Maktüb escrita por VenusHalation


Capítulo 7
Capítulo 7 - Taqsim


Notas iniciais do capítulo

Taqsim quer dizer "Improviso"



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Muita coisa havia mudado desde a noite no oásis, inclusive, o humor dos viajantes. Mesmo com todo o desconforto climático, a viagem se tornara muito mais agradável com o comportamento positivo e as conversas eram, de fato, divertidas o que tornava tudo menos tedioso.

Venus – ou Ayla como ficara conhecida pelos rapazes – havia conquistado a simpatia dos demais de uma forma quase que mágica. Claro que Kunzite mantinha distância e, por vezes, eles entravam em alguma divergência, mas aos poucos ele se tornara menos desconfortável por ter ela ali.

A rotina que seguiam sempre a mesma: montavam acampamento ao anoitecer – quando o líder se fechava para decidir a rota que iriam tomar – e voltavam a caminhar pela manhã, quando o sol ainda era brando. Às vezes paravam mais cedo ao encontrar um oásis ou quando o calor era muito severo.

Naquela noite, pararam no meio do deserto, próximos a um amontoado de rochas manchadas de areia, próximos de alguns cactos – ainda pequenos – que brotavam entre as rachaduras do chão.

– Chegaríamos a próxima cidade marcada no mapa em dois dias, se relaxarmos. – Kunzite olhava o pedaço de papel nas mãos, saindo da tenda ao fazer o anúncio. – Se sairmos mais cedo e mantermos o ritmo, podemos chegar amanhã, ao anoitecer.

– Acha que eles podem ter passado por lá? – Nephrite indagou.

– Pelo que sabemos, eles atacam ao início de um ciclo da lua. Se chegarmos lá no tempo previsto, estaremos adiantados em duas noites e um dia antes da lua virar. – Zoisite ponderava sobre as decisões.

– Um dia é o que precisamos para recolher informações suficientes, não é? – Venus perguntou.

– E ter uma noite boa de sono em uma cama confortável antes de coletar as informações! – Jadeite espreguiçou aliviado. - Seria um presente vindo dos deuses!

– Não faça corpo mole, lembra do frio que passamos na neve? – Nephrite fechou os olhos em um falso movimento de dor.

– Vocês já viram a neve! – Venus ergueu o corpo como uma criança curiosa, cheia de expectativa. – Como é? Se parece com areia?

– Fria. – Kunzite respondeu tão gelado quanto a palavra que acabara de proferir.

– Sempre tão óbvio, Tariq? – Jadeite retrucou com um sorriso maroto estampado no rosto e virou-se para a mulher. – É fria, sim, Ayla e macia. Mas não como as areias do deserto, é como comparar algodão e seda. A neve é um pouco mais rígida que areia, mas se desfaz na palma da mão. E o frio, onde neva, é muito mais úmido e rigoroso que as noites aqui no deserto.

– Eu diria que é o completo oposto de onde estamos agora, enquanto tudo se tinge de dourado, na neve, era em prata. – Zoisite olhava em volta, fazendo uma análise do território.

– Deve ser realmente lindo. – A loira fechou os olhos, tentando imaginar um deserto em cores frias.

Naquela noite, comeram pão e queijo secos, era realmente bom pensar que na noite seguinte poderiam refazer o estoque de comida e, quem sabe, comer um pedaço de carne. Deitaram-se cedo e acordaram – ou foram acordados, como Jadeite que resmungava pelo sol nem ter saído – ao chamado de Kunzite, que já estava com boa parte da bagagem arrumada. Mesmo quando terminaram de retirar tudo, o sol ainda parecia longe de aparecer.

– Nós cinco vamos chamar muita atenção se chegarmos juntos, principalmente com uma mulher. – O prateado apertava o arreio na sua montaria. – Não é normal que uma jovem viaje pelo deserto.

– O que você sugere? – Venus estava desconfiada.

