulo.

Ben nem ao menos esperou que ela aterrissasse e logo disparou a espingarda, a acertando no peito e a fazendo recuar diante do impacto da bala.

– Drew! - Ben chamou enquanto engatilhava novamente a arma e a apontava na direção do vampiro. Com a atenção deste voltada para Benjamin que ainda atirava, ele nem ao menos viu Andrew aproximar-se o suficiente para girar o facão no ar e cortar-lhe a cabeça fora.

Sangue espirrou sobre Ben quando a cabeça se desprendeu do corpo e o rapaz fez uma careta de nojo.

– Era a minha camisa favorita. - resmungou enquanto via o sangue borrar o logo do AC/DC estampado em sua camisa.

– Quantas vezes o papai já falou...

– Para não usar roupas civis na caçada, apenas roupas de caçada? - Ben rolou os olhos. O problema era que as roupas de caçada eram flanelas e xadrez, algo que Astoria trazia do Exército da Salvação para serem usadas com esse único fim.

– Então não reclama. - Drew deu de ombros enquanto tirava da mochila que trouxera um pacote de sal, gasolina e fósforo. Ben deixou as reclamações um pouco de lado e após recolher a varinha do bolso interno da jaqueta, abriu um buraco no chão com um feitiço e levitou o corpo e a cabeça para dentro dele. Em seguida Drew derramou o sal, a gasolina e tacou fogo.

Ambos ficaram ali até as chamas consumirem por completo o cadáver e se apagarem. Com outro feitiço Ben fechou a cova e ambos recolheram as suas coisas e retornaram por onde vieram.

– E então? - Draco perguntou, sentado sobre o capô da picape parada na beira da estrada, enquanto os seus olhos e dedos estavam ocupados com um jogo no celular.

– Vampiro morto. - Ben declarou.

– E?

– Devidamente queimado e enterrado. - Ben completou.

– E quem deu o golpe final? - Draco salvou o jogo e voltou a atenção para os dois jovens. Drew sorriu largamente antes de responder:

– Eu! - Draco sorriu de volta. Afinal, era por isso que estavam ali. A primeira caçada de Drew sem o auxílio de Draco e Astoria.

– Então vamos para casa. - declarou, descendo do capô do carro em um pulo. Ben e Drew dirigiram-se para o Chevelle SS 396 parado na beira da estrada em frente a picape. Um presente de 16 anos para Ben que desde que foi apresentado ao Impala de Dean Winchester tomou paixão por carros clássicos e vivia dizendo aos pais que teria um.

Anos depois, vários trabalhos temporários depois e uma ajuda financeira de Narcisa e Daphne, ele conseguiu o seu tão sonhado carro.

A viagem de volta a Spinner's End foi regada por um tagarelar de Drew sobre a caçada, com Ben rolando os olhos vez ou outra diante do falatório do irmão. Era como se ele tivesse esquecido que Ben esteve lá, que ele presenciou tudo, portanto não precisava de um replay da história. Mas deixou estar, Drew estava excitado. Foi a primeira caçada dele sem a supervisão dos seus pais e ele estava esperado há anos por este dia.

Quarenta minutos depois com Drew falando sem interrupção, eles finalmente chegaram em Spinner's End e Ben trocou um olhar com o irmão ao ver que o pai havia estacionado a caminhonete em frente a casa de Daphne ao invés da casa deles.

– O que foi? - Ben perguntou ao sair do carro, indo de encontro a Draco. Drew seguiu o irmão.

– Reunião na casa da Daphne. - Draco respondeu.

Geralmente quando Daphne os chamava diretamente de uma caçada era porque já tinha outra em vista.

Drew rapidamente se animou. Dois trabalhos em uma só noite era extremamente emocionante e ele mal podia esperar para contar para a mãe sobre como ele decapitou o vampiro com um golpe só.

