Linha Tênue escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 28
Aciddentally in Love


Notas iniciais do capítulo

ADVINHEM QUEM NÃO MORREU!!
Pois é, pessoal, depois de éons estou aqui de volta, disposta a terminar essa bagaça de uma vez por todas.
Não tive muito tempo pra revisar então ignorem os erros que escaparam dos meus olhos, okay? Ou me avisem para que eu possa endireitá-los.

Capítulo referente à música Aciddentally in Love, de Counting Crows (e do filme Shrek também) :p

Façam uma boa leitura. ♥



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— Mudar não é fácil. Admitir que precisamos evoluir, precisamos crescer e ter que resolver nossos próprios problemas, fazer nossas próprias escolhas e seguir nosso próprio caminho, pode ser assustador. Muitos de nós já começamos a fazer isso tudo já a algum tempo, alguns precisam crescer mais cedo que outros. Mas o que todos nós temos em comum é que terminamos uma etapa hoje, e não importa o que decidimos fazer a partir desse ponto: nós teremos de escolher. E eu faço votos para que todas as nossas decisões nos levem além. O futuro está apenas a um passo de distância… só precisamos estender nossas mãos e agarrá-lo.

Melisandre calou-se, inspirando e expirando novamente, enquanto as palmas ecoavam pela pequena plateia, composta de pais e familiares. Era de se esperar que ela, a aluna modelo, faria o discurso de formatura daquele ano. Fora-lhe difícil escrever algo tão… emotivo, visto que normalmente suas observações eram objetivas. Além disso, seu estado mental não estava dos melhores. Ela apenas ficou satisfeita de saber que conseguira fazer aquilo sem chorar que nem uma estúpida, o que vinha sendo sua reação à maioria das coisas nos últimos dias.

Ela notava que Isaak estava ignorando-a. Na verdade, eles cruzaram-se uma três vezes durante o dia e nenhum ousou erguer a voz para o outro. Os colegas que perceberam a aproximação entre ambos no último ano observaram-nos com dúvida, sem entender muito bem o que estava acontecendo com aqueles dois.

Melisandre não dava a mínima para o que os outros pensavam.

Após os diplomas serem entregues, seus pais e amigos sugeriram saírem para comemorar. Não é nenhuma novidade que ela tivesse recusado prontamente. Droga… a última vez que saíra, dera tudo errado. Ela nem queria pensar em se envolver em uma situação parecida de novo. Aquilo não era sua praia, nunca fora, e Mel tinha de admitir no final das contas que preferia ficar em casa estudando a enfrentar multidões.

Ela fora para casa, jantara com seus pais e quando achara que o dia terminaria com a sua playlist tocando nos ouvidos, faltando-lhe apenas adormecer, a campainha de casa tocou e sua mãe gritou em seguida, avisando que seus dois amigos estavam lá em baixo.

De fato, após descer as escadas, ela pode vislumbrá-los na porta, com várias bolsas que, pelo visto, estavam lotadas de guloseimas e refrigerante. Ora, pelo visto eles tiveram a decência de não trazer bebida alcoólica. Suspirando, a garota deixou a casa para unir-se a eles na varanda e apoiou a mão nos quadris.

— Casa da árvore?

— Casa da árvore. — responderam os dois em uníssono.

 

A construção não estava muito melhor do que quando estiveram ali, tantos meses antes. Seu estado precário exigia atenção para permanecer ali em cima. Mas, como frequentadores mais assíduos do local, o trio não teve problema em acomodar-se.

— O que vocês vão fazer com ela? — questionou Alex assim que se ajeitaram no pequeno espaço, o dedo cutucando vagamente a parede ao seu lado.

— Vamos demolir depois de amanhã. Mesmo que deixemos como está agora, um novo comprador vai ter de tirá-la daqui por conta da idade.

— De qualquer forma, isso aqui já está ficando um pouco perigoso. — contestou Dan. Melisandre achara que ia ser difícil manter-se perto dele por conta de seu relacionamento com Isa, mas no fim das contas a amizade deles era mais forte do que toda aquela confusão que acontecera. Ela até mesmo estava gostando de estar ali com os amigos.

Como nos velhos tempos.

— Tudo o que é bom dura pouco… — Alex deu de ombros e riu. — Olhem só, agora todos nós estamos inseridos na vida adulta, finalmente alcançamos você, Dan!

— Você tá achando divertido agora, espere só quando entrar numa universidade. — Daniel abriu uma das suas familiares latinhas de coca-cola e colocou um canudo nela, tomando um longo gole. — Aliás, algum de vocês já tem ideia do que vão fazer?

— Vou fazer arquitetura, já fui aceito e tudo. — Alex mostrou a mão com os dedos indicador e médio fazendo um pequeno “V”.

— Ta ai uma coisa que eu nunca imaginei que você faria.

— É porque você não tem muita imaginação, Mel. E quanto a você, o que vai fazer?