– Há dois portões em lados opostos dessa cidade. Seria fácil dizer que somos comerciantes, principalmente com a quantidade de cestos que temos, mas como eu disse antes, tendo uma mulher é mais difícil, então, Zayn e Naam vêm comigo, entraremos pelo portão da direita. Jarabi e Ayla entram juntos, do outro lado.

– E como espera que nós dois entremos? – Jadeite sentia como se uma pedra de milhares de quilos tivesse sido jogada em seu colo.

– Você estará levando sua jovem irmã para casar-se com um comerciante. – Havia alguns dias que Kunzite não usava aquele tom de diversão.

– Eu disse que vocês se pareciam! – Zoisite riu, desviando o olhar para o casal de loiros se encarando como se estivessem fazendo algum tipo de reconhecimento.

Jadeite e Venus, tinham em comum, os mesmos cabelos dourados – embora os cachos do rapaz fossem bem mais desorganizados e os dela, mais escuros - e a mesma tonalidade de azul cerúleo no olhar. Ao fazer aquela análise curiosa, Venus se sentia aliviada por ser acompanhada por ele que havia se mostrado muito gentil nos últimos dias, era de longe com quem havia se dado melhor. Jadeite era leve, cortês e bem-humorado, lembrava muito a si mesmo enquanto com suas companheiras de batalha. Talvez fossem parecidos não só fisicamente, quem sabe, não poderiam mesmo ser irmãos de alma?

– Está tudo bem pra mim. – Ela disse, com um sorriso satisfeito escondido atrás do véu.

Aceleraram o passo sem reclamações durante todo o dia, no meio da tarde, avistaram a cidade de pedra e muros altos que vista do modo que eles viam, de longe, parecia com um local morto e abandonado. Kunzite dissera que a maior parte da bagagem com o “casal de irmãos” deveria ser passada para eles, os dois deveriam passar impressão de que estavam viajando com o mínimo.

– Nos encontraremos no centro da cidade, vai ser fácil encontrar pelo barulho. – O líder avisou.

– Barulho? – Venus indagou, lembrando-se de que cidades praticamente morriam durante a noite.

– Essa noite e a próxima, comemora-se o Hidirellez, é onde meu povo agradece o início da primavera. – Havia certo saudosismo na forma como ele falava da festividade. – Será fácil nos encontrarmos.

– Certo. – Jadeite subiu no camelo junto de Venus e acenou. – Nos vemos mais tarde!

– Até mais e cuide bem da sua irmã! – Nephrite debochou antes de virar sua montaria para o lado oposto.

Seguiram para lados diferentes e, aos poucos, não podiam nem ver assombra do grupo separado. Venus e Jadeite estavam apoiados de costas uma para o outro, quanto ele guiava e ela olhava para o sol que, aos poucos, abaixava.

– Algo me diz que minha irmã mais nova não precisa de proteção. – O rapaz disse, referindo-se ao último comentário deixado, minutos antes, por Nephrite.

– E o que lhe faz pensar isso, irmão mais velho? – Ela entrou na brincadeira.

– Eu a vi lutar naquela noite.

– Você me salvou naquela noite. – Corrigiu.

– E não precisaria ter salvo, tenho quase certeza. – Olhou por cima dos ombros, para ela.

– Talvez sim, talvez não... Quem sabe? – Venus deu de ombros e ficou pensativa, em silêncio.

– Tariq também sabe disso.

– Do quê? – Ergueu o corpo, um pouco surpresa.

– Que você não é frágil, que você esconde muita coisa.

– Diz isso como se soubesse muito sobre mim. – Desafiou.

– Eu não, mas Tariq sabe mais do que quer nos dizer. – Estava apenas jogando suas suposições no ar. – E ele não diz nada para manter nossa proteção.

– Ele é um bom líder, não é? – A senshi olhou diretamente para o céu, fazendo uma pequena sombra com as mãos acima dos olhos. – Estava certo quando disse que chegaríamos ao anoitecer.