O trio seguiu para a casa de Daphne, entrando nesta sem pedir licença, e logo foram cumprimentados por vozes que não pertenciam a Astoria e Daphne e que vinham da sala.

– Mas olha só. - Draco disse em tom zombeteiro e Ben e Drew olharam por cima do ombro do pai para verem os visitantes. - Quem é vivo sempre aparece.

– Malfoy. - Harry rolou os olhos diante da zombaria do outro homem, mas mesmo assim estendeu uma mão em cumprimento para ele. Draco arqueou uma sobrancelha e Harry prontamente se corrigiu. - Me desculpe, é Campbell agora, certo?

– E não se esqueça disto Potter. - Draco rebateu e recebeu a mão estendida em cumprimento. Para Ron ele deu apenas um aceno de cabeça reconhecendo a presença do outro auror. Poderia tolerar Potter, mas Weasley eram outros quinhentos. Questão de princípios.

– Potter e Weasley encontraram um caso para nós. - Daphne, prática como sempre, foi direto ao assunto.

– Não, espera aí. Nós viemos aqui para consulta, não passar o trabalho adiante. Este ainda é um caso do Ministério. - Ron protestou.

– Em minha experiência, todos que vem aqui procurando por consulta no fim sempre precisam da nossa ajuda. - Astoria deu de ombros. Era uma verdade. Sempre foi assim nos últimos anos e com certeza não iria mudar tão cedo.

– Por enquanto é só uma consulta. - Harry esclareceu. - Uma aluna de Hogwarts foi morta na... - pausou, lançando um olhar para Ben e Drew que ainda estavam na sala. Da última vez que os vira, Drew pedia que Draco lhe contasse uma história para dormir e era levado para o quarto no colo do pai. Hoje ambos eram rapazes, mas ainda sim muito novos na opinião de Harry para ouvirem este tipo de conversa.

– São caçadores Potter. Drew teve a sua iniciação hoje, acho que eles estão mais do que acostumados a ver e ouvir falar sobre corpos.

– Você leva os seus filhos para caçar? - Harry perguntou em um tom de repreensão. Eles eram apenas crianças. Como é que Astoria, Daphne e Draco tinham coragem de expor crianças ao mundo grotesco do sobrenatural?

– Não vou largar os meus filhos no mundo, indefesos, quando sei dos perigos que rondam cada esquina depois do anoitecer. - Astoria explicou. - Além do mais, caçar é uma opção que demos à eles. Os treinamos e quando chegarem a maioridade se eles quiserem continuar nesta vida que continuem, se não, ao menos eles não serão pegos desprevenidos. Ben já chegou aos dezoito e já tomou a sua decisão. Drew ainda tem mais três anos de treinamento. Um caçador pode deixar a caça, mas a mesma nunca o deixa.

E isto era verdade. Seus primos Dean e Sam eram um exemplo disto. Mesmo aposentados ainda havia um demônio ou monstro que sempre resolvia fazer nome com a morte dos irmãos Winchester. O problema era que mesmo quarentões os irmãos ainda estavam em plena forma e Dean tinha um super protetor Castiel ao seu lado. Sam tinha uma versão 2.0 do arcanjo Gabriel, que foi trazido de volta em uma nova casca (uma bela morena de longas pernas) mas com a mesma personalidade em com quem Sam vivia uma relação de amor e ódio que Dean, Astoria e Daphne concordavam ser um caso extremo de tensão sexual muito mal resolvida.

Mas ainda sim, quando alguma criatura causava um arranhão que fosse em Sam, ela descobria de maneira dolorosa o que era a verdadeira fúria de Gabriel.

– Josie Hawthorn foi encontrada morta em frente a entrada da Corvinal. - Harry continuou. Pelo visto toda a família iria participar da conversa.

