Na Montanha Solitária, Bilbo e os anões tentavam escapar de Smaug, o grande dragão que tomara conta do reino anão e guardava o tesouro dentro dele. Você continuava ao lado de Kili, algum tempo depois, a ferida na perda dele desapareceu por completo. Ele abriu os olhos em fendas quando amanheceu e ao lhe ver diante dele, sorriu.

— Como se sente? — você perguntou.

— Feliz — ele disse ainda sorrindo.

— Não, seu bobo, quis dizer a sua perna. Ainda dói?

— Não sinto mais dor alguma — ele passou a mão no lugar do machucado.

Ele estava curado e bem, somente aquilo importava. Você o ajudou a se sentar e ele lhe abraçou.

— Eu queria estar longe de tudo isso, vivendo o resto dos meus dias ao seu lado — Kili estreitou ainda mais os braços, abraçando-a mais forte como se você pudesse voar se ele a soltasse.

— Por que fala como se fossem nossos últimos momentos juntos?

— Por que é o que provavelmente vai acontecer.

Ele se afastou e segurou suas mãos, acariciando-as enquanto falava.

— Uma guerra está por vir, (y/n). E eu farei parte dela. Eu só quero que esteja preparada se... — ele deu uma pausa e respirou fundo — Algo acontecer.

Você entendeu de imediato o que ele quis dizer.

— Eu vou junto.

— Não! — ele exclamou — Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse a você!

Kili tomou seu rosto entre as mãos para que olhasse nos olhos dele.

— Você vai voltar para o Condado.

— Como? — você perguntou.

— Você veio até aqui, sabe como voltar. Além disso, tem amigos elfos que podem ajudar.

— Mas e você?

Kili respirou fundo e encostou a testa na sua, fechou os olhos e por um momento pensou no que dizer. Ele não queria deixar você, mas não tinha opção nem a certeza de que voltaria vivo. Ele afagou seus cabelos e beijou o topo de sua cabeça, seu coração partiu em mil pedaços só de pensar na possibilidade de não ver sua amada novamente.

— Prometa que vai voltar — você pediu.

— Não posso prometer o que não sei se poderei cumprir. Não depende apenas de mim, meu amor — ele sussurrou as últimas palavras.

Beijaram-se, aquele poderia ser o último beijo. A última vez que seus lábios se tocariam. Mas você afastou esse pensamento, e despediu-se de Kili antes que ficasse ali de vez.

Você começou sua viajem de volta, chegando ao portão do Reino Élfico continuou a caminhar receosa de que o Rei Élfico tivesse guardado algum rancor pela sua fuga com Legolas. Chegou à Floreta das Trevas, tomou o devido cuidado, as ameaças eram poucas e mesmo assim demorou dias para chegar até o final dela. Seguiu pelos campos além da Floresta e não havia sinal de orcs na região, claro, todos deveriam ter se reunido para a Baralha dos cindo exércitos. O nome lhe causava arrepios e você só conseguia pensar em Kili e se ele voltaria vivo para seus braços.

Depois, atravessou as Montanhas Sombrias e acampou por dias até chegar às trilhas que saíam dali. Você estava sem cavalo ou pônei e sua comida estava escassa, descansava após horas de caminhada e quando a noite chegava você observava a Estrela das Promessas, como Kili designou, no céu negro. Era impossível não sentir um aperto no peito quando se lembrava dele. Você peregrinou por semanas antes de visualizar à distância campos verdes e fumaça serpenteando e desaparecendo no céu. Estava quase chegando ao seu lar. Ainda acampou por dois dias sob as árvores e esvaziou seu estoque de comida, mas não se importou muito com essa parte, pois logo estaria em casa.

Certo dia caminhando distraída viu as pequenas casinhas às margens do rio surgindo logo à sua frente. Apressou o passo e chegou rapidamente na entrada da Colina, alguns hobbits colhiam legumes na terra e quando a viram cumprimentaram com alegria. E assim foi o caminho até chegar à porta da sua toca. Pegou na maçaneta, abriu, e quando entrou, mesmo com a poeira que ficou acumulada sobre os móveis devida à falta de limpeza em quase um ano, sentiu-se em casa.

