Linha Tênue escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 27
Por enquanto/ Wicked Game


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é a união de duas músicas, como podem notar pelo nome. Preferi fazer assim do que postar várias continuações pequenas. Com ele entramos na etapa final da fic (Glória a Deus por isso)
Façam uma boa leitura.



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A canção em questão era “Por enquanto”, da Cássia Eller. Mel não cantava esplendidamente bem nem terrivelmente mal, e pouco se importava com a recepção que teria. Ela já não estava mais ali para se divertir mesmo…

 

Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente

Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era “pra sempre”
Sem saber que o “pra sempre” sempre acaba

 

Ela calou-se na metade da música, encarando os vários pares de olhos fixados nela. Engoliu em seco, sentindo a garganta fechar, e deixou o microfone apoiado na máquina de karaokê, marchando para descer do palco.

— Estou indo embora. — disse ao passar por Alex e Greg, os mais próximos dela. Ignorou os chamados tanto de Isaak quanto daquela loira cretina e dirigiu-se à saída do lugar, enfiando as mãos no bolso do casaco grosso que usava.

Nem reparou em Dan que estava a um canto trocando palavras com alguém pelo celular. Ele gesticulava bastante, mas quando viu a amiga saindo furiosa, despediu-se carinhosamente (provavelmente era algum dos seus pais) e correu para alcançá-la. — Mel! Melisandre, o que foi que…?

— Pergunte para a sua namorada o que foi! — a garota rosnou para ele, praticamente fuzilando-o com o olhar. E lembrou-se que Daniel era seu amigo, e o coitado não tinha nada com isso. Inspirou profundamente, tirando a mão direita do bolso para passá-la pelos olhos. — Eu vou pra casa…

— Eu não vou te deixar voltar sozinha nesse estado, Mel.

— Eu só vou pra casa, diretamente para casa, eu juro! — Não sabia porque agia como estivesse pedindo-lhe permissão. Seus passos tornaram-se mais rápidos. — Eu só… só quero ficar sozinha. Deixe-me sozinha, okay?

E virou-se, tentando não olhá-lo. Sentiu um toque no ombro e o aviso para ir com cuidado, e apenas assentiu, saindo dali antes que Isaak resolve-se aparecer e pará-la outra vez.

Felizmente a mãe não estava em casa, havia deixado um recado afirmando que estaria com seu pai – ao menos a mulher não veria sua situação atual. Melisandre percorreu o caminho até sua casa em tempo recorde e trancou-se lá dentro depois de bater a porta atrás de si.

Ela não ligou as luzes, nem se deu ao trabalho de trocar de roupa, jogando o peso do corpo contra a porta e deixando-se escorregar até que caísse sentada sobre o piso. Então passou os braços pelos joelhos e abaixou a cabeça.

Havia dor, e tristeza, e uma desilusão intoxicante. Ela queria parar de sentir aquilo, como era antes de Isaak, quando quase nada a atingia. Era por isso que sempre agia como alguém indiferente, porque sentimentos machucavam e a confiança deixava-a fraca. O que ganhara sedendo tanto, se doando tanto? Apenas um gosto amargo de decepção na boca e uma marca de trouxa bem no meio do testa.

Batidas na porta fizeram com que estremecesse. Mal notara quando suas lágrimas começaram a cair. Não suportava saber que estava chorando por aquele mentiroso mais uma vez

— Mel… abra a porta, vamos conversar.

A voz de Isaak vibrou em seus tímpanos e ela teve a ânsia de jogar qualquer coisa sobre ele, mas o rapaz estava do outro lado da porta. Para fazê-lo, precisaria encará-lo, e com a raiva que estava sentindo, inteiro ele não sairia dali.

— Não quero conversar com você, vá embora!

— Escuta… — ela ouviu um baque contra a porta, mas não deu atenção. — Mel… deixe-me explicar. Isa é apenas minha amiga… ela é doida, pervertida e as vezes abusada, mas não passamos disso.

— E sobre o que estavam falando mais cedo?

— Eu pedi a ajuda dela porque estava apaixonado por você, mas foi um erro… eu admito isso, jamais deveria ter pedido nada a ela. Aquele beijo na festa foi ideia dela, porque achava que se ficasse enciumada, queria dizer que você… gostava de mim.

— É a coisa mais estúpida que eu já ouvi! — Melisandre colocou as mãos nos ouvidos. Mordeu o lábio inferior para não começar a gritar, mas logo outra coisa passou por sua cabeça. — Vocês dormiram juntos?

— O q…

— Quero saber se vocês transaram!

— É claro que não! Eu… nós… eu fiquei em dívida com ela, mas não consegui ir adiante.