Gina e ele criaram os filhos da melhor maneira que puderam, mas tinha que admitir que foi um pouco super protetor em relação aos perigos do mundo. Não queria que as suas crianças conhecessem a crueldade humana antes da hora. Não como Harry conheceu. James, Lily e Albus já viviam com o peso da responsabilidade de serem da família Potter, não precisavam de mais fardos em suas costas jovens.

– O legista encontrou unha e cabelo humano no corpo pertencentes ao assassino. Testemunhas disseram que o assassino era uma criatura enorme com garras e chifre.

– Obviamente não era humano e ao mesmo tempo era. Josie foi morta por cortes profundos no tórax causados por algo bem afiado. Cinco cortes paralelos. - completou Ron.

– Cinco dedos. - Daphne especulou, indo até a estante de livros que ficou ainda mais abarrotada com os anos. - Criatura enorme, com chifres, cabelo e garras. Me soa familiar. - ponderou enquanto percorria os olhos pelas espinhas dos livros até encontrar o que queria. - Semestre passado o meu planejamento de aula foi focado em criaturas da mitologia oriental. - Daphne colocou o livro sobre a mesa, o folheando até chegar na página desejada.

– Oni? - Harry arqueou uma sobrancelha ao ler o título do capítulo. - Demônios da mitologia japonesa.

– Suas origens são das mais variadas. Uma delas é que são humanos pecadores, punidos por Enma-Daioh no Inferno. - Daphne explicou e prontamente a atenção de Ron e Harry foram para Astoria que suspirou.

– Vamos dizer que é uma questão de jurisdição. As criaturas e deuses mitológicos não deixaram de existir, apenas perderam a importância devido a propagação do cristianismo. No Japão o budismo é a filosofia espiritual predominante então lá o mundo sobrenatural funciona de maneira diferente. - explicou.

– Mas se os Onis são demônios. - Ben intrometeu-se na conversa. - O que eles poderiam querer com Josie? Algum pacto que ela fez e que a dívida foi cobrada? - Ben detestava lidar com demônios. Experiências ruins já que parte da sua infância ele foi órfão de mãe por causa de um pacto com um demônio. Claro que a escolha havia sido de Astoria, mas quando se é criança e pega desprezo por algo fica difícil largar essa mágoa mesmo depois de crescido.

– Impossível. Onis não são como os demônios que lidamos. Eles não se associam a humanos. - Daphne explicou. - Porque eles próprios perdem a humanidade. Eles existem apenas para causar destruição.

– Sou só eu ou você também fica arrepiado quando eles começam com esse assunto de Céu e Inferno? - Ron murmurou para Harry e Drew, que estava perto de ambos e o ouviu, soltou uma risadinha. Então era melhor eles nunca encontrarem Castiel e Gabriel. Principalmente Gabriel, se ficavam nervosos só de ouvir falar no assunto.

– Mas um Oni pode ser controlado. - Astoria apontou para uma passagem no velho livro. - Aprisionado em um contrato mágico.

– As barreiras de Hogwarts alertaram para a presença desse Oni? - Draco perguntou, com os olhos fixos na passagem do livro indicada por Astoria.

– Não. Nenhuma alteração, nada. - Harry respondeu.

– O que pode significar que alguém dentro de Howarts o convocou. - continuou Draco.

– Mas as barreiras teriam sido alertadas. - Ron argumentou.

– Não necessariamente. - falou Daphne. - O mundo mágico é meio limitado ao conhecimento de criaturas da noite desde que se isolou do mundo trouxa. Muitas dessas criaturas andam apenas entre os trouxas, muitas outras existem no mundo mágico mas possuem subespécies mais perigosas e que também só andam entre os trouxas. E muitas outras só existem em folclores, e que o mundo mágico dispensa como não reais. Portanto as barreiras não as incluiria como ameaça se quem as colocou achar que essas criaturas não existem. É por isso que nós, caçadores, existimos. Se o mundo mágico tivesse este conhecimento, estaríamos sem trabalho. Além de que muitas dessas criaturas se forem combatidas com magia ficam mais fortes ao invés de enfraquecidas, e nós sabemos como bruxos dependem da magia para tudo e ou menosprezam tecnologia trouxa ou não fazem ideia de como essa funciona.

