–Hei... vai continuar me olhando com essa cara azeda?

Isaak agora estava sentado no banco da praça, observando sua
companheira, que definitivamente estava extrapolando em seu olhar mortal
daquela vez.

–Você é idiota, não é? Me faz sair num dia desses pra ir numa droga de
festa pra ir lá e ficar se agarrando com outra garota?

–Er... porque esse "outra"?

Mel rangeu os dentes com tanta força que ele conseguiu escutar o
barulho. Isso fez com que se afastasse mais um pouco.

–Calma ai, é apenas uma pergunta. E além do mais, foi você mesma que
disse pra eu arrumar uma namorada.

Cruzou os braços, ajeitando o capuz sobre seus cabelos desarrumados.
Melisandre, por sua vez, espalmou as mãos nos próprios joelhos.

–Não falei pra você beijar a primeira que aparecer!

–Fala sério, você é muito chata... isso te incomoda desde quando?

–Que? Eu nunca disse que me incomoda... eu não estou nem ai. A
propósito, na próxima vez, você vem sozinho.

–Nanica insuportável. Por que estava chorando?

–Eu não estava.

–É claro que estava. Me disseram que você saiu do salão correndo. E seus
olhos parecem dois tomates.

–Cale a boca! -ela deu uma porrada no braço dele, e logo continuou. -Não
é nada. Não é... nem mesmo da sua conta!

–Não é, né... -Isaak segurou uma mecha do cabelo dela, trazendo-a mais
para perto e deixando bem perto de sua boca. -Você mente muito mal.

–Aonde você pensa que está tocando...

–Em seu cabelo?

–Pare de me tocar!

–Ahn... bom, e se eu fizer algo como isso. -ele virou rapidamente o rosto na direção dela, que pega desprevenida, não teve tempo de evitar... o beijo que acabara de ganhar de Isaak.

Foi tão rápido... ela mal teve tempo de raciocinar sobre aquilo. Seu rosto
esquentou quase de imediato, e então não sentia mais frio. No entanto. No entanto sua reação foi dar-lhe um sonoro tapa.

–Que diabos pensa que está fazendo? Eu não sou uma garota qualquer, não sou dessas que você pode beijar quando bem entende!

Ela estava muito, muito chateada. Pra começo de conversa, aquele era o
seu primeiro beijo de fato. E além disso, se sentiu muito longe de especial. Forçou-se a engolir em seco, a fazer com que seu coração voltasse a bater mais devagar e que seu rosto assumisse a expressão pálida de sempre, o que não adiantou muito, por causa da raiva.

–Eu gosto de você, Mel. Não dela. Não consegue entender algo tão
simples?

–Você só gosta de você mesmo... por que me incomoda tanto? Por que me irrita? Por que tem que pegar oustras garotas se gosta de mim? Isso é...
isso é...

Ela não queria se enganar mais. Aliás, ela até queria. Uma parte minima
dela gostaria que ele a abraçasse e dissesse que estava tudo bem. Estranho, ela nunca pensava nessas coisas... eram tão irracionais para Mel. O frio voltou a atingi-la com força, e ela deu-lhe as costas, tremendo, querendo ir embora dali.

–Não me siga mais. Não me procure mais. Simplesmente vá embora! -sabia que estava sendo impulsiva, e infantil. Mas não conseguiu olhar para
trás. Apenas saiu correndo novamente, rumo a sua casa, um banho quente, uma cama fofa e um travesseiro pra desabafar sua mágoa.

E quanto a Isaak?

–E o meu erro foi crer, que estar ao seu lado bastaria...

Ele chutou um punhado de neve, fazendo os flocos voarem, e deixou sua cabeça pender. Talvez tivesse ido longe demais. Mulheres eram tão frágeis, e tão complicadas. Ele nunca sabia lidar com elas. A noite não terminaria do jeito que ele esperava. Ela seria solitária, e fria, e úmida. Como a neve que caia sobre seus cabelos...