– Tariq conhece bem seu território.

– Sim, ele alterou a minha rota. – Mordeu o lábio inferior.

– Do que você está falando?

– Seguiríamos por rotas convencionais, Jarabi. – Afirmou. – Notei que ele havia mudado ao pensar no tempo de viagem. Não teríamos chegado tão rápido, além disso, eu não sabia nem metade dos abrigos onde ficamos nas últimas noites.

– Está querendo me dizer que... Só precisávamos saber qual a próxima cidade para ir?

– Exatamente.

– Então, ele realmente sabe mais do que quer nos dizer. – Deu um pigarro. – Devo ficar com meus olhos em você, mocinha?

– Você é meu irmão mais velho, deve manter os dois olhos em mim até eu ser entregue ao meu noivo. – Ela brincou, quebrando a tensão.

– Minha irmãzinha é muito disciplinada! – Jadeite parou o camelo e desceu da montaria. – Agora, imagino que não seja certo encarar os portões da cidade junto dela em cima de sua montaria. Tampe seu rosto, querida, não é certo deixa-la exposta por aí.

Venus virou o corpo para o lado da frente, estavam a poucos metros dos grandes portões de madeira. Ela puxou o pano grosso e escuro para cima do nariz e manteve o olhar para o chão enquanto Jadeite puxava o bicho até a entrada. O portão imenso fez um estalo surdo com a aproximação dos dois e abriu minimamente, fazendo um barulho fantasmagórico quando o vento passou pela abertura de onde um homem saíra.

O homem – que claramente era da guarda - tinha vestimentas claras e adornadas, trazia alfanjes afiados brilhantes presos as costas e seu rosto só podia ser imaginado devido o manto claro que lhe cobria, deixando apenas os olhos castanhos – marcados por fortes manchas escuras – a vista.

– O que querem? - Ele se aproximou dos viajantes de forma desconfiada e ameaçadora.

– Meu senhor – Jadeite abaixou a cabeça humildemente – meu nome é Jarabi, venho de muito longe para entregar minha irmã ao seu futuro esposo.

– Mostre a carga. – Curto e grosso, o soldado apontou para o cesto preso ao camelo. – Mande a mulher sair.

– Com a sua licença, senhor. – Abaixou a cabeça mais uma vez e foi até a garota, ajudando-a a descer. – Tente não encará-lo... – Sussurrou para que só ela pudesse ouvir.

– Há poucos dotes para uma noiva. – O homem carrancudo parou de vasculhar o cesto, e virou-se indo em direção ao casal.

– Não há necessidade! – Jadeite empurrou com delicadeza o corpo da irmã de mentira para trás do seu. – Minha irmã é a mais bela joia do deserto.

– Jarabi, o que você pensa que está fazendo? – Balbuciou sentindo os músculos tensos.

– Veja por si só, senhor. – O loiro ignorou o protesto da mulher e saiu do caminho. – Esses olhos não são belos, meu caro?

O soldado, de perto, era ainda mais corpulento e assustador do que Venus poderia dizer, além disso, ele fedia tanto quanto um velho bode reprodutor. Dava nojo pensar o que poderia existir debaixo de todo aquele uniforme.

– Devo admitir que tem olhos bonitos e incomuns, – o homem virou-se para o outro – mas mulheres engordam, tem filhos e pouco nos procuram em suas camas. A riqueza de um dote pode aumentar seus rebanhos, comprar sua comida e pagar as melhores companhias de uma jovem mulher vívida. Que tolo seria um homem para querer uma mulher apenas por sua beleza?

O corpo de Venus enrijeceu a pergunta do homem. Ninguém havia pensado que poderiam ser emboscados com afirmações tão meticulosas e nem pensaram nessa possibilidade, sentiu as palmas das mãos suarem frio. Ela e Jadeite poderiam sim dar cabo do soldado, mas não sabiam o que os esperava do lado oposto ao portão e poderiam causar sérios problemas entrando na cidade já com alarde.

