Miguel e Davi escrita por Lola Vésper


Capítulo 3
Capítulo 3 – I can’t remember to forget you – 19/06


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo! Como esse parte acontece na metade do ano deles, talvez fiquem alguns buracos sem solução. Mas vou esclarecer tudo com o tempo e conforme os capítulos forem sendo lançados vai fazer sentido eu prometo!



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Miguel odiava Davi. Miguel amava Davi. Na verdade, ele gostava mesmo do outro, mas não gostava. Davi era complicado, mexia com sua cabeça, mas não havia razões para gostar dele. Não depois do que ele fizera. O único problema era que toda a vez que olhava para o outro, esquecia completamente o que acontecera. Era difícil explicar.

O celular de Miguel tocou. Ele olhou para a tela e viu a milésima segunda ligação de Davi no dia. Isso, somada a todas as mensagens que recebera de todos os jeitos possíveis. E, não feliz em incomodar Miguel, Davi também fora atrás de Bia, querendo saber do garoto.

Suspirando, ele resolveu atender a ligação pela primeira vez.

– O que você quer? – falou grosso.

Quero que me ouça, Miguel, caralho! – a voz de Davi veio do outro lado.

– Fale rápido. Eu to um pouco ocupado.

Vai se fuder. Sei que tá na sua casa.

– E o que você tem a ver com isso?

Estranhamente, Davi estava certo. Miguel estava mesmo no apartamento que dividia com Bia, depois de ter se recusado a acompanhar a amiga para uma volta pela praia.

– Vou desligar, se não tem nada para fazer que não ficar me xingando – disse ele , e não costumava ameaçar sem cumprir.

Não, espera. – Davi disse – Espera. Quero falar com você. Você tem que acreditar, irmão, a Patrícia ficou completamente pra trás. Vamos lá! Sabe que eu gosto de você, não dela!

– Não foi o que pareceu.

Miguel se levantou da cadeira no quarto e andou em direção a cozinha, ainda com o celular encostado no ouvido.

Eu tive uma recaída! Uns caras me chamaram de “viado”, eu fiquei puto. Eu não estava pensando, me desculpa! O álcool me deixa alterado, você sabe.

– Se tem problemas em ser chamado de “viado”… – Miguel estava começando a se irritar.

Tá, me desculpa, me expressei mal! – Davi suspirou do outro lado da linha. E levou algum tempo antes de continuar – Eu te amo.

– Me poupe, – Miguel continuou, enquanto fazia um sanduíche, apoiando o celular entre o ombro e a orelha. – Vai falar isso para a Patrícia, quem sabe ela acredita nas suas mentiras!

Eu não estou mentindo, pô! – Davi parecia bravo. – Eu te amo, caralho!

– Mas, não quer ser chamado de “viado”.

Porra, Miguel!

A verdade era que o relacionamento dos dois estava indo as mil maravilhas até que Patrícia apareceu. Ou, melhor, reapareceu. Afinal, Patrícia era a ex-namorada de Davi, do tempo em que ele ainda ficava com garotas e estava longe de conhecer o outro. Mas, claro, estar enrolado com Miguel não o impediu de beijá-la quando se reencontraram. Já teria sido ruim se eles tivessem ficado uma noite, mas foi simplesmente imperdoável quando ele mandou uma mensagem para Miguel no dia seguinte e disse que precisava de um tempo para pensar se ele realmente queria ficar com ele, por causa da garota. E ele deixou um Miguel inconsolável por um mês enquanto desfilava pelas ruas do Rio sempre com Patrícia ao seu lado, sua nova namorada.

E, agora, que ele finalmente achava que tinha superado, Davi voltava pedindo desculpas e dizendo que terminara com Patrícia, que nunca devia ter feito nada daquilo? Miguel achava que só podia estar de sacanagem.

Eu já te disse. Eu fui pressionado! Minha família…– Davi insistiu.

– Se se preocupa tanto assim, devia voltar com a Patrícia. Se correr, talvez ela ainda te aceite de volta como o cachorro que você é.

Eu não quero a puta da Patrícia. Eu já te disse um milhão de vezes. Eu gosto de VOCÊ.

– Eu não estou mais interessado, Davi – e, enquanto falava isso, servia um copo de suco para si mesmo.

