Fazia tanto tempo que Killua não entrava naquela sala, ela ainda mantinha o clima gélido, típico de um assassino, o albino não sabia se seu suor frio era devido ao ambiente em que se encontrava, ou por causa do olhar sério e mortífero que seu pai, Silva, lançava sobre ele sem nem mesmo um segundo de folga.

Afinal, por que ele estava ali? O garoto só se recordava de que tinha saído com Gon para um encontro, assim que chegaram ao pequeno apartamento dos dois, Killua apagou, e quando acordou estava nesta sala assustadora com seu pai olhando mortalmente para ele.

Os olhares dos dois se chocavam sem hesitação, aparentemente os dois queriam falar, mas nenhum pretendia iniciar a conversa. Iriam ficar se encarando o dia inteiro se nenhum tomasse a iniciativa. Killua engoliu em seco, tinha que começar seja lá o que seu pai quisesse conversar para poder partir e encontrar Gon de novo, ele deveria estar preocupado.

– Então, papai, o que o senhor quer? - Perguntou ainda receoso do que poderia ser o assunto que seria discutido.

– Você sabe muito bem. - Silva se pronunciou rápido, forte e direto - Gon.

– O que tem o Gon? - Era realmente o assunto que o albino mais temia que fosse abrangido, já tinha em mente o que seria dito em seguida.

– Você não pode mais ver esse garoto, não é bom para você, não é bom para a família. - Mais uma vez, foi frio e sem deixar brechas na sua fala.

– Posso saber o porquê de ver ele não é bom para mim? E para a família? Como o Gon poderia causar problemas à família? - Killua estava indignado com as palavras de seu pai, como ele poderia dizer que Gon traria problemas?

– Filho, esse garoto foi muito bom para você no início, toda a família sabe disso, mas não podemos negar também que ele fez seu lado assassino se esconder dentro da sua mente, e isso vai prejudicar você quando se tornar o chefe dos Zoldyck. E mais do que isso, como você pretende dar continuidade a nossa linhagem ficando ao lado de outro homem? Você precisa de uma esposa que tenha capacidade e qualificações para garantir um herdeiro prodígio que traga prosperidade à nossa família. Você entende não é?

O pronunciamento do seu pai foi cruel, completamente maldoso, demonstrou que desde o início, Silva nunca se importou com Killua, ele sempre só deu importância ao talento do albino e o quão poderoso poderia ser um filho dele. Nunca de fato quis que o garoto fosse feliz ao lado do amigo. Isso o encheu com uma tremenda raiva, não podia aceitar aquilo, o que seu pai pretendia dizer em seguida?

– E o que te faz pensar que eu quero continuar sendo um assassino? O que te faz pensar que eu quero uma esposa, um filho prodígio, e ainda, o que te faz pensar que eu quero dar continuidade a esse ramo da nossa família? Para isso o Illumi e o Milluki já não são o suficiente?

Pela primeira vez, Silva desviou o olhar, não sabia o que responder para o filho, Illumi era completamente neurótico, e muitas vezes sumia ao lado de Hisoka, tinha desgosto em imaginar o que o filho mais velho aprontava ao lado do palhaço, ele queria crer que eram apenas assassinatos, mas ele sabia que era mais do que isso. E Milluki, se dependesse do rapaz, iria ficar a vida inteira sozinho, isolado em meio aquela sala repleta de videogames e bonecos de ação. Achava injusto não permitir que o garoto mais novo não pudesse ser feliz ao lado de quem queria, mas precisava manter a linhagem, e de preferência, que esta fosse a partir de alguém lúcido, como Killua.

– Killua, você sabe que esse garoto...

– Sei o que? - Ao tentar continuar a conversa, foi imediatamente cortado pelo albino - Gon é minha luz, papai, é a vela que ilumina meu caminho, sem ele eu ficaria para sempre nessa história de assassino, eu não quero isso para mim, e graças ao Gon, eu pude sair, e não quero voltar. Eu vou ficar ao lado do Gon para sempre, nunca deixarei de segui-lo e...

– Você vai abandonar Gon - Desta vez, Silva que interrompeu as palavras do garoto - Já te disseram isso antes não é? Aquela senhora lhe disse que eventualmente seu medo irá fazer você ir embora, mesmo que não queira. É o seu destino Killua, você nasceu para continuar a linhagem dos Zoldyck.

Aquelas palavras rudes foram praticamente esfregadas no rosto do albino. Ele não queria mais se lembrar daquele momento, daquele dia, mas infelizmente o garoto se recordava perfeitamente. Mas ele também tinha na sua memória que isso aconteceria apenas se ele nunca tivesse removido as agulhas de Illumi de sua cabeça. Nesse momento, Killua foi preenchido por uma vontade insana de rir, que não pode ser segurada, então escapou sem a mínima intenção de parar. O albino riu muito, o fez até se sentir sem ar e com dores em sua barriga, quando parou, deu um sorriso debochado.

– Destino? Esse destino que você mencionou mudou quando eu removi a agulha do meu irmão que você permitiu que fosse colocada em minha cabeça! Eu vou decidir meu próprio futuro, e ele será ao lado de Gon! Então pode pegar suas palavras e todas essas mentiras e sumir da minha vida se não for me deixar viver do jeito que eu quero! - Killua soltou suas palavras de uma única vez, para só depois parar e respirar um pouco.

– Mas e a nossa família Killua? Como ela será mantida? Você sabe que seus irmãos não possuem capacidade para administrar nem mesmo eles, irão conseguir cuidar de um grupo de pessoas como nós? Só você pode continuar a linhagem. - Silva já estava quase cedendo, mas ele precisava se esforçar mais, por uma causa maior.

– Linhagem? Eu realmente não dou me importo com essa merda. - O albino simplesmente cuspiu palavras sem a mínima intenção de ser educado - Não pretendo continuar meu trabalho como assassino, então não tem a mínima importância manter essa linhagem suja que é a nossa. É por esse motivo que eu preciso de Gon, sem ele, eu não posso viver do jeito que sou agora, ele é a minha engrenagem, e se você não tem mais nada para falar, eu estou voltando para ele.

Em seguida a sua fala, Killua imediatamente se virou para seu pai, abriu a porta a passou por ela, sem nenhuma hesitação. Silva ficou parado no local em que ficou sentado desde o início. Um leve sorriso saiu de seus lábios, tinha criado filhos espetaculares.