Maktüb escrita por VenusHalation


Capítulo 8
Capítulo 8 - Baladi


Notas iniciais do capítulo

Baladi quer dizer "meu país" ou tudo que é "de raiz" ou "de natureza", "natural de".



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Era como ser tragada para um universo diferente, embora Venus já tivesse passado tempo suficiente ali, nunca havia entrado em um palácio nobre. Enquanto era levada pelas mulheres, ela não podia contar por quantas colunas, estátuas tapeçarias, jardins internos e servos ela havia passado. Era tudo muito delicado e nobre, perfeito e milimetricamente colocado, ventava muito e, o vento do início da noite era tão fresco – longe do frio seco do deserto - que parecia não estar dentro do Oriente.

A senshi do amor foi levada a um quarto privado e distante. Tudo lá dentro era decorado em tons de dourado e branco, dos móveis claros até a os tapetas, chegava a ser perturbador ter tudo tão claro.

– Ainda assustada? – A mulher gorda retirou o próprio véu, revelando uma face ainda mais rechonchuda, porém, de sorriso simpático e gentil.

Venus engoliu seco e precisou entrar na personagem da jovem irmã acuada e entregue ao rei. Mesmo que estivesse com raiva por não entender nada do que estava acontecendo, ela sabia que teria que dar seu voto de confiança a eles, afinal, ela também era uma completa incógnita para o shitennou. Ela mesma, como líder, teria feito mesmo se estivesse no lugar de Kunzite.

– Pobre criança... – Os olhos castanhos e poderosos dançaram entre as duas outras servas presentes e os dedos estalaram em um movimento simples, era perfeitamente uma ordem para que as outras saíssem. – Se sente mais confortável se ficarmos nós duas por enquanto?

Decidiu encolher-se e olhar por cima para a mulher que perguntava sobre seu estado, talvez assim manteria a confusão escondida em um falso sentimento de constrangimento.

– Querida, não precisa ter medo, - se aproximou, ainda com o mesmo sorriso gentil - meu nome é Nadirah e eu serei sua serva nesses dias que se seguirão. Mandei preparar seu banho e suas novas vestes, então, tenho permissão para tirar seu manto? – Ela olhou com expectativa a moça jovem balançar a cabeça com aceitação.

O olhar de espanto de Nadirah foi seguido de um sorriso ainda maior, na verdade, uma gargalhada que fez chacoalhar os ombros de tão gostosa.

– Então, os rumores sobre a bela flor do deserto eram verdadeiros! – As mãos rechonchudas e marcadas pelas manchas do tempo seguraram o rosto da loira dos dois lados e pegaram alguns fios do cabelo de Venus em seguida. – Está tão suja do deserto, seus lábios estão rachados e, mesmo assim, é adorável, olhe esse cabelo... É como um fio dourado do tecido mais nobre, mas está tão embolado! Você, com certeza, deve vir de alguma linhagem muito nobre querida, me impressiona não ser, de fato, uma princesa.

– Obrigada. – Retribuiu o sorriso e abriu a boca pela primeira vez.

– Venha, criança, seu banho já deve estar pronto.

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– Ela deve estar furiosa. – Zoisite deixou o copo vazio em cima da mesa.

– Ela vai saber o que está acontecendo logo mais. – Nephrite deu de ombros.

Kunzite estava sentado em uma cadeira maior e pouco acima dos outros três. As vestes que usava eram brancas e muito diferentes da que usava como viajante. Um turbante – que ele admitia odiar usar – estava sobre a sua cabeça e ele olhava com expectativa para fora, onde as estrelas já salpicavam o céu e o frio já se fazia presente. A lua estava alta e ele não parava de observá-la, procurando alguma resposta sobre sua missão atual ali.

– Ayla é mais esperta do que parece, ela vai colaborar. – O líder, por fim, voltou a olhar para os outros generais.

– Pelo que ouvi de algumas servas, no pouco tempo em que estive nos corredores, minha “irmãzinha” está agindo como uma linda moça recatada – Jadeite brincou. – Além disso, elas comentam muito sobre a “flor do deserto” e como sua beleza é singular. Acredito que seja de família!

– É muito bom que esses rumores se espalhem, – Zoisite revirou os olhos – mas não posso concordar quanto a “beleza de família”, nesse caso.

– Você está com inveja! – O loiro jogou alguns dos cachos curtos para trás.

A porta do cômodo estalou, um homem – vestido como o guarda dos portões - entrou com a postura elevada e parou em frente aos quatro rapazes e, em uma posição disciplinada, ajoelhou-se diante do rei.

