Maktüb escrita por VenusHalation


Capítulo 6
Capítulo 6 - Samt


Notas iniciais do capítulo

Samt quer dizer direção, caminho.



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Passava do meio da tarde. O sol castigava e o vento seco, misturado a areia fina, tornava a viagem dos cinco cada vez mais desconfortável. Jadeite já estava inquieto no dorso de seu camelo, Zoisite subia e descia o pedaço de pano que cobria o nariz e os lábios – como se procurasse algum conforto -, Nephrite havia desistido de continuar na mesma montaria que a mulher devido ao calor e havia optado por andar um pouco, puxando o animal a passos preguiçosos; Venus vinha apoiada pela cadeira improvisada no dorso do bicho, vez ou outra, deixando os olhos fecharem e quase serem derrotados pelo sono. O único que ainda não parecia ter qualquer sinal de desconforto era Kunzite, andando na frente de todos com olhares atentos para todos os lados.

Claro que as queixas de todos chegaram aos ouvidos do líder shitennou, mas como bom cabeça dura que era, deu um basta no primeiro resmungo – dado por Zoisite – dizendo o quão importante era que seguissem a rota para achar os malditos ladrões de areia. Kunzite estava tenso, para seus companheiros era um sinal péssimo e ninguém mais se atreveu a falar nada, o que tornou a viagem mais longa pelo profundo tédio.

Venus fechou os olhos por um longo momento, não havia dormido nada e se sentia esgotada. Achava injusta a forma como Naam estava sendo gentil para com ela e em como ele insistiu sobre puxar seu camelo e ir a pé pela areia. Ele devia estar péssimo. Suspirou, querendo fazer algo pelo rapaz e quase caiu no sono novamente, abrindo os olhos de imediato. A visão, um pouco embaçada, ao longe a fez piscar diversas vezes: de fato o que ela via eram árvores, na verdade, distintos pés de tâmara a poucos metros dali.

– Há um oásis ali! – A voz da mulher saiu rouca devido ao longo tempo de silêncio.

Todos olharam e, de fato, parecia real demais para ser uma miragem.

– Não está na nossa rota. – Kunzite afirmou.

– Está há poucos metros daqui, não sairemos da rota! – Jadeite deu de ombros.

– Nós não vamos sair do nosso caminho. – Teimou o líder.

– Nós não dormimos essa noite, estamos caminhando pelo deserto quente há horas e não encontramos nada! – Zoisite protestou.

– Meu povo precisa de nós, vocês não entendem? – Voltou a dar uma guinada para o camelo andar.

– Vocês não vão valer de nada para o seu povo se encontrarem os ladrões de areia nessas condições! – Venus rebateu com fervor. – Coloque a mão na consciência, Tariq!

Kunzite parou, dando um grande suspirou e massageando as têmporas como se estivesse ponderando cada decisão que tomaria a partir dali. Sabia que todos estavam certos e que deveria ser um pouco mais prudente em suas ações, mas estava tão irritado pelos últimos acontecimentos que havia se deixado levar. Ele engoliu seco e, sem dizer nenhuma palavra, virou as rédeas do bicho que montava para a direção do oásis, às suas costas, os outros trocaram olhares aliviados e satisfeitos.

Não demoraram muito até alcançarem o local. A região era pequena, mas totalmente destoante daquela que a cercava. Ali era coberto por vegetação verde e nova, rodeada de pés de tâmara carregados, ao centro havia uma nascente que formava um poço de água doce e cristalina correndo para fora, sumindo na areia do deserto.

– Amarrem os camelos e vamos montar acampamento. – Kunzite ordenou, prendendo as rédeas do seu bicho em uma árvore próxima a uma das margens do poço.

O movimento do líder foi seguido pelos demais, que logo após, começaram o descarregamento das cestas que os animais traziam para montar as tendas de tecido escuro e armação de madeira. Venus, se recusando a apenas observar, também ajudava na montagem, recebendo sempre alguns olhares de reprovação do líder da caravana, dando de ombros e ganhando a hospitalidade dos outros três. O sol se despedia ao longe e a temperatura começava a cair quando terminaram, todos desejando o que naquelas circunstancias eles tinham de sobra: água.