— Você é deplorável. — os olhos dela encheram-se de lágrimas. — Mentiu pra mim…

— Eu não menti!

No ímpeto, a menina pôs-se de pé e destrancou a porta, escancarando-a para olhar diretamente Isaak. — Você omitiu! É a mesma coisa! — ela apontou o dedo indicador no rosto dele e continuou. — Eu confiei em você, eu me abri para você e você em vez de me contar isso antes, simplesmente me deixou no escuro, Isaak!

— Mel, por favor… eu sei que foi errado, foi o pior erro que já cometi na minha vida toda, eu deveria ter te contado… — ele fez menção de segurar os ombros dela, mas Melisandre reagiu por instinto. A mão direita se fechou e foi desferida no rosto dele com força. O impacto fez com que cambaleasse e ganhasse distância outra vez, e Isaak sentiu nitidamente o gosto de sangue na boca. Seus olhos ergueram para observar a garota arfante e assutada que o encarava de volta. Ela olhou dele para a própria mão, engoliu em seco e deu meia volta, fechando-se dentro de casa novamente.

— Vá embora. — Mel disse, após aconchegar-se atrás da porta, com a mão que usara para golpeá-lo doendo e tremendo dos pés a cabeça. O coração bombeava pesadamente em seu peito e ela sentia uma exaustão mental que nunca experimentara na vida. — Esqueça de mim, Isaak. Não me procure mais…

E o silêncio a envolveu. Nada de gritos e protestos do outro lado. Ela descobriu muito mais tarde que Isaak havia desistido, e não soube dizer se aquilo era um alívio ou algo doloroso. Enquanto mantinha-se agachada no chão e as lágrimas voltaram a cair pelo seu rosto, Melisandre murmurava para si mesma o trecho de mais uma música da sua playlist.

 

The world was on fire and no one could save me but you
It's strange what desire make foolish people do
I never dreamed that I'd love somebody like you
And I never dreamed that I'd lose somebody like you

 

Se estivesse usando o ipod, provavelmente teria tacado-o longe. Mas a música continuou tocando em sua mente, e, por fim, cansada, chateada e perdida, Mel adormeceu.

 

 

—________________________x_________________________

 

Melisandre não retornou ao colégio depois daquilo.

Era de se esperar que, com os exames finais terminados e sua aprovação praticamente instantânea, ela não precisasse sequer dar o ar da graça no colégio. A cerimônia de formatura seria dali a alguns dias, e ela se contentaria em pegar seu diploma, passar por toda aquela coisa simbólica inútil e nunca mais ver Isaak na vida.

Mesmo que a mãe tenha ficado bons dias preocupada com seu estado de saúde, Mel não sentia-se doente nem nada do tipo. Ela disse isso para Kat várias e várias vezes, e quando o pai veio visitá-la, repetiu a mesma coisa.

— Estou bem, pai. Estou bem, mãe. Só quero ficar um tempo sozinha.

Ela não recebeu as visitas nem de Alex e do namorado, muito menos de Dan. Melisandre amava Daniel como um irmão, mas não suportaria olhá-lo naquele instante. As vezes ele mandava mensagens pedindo desculpas ou que ela melhorasse, mas ignorava-as. Não era culpa dele… não havia razão para ela se explicar. Mas olhá-lo fazia-a lembrar de Isabela, e Isabela lembrava-lhe Isaak.

E não havia sinal de Isaak.

E Melisandre até agora não sabia se isso contribuía para sua tristeza ou não.

Ela simplesmente sentia-se triste de uma forma terrível. Jamais imaginou que um dia poderia experimentar tanta angústia. E perceber que aquilo era falta de Isaak praticamente a deixou pior.

Mas estava tudo sobre controle.

A formatura estava chegando… ela só precisava passar por isso.

E depois, como o pai e a mãe já tinham planejado, voltariam a morar juntos… em outro endereço, do outro lado da cidade. E ela só precisaria se preocupar com a faculdade na qual entraria.

Uma nova etapa da sua vida começaria em breve…

Melisandre só precisava sobreviver até chegar nela.


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Notas finais do capítulo

"O mundo estava em chamas e ninguém poderia me salvar, a não ser você
É estranho o que o desejo faz as pessoas tolas fazerem
Eu nunca sonhei que conheceria alguém como você
E eu nunca sonhei que perderia alguém como você"


+Yei... estamos acabando. O capítulo foi pequeno, mas o próximo será maiorzinho.
Esse é o penúltimo capítulo da fic, pessoal. Estamos em contagem regressiva!
Espero que tenham gostado, e até mais. :3



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