Um minuto de silêncio, em que a garota permanecia mastigando salgadinhos, estendeu-se, até ela engolir e responder com a expressão neutra habitual. — Não sei.

— Como assim você não sabe?

— Eu não sei, oras… nunca pensei muito nisso.

— A nerd maníaca por estudos que não pensou sobre que carreira seguir no futuro… — Daniel começou a gargalhar logo em seguida. — Isso é tão você.

Como esperado, a mão de Melisandre voou na cabeça dele em forma de um soco. — Pare de zombar de mim! — ela recuou novamente, cruzando os braços, enquanto o amigo massageava o local atingido. — Além disso… eu não quero fazer a primeira coisa que me vier a cabeça e me arrepender depois.

— Oh, bem… não é como se fosse um crime ficar indeciso sobre algo. — Alex riu um pouco também, mas fez questão de manter uma distância segura da garota. — “Tudo a seu tempo”. Meu pai me fala isso o tempo todo… eu passei a responder na mesma moeda após começar meu namoro com o Greg.

— Isso continua sendo um problema?

— Um pouco… bem, eu não vou desistir, de qualquer forma… minha habilidade incrível de persuasão levará a melhor!

— Boa sorte. — Dan mostrou o polegar para o rapaz e então retornou sua atenção para Melisandre. — Sabe… na nossa idade sempre fazemos coisas que vamos nos arrepender depois. Mas, se eu pudesse dar um conselho de alguém experiente, eu diria que é preferível arrepender-se de algo que fez do que de algo que deixou de fazer.

Melisandre começou a achar que a conversa estava desviando um pouco de seu futuro universitário com aquela frase, mas preferiu apenas assentir com a cabeça e incliná-la em seguida. — Está me dizendo que na dúvida entre usar LSD e não usar era preferível que eu usasse?

— Estou falando sobre coisas que não vão lhe fazer mal, engraçadinha.

O silêncio inundou o local mais uma vez, até Alex quebrá-lo com outra gargalhada, que foi ecoada pelos dois amigos. Eles comeram, beberam e riram até altas horas, quando finalmente desceram da casa na árvore e se separaram, Alex e Daniel prometendo ajudar Melisandre com a mudança naquele final de semana.

Antes de entrar em casa, porém, Mel pegou-se observando por muito tempo a direção onde ficava a casa de Isaak.

 

 

O dia da mudança chegara. A maioria dos objetos menores fora encaixotada e estava sendo levada ao caminhão, enquanto os maiores já haviam sido acomodados nele. A casa da árvore tinha sido desmantelada dias antes, e suas partes foram despachadas junto com o lixo, sendo a exceção a “placa de entrada” onde ficava o nome do trio de amigos, que Melisandre decidira guardar e também já fora colocada no veículo.

A garota estava sentada no chão endireitando as louças embaladas dentro de uma grande caixa de papelão. Com cada um trabalhando num cômodo diferente da casa, o serviço seria feito mais depressa, então era comum ouvir seus pais ou os amigos trocando palavras enquanto se cruzavam pelos corredores, trazendo ou levando algo. Entretanto, ela chegara a conclusão que já fazia algum tempo que não ouvia nada vindo dos cômodos adjacentes.

Muito suspeito…

Melisandre apoiou uma das mãos no chão para levantar-se, o piso era ligeiramente escorregadio e o sapato que usava não ajudava muito a dar resistência. Seu pé deslizou um pouco para o lado, fazendo-a perder o equilíbrio e quase cair de cara no chão, o que levou uma voz próxima a arfar de preocupação. A garota milagrosamente conseguiu apoiar-se sobre as duas mãos, e ergueu um pouco a cabeça para fitar um par de tênis.

Okay… ela não reparava no que seus amigos vestiam, então poderia ser qualquer um dos dois… a julgar pela neutralidade da cor, cinza, deveria ser Dan. Ela ergueu um pouco mais a cabeça, pronta para alegar categoricamente que estava bem.

E deu de cara com Isaak.

Sua reação imediata foi ficar confusa, depois alarmada, afastar-se num ímpeto que fez com que caísse para trás e batesse com a bunda no chão e erguer uma pilha de pratos como arma mortífera.

— Ei, pára, o que pensa que está fazendo!?

— De onde você surgiu? Desde quando está aqui? E qual a parte de eu não quero falar com você ainda não entendeu?

Isaak, que havia sabiamente levantado os braços em frente ao rosto, resmungou. — Queria conversar.

— Vai continuar querendo, não tenho nada a dizer pra você. — Mel colocou a pilha de pratos na caixa, tentando levantar-se e escorregando pela terceira vez. Antes que caísse, no entanto, Isaak foi mais rápido e agarrou-a pelos cotovelos.

— Pare de agir como uma criança!

— Eu sou a criança? Eu sou a criança? Foi você que criou essa situação toda. Beijou outra garota para chamar minha atenção quando podia simplesmente falar comigo e ficou em dívida com… com… — ela esforçou-se para se libertar e desta vez conseguiu ficar de pé.

