Linha Tênue escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 29
Whole Lotta Love (Epílogo)


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, antes tarde do que nunca, o último capítulo dessa fic. A ideia era fazer um cap mais condizente com a música e após um bônus, mas eu admito que enrolei demais pra acabar isso aqui, então uni as duas coisas. Enfim, espero que gostem desse final.

A música é Whole Lotta Love, do Led Zeppelin.



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Ele ainda estava arrumando a gravata quando ouviu as batidas na porta. Seus dedos tremiam, e não ajudava muito o fato de que nunca aprendera a colocar uma. Ele só a usara duas ou três vezes em sua vida, e sempre havia alguém para dar-lhe uma mão. Deixando escapar um suspiro que mais parecia uma queixa silenciosa, dirigiu-se até a porta para atender ao intruso. Como o esperado, se tratava da mãe.

— Oh… eu ia perguntar se já estava pronto, mas… — os olhos dela encheram de lágrimas ao observá-lo. Os cabelos negros, herdados por Isaak, já começavam lentamente a ficar grisalhos por conta de sua idade, e ela precisou tirar os óculos de aro fino e limpá-los, antes de voltar a observá-lo. — Você está tão bonito, Isaak.

Ele corou e desviou o olhar. Estava realmente nervoso com aquilo tudo. Afinal, era um dia especial… um dia que pensara que jamais chegaria, e se fosse percorrer sua mente por decisões passadas e crises que se seguiram, aquilo tudo só estava acontecendo por muita sorte ou por alguma intervenção divina.

— Obrigado, mãe.

A mulher percebeu que a gravata dele continuava fora de lugar, e limpou as lágrimas, aproximando-se do filho para ajeitá-la. Isaak ficou tentado a deixar que o fizesse, mas ele estava entrando em uma nova etapa de sua vida naquele dia, ajeitar sua própria gravata era o mínimo que deveria aprender a fazer. Após a reticência em deixá-la se aproximar, sua mãe inspirou profundamente e ditou-lhe o que deveria ser feito. E ele fez, prestando atenção desta vez.

— Agora sim, está perfeito. — ela sorriu-lhe uma vez mais, e algumas lágrimas ameaçaram a cair. — Estou muito orgulhosa de você, meu menino.

Não fora a primeira vez que ela o dissera. Quando Isaak deixara sua adolescência e ingressara na vida adulta, assim como na faculdade de sociologia, e mesmo quando se formara nela, alguns meses atrás, ouvira o mesmo. Ele sabia que merecia essas palavras, afinal batalhara muito por elas. Ele dissera a si mesmo, quando recuperara-se do baque que fora a morte de sua irmã mais velha, que traria orgulho aos pais, pelos dois.

— Eu queria que ela estivesse aqui.

Ela está, querido. — a mulher apoiou a mão no próprio peito, enquanto com a outra puxava-o gentilmente pelo braço, para fora do aposento. — Não é um momento para tristezas. Hoje é seu grande dia.

— Sempre pensei que esse tipo de coisa era mais importante para as noivas.

— Ah, mas sua futura esposa não é do tipo usual. — apesar de dizer aquilo, ela não parecia ter grandes problemas com a nora. Melisandre era difícil, mas haviam muitas qualidades nela que superavam de longe seus defeitos.

— Eu estou feliz que ela não seja. — e Isaak riu. Ele era completamente apaixonado por ela, fosse pelo seu jeito bruto e frio ou pela forma carinhosa, ainda que estranha, que a mulher tratava-o. Seu relacionamento teve muitos altos e baixos, mas ele tinha toda a certeza que sempre seria de Mel, e ela sempre seria dele.

Era peculiar que aqueles dois tivessem conseguido fazer uma cerimônia na Igreja, considerando toda a esquisitice da noiva. Mas as únicas coisas que fugiam da tradição era seu vestido, cujas nuances azul claras na parte superior ficavam mais escuras quanto mais perto de seus pés estavam, e possuía inúmeras camadas de tecido, macias como plumas. E a marcha nupcial, que fora vetada e substituída por uma música mais alegre, já que Melisandre alegara categoricamente que aquilo parecia mais som de funeral do que de um casamento.

Isaak adentrou o salão de igreja, delicadamente decorado com faixas e flores azuis e brancas, e postou-se em seu lugar devido, no altar, a espera de sua noiva. Ele podia ver todos os convidados, assim como os padrinhos e madrinhas, entre eles Daniel, Isabella, Alex e Greg. Haviam acontecido tantas coisas naqueles últimos anos, mas incrivelmente os desentendimentos foram deixados para trás, de maneira que todos os presentes naquela cerimônia estavam ali porque eram bem-vindos, e porque desejavam felicidades ao casal.

Não demorou para que improvisada marcha nupcial começasse a tocar – a maioria dos presentes certamente reconheceriam os acordes de Halo— e Melisandre adentrasse as portas da igreja, tocando com os sapatos de salto o começo do tapete vermelho, com um dos braços passado pelo do pai. O vestido azulado caíra perfeitamente bem no corpo esguio, fazendo-a parecer algum tipo de ave exótica e bela cruzando o caminho que levava até o altar. Havia uma coroa de flores púrpuras envolvendo os cabelos, os quais agora usava em um corte assimétrico, que começava curto na esquerda, mal chegando ao queixo, e terminava à direita pouco abaixo de seu ombro.