...

Demorou alguns dias para limpar tudo perfeitamente, a sua toca era grande porém com mobília numerosa. Sua despensa foi reposta e flores novas foram colocadas nos vasos como substitutas das que murcharam.

Vendo tudo no mais perfeito estado, sentada na sua poltrona próxima à lareira, veio uma sensação de vazio. Algo faltava naquele lugar e você sabia o que era. “Kili” você pensou. A falta de notícias lhe deixava aflita e não pôde evitar as lágrimas que caíam de seus olhos.

Semanas depois...

Você cortava algumas ervas plantadas na horta para fazer um chá à tarde. Algumas pessoas que estavam fazendo o mesmo ali perto murmuravam coisas, mas parecia ser insignificante. Alguns segundos se passaram até você perceber que o barulho de sussurros fora substituído pelo silêncio. Olhou em volta e viu que todos estavam de pé e olhavam atentos em uma única direção, você se levantou e seguiu o olhar dos outros. Quase não acreditou quando viu Bilbo descendo pelo tapete de grama da entrada da Colina.

Não conseguiu se conter e correu para abraçá-lo, Bolseiro se sentiu imensamente feliz com a recepção calorosa.

— Bilbo, é você! — você falou alegre e sorridente.

— Em carne e osso — ele também sorrira.

Você afastou um pouco para olhar a expressão de Bilbo quando perguntou dos anões, e o sorriso dele desapareceu.

— O resto retornou ao seu lar na Montanha Solitária, Smaug foi mor...

— Como assim “o resto”? — você o interrompeu.

Bilbo não sabia como lhe dizer a notícia trágica sobre o desenrolar da Batalha. Mas seu olhar falou por sua boca.

— E Kili? — você perguntou aflita.

Bilbo apenas balançou a cabeça negativamente. E foi demais para seu coração. Você cambaleou até sua casa, fechou a porta e desejou que ninguém a incomodasse. Seu choro foi forte e doloroso, os soluços altos. O sol se pôs e sua tristeza persistia, estendendo-se pela tarde. A noite chegara e você decidiu preparar algo para jantar, pois havia passado o dia sem comer depois de ter recebido a notícia.

Colocou a chaleira o fogo para fazer o chá. Olhou-se no espelho e percebeu que seus olhos estavam vermelhos e inchados por causa de um dia inteiro chorando. Lavou o rosto, mudou as roupas e ficou na sala de estar à espera do apito da chaleira avisando que a água já fervera. E foi justo no momento em que seu pensamento voltou à Kili que três batidas soaram da porta. Você não estava em um estado muito bom para receber visitas. Seja lá quem fosse iria ter um bom motivo para dar meia-volta assim que você explicasse o motivo.

Respirou fundo e se dirigiu até a porta, abriu-a lentamente e quando seu olhar foi de encontro à “visita”, você poderia cair para trás se não estivesse se segurando na porta, piscou três vezes sem acreditar que ele estava li diante de você.

Kili estava com uma expressão de surpresa e alívio quando atravessou a soleira da porta e abraçou você elevando suas pernas do chão.

Nesse momento as palavras faltaram para vocês dois, apenas o gestou fora o suficiente para demonstrar o que ambos estavam sentindo. Kili sorria ao mesmo tempo em que seus olhos enchiam-se d’água. Você chorava, mas de pura felicidade.

— Você está aqui — você disse, passando a mão pelo rosto de Kili — E Fili?

Kili não conteve o choro, e logo você soube o que acontecera. Não disse mais nada, apenas o abraçou confortando-o.

— Mas o que importa é que estou aqui, eu voltei por você. Poderia ir para a Montanha Solitária e viver com os outros mas como eu já disse antes, você é o meu refúgio, é do seu lado que quero ficar, para sempre. Na hora que eu jurava ser o meu fim, olhei para o céu e a nossa estrela brilhava mais do que nunca. Eu deveria cumprir a minha promessa, e agora posso ver que consegui. Como esperei para ver este sorriso novamente, minha (y/n).

Ele acariciou seu rosto beijando sua boca logo depois. Fora um longo momento, você esperou muito por isso, e agora não faltava mais nada, tudo estava perfeito.