– Parece que fomos sugados pra uma dimensão diferente. – Nephrite riu, abaixando-se para provar um pouco da água com as mãos e jogá-la no rosto.

– Em pensar que há poucos metros daqui tem só areia... – Zoisite repetiu o movimento do amigo.

– Vocês deveriam tomar um banho. – A loira ria atrás dos rapazes. – Vocês cheiram a camelo.

– Você não fica muito atrás, só porque é uma mocinha bonita, não quer dizer que não cheira como uma cabra suada! – Jadeite fez questão de jogar um punhado de água no rosto da garota.

– Cabra suada? – Ela se levantou e deu um chute generoso na superfície molhada.

– Ela jogou água em mim? – Jadeite apontou para sua agressora.

– É, ela jogou. – Nephrite estava boquiaberto.

– Me desculpe... – De repente, ela encolheu, se dando conta que estava no meio de desconhecidos.

– Escute bem, mulher, isso não vai ficar assim. – Jadeite se levantou de uma vez, vendo o olhar assustado da menina, e chutou uma quantidade estúpida de água de volta. – É guerra! – Ele chegou mais perto, gargalhando. - Agora, você cheira como um velho cão sarnento e molhado, senhorita Ayla!

– A culpa é sua! – Ela olhou para o rapaz, muito aliviada com a brincadeira recíproca.

– Senhorita Ayla, você... – Zoisite torceu os lábios em total desconfiança. – Não deseja tomar banho primeiro?

– Ah... Pode ser... – Ela perdeu o tom brincalhão.

– Deixem-na fazer o que deve em paz. – Kunzite se levantou e sentou-se no chão do acampamento de costas.

– Não precisa se preocupar Tariq, eu não me impor...

– Eu me importo com o tipo de imagem que meus homens passam. – Ele interrompeu. – Por favor, vá e nós vamos em seguida.

– Tudo bem. – Ela mordeu o lábio inferior, ele era bem diferente na frente dos outros.

– Jarabi, antes, você pode pegar a minha sacola para mim? – Ela solicitou, apontando a velha sacola encardida.

– Ah... claro!

Jadeite foi e voltou com o objeto em mãos, colocando-o na margem. A jovem retirou de dentro um pano extenso de lã – que usaria para se secar - e algumas vestes. Ao terminar, voltou a presença dos rapazes, indicando para que fossem eles para o banho e ela a sentar-se de costas. Venus se sentiu idiota e meio envergonhada de agir como ela agiria em sua "casa", afinal, eles eram pessoas muito diferentes dela mesma e ao menos tinham intimidade para fazer tais brincadeiras, mas eles pareciam tão gentis. O sol já estava quase todo baixo quando ela acendeu a fogueira e, sozinha, começou a preparar o jantar.

– Eu tentei preparar um Harira*, como eu aprendi no khan. – A loira disse quando eles voltaram e se sentarem em volta da fogueira onde a panela de ferro era mexida pela loira. – Vai faltar a carne de cordeiro, sinto muito...

– Obrigado. – Kunzite dirigiu a primeira fala gentil do dia.

– Me desculpem pelo meu comportamento, sei que foi inadequado. – Pingou um pouco da sopa na mão para provar.

– Nós não somos homens arcaicos deste mundo, Ayla, não foi nada demais. – Jadeite a tranquilizou, entregando as cumbucas de barro que estavam próximas.

– Obrigada. – Ela sorriu e começou a servir os recipientes, entregando um para cada um. – Me digam, como está?

– Está boa, não precisava ter se dado o trabalho. – Nephrite provou mais uma colherada.

– Acho que é o mínimo que posso fazer por me aceitarem. – Ela deu de ombros. – Quero ajudá-los, mesmo, de alguma forma.