Um véu mais claro cobria seu rosto parcialmente, mas era visível que ela estava tendo um pouco de dificuldade com os saltos, visto que segurava muito forte o braço do pai e cambaleara uma ou duas vezes. Entretanto, conseguiu chegar ao altar sem cair sequer uma vez – o que era ótimo, considerando seu temperamento – e enfim sua mão direita foi colocada sobre a de Isaak, ambos voltando-se na direção do padre para que o ritual do matrimônio se iniciasse.

No momento em que os votos deveriam ser proferidos, Isaak foi o primeiro a dizer os seus. Ele fitou Mel, seu véu já levantado e o rostro à mostra, fixou-se em seus olhos e sorriu:

— Não posso dizer que me apaixonei da primeira vez que te vi, porque sinceramente, você nunca foi o tipo de garota que chamaria a atenção de qualquer um. — ele viu-a revirar os olhos maquiados com sombra escura, mas havia um sorriso quase que indistinguível em seu rosto. — Mas, quando eu descobri como você realmente era, acabei ficando encantado. E esse encanto continuou crescendo a cada instante, atravessando dias bons e dias ruins, e hoje eu posso dizer que não consigo imaginar minha vida sem ter você comigo, Mel. Eu amo cada parte que te faz ser desse jeito, e aceito cada uma delas. Acima de tudo, a ideia de poder ter a sua companhia por toda a minha vida me deixa muito, muito feliz. E eu juro que dividirei essa felicidade contigo, e estarei ao seu lado por todos os momentos que virão.

Os olhos dela piscaram suavemente. Seus lábios moveram-se sem produzir nenhum som.

Exagerado.

Mas aquele vestígio de sorriso ainda se encontrava em algum lugar deles.

Houve um silêncio momentâneo enquanto todos voltavam sua atenção para a noiva. Não só pelo fato de que era a sua vez de falar, mas porque a maioria dos presentes sabia o quão ruim Melisandre conseguia ser em expressar seus sentimentos, ainda mais quando tinha plateia.

A jovem mulher entreabriu os lábios numa inspiração lenta, expirando logo em seguida, ainda mais devagar. Então, enfim, ela também disse seus votos.

— Eu certamente não me apaixonei a primeira vez que te vi, e posso dizer que demorou muito para que eu notasse que sentia algo por você. — ela deu com os ombros, o que fez algumas pessoas trocarem cochichos disfarçados. — Mas, com o passar do tempo, eu percebi isso. E antes de me dar conta, comecei a procurar por você. Talvez eu ainda não entenda tanto de amor quanto quando começamos esse relacionamento, mas atualmente eu tenho certeza que sim, eu amo você. E sim, eu quero passar o resto dos meus dias ao seu lado, apesar de muitas vezes ainda desejar te dar uns tapas. — outra pausa, em que o padre pareceu ligeiramente escandalizado e ouviu-se a voz de Isabella num sussurro um pouco mais alto do que os outros que rondavam a cerimônia.

— Deus, eu amo essa garota.

— Em resumo, eu ficaria honrada em caminhar em direção ao futuro ao seu lado.

Isaak riu de leve e também fez um comentário apenas movendo os lábios.

Metódica

Melisandre apenas lhe lançou um olhar de visível satisfação e voltou sua atenção para o padre, esperando pelos ritos finais.

Foi perguntado a ambos se eles aceitavam um ao outro, e a resposta foi óbvia. O beijo que deram foi singelo, nada parecido com os quais se acostumaram a trocar nos últimos anos, mas sinceramente emotivo.

Houve uma festa modesta para celebrar os recém-casados, brindes foram erguidos, bebidas foram viradas e pessoas dançaram todo o tipo de som disponível no repertório do DJ, anteriormente ameaçado de morte caso qualquer música excessivamente erótica e de pouco conteúdo fosse tocada. Eles partiram para a Lua de Mel já bem tarde, Melisandre desistindo completamente de utilizar seus sapatos de salto alto e retirando-os, colocando-os no canto do carro em que seguiam para seu destino final. Tanto ela quanto Isaak pareceram concordar que o Havaí era um tanto quanto absurdo, então decidiram viajar para uma praia mais próxima.

Mel sabia que o trabalho que optara para seguir poderia envolvê-la em muitas viagens, afinal, ela formara-se a pouco tempo em Arqueologia. Entretanto, Isaak deixara claro que isso não importava, e que se fosse necessário ele iria com ela para qualquer lugar que precisasse. De qualquer forma, era sempre bom guardar um pouco de dinheiro.

Eles atingiram a praia escolhida com a noite caindo sobre suas cabeças, e haviam claramente perdido um maravilhoso pôr do sol, mas nenhum dos dois estava ligando para esse fato. Pareciam mais focados em si mesmos, e aproveitaram apenas um pouco do que o hotel podia oferecer, antes que se recolhessem para o quarto que haviam se hospedado. Afinal, teria sempre o dia seguinte para curtirem adequadamente a viagem.

