Isaak não estava melhor que Melisandre por estes dias... naquela primeira noite, quando chegara em casa com os cabelos pingando por causa da neve que se acumulara sobre os fios, houve principalmente um desentendimento com a irmã, com a pequena diferença de dois anos de idade (que mesmo sendo mais velha, perdia para o mesmo em altura).

–Hei... pivete... vai acabar pegando um resfriado assim.

–Não enche... -ele atirou um casaco ensopado por sobre o cabide que
ficava atrás da porta e entrou em casa de fato. Estava com frio. Seus dentes batiam tanto que talvez fossem quebrar.

–Tão mal educado... ande logo e entre no chuveiro... se pegar pneumonia
e morrer, eu não vou me responsabilizar!

–Ahh, apenas cale a boca, okay?

E ela viu a porta do banheiro bater em sua cara. Sem a menor cerimônia.
Muito cruel da parte dele. Era nisso que dava se preocupar demais. -Moleques... -voltou a seus afazeres, que consistiam em se acomodar no sofá e continuar a ver televisão.

Isaak demorou um pouco mais de tempo para se despir que o necessário, já que cada vez que tirava uma peça de roupa parecia que ia morrer congelado. Ligando o chuveiro e deixando-o ultra quente, finalmente conseguiu ficar debaixo da água.

Ela levou embora o frio, mas os sentimentos ruins ainda continuavam ali. Ele fora rejeitado. Por uma das únicas pessoas que gostara realmente em muito tempo. Isso de fato chateava. Incomodava o suficiente para não deixar que pensasse em mais coisa alguma.

Depois de algum tempo escaldando o próprio corpo, ele saiu do banheiro.
Passou para o quarto, e foi sua vez de se jogar na cama. Respirar profundamente. Não que isso fosse adiantar de algo. Não ia fazer diferença alguma... ele tinha as lembranças do dia anterior gravadas na cabeça.

–Você vem comigo ao baile?

–Pra que diabos eu vou para um baile com você?

–Pra me fazer companhia, oras... não é óbvio?

–Óbvio é, mas não sei o que pode estar passando nessa sua cabeça
louca...

–Você tem pensamentos muito estranhos sobre mim...

–Idiota.

–Sim, você me diz isso todo santo dia... e então,vem ou não...

Ele lembrou que Mel colocara as marias-chiquinhas para trás novamente
(elas haviam se desalinhado enquanto ela sacudia a cabeça de maneira negativa) e suspirou. -Tá... tanto faz.

–Eba!

–Não fique tão animado com isso...

–Okay, certo, certo...

Isaak voltou ao presente sentindo a dor aumentada ainda mais vezes. Por
que decidira fazer ciumes nela mesmo? Porque ouvira que funcionava. Mas como deveria saber bem, nada com ele era simples. Ainda mais quando se tratava da sua rival.

Rival? Ela já passara dessa fase. A muito tempo. Ele a amava... a pouco
tempo começara a perceber isso. Aquela vontade de aporrinha-la o dia inteiro só pra ter certeza que estaria ao seu lado, não importava o que ela fosse jogar nele. Ou de que iria xingá-lo. Ou se iria acertá-lo com algum golpe novo.

Isso não importava mais. Ele fechou os olhos apagando as imagens do
presente da sua mente. E então puxou os fones de ouvido que mantinha abaixo do travesseiro junto com um ipod, e deu play. A playlist de Melisandre começou a tocar. Agora estava em uma música dos Beatles.

–Why she had to go I don't know
She wouldn't say
I said something wrong now I long
For yesterday...¹

Homens não choram... você terá uma nova chance, ele lembrou a si mesmo.

–Não quero perdê-la. -murmurou para si mesmo, e por mais que tentasse evitar, uma lágrima singrou sua face.