— Eu sei que fui um idiota e um babaca, Melisandre! Nada que eu faça vai mudar isso…

— Então você deveria apenas desistir de mim!

Ela deu mais alguns passos para trás, apenas parando de caminhar ao encostar na parede atrás de si. Seu coração estava acelerado por conta da briga, o rosto vermelho de raiva parecia queimar. Mel mataria os outros por fazê-la passar por aquilo. Ela tinha certeza que Isaak jamais entraria em sua casa daquele jeito sem chamar a atenção de alguém. Aliás, parecia que os dois estavam sozinhos, então era bem capaz deles estarem atrás da porta da frente escutando tudo.

Traidores enxeridos…

— Eu tentei. Eu tentei, e tentei, e tentei mais, por todos esses dias… quem precisaria de uma garota como você, alguém que demonstra os sentimentos de uma maneira toda errada e resolve tudo na base da violência, além de ser um rato de livros? — Isaak apontou para ela, parecendo irritado. Então, sua mão caiu e ele baixou um pouco a cabeça também. — Mas você também ficou comigo quando eu não merecia, e me fez sorrir quando eu só queria chorar.

Ele fez uma pausa, erguendo os olhos para observá-la frente a frente.

— Eu pensei que se você fosse embora, mesmo que apenas para outro bairro… que se eu deixasse que fosse assim, eu jamais me perdoaria depois… eu me arrependeria. Eu sei que sou patético, meus métodos e minhas maneiras de agir e de me portar. E devo estar parecendo mais patético agora…

— Você está realmente patético, idiota.

— Não posso negar… não dessa vez… — ele mordeu os lábios, passando a mão por trás da nuca. — Mas eu me sinto menos patético com você ao meu lado. Ou talvez eu apenas fique tão focado em você que esqueço de ser um.

— Um idiota é um idiota, independente de como pensa sobre si mesmo. — ela cruzou os braços e corou um pouco, abaixando a cabeça. — Você vai continuar mentindo pra mim?

Os pés dele se aproximaram. Melisandre conseguia vê-los do ângulo em que sua cabeça estava abaixada. Por alguma razão, ela sentia vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Aquilo não podia ser bom sinal… podia?

— Nunca… nunca mais. Eu juro pra você. Eu não consegui ir longe com Isabella daquela vez… — as mãos dele seguraram suavemente nos braços dela. Ainda assim, Mel trincou os dentes ao ouvir aquela história novamente. — Porque quando eu pensei bem, eu percebi que só poderia fazer isso com “uma pessoa”. E mesmo que eu nunca fizesse com “essa pessoa”, afinal de contas “ela” é meio violenta e tentaria me capar ou algo assim… eu não suportaria olhar para “ela” após fazer isso. E não suportaria ver a expressão “dela” se “ela” soubesse.

— Isso não faz com que “ela” se sinta muito melhor, você sabe.

— Eu sei… mas é a verdade. Isabella ama Daniel, apesar de todas as probabilidades terem apontado contra isso. E eu amo você… — ele fez uma pausa, enquanto seus braços envolviam-na e traziam-na mais para perto. — E, olha só, nós dois somos virgens.

— Pare com isso, babaca. — Mel cutucou-o com força nas costelas. A raiva que fizera seu coração acelerar estava desaparecendo aos poucos, mas ele continuava batendo rápido. Ainda mais por conta daquela confissão. Droga… até parecia que já não tinha ouvido isso antes. — Repete isso que você disse…

— “E, olha só, nós dois somos virgens”?

— Não… antes disso, idiota.

Isaak ousou um pouco mais e se afastou um pouco, descendo uma das mãos para segurar o queixo de Melisandre e fazendo-a olhar para cima.

— Eu amo você, tampinha.

Ela mordeu o lábio inferior por alguns segundos, encarando-o, e depois de algum tempo cantarolou baixinho.

Muito baixo.

Pare que todos os enxeridos do lado de fora não escutassem, apenas Isaak.

 

How much longer will it take to cure this
Just to cure it cause I can't ignore it's love (love)
Makes me wanna turn around and face me
But I don't know nothing about love¹

 

Isaak, em contrapartida, apenas revirou os olhos e chegou um pouco mais perto.

— É claro que você sabe, sua irritante.

Mel ficou na ponta dos pés e passou os braços pelo pescoço dele, fechando a distância e beijando-o lentamente. E Deus sabia o quanto ela, sem perceber, começara a sentir falta daqueles lábios, daqueles braços e todo o resto, incompreensível e estúpido, que dava forma à Isaak.

E o quanto ela estava aliviada por tê-lo junto dela outra vez.

E que talvez, só talvez…

Aquilo fosse para todo o sempre.

E aquela perspectiva pela primeira vez não assustou nem um pouco.


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Notas finais do capítulo

1=Quanto mais vai demorar para curar isso
Só para curar porque eu não posso ignorar
Se for amor (amor)
Me faz querer voltar e me encarar
Mas eu não sei nada sobre amor



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