Maktüb escrita por VenusHalation
Notas iniciais do capítulo
Raqsa é como os árabes chamam as dançarinas.
Ter os sentidos falhando não era uma sensação comum a Kunzite, embora conseguisse disfarçar muito bem – anos de treinamento para esconder emoções quaisquer que fossem – teve a sensação de que aquela mulher não estava muito convencida de que ele ainda tinha algum tipo de segurança. Não que estivesse totalmente inseguro, mas pensar que ela poderia abrir a boca para contar que o rei estava aqui, era muito desconfortável.
– Eu vou perguntar de novo: Como você sabe? – Chegou mais perto, curvando sua altura sobre a cabeça dela como um animal que encurralaria uma presa.
O som de aplausos abafados podia ser ouvido do lado de fora.
– Você não me assusta. - O encarou com desdém.
– Deveria ser menos insolente, mulher. – O sangue borbulhava nas veias.
– Eu não diria isso. – Prendeu o véu acima do nariz e deslizou o pesado manto pelo corpo, revelando a roupa de dançarina e uma espada que brilhava a luz das lâmpadas juntamente das medalhas prateadas presas a cintura.
– A moça tem uma arma. – Sorriu com certo escárnio, era ridículo pensar que uma mulher soubesse empunhar aquilo.
– Bem mais do que isso. – A expressão dela tornou-se bem menos dura. - Meu quarto fica próximo à entrada da recepção. – Começou a puxar os cabelos em um rabo alto, enquanto prendia os fios loiros habilmente. – Me encontre lá e talvez eu possa lhe dar as respostas que procura.
– Espera que eu aceite suas ordens?
– Você está interessado no que eu tenho a dizer e isso não é uma ordem, é uma informação. – Caminhou lentamente até a saída, parando antes de desaparecer do outro lado. – É minha vez de ir para o palco.
Desconcertante e muito convincente foi a forma como ela falou antes de ir, o shitennou ainda demorou cerca de dois minutos inteiros para se mover para fora dali. O som dos instrumentos já tomava todo o salão, assim como as palmas ritmadas dos espectadores ao ver os primeiros movimentos da bela se apresentando. Entendera o objetivo da espada assim que avistou a loira dançando com a arma como se fosse um brinquedo inofensivo, equilibrando-a – entre giros e movimentos ondulantes - nas mãos, na cabeça, cintura e busto. Também agarrava-se ao metal como poderia, muito bem, segurar um amante e, ao fim, ela girava a espada em volta de si – em movimentos muito ousados – sem medo e com a destreza que Kunzite pode analisar sendo equiparada a de um guerreiro, um guerreiro muito tentador, mas ainda sim um guerreiro. Finalmente constatou que Mona não era alguém normal e que seu sexto sentido não falhava. Kunzite mal esperou que o show acabasse e irrompeu entre os aplausos animados para o quarto indicado por ela. Para sua sorte, ninguém prestava muita atenção para onde ele ia, todos hipnotizados pelo show.
O cômodo era bem simples. Diferente do que fora oferecido a ele e seus homens, era apenas uma cama com almofadas um pouco mais velhas, uma lâmpada de óleo que brilhava fracamente sobre tons de areia e laranja do local e uma pequena superfície onde uma sacola estava jogada. Kunzite ficou de pé ali tentando conter inquietação, estava realmente tentado a mexer no que pareciam ser os pertences dela dentro da sacola e inclinou-se para fazê-lo, mas ela se fez ouvir pelo tintilar das medalhas se aproximando.
– Você veio. - Mona empurrou o pano escuro que cobria a cabeça.
– Não é apropriado revelar-se para um homem. – Repreendeu. Não que ele se importasse com isso, já havia visitado os mais diversos lugares do planeta para saber que ter uma mulher mostrando o rosto era o menor dos problemas.
– Você mesmo disse que eu não sou daqui, não importa. – Começou a pentear os fios dourados do cabelo com os dedos.
– E não estou aqui para ensinar-lhe boas maneiras.
– Eu sei que não. – Abriu caminho e passou por ele, abandonando o manto como fizera anteriormente e largando a espada sobre a mesa. Kunzite não entendia porque ela insistia em ficar com a roupa nada discreta a mostra, isso sim era um problema.
– Como você sabe? – Desviou o olhar, ela havia começado a se desfazer de todas as pulseiras e medalhas presas pelo corpo, ele começou a ficar receoso do que mais ela poderia inventar de tirar.
– Qualquer um que tenha o mínimo de conhecimento, saberia identificar você. – Tirou os brincos e empilhou junto do resto dos objetos prateados sobre a mesinha.
– Como é? – Ergueu uma das sobrancelhas.
– Cabelos prateados... Quem mais possuiria uma característica tão singular ainda sendo tão jovem? – Ela puxou a velha cadeira de madeira e apontou para a cama. – Sente-se.
– Você sabe demais. – Hesitou antes de sentar.
– Ou talvez não saiba de nada.
– Disse que se eu viesse, me daria respostas.
– Eu disse que talvez lhe daria respostas.
