Isaak haveria de se lembrar, sem sombra de duvidas, para nunca, jamais pedir conselhos a sua “amiga” Isabella. Os motivos eram óbvios: por causa do conselho-barra-participação dela em seu plano, tudo fora por água a baixo.

Isabella... desde quando começara a se envolver com aquela patricinha com problemas sérios de cleptomania? Desde um incidente desagradável a alguns meses atrás, ele definitivamente negava toda e qualquer oportunidade que faria com que ambos entrassem numa loja juntos. Ela não era tão burra quanto todos julgavam, tinha a extrema cara de pau de fingir que não sabia de nada quando, por trás dos panos, já estava maquinando alguma coisa.

–Isa... eu te odeio.

–Cara, a culpa não é minha se você me pede opinião de uma menina que é completamente o meu oposto... -ela bateu as mãos na saia pregueada que usava, e então pôs-se a arrumar os cabelos dourados.

–Você é mulher, é obrigação sua saber o que as mulheres gostam!

–Sugiro então que vá procurar uma mulher de verdade pra satisfazer-se, meu bem... -inclinou a cabeça para o lado, as mechas chicotearam em seus ombros. -Entendeu?

–Ela pode não ser uma patricinha apaixonada por cor-de-rosa e fútil como você, mas isso não faz daquela pintora-de-rodapé menos mulher.

–Uhh, quase fiquei ofendida agora, sabia? -ela atirou uma lata de refrigerante cheia para ele. -Relaxe, ela virá até você... ninguém esquece um beijo debaixo de neve...

Isaak lançou a ele um olhar cético, pegando a latinha e abrindo-a com um movimento só. -Você realmente tem uma visão fantasiosa da realidade. Já pensou em procurar um psiquiatra?

–Só pra me dizer o que já sei? Prefiro gastar meu dinheiro com sapatos. De marca.

Ele segurou a ponta do nariz, se perguntando como as pessoas conseguiam ser tão apegadas a coisas materiais, e então notou que ela estava com uma garrafa de alguma bebida alcoólica na mão, que ela não se incomodava de tomar no gargalo. -Vai acabar ficando chapada assim.

–Não tem nada melhor por aqui, é uma pena.

Isa continuava a ignorar as alfinetadas dele, mas em um dado momento parou e apontou adiante. -Ei... olha só. Parece que sua amiguinha resolveu sair de casa.

De fato, Melisandre havia ficado apenas em casa naquela semana, não enfiara nem o nariz pro lado de fora. Quando conseguiu recuperar-se da gripe violenta que pegara (que por pouco não virou uma pneumonia), finalmente colocara os pés pra longe do piso de seu lar e se aventurara na vizinhança. É claro que esperava dar de cara com Isaak no meio da rua, ele era especialista em encontrá-la. Meses de rotina, num jogo de gato e rato em que o roedor caçava o felino. Afinal, Melisandre sabia como mostrar suas garras.

A reação do rapaz foi imediata. Ele puxou Isa para trás do carro em que ela antes estava encostada e tapou sua boca. Não se esqueçam que ele havia ficado com uma menina no baile, mas esta era apenas uma armação. A garota era Isabella. Se Mel a visse com ele, as coisas não iam acabar bem...

–Vamos, vamos... entre no carro e vai logo...

–O que, tá me mandando embora? Que direito você tem para...

–Xiu, ela vai ouvir. -ele abriu a porta dianteira do veiculo e esperou a loira entrar no mesmo. Esta lançou-lhe um olhar azedo. -Olha aqui, está me devendo duas.

–Só estou devendo uma.

–Tanto faz, queridinho, mas quando eu cobrar, é melhor que esteja preparado. -ela piscou para Isaak, e um minuto depois a porta se fechou, e o carro de luxo, com vidros fumê, saiu xispando pela rua afora. O rapaz fez uma nota mental: nunca entrar naquele carro com ela.

Isso ia ficar pra depois, pois Mel se aproximava, ainda sem notá-lo. Porém, em um dado momento foi impossível não ver. Atravessara a rua praticamente de frente para ele, e quando esta reparou quem estava do outro lado, seus olhos se esbugalharam. A surpresa a fez parar, e então...

Um carro virou a esquina em alta velocidade. Isaak, ouvindo o estalar dos pneus contra a pista, se jogou para frente, tentando puxá-la...

Ele não chegou a tempo...