– Meu rei, ela está pronta. – O soldado permaneceu abaixado.

– Senhores, - Kunzite se levantou – agradeço a companhia de todos, foi extremamente agradável. Nós nos veremos logo mais no festival, espero que desfrutem da hospitalidade do palácio. Jarabi, por favor, peço para que siga este soldado e busque sua irmã para mim.

– Com sua licença. – Disseram em uníssono, levantando como se apenas uma conversa casual estivesse acontecendo antes daquilo.

Jadeite fora escoltado até o cômodo onde a falsa irmã o aguardava. Venus já estava de pé e rodeada pelas três servas que a acompanharam desde o início. Parecia uma princesa saída dos contos do deserto. As vestes novas, escolhidas unicamente para ela, eram de um tecido fino coberto de bordados dourados e brilhantes que quase escondiam a cor branca original do pano puro. Na cintura, um cinto dourado, marcava as curvas femininas e as medalhas eram parte dos detalhes da barra, das mangas e abaixo dos olhos, por cima do véu, que pareciam ainda mais azuis do que antes, graças ao contorno forte do delineador cuidadosamente desenhado ali.

O general shitennou sorriu e se aproximou, beijando a testa da moça e tomando um de seus braços.

– Está digna de uma princesa, irmãzinha – debochou divertido.

– Para onde vamos? – Fingiu o tom submisso, escondendo o sorriso tão debochado quanto o de Jadeite abaixo do véu.

– Ver o seu noivo antes do banquete das festas.

Voltaram escoltados pelo mesmo caminho, que parecia diferente aos olhos de Venus graças as luzes das lâmpadas de óleo que davam outro ar ao ambiente. Chegaram em frente ao cômodo de destino e aguardaram um dos guardas trazer a autorização para sua entrada.

– Ele quer que a deixe entrar só. – O guarda voltou, direcionando as palavras apenas para Jadeite.

– Deixar minha irmã sozinha com um homem? – O loiro indagou.

– Esse homem é o rei – Informou o soldado, de forma severa – e tenho certeza de que nada acontecerá.

– Apenas deixe-me levá-la até ele pessoalmente – ele respondeu com um gesto da cabeça e tanto os guardas, quanto as servas se afastaram e abriram passagem.

Kunzite se levantou solenemente e se aproximou dos dois, girando um anel em seu dedo. Os olhos curiosos e o burburinho daqueles que serviam, seguiram as ações dos três até que a porta gigantesca do cômodo fosse fechada, o clique e o silêncio repentino deixados eram os sinais de que finalmente estavam sós e foi o suficiente para Venus soltar-se do braço de Jadeite em um movimento brusco.

– O que pensam que estão fazendo? – Ela arrancou o véu do rosto, afinal, era necessário que eles vissem bem mais que nos olhos a sua irritação.

– Você parecia bem com isso! – Jadeite retrucou com uma risada bem típica. – Calma irmãzinha, não lhe ensinaram que você deve respeitar os irmãos mais velhos?

– Pare de me chamar de “irmãzinha”! – O sangue fervia nas veias, estava há umas boas horas de querer dizer aquilo, era libertador. – E você – apontou para o rei – que história é essa de noiva, enlouqueceu?

– Jarabi, poderia me deixar conversar com a Ayla, agora? – Kunzite ignorava o acesso de raiva.

– Como quiser “meu senhor” – desenhou aspas no ar e saiu do local, totalmente despreocupado.

Venus cruzou os braços na frente do corpo e olhou intensamente para Kunzite. Ele, por sua vez, fechou os olhos e respirou fundo, como se ignorasse completamente a irritação da mulher.

– Você não vai falar mais nada sobre essa piada? – Ela mordia o interior da boca como forma de se controlar.

– Desculpe por não dizer nada antes – o rei abriu os olhos e viu a expressão surpresa da sua companhia depois do pedido de desculpas – tudo aconteceu rápido quando chegamos aos portões. Interceptaram a nossa entrada, então, eu tive de entrar da minha forma.

– Me usar não foi justo! – Rosnou.

– Não pretendia usá-la, nem achei que seria necessário, mas eu precisava de um plano secundário.

– E não poderia me dizer antes?

– Há tantas coisas que não sei sobre você, não me culpe por não poder confiar completamente, Mona – frisou o nome pelo qual conheceu a jovem.

– Por que está fazendo isso?

– Se os ladrões de areia estão vindo para cá – por um instante eles trocaram olhares antes de Kunzite continuar – preciso atraí-los para o palácio e espalhar o rumor sobre uma jovem de beleza sem igual seria o suficiente, não seria?

– Está me usando como isca... – Venus sentiu a garganta arranhar.

