Linha Tênue escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 26
Way back into love


Notas iniciais do capítulo

Capítulo referente à música Way back into love, tema do filme Letra e Música.

Gente do céu... quanto tempo to sem atualizar isso aqui, um ano, dois?
Bem... admito que demorei, não sabia como continuar, tive bloqueios criativos com essa história, afinal ela segue um gênero que não me atrai muito, e arranjar inspiração para ela é sempre um pequeno problema.
Mas eu sou da opinião de que nunca devemos desistir de nada, então aqui está... mais um capítulo.

Lamento imensamente pela demora, e agradeço quem ainda decidir ler essas palavras. Faltam três caps para finalizá-la, mas acho que não haverá mais nenhum hiato gigantesco desses.

Tenham todos uma boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/541520/chapter/26

— Eu ficaria feliz se me dessem algo alcoólico para beber… — Isa protestou, com um muxoxo, enquanto cutucava o copo cheio com coca-cola.

— Manter-se longe da bebida por uma noite não é um esforço assim tão grande para você. — Dan alegou ao seu lado, abrindo um sorriso torto, virando o último gole do refrigerante que continha em seu copo.

— É um esforço enorme, o maior de todos! — jogou as mãos para o céu, dramática. Seu olhar correu em direção à Isaak. — Diga a ele que sou praticamente uma alcoólatra anônima. Eu tenho um vício pra alimentar!

— Ei, me deixe fora disso. — ele capturou o canudo que usava para tomar sua bebida entre os dentes. — Vocês não precisam de mim para se entenderem.

Daniel suspirou, endireitando os óculos e observando a namorada de esguelha. — Se eu lhe pagar um vinho você fica contente?

— Absolutamente!

— Francamente, sua mimada. — ele deu um peteleco no nariz dela, numa reprimenda carinhosa, e levantou-se para buscar o prometido, sendo seguido pela moça minutos depois. Melisandre e Alex trocaram olhares, enquanto Isaak se encolhia.

— Isso me lembra que ainda devo uma garrafa de vinho a ela.

— Você perdeu uma aposta ou algo assim? — questionou Mel, pondo-se a mastigar uma batata frita, tirada da porção que haviam pedido a pouco. Ela viu-o estreitar os olhos, pensativo, e estranhou a demora para responder.

— É mais uma compensação… mas não é nada importante. — ele baixou a voz, para que apenas as pessoas de sua mesa ouvissem. — Não lembrem a ela. Não vão querer vê-la bêbada.

Melisandre sentiu algo queimar dentro dela, sem saber exatamente o que era. Era muito similar à sensação que tivera ao ver Isaak beijando outra menina, quase um ano antes. A ideia de que poderia estar com ciúmes fez com que cora-se espontaneamente, o que chamou a atenção de Greg.

— O que foi, dissemos algo indelicado?

— Hein? — ela desconectara-se momentaneamente da conversa. Pela expressão que agora habitava o rosto de seu namorado, o assunto devia ter enveredado por rumos indiscretos. Ela balançou um pouco a cabeça para tentar manter o foco e abriu um sorriso sutil. — Não estava prestando atenção, foi mal… de que estavam falando?

Antes que qualquer um dos outros rapazes responde-se, Isaak já os cortava. — Hum… acho que Dan e Isa nos passaram para trás.

De fato, eles já preparavam-se para subir no palco, o primeiro um pouco sem graça, enquanto a segunda demonstrava certo entusiasmo, acenando animadamente para o grupo na mesa. — Preparem-se para um show!

— Ah… essa eu quero ver. — Alex riu, cravando seus olhos no casal.

— Acho que o termo certo seria “essa eu quero ouvir”. E bom, eu não compartilho dessa sua vontade. — Melisandre fez uma careta, considerando o quão terrível aquela apresentação seria. — Meus tímpanos não serão poupados.