– E o que você sugere? - Ron perguntou.

– Se for mesmo um Oni e este foi invocado por alguém dentro de Hogwarts, vocês terão que montar vigilância vinte e quatro horas.

– É uma ideia. - Harry interrompeu Daphne e aproximou-se do livro, vendo que neste havia a ilustração de um Oni horroroso com chifres, dentes grandes, pele macilenta e avermelhada e garras mortais. - O problema é que no momento em que colocarmos aurores dentro da escola, a pessoa por detrás do assassinato irá ficar alerta. - ou pior, colocar a culpa em outro como Tom Riddle fez com Hagrid décadas antes. A história se repetia, mas o monstro era outro, não havia avisos com sangue nas paredes e Josie era sangue puro há gerações.

– E magia poderá não matá-lo. - completou Astoria. - Não se ele for como os outros demônios que já enfrentamos.

Todos na sala ficaram em silêncio por minutos, considerando as possibilidades do que poderia ser feito.

– Eu posso ir. - Ben quebrou a quietude e todos os olhares foram para ele.

– Como é? - Harry perguntou intrigado.

– Aurores alertariam o assassino, e mesmo que um entrasse em Hogwarts disfarçado não saberia derrotar esse Oni de maneira tradicional. Eu sim.

– Você só esqueceu um detalhe: - Harry o interrompeu. - Você é um civil, menor de idade, não treinado...

– Se eu bem me lembro auror Potter, este civil te rendeu quando tinha apenas oito anos. - Harry fez uma careta. Ben ainda se lembrava disso? Porque Harry jamais iria esquecer do garotinho apontando uma arma para ele dentro do quarto de um motel. - E eu sou devidamente treinado, provavelmente mais do que muitos de seus aurores. E sou maior de idade tanto dentro quanto fora do mundo mágico. Fiz dezoito anos no mês passado.

Harry ainda sim não gostava nada da ideia.

– A ideia dele é boa. - Ron cochichou para o amigo. - Se o assassino por detrás do monstro resolver investigar o passado dele tudo o que vai descobrir é um garoto que estudava em casa antes de ir para Hogwarts. Não sabemos com quem estamos lidando e quais recursos ele tem.

– Ainda sim é um civil...

– E quantas vezes já usamos um civil em missões?

– Hermione não conta. Ela sabia no que se metia e na maioria das vezes só nos serviu como consultora.

– O garoto tem razão, ele é treinado, sabe com o que esta lidando e terá Neville e Minerva de olho nele.

Harry suspirou. Os argumentos de Ron eram bons e válidos. Mas ainda sim quando ele olhava para Ben apenas via um menino assustado defendendo o irmão do perigo e nada mais.

– O que vocês acham? - perguntou à Astoria e Draco. Como pais com certeza eles não iriam querer envolver o filho em tamanho perigo.

Draco trocou um olhar com Astoria e deu de ombros.

– A decisão é do Benny. - respondeu e Harry grunhiu.

– Sério mesmo Malfoy?

– Potter, eu não sei como você criou os seus filhos, mas eu criei os meus para saberem lidar com o mundo e, infelizmente, este tem pesadelos que se tornam reais e que precisam de alguém para eliminá-los.

– Você realmente mudou Malfoy.

– Agora que você percebeu isto? E é Campbell, Potter. - corrigiu e Harry soltou outro grunhido.

– Certo, você será o nosso infiltrado. Mas irá fazer tudo o que eu mandar. - Ben prestou continência de maneira zombeteira para Harry.

– Sim senhor, tudo o que quiser senhor. - e Harry rolou os olhos.

– Não sei porque mas esta missão mal começou e eu já estou começando a me arrepender amargamente dela.


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