– Não pretendo deixar que a levem.

– Eles não vão levar – deu de ombros, desafiadora – e não me parece que será você quem vai impedir.

– Eu sei que não – Kunzite retirou da bainha, uma espada magnífica e estendeu para ela – uma dessa seria suficiente?

– Achei que você desconfiava de mim – piscou diversas vezes em confusão.

– E desconfio, mas não vou privá-la de ter sua própria defesa, uma espada estará em seu quarto amanhã – se aproximou e guardou a arma na própria cintura, puxando o véu da “noiva” para cima do seu nariz novamente. – Temos um banquete para ir, minha senhora – abaixou-se solenemente e estendeu a mão direita para ela.

A senshi segurou a mão do homem de volta e, em um movimento delicado, o homem a puxou para o seu lado e entrelaçou sua mão na dela. A sensação dos dedos frios e calejados correndo entre os seus próprios dedos fez Venus arrepiar-se sem motivo aparente.

– Você está bem? – Ele virou a cabeça para analisar.

– Não há nada demais, talvez preocupação – mentiu, desviando o olhar.

Ao saírem do quarto, como um casal prometido, os servos esperavam enfileirados e estáticos, movendo-se apenas para reverenciar o que conheciam como o rei e sua futura primeira esposa. O casal foi escoltado pelos guardas até o grande salão aberto, onde o som da música e das conversas fora substituído pelas palmas e saudações de todos os presentes. Para Venus, o ambiente lembraria muito o khan de Emir se não fosse pelos convidados limpos, repletos de joias nos dedos e comportamento polido.

Kunzite sorria de forma muito solene e acenava com a mão livre para os homens ali, fez isso até obter o silêncio desejado.

– Caros irmãos – Sua voz soava forte pelas paredes – é uma felicidade muito grande estar em casa e poder comemorar o Hidirellez próximo a pessoas que me são queridas e uma benção maior ainda poder anunciar a essas mesmas pessoas, mesmo que com todo o burburinho já devam saber, que nessa primavera eu recebi a mais bela das flores, apresento-lhes a minha senhora, essa é Ayla – o rei levantou as mãos entrelaçadas dos dois.

A respiração quente e os lábios um pouco secos, graças aos dias no deserto, de Kunzite escovaram com delicadeza as costas da mão de Venus e mais uma vez, o arrepio como um choque atravessara o corpo da senshi. O choque provocado pela ação dele sumira da mesma forma que veio: rápido. Sensação morta pelos aplausos e tintilar de medalhas, pulseiras e outras riquezas que os nobres ali levavam por toda parte.

Entre cumprimentos e conversas breves, o casal foi levado para as almofadas colocadas lado a lado no ponto acima das escadas que indicavam a posição dos tronos – escondidos debaixo de tanto tecido - dos governantes, de onde Venus pode ver, logo abaixo em uma primeira fileira, os outros três ex-acompanhantes de viagem, que acenaram com divertimento. Rei e futura rainha foram deixados a sós, com a vista privilegiada da música e das apresentações, - acompanhadas de muita bebida quente, comida de primeira qualidade e apreciação imensa de todos – que envolviam faquires perigosos, equilibristas habilidosos e domadores de tigres cheios de coragem.

– Desculpe por isso. – Kunzite manteve os olhos virados para frente.

– Do que está falando? – Venus olhou muito rápido para ele e voltou a prestar atenção na mulher que rodopiava com algumas dezenas de pano ao seu redor.

– Fazê-la passar por isso.

– Está brincando? – O único vislumbre que ele pode ter foi dos ombros da mulher balançando em uma risada discreta – é magnífico!

– Não está mais com raiva, Mona? – Franziu a testa.

– Estou sendo tratada como uma verdadeira rainha, deveria estar furiosa? – Fechou os olhos devagar, apreciando o som por um longo momento.

– Você dança melhor que ela. – O prateado comentou, vendo sua falsa futura esposa abrir os olhos em surpresa.

– E você parece bem mais leve do que no deserto. – Recuperou-se rapidamente do elogio repentino, mudando de assunto.

– O calor me deixa desconfortável. – Deu de ombros.

– Então aquele mau-humor todo era pelo calor? – Venus se segurou para não fazer um movimento muito brusco.

– Em parte, ainda estou preocupado com meu povo, mas estar em casa me faz sentir melhor. – Um sorriso mínimo e muito sincero puxou o canto dos lábios.

– É meio irônico pensar que você se sente mal com calor, sabe... Você nasceu aqui!