– Você já ajudou bastante. – Zoisite apontou para a tenda. – Aqueles mapas lá dentro, são seus e lhe aceitar seria sensato visto que você estava disposta a morrer nos seguindo.

– Você foi insistente, loirinha. – Jadeite terminou sua tigela e bateu satisfeito na barriga.

– É uma das minhas habilidades. – Piscou como uma criança marota.

Terminaram o jantar com o som das colheres batendo no fundo das tigelas e algumas risadas causadas pela conversa casual. Talvez fosse o clima do oásis, mas tudo parecia ter ficado um pouco mais leve desde o início tenso da viagem.

Jadeite foi o primeiro a se levantar e recolher de todos a louça suja, sendo seguido pela bela loira, que fazia questão de seguir o general mais bem humorado até o poço de água para limpar os objetos. Ao longe, observando a cena, Kunzite parecia curioso com a conversa que os dois tinham entre uma tigela e outra mergulhadas na água.

– Ela é uma mulher encantadora. – Zoisite se aproximou e apoiou-se no ombro direito do mais velho, usando um tom sarcástico.

– Por que estão sendo tão complacentes com a presença dela? – Ainda mirava os dois loiros ao longe.

– Ela quer nos ajudar, Kunzite. – Nephite olhava para cima, abraçado a uma bolsa de algo que, podiam presumir, era álcool. – Por que nós não haveríamos de ser bons com ela?

– Você confia nela, Neph? – Zoisite franziu o cenho.

– Ela é alguém importante. – Mais uma vez, o moreno fazia questão de olhar para o céu, para indicar que sua opinião era formada por mais que intuição.

– Quão importante? – Kunzite desviou o olhar para encontrar o dos outros generais próximos.

– Que quer dizer com isso? – Zoisite olhava desconfiado.

– Nada. – Kunzite deu de ombros – Apenas uma desconfiança minha.

– Você desconfia muito ou sabe mais do que quer nos contar? – O mais novo perguntava sério.

– Já disse: Não há nada. – Ele virou-se de uma vez. – Vou verificar nossa rota. Sugiro que descansem, pois, partiremos cedo e não quero vocês resmungando amanhã. – Se fechou em uma das tendas, onde o brilho amarelado de uma lâmpada se fez presente do outro lado do tecido escuro.

Zoisite e Nephrite trocaram olhares supostos. Sabiam que havia algo que incomodava seu líder muito além da presença feminina, mas confiavam muito nas ações do shitennou para questionar.

– Ele não vai dormir tão cedo. – Jadeite voltava ao lado da loira, carregando os objetos molhados e olhando para tenda com o ponto de luz.

– Provavelmente, não agora. – Nephrite coçou a cabeça e espreguiçou. – Disse-nos que ia rever a rota e que era para que nós cuidássemos em descansar.

– Ele também deveria. – Venus terminava de guardar as coisas em uma sacola. – Todos estão acordados há muito tempo.

– Assim é a vida de um homem de guerra, pequena. Não questione o cabeça dura ali... Nós já aprendemos! – Jadeite deu tapinhas na cabeça dela, enquanto subia as sacolas para colocar dentro do cesto. – Vamos nos deitar?

– Acho... que sim. – Venus hesitou.

Deitaram-se junto a fogueira e muito próximos. Era normal viajantes do deserto fazerem isso para espantar o frio da noite e não seria diferente com eles ali.

Venus tentou pregar os olhos, mas era impossível. Deitada sob o manto do céu estrelado, vendo a lua alta e brilhante acima da cabeça, sentia falta do palácio de cristal e das meninas, agora era mais preocupante ainda, pois não podia manter contato. Após rolar de um lado para o outro por diversas vezes, ela se levantou e foi para beira do poço, onde o frio a fez abraçar o próprio corpo.

– Se ficar aí, vai congelar. – A voz de Kunzite foi o que realmente a fez sentir a sensação de congelamento no estômago.