— Deixe disso, é essa a graça. — seu amigo riu ainda mais, afastando o copo da boca por precaução. Suas sobrancelhas franziram, enquanto ele jogava a cabeça para trás, encostando-a no ombro de Greg. — Mas eu acho legal que esses dois estejam bem. Olhe só para eles… são adoráveis juntos!

Mel olhou na direção do palco, onde a dupla ainda parecia debater qual música cantariam. Apesar das implicâncias, emanava de ambos uma aura de felicidade tão pura e completa que ela não pode evitar sorrir de verdade. Ela vira Dan em seus piores dias, assim como vice-versa. Era bom vê-lo tão tranquilo, finalmente feliz ao lado de alguém.

Sentiu um dedo tocar sua bochecha, e seu olhar desceu para Isaak uma vez mais.

— Olha só, você está sorrindo.

— Por incrível que possa parecer eu sorrio de vez em quando, idiota. — ela não fez menção de tirar o dedo dele de seu rosto, no entanto. Ele abriu um sorrisinho abusado, que não durou muito. Daniel e Isabella tinham finalmente chegado a um consenso, e começaram a cantar antes que qualquer um ali estivesse preparado. As vozes desafinadas invadiram a audição e a reação involuntária foi um estremecimento geral. Felizmente, Isa conseguiu corrigir seu timbre a tempo de salvar a pátria.

 

I've been living with a shadow overhead
I've been sleeping with a cloud above my bed
I've been lonely for so long
Trapped in the past, I just can't seem to move on¹

 

E então Daniel voltou a cantar. Não era o melhor do mundo mas, ao menos, não estava mais estourando os tímpanos alheios.

 

I've been hiding all my hopes and dreams away
Just in case I ever need them again someday
I've been setting aside time
To clear a little space in the corners of my mind²

 

Os dois se uniram para cantar juntos o refrão, e Melisandre descobriu-se curtindo a música. Quando a dupla dinâmica deixou o palco recebendo aplausos desencontrados, os sentados à mesa receberam-nos com piadinhas e comentários ácidos. Isabella havia conseguido sua garrafa de vinho, e não parecia disposta a levantar tão cedo.

— Bom, imagino que devemos tentar também. — Greg sugeriu para o namorado, que agarrou seu braço imediatamente e puxou-o em direção ao palco, para escolher músicas e esperar a vez deles. Uma moça muito talentosa cantava agora, alguma música da Madonna que Mel desconhecia o nome, mas já ouvira antes…

O telefone de Daniel começou a tocar, estridentemente, e ele fez um sinal breve, avisando que atenderia do lado de fora do recinto, por conta do barulho. Levantou-se rapidamente da mesa, dando um beijo rápido em Isa e apressando-se para sair.

Melisandre encarou o palco, estreitou os olhos e meneou a cabeça, levantando-se em seguida. — Vou ao banheiro… já volto.

— Relaxe, Mel, duvido que aqueles dois possam ser piores que Dan e Isa juntos.

— Ei, eu canto absolutamente bem! — protestou a loira, tomando um gole do vinho, que já despejara em um copo.

— Só na sua cabeça oca.

A jovem revirou os olhos, não se dignando a interromper a briga entre os dois, e rumou para o banheiro. Chegando lá jogou água no rosto e encarou-se no espelho, apoiando ambas as mãos na pia de mármore. O que viu fez com que se surpreendesse. Estava tão acostumada a estar mal-humorada que praticamente atribuía essa imagem a si mesma. Esperava encontrar seus olhos estreitos e profundos, a boca vergada em expressão de desgosto e as sobrancelhas baixas. Não encontrou nada disso. Parecia até relaxada.

Estranhamente, não se sentiu incomodada com isso. Era o mesmo que estava acontecendo com aquele “encontro de casais”, pensou que odiaria e teria vontade de atirar no próprio cérebro, mas até que estava divertindo-se.