– Você tem a língua muito afiada para uma garota. – Apertou a mandíbula, Mona o irritava.
– Não é apenas a minha língua que afiada aqui. – Os dedos passaram delicadamente pelo cabo da espada sobre a mesa.
– Não me ameace... – Kunzite foi bem rápido no movimento de segurar o pulso dela.
– Está torcendo meu braço outra vez.
– Deveria dizer que está com sorte de eu não estar torcendo seu pescoço agora mesmo. – Só afrouxou o aperto quando Mona riu e forçou o braço para baixo.
– Pergunte. – Examinou o pulso que começava a avermelhar com o formato dos dedos do general.
– Quem é você? – Sentiu-se um pouco culpado ao vê-la esfregar a área avermelhada.
– Meu nome é Mona.
– De onde você vem? – Não estava convencido sobre a resposta anterior.
– De longe. – O tom usado em sua voz era repreensivo e indicava uma pergunta muito mal feita, ele notou. – Realmente, isso não é importante agora.
– Por que você disse que estava me esperando?
– Porque tenho assuntos a tratar com você. – Cruzou os braços na frente do corpo, como se fosse óbvio.
– Como sabia que eu viria pra cá?
– Não sabia, foi um golpe de sorte.
– Quer mesmo que eu acredite que foi mera coincidência? – Olhou desconfiado.
– Se buscou informações minhas, sabe que não é a primeira vez que danço aqui. – Arqueou as sobrancelhas. – Não que eu não esperasse encontrá-lo, queria muito um meio de falar com você. Aqui são seus domínios, uma hora você apareceria. A sorte foi eu poder estar aqui na mesma época que você, acredite, foram muitas tentativas para encontrá-lo.
– O que tem para tratar comigo?
– Vou direto ao ponto: Há um grupo de ladrões muito engenhosos agindo por aqui, você já deve saber. – Suspirou longamente, finalmente ele havia chegado na pergunta que ela desejava ouvir.
– Jadeite disse-me isso hoje depois que eles colheram informações na cidade, mas ladrões existem por toda parte, não é como se eu pudesse encontrá-los todos e lhes cortar as mãos.
– Não subestime a informação, seu amigo não deve ter se aprofundado no assunto, eles não são ladrões comuns. – O tom petulante e ao mesmo tempo macio dela incomodava. – Eles utilizam magia pesada e desconhecida, ainda não consegui identificar a fonte de poder, mas eles são perigosos e as pessoas sentem medo cada vez que a lua nova de aproxima.
– Está me dizendo que uma dançarina tem observado um grupo criminoso de ladrões mágicos atacando meu povo durante o período da lua nova?
– Exatamente. – Cruzou as pernas e apoiou um dos cotovelos sobre a coxa e a cabeça sobre a mão, tornando a conversa bem reta entre os dois. – Você vai ajudar, não é?
Mona mantinha os lábios levemente contraídos enquanto batia o indicador na bochecha esperando uma resposta. Ele e seus homens eram as pessoas mais qualificadas para lidar com o problema.
– Como posso acreditar na palavra de uma mulher a quem todos chamam de serpente?
– Sou chamada de serpente por outros motivos, não pela minha palavra. – Mona sorriu de lado. – Garanto que não sou uma má pessoa.
– Até mesmo a melhor das cobras, ainda é uma cobra.
– Sensato. – O sorriso sumiu do seu rosto. – Por favor, apenas me escute.
Kunzite via a expectativa estampada no rosto da loira, era ridículo pensar que uma mulher – ainda mais uma como ela – fosse capaz de ter informações tão preciosas, mas algo em seu íntimo sussurrava para que ele desse uma chance para tentar, afinal, estava ali para ouvir as pessoas e colher informações.
– Certo... – O general se levantou e desamassava as vestes com as mãos. – Eu irei ao mercado amanhã com os outros.
– Isso é um convite?
– É um voto de confiança.
– Você vai ajudar?
– Me prove sua história fantástica e poderei dar-lhe credibilidade.
– Estarei lá, você poderá perguntar as pessoas, elas vão confirmar o que eu digo. - Mona se levantou bruscamente, um sorriso desconcertante de tão bonito brotou em seu rosto e caminhou para puxar o cortinado da saída. – Obrigada, general.
– Apenas Tariq, entendeu? – Olhou por cima dos ombros, não dizendo aquilo por educação.
– Obrigada, Tariq. – Fez um pequeno movimento com a cabeça.
– Boa noite, Mona. – Atravessou a saída, encontrando um salão já vazio e pouco iluminado pelas últimas lâmpadas de óleo quente que ainda queimavam.
Apertou os olhos para enxergar o caminho de volta para seus aposentos, o caminho era nebuloso, assim como seus pensamentos naquele momento.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Demorou um pouquinho, mas saiu! o/
Esse capítulo ficou um pouco curto, mas é o que tem pra hoje. O próximo não vai demorar pq já comecei! *soltando fogos*
No mais, saibam que gosto de saber o que vocês acham, sempre. s2
See ya!