– E se você não dormir, vai cair desmaiado amanhã. – Jogou a cabeça para o lado, vendo o homem pouco atrás dela de soslaio.

– Eu estava indo fazê-lo, mas eu a vi aqui. – Kunzite se aproximou, parando ao lado dela, mas sem nunca olhá-la.

– Parece que lhe incomodo de diversas formas.

– E não deveria? Você apareceu como uma dançarina, depois como serviçal, tendo nomes falsos, sabendo traçar mapas, discutir táticas e nos obrigou a trazê-la conosco. Me diga: como posso não me sentir incomodado? – Ele estava claramente a desafiando.

– Então, eu ser uma mulher nunca foi realmente um problema?

– Jarabi foi muito sincero dizendo que não éramos como os homens arcaicos do nosso mundo. – Kunzite relembrou o comentário do amigo mais cedo.

– Olhe... Eu Estou tentando ajudar. – Por minutos seguintes, o silêncio foi a resposta que ela obteve para a conversa. – Jarabi é, realmente, muito gentil. – A senshi permitiu-se comentar.

– Não há motivo para ele não ser, Naam lhe deu seu voto de confiança.

– Como? – Balançou a cabeça e piscou diversas vezes.

– Não há motivos para questionar se ele a aceita tão bem.

– Apenas você desconfia, não é?

– Não completamente. - Kunzite permitiu-se olhar para a mulher ao seu lado. - Se eu não confiasse nas habilidades que ele possui, poderia tê-la largado para morrer no deserto.

– Seria assim tão cruel, Tariq? – Deu um leve pigarro.

– Se você me desse motivos suficientes de que estava fazendo mal ao meu povo, sim. – O general dizia como se fosse óbvio.

– Por que não contou para eles sobre quem eu sou?

– Acha que levariam à sério se eu dissesse que as pistas que seguimos foram feitas por uma dançarina? – Ele levantou uma das sobrancelhas.

– Você leva. – Desafiou.

– Admito que estou dando certa credibilidade ao seu acerto na invasão.

– Você duvidou das informações que lhe passei? – Venus cruzou os braços mais forte contra o corpo.

– Obviamente. – A encarou. – Você faria o mesmo no meu lugar se não soubesse nada sobre mim, não faria?

– Então, quer dizer que, agora, você confia em mim? – Seu tom de voz era surpreso.

– Não confunda as coisas, Mona, eu ainda estarei com meus olhos em você. – Se virou, fazendo menção para o acampamento. – Melhor ir dormir, parece que você está com frio e sairemos ao amanhecer.

O general caminhou devagar para onde os outros se encontravam, deixando uma Venus muito interessada para trás. Ela estava acostumada a estar no comando, havia sido assim desde sempre, inclusive, havia sido dessa forma enquanto ela persuadia Kunzite no khan. Mas com as afirmações do homem, era fácil saber que dessa vez, ela a presa encurralada em um canto de parede e deveria tomar muito cuidado com as ações subsequentes a essa pequena conversa que ela quase tomou como tom de ameaça.


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Notas finais do capítulo

*Harira: Guizado composto de carne cozida com grão-de-bico, ervas aromáticas e outros temperos. 1
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Fala galera bonita e cheirosa, tudo sussa?
Pois é, 2015 chegou e eu pretendia ter postado antes, maaas... Não deu ;-;
Motivo: Aparentemente nenhum, pensem numa desculpa esfarrapada pra autora hausAHUSAhusAHUSs...
Arco Dark Kingdom acabou em Crystal e eu ainda estou RE-VOL-TA-DA com o fim que levou shitennou. Olha... Uma bosta! :v
Mas vida que segue, né? 3
Esse capítulo não me deixou completamente satisfeita. Não sei pq. NWAY, eu reescrevi ele INTEIRO e ainda tô de birra. #AutoraDoida
Só pra constar: não revisei, os erros que possam acontecer, me avisem tá?
BJS DE LUZ!



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