O aposento era decorado com um tema romântico, haviam muitas velas, rosas espalhadas. Fora-lhes dito que havia uma banheira de hidromassagem também, mas por hora, suas atenções estavam mais focadas na cama de casal, forrada com uma colcha vermelha e pétalas de rosas organizadas em formato de coração. Os dois acabaram rindo um pouco com aquilo, mas em seguida ambos já haviam caído sobre o delicado desenho, desfazendo-o com seus corpos.

Não era a primeira vez que faziam aquilo. Melisandre sentira-se pronta para tentar um pouco depois de adentrar a faculdade, e como era de se esperar, ela e Isaak perderam a virgindade juntos. Fora estranho, um pouco desagradável e muito constrangedor, mas os dois haviam aprendido com a prática, e naquele momento tinham certeza que aquela seria uma noite memorável, de uma forma boa.

Lentamente, peças de roupas começaram a ser retiradas e os lábios começaram percorrendo a pele. Isaak rolou para ficar por cima de sua esposa e sorriu para ela, beijando em seguida seu pescoço. Melisandre conseguiria sentir facilmente a respiração dele contra o local, enquanto começava a murmurar uma ladainha.

 

Way down inside

Honey, you need it

I’m gonna give you my love

I’m gonna give you my love

 

— Sabe, você não escolheu muito bem dessa vez.

— Você sempre foi melhor do que eu nisso. — Isaak ergueu a cabeça para olhá-la nos olhos, abaixo de si, e tocou seus lábios nos dela com carinho. — Mas apesar da minha escolha não tão boa, eu amo você. Amo muito, muito você, Mel.

Melisandre passou seus braços pelo pescoço dele e fechou os olhos para retribuir o beijo. Quando abriu-os novamente, viu-o perto, muito perto. Por um momento, ela lembrou-se de um sonho distante, um sonho em que casara-se com Isaak, viajara para o Havaí e ambos terminaram em uma cama. Naquela época, ela ficara apavorada com a ideia. Mas agora, sob seu corpo e com alianças trocadas cingindo seus dedos, o medo havia ido embora. Fora esquecido e substituído por um sentimento maravilhoso. Ela descobriu-se ansiosa para o que viria a seguir. Para o que encontraria no futuro que dividiria com ele.

Então sem nenhum arrependimento ou receio, ela disse as palavras. Já as dissera antes também, algumas vezes. Mas ali, aquilo parecia ainda mais importante… mais certo.

— Eu também amo você, Isaak.

E, com essas palavras, eles se uniram de corpo e alma.

O que o futuro lhes reservava, nenhum dos dois poderia saber. Mas eles certamente o enfrentariam o que viesse, de frente. E, mais importante de tudo, fariam isso juntos.

 

Entre o amor e o ódio, a linha é tênue.

Mas o ódio não mora mais aqui.

 

Fim.


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Notas finais do capítulo

Bem, galera, é isso.
Eu gostaria de fazer algo maior, mas seria muita encheção de linguiça. Para ser sincera, o foco da fic sempre foi o casal principal, então todas as vezes que percorreu por outra direção, foi porque as músicas da lista não combinavam necessariamente com eles.
Pareceu um final muito feliz e clichê, mas bem, a fic inteira é assim, nada mais justo que terminasse desse jeito kkkk.
Isa e Dan me pareceram estranhamente perfeitos demais para que eu terminasse com eles, e senti que se eu separasse Greg e Alex, isso poderia ser visto de uma forma negativa.
Eu sei que a história terminou com muitos furos, algumas cenas bem bobas, e outras coisas que não foram devidamente abordadas (Alex é uma delas). Mas isso veio a partir de um desafio de um grupo, há anos atrás, e eu escrevi basicamente no susto a maioria dos capítulos. Bom, pelo menos os primeiros, e de alguma forma eu consegui ter em mente o que fazer com o resto dela.
Não é meu maior orgulho, mas estou feliz por ter terminado-a. É sempre satisfatório conseguir finalizar algo, mesmo que no meu caso, eu tenha escrito "fim" uns bons anos atrasada. De qualquer forma, tem coisas ruins e tem coisas muito boas aqui. Ainda que eu não me sinta tentada em revisá-la, afinal tenho projetos mais importantes (pelo menos ao meu ver) em produção (e na minha mente também).
Enfim, eu agradeço de todo o coração quem acompanhou Linha Tênue, tanto os que começaram a ler e abandonaram, quanto aos que ficaram até o fim. Obrigada por terem dado uma chance, apesar do começo ser bem difícil de engolir. kkkk

Se for do agrado de vocês lerem outras coisas minhas (lembrando, eu escrevo fantasia e poemas) é só darem uma olhada no meu perfil.
Kisses kisses para todos vocês, e nos vemos por ai. ♥

~Ame-chan/Dama dos Mundos.


Ps.: Postei o cap e só depois percebi que não tinha inserido a música de entrada. Enfim, já está corrigido (três horas pra escolher Halo da Beyonce, mas tudo bem, acontece) :p



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