– Vamos, me responda: Quem é o homem tolo para quem essa mulher será entregue? – O hálito forte do soldado atravessou, até mesmo, o manto que o cobria acima do nariz.

– A mim. – O chamado fez todos se virarem bruscamente para o portão.

Um cavalo, não mais um camelo, negro como a noite atravessara o portão, agora, completamente aberto. O homem em cima da montaria era extremamente contrastante com a crina do animal, completamente vestido de branco e com olhos cinzentos e nobres. Kunzite, mesmo sendo sempre imponente, parecia outra pessoa ali.

– Meu rei! – O soldado corpulento parecera diminuir ao ajoelhar-se diante dele. – Não sabia que estava na cidade! Me perdoe! Me perdoe!

– Não fez mais do que proteger os portões, soldado. – O homem compadeceu da situação. – Está atrasado, Jarabi. – Virou-se para o amigo.

– Me desculpe, meu senhor. – Só quem conhecia Jadeite muito bem poderia pegar no ar seu tom de deboche.

– Por favor, coloque minha noiva de volta em sua montaria, temos de ir para o palácio.

– Sim, senhor. – Jadeite voltou com o mesmo tom oculto e brincalhão.

A senshi havia ficado sem fala, na verdade, mortificada com os eventos subsequentes. Era como se aqueles dois shitennou com toda aquela cara de pau já tivessem combinado tudo. Ela mal notou a cidade decorada de flores e fitas e os olhares curiosos enquanto eles passavam pelas ruas, nem mesmo a música – que normalmente a faria encher-se – fez diferença tamanha era sua confusão.

– Chegamos. – Kunzite estalou os dedos para que o portão do palácio abrisse e revelasse uma construção magnífica de colunas decoradas e o espelho d’água refletindo o início da noite.

Venus foi pega no colo por Jadeite e assim permaneceu colada em seu braço até a entrada, olhando para todos os lados. Lembrou muito a primeira vez que esteve no Milênio de Prata, absorta pela arquitetura cristalina. Ali, ela foi levada a olhar os detalhes nas paredes e no teto abobadado, além de tapeçarias e jardins internos que seguiam, de modo circular, para a fonte logo ao centro do palácio.

– Cuidem dela. – Kunzite solicitou a três mulheres que ali estavam.

– Venha conosco. – Uma mulher gorda tocou o ombro de Venus.

Ela se encolheu ao toque da velha, sentindo o corpo amolecer ao se dar conta de tudo o que estava acontecendo. Ela precisava de explicações e tudo estava muito mal contado.

– Não precisa se assustar, criança – a voz da velha mulher chegou mais perto dos seus ouvidos – pode soltar seu irmão agora.

– Jarabi? – Azuis bateram um no outro e Jadeite lhe mandara um de seus olhares divertidos.

– Vá com elas, irmãzinha. – Solicitou, soltando-a do aperto no braço. – Nos encontraremos no jantar de Hidirellez. – A abraçou como os parentes faziam naquela região. – Não se preocupe, explicaremos logo. – Disse fingindo apertar um caloroso beijo próximo ao pé do ouvido da falsa irmã.


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Notas finais do capítulo

Eu nem demorei tanto dessa vez! o/
Bom, coloquei a capa dessa fic. como plano de fundo do PC. Toda vez que vejo, me bate vontadezinha de escrever lol
Já comecei a próximo capítulo, tipo, quando estava escrevendo esse vi que já passava de 3k de palavras e fiquei tipo "Eita, hora de cortar aqui e colocar essa parte para um capítulo 8!" xD~
Sinceramente esse capítulo foi meio maluco pq eu fui escrevendo conforme as ideias vinham. Não tinha bem um plot formado, eu só sabia que queria colocar o festival de Hidirellez no meio.
xD~
E sim, esse festival existe e é Turco.
But... Como eu disse no início, as culturas vão se misturar bastante aqui xD~
Bom, espero que gostem! :3



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