– E mesmo gostando muito do local que chamo de lar, não reclamaria de ter nascido onde a neve cai e o tempo é sempre ameno e úmido, – permitiu-se colocar a mão sobre a dela apoiada em um dos braços escondidos do trono. – e você?

– Eu? – O calor vindo da mão de Kunzite parecia ter subido para as suas bochechas, sorte estar completamente coberta até o nariz.

– Sim. Não gostaria de ter vivido em outro lugar?

– Talvez... – Nunca ter saído de casa. – Mas eu gosto daqui, muito.

– Por que gosta tanto desse lugar? – Humedeceu os lábios com a língua – por favor, não minta, eu sei muito bem que não é daqui.

– É quente – falou com certo humor, afinal, era bem antagônica a opinião dele. – me lembra de onde eu vim, as cores quentes, o sol forte... É como estar de volta ao meu lar... É por isso que gosto tanto daqui.

– Me pergunto onde é a sua casa, agora.

– Um lugar que, provavelmente, você gostaria – Venus olhou para a lua na janela – o clima é ameno, mas acho que a iria decepcioná-lo pela ausência da neve.

– Posso sobreviver sem a neve, eu acho.

– Um dia, talvez, eu... – A fala foi cortada pelo bocejo - ...fale mais sobre minha casa.

– Cansada?

– Um pouco.

Kunzite se levantou e ofereceu o braço para que Venus se levantasse. A conversa parou mais uma vez, os instrumentos e a dança também.

– Senhores, peço a licença de todos, pois, minha noiva encontra-se muito cansada e eu vou levá-la pessoalmente a seus aposentos – enroscou os dedos nos da mulher como fizera mais cedo – peço para que continuem, eu volto o mais rápido possível, assim que a tiver deixado em segurança.

– Quantas vezes você treina para falar dessa forma? – Venus disse entre os dentes, segurando a risada.

– Fui ensinado a falar com essa gente dessa forma a minha vida toda – respondeu baixo o suficiente para que apenas ela pudesse ouvir.

Desceram a escadaria a reverências polidas e, assim que atravessaram para os corredores – completamente vazios – iniciaram uma caminhada silenciosa até o quarto que estaria destinado a senshi. Pararam de frente para as portas altas e estreitas, talhadas a mão com acabamento dourado em flores delicadas.

– É aqui. – Ele, finalmente, soltou os dedos dos dela, para empurrar um dos lados do portal e dar passagem para ela passar – espero que goste, como um bom noivo e rei, manterei meus passos até aqui.

– Entrou no meu quarto diversas vezes no khan, dormiu ao meu lado no deserto e sua polidez não permite entrar em um quarto destinado a mim no seu palácio? – Olhou para dentro, onde as lâmpadas de óleo iluminavam fracamente o que ela pode perceber como uma cama imensa e uma penteadeira de prata.

– Você me levou ao seu quarto e me obrigou a viajar ao seu lado, se refresca a sua memória – Desafiou.

– Olha só, tranquilo você até tem senso de humor – apoiou as costas no batente da entrada. - Amanhã vai tudo voltar, não é? – Suspirou.

– Talvez não, se eles forem pegos – alisou a espada na frente do corpo.

– Sabe – se apoiou no batente da porta - você não é tão ruim comigo quando estamos sozinhos.

– Eu disse que manteria meus olhos em você – o aviso que Kunzite dera dias antes parecia muito menos ameaçador.

– Acho melhor você voltar para o salão – A barriga deu loopings ao pegar seus olhos cor-de-gelo prendendo-a ali.

– Não é prudente que eu demore, afinal, a futura rainha não deveria passar tanto tempo com um homem antes do casamento.

– Você fala isso com tanto deboche que penso que acha bobagem.

– E acho, – o humor em sua voz era visível – mas isso é uma conversa para outra ocasião. Boa noite, Mona – a beijou mais uma vez, nas costas da mão

– Boa noite, Tariq – entrou e fechou a porta, recostando o corpo na superfície em relevo de flores, sentindo um formigamento persistente onde os lábios dele haviam tocado por duas vezes naquela noite.


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Notas finais do capítulo

Capítulo que estava semi-pronto há mais ou menos umas duas semanas e não tinha postado por motivos de eu estava achando confuso tentar fazer os dois se entrosarem depois de tanta fagulha trocada, mas estavam todos sentindo falta de uma interação mais intensa dos dois e... TA-DAAAAA... Tá aí! Fiz meu máximo pra não ficar tão forçado ;---;

Eu não tenho muito pra dizer pq tenho que fazer uns trabalhos da faculdade e meh... Tão chaatos kkkkkkkkkk... Enfim, espero que gostem! s2



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