Seu reflexo sorriu levemente de volta para ela. Deu-se por satisfeita, girando nos calcanhares e visando retornar à mesa. Então lembrou-se que deixara Isaak sozinho com Isa, e por alguma razão, algo borbulhou dentro dela novamente.

 

Estou sendo estúpida, Isa é de Daniel.

E daí, quem liga para esse tipo de coisa hoje em dia?

Pessoas honestas ligam. Além disso, Isaak não é desse tipo.

Não foi ele que beijou outra garota na sua frente daquela vez?

 

Achava que já tinha parado com a mania estúpida de discutir consigo mesma. E foi enquanto se repreendia que chegou um pouco mais próxima da mesa em que os dois estavam. Mantinham as cabeças baixas, conversando num tom ameno, nada suspeito… bom, desconsiderando o teor do diálogo.

— Pare de tentar fugir da sua promessa comigo, queridinho, ainda quero aquela garrafa de vinho.

— Deus do céu, Isa, você nunca se esquece de nada?

— Não de algo que eu ache relevante, pelo menos.

— Você bebe vinho e sabe-se lá mais o quê todos os dias, Isabella. — o rapaz sorriu, meneando a cabeça.

— Quando eu ofereci meu corpo já sabemos no que deu. — ela retrucou, num tom casual.

Melisandre estacou imediatamente. Algo inenarrável começou a brotar em seu peito, alguma mistura de descrença, raiva e tristeza.

— Eu pedi apenas aquilo, Isa, você é minha amiga, poderia nem ter me cobrado nada.

— Você sabe muito bem que eu sempre cobro algo. E deveria me agradecer, eu beijei você naquela festa quando poderia ter saído com tantos outros caras fortes e sarados…

O beijo…

Na festa…

Por isso que ela achava o rosto de Isabella familiar! Ela era a garota que Isaak beijara.

Inconscientemente cerrou as mãos em punhos, marchando em direção a mesa, uma vontade louca de chorar, gritar ou bater em alguém tomando forma.

— Mas você encontrou Dan. E parece feliz. Quem liga para os sarados jogadores de futebol?

Isa sorriu largamente, como confirmação. — Eu agradeceria a você e à sua garota, mas eu sou divina o bastante para fazer os homens apaixonarem-se por mim sozinha.

— Okay, okay, Senhorita Humilde.

— Tudo está bem quando aca…

As duas mãos de Mel bateram violentamente contra o tampo da mesa, entre os dois, quase derrubando os copos. Os ocupantes das mesas vizinhas voltaram-se naquela direção, curiosos. — De que diabos vocês dois estão falando!?

Isa engoliu em seco. Fez menção de tocar uma das mãos de Melisandre, mas o olhar furioso da mesma impediu-a. Isaak, por sua vez, estava muito pálido Muito pálido mesmo.

— Mel, não é o que…

— Não. Ouse. Mentir. Para. Mim!

Dan não havia retornado ainda. Alex e Greg foram atraídos pela exaltação da moça, ela gritara praticamente ao mesmo tempo em que a música tinha parado. Mel trincou os dentes, fechando as mãos novamente, evitando olhar para qualquer um dos dois, porque se os encarasse, algum deles sairia dali de olho roxo. Percebeu Alex com um dos pés parado em meio caminho para subir no palco. Sem saber muito bem o que estava fazendo, desencostou-se da mesa, rumando de maneira violenta em direção ao amigo.

Não soube como encontrou calma para dizer a seguinte frase, estendendo a mão para pegar o microfone dele: — Permita-me cantar uma canção antes de ir…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

1-Eu tenho vivido com uma sombra sobre mim
Eu tenho dormido com uma nuvem em cima da minha cama
Eu tenho estado sozinho por tanto tempo
Preso no passado, eu simplesmente não consigo seguir em frente

2-Eu tenho escondido todas as minhas esperanças e sonhos longe
Apenas no caso de eu precisar deles de novo um dia
Fui deixando de lado o tempo
Para limpar um pequeno espaço nos cantos da minha mente



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Linha Tênue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.