Você tem que…

– Eu tenho que? Eu tenho que? – Miguel repetiu, elevando voz. – Quem é você para me dizer o que fazer? Percebeu o quanto é egoísta? Quantas vezes já falou sobre si mesmo nessa conversa? Mas, quando o assunto sou eu, parece pouco importante. O que importa meus sentimentos, como eu me sinto, se comparado com as necessidades de Davi? Eu não sua putinha que está sendo a sua disposição quando precisa! Um mês, caralho! Você ficou um mês com a Patrícia! Em um mês a gente percebe que não gosta de alguém. Volta para o armário, se quiser.

Davi permaneceu em silêncio por um tempo. Um silêncio tão em que Miguel quase conseguiu ouvir a respiração dele.

Você pode descer? – a voz do outro lado da linha perguntou.

– Onde você está? – Miguel perguntou desconfiado, estranhando a pergunta do outro.

Você pode descer? – Davi repetiu. – Estou na rua do seu prédio. Estava esperando você sair.

– Você o quê? – e dessa vez Miguel parou de mexer com o sanduíche, chocado.

Pode descer? – ele perguntou uma terceira vez. – Se não descer, eu vou subir.

– Não, você não vai subir.

Então estou te esperando. E não pode se esconder no seu apartamento para sempre, Miguel!

Logo depois disso, Davi desligou o celular.

Miguel suspirou, olhando para a tela que indicava que a ligação fora encerrada. Não sabia o que fazer com Davi. Ele era complicado, insistente e cabeça-dura demais.

Por fim, resolveu que não ia descer. O outro acabaria esperando por algum tempo e quando percebesse que ele não apareceria, ia desistir. Então ele levou o sanduíche e o suco para a sala, onde comeu em silêncio, ocupando a mente com os barulhos da televisão a sua frente, sem realmente prestar atenção no filme que Bia estava assistindo antes de sair.

**I can't remember to forget you/I keep forgetting I should let you go**

Miguel só se levantou quando o filme acabou. E, só então, lembrou-se de Davi. Será que ele ainda estava esperando na rua? Era provável que não, mas deixando a curiosidade vencê-lo, pegou as chaves do apartamento e desceu, dizendo para si mesmo que ia apenas atrás de Bia (ignorando o fato de que podia simplesmente mandar uma mensagem para ela) e que não estava pensando em Davi.

Mas estava.

Ansiava, silenciosamente, que Davi ainda estivesse o esperando, que cumprira com a promessa sobre o esperar até que ele saísse. E, desta vez, o outro não o decepcionou. Lá estava ele, como o perfeito cavalheiro, em pé na calçada enquanto as outras pessoas passavam por ele como se não pudessem tocá-lo.

Ele estava sério, mas sorriu assim que viu Miguel, se aproximando dele antes que tivesse a oportunidade de seguir outra direção.

– Falei que teria que sair uma hora. – Davi sorriu, e mesmo seus olhos mel pingados de verde pareciam também sorrir enquanto ele falava com Miguel e mexia com ele de um jeito inexplicável.

– Q-queria mesmo conversar, h-hein?

Miguel queria não ter gaguejado. Porém, não podia evitar. Todo o gelo que havia dentro dele parecia estar se derretendo. Davi ainda sorria.

– Eu te amo – ele disse.

– Você não age como se amasse.

Uma carranca se formou no rosto do outro.

– O que quer que eu diga? Que odiei cada minuto que passei ao lado da Patrícia? Que eu só conseguia pensar sobre você enquanto estava com ela? Que você é a única pessoa sobre quem consigo pensar em me amarrar sem ficar assustado? Qual desses exemplos você quer para provar meu amor?

– É fácil falar. – Miguel disse, sem conseguir esconder o nervosismo.

– Então é hora de lhe apresentar fatos concretos.

E Davi o beijou. Ali mesmo, no meio da rua, com todo mundo olhando. Aproximou-se rapidamente, antes que Miguel pudesse fazer alguma coisa e o beijou. Simples assim. E Miguel teve a mesma sensação de quando ele o beijara naquela noite de lua cheia na praia, meses antes.

Bichas! – alguém desconhecido gritou na rua.

Mas, Davi não soltou Miguel. Ele simplesmente lhe o dedo do meio na direção em que ouvira a voz.

Quando eles se afastaram, Miguel estava devidamente reconquistado. Tanto pela atitude de Davi quanto pelo olhar, aqueles olhos mel que ele não conseguia parar de se afundar-se.

E, sim, sabia que era idiotice, sabia que eles provavelmente acabariam cometendo os mesmo erros hora ou outra, mas…

Miguel estava com Davi mais uma vez e, talvez, ele estivesse certo e os acertos compenssem os erros.


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Notas finais do capítulo

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