Linha Tênue escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 25
Você não me ensinou a te esquecer.


Notas iniciais do capítulo

Dia 25: Música "Você não me ensinou a te esquecer", do Caetano Veloso.


Eu ouvi um amém? Eu ouvi um amém?
SIM, eu voltei! LN voltou! E se deus quiser eu termino essa bagaça de uma vez por todas, porque não aguento mais olhar para o meu perfil, visualizar ela e saber que faltam só cinco caps pra terminar e não acabei ainda por falta de inspiração/preguiça/um monte de problemas.
Well... se alguém ainda lê essa fic e estava esperando pela continuação, espero que goste.
Kisses :3



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— Mel!

A garota ouviu a voz familiar chamando-a e estremeceu, mais de irritação do que por outro motivo, enquanto levantava a cabeça.

Estava sentada em um dos bancos do pátio da escola, abraçando os joelhos e com o corpo encolhido. Sobre estes, havia um livro aberto, assim como por todo o banco, de maneira que impedissem a aproximação de qualquer um que quisesse sentar ao seu lado. Para variar, isso nunca funcionaria contra Isaak.

Ele chegou arrastando os livros para o lado, abrindo um espaço para si, enquanto Melisandre bufava e lançava-lhe um olhar de reprovação irritado. — Que diabos você quer? Estou estudando!

— Sabe, posso pensar em, pelo menos, uma dúzia de lugares mais confortáveis para se estudar. E não te incomoda usar os próprios joelhos de apoio?

— Definitivamente não. — Voltou a atenção para o livro, disposta a ignorá-lo. — Além do mais, todos os outros lugares seriam óbvios demais, e você acabaria me encontrando, fatalmente.

Não que vir estudar aqui tenha resolvido alguma coisa.

— Uou! Você é o que, uma contorcionista? — ele fez uma careta, coçando a bochecha brevemente. — Bom, eu tenho um ótimo radar que me possibilita encontrá-la a quilômetros de distância.

— Morra. — foi a resposta, dita em tom cortante, enquanto apontava a caneta que estava em seu colo na direção do mesmo, ameaçando furá-lo com ela.

— Okay, okay! Trégua. — Isaak ergueu as duas mãos em sinal de rendição, logo recostando-se no banco e observando-a de esguelha. Demorou alguns instantes para que seu olhar prescrutador a incomodasse o suficiente para que virasse sua cabeça em direção a ele novamente.

— O que foi?

— Bom, eu estava pensando…

— Oh, céus, já estou vendo que não vou querer saber…

— Deixe de ser desagradável!

— E você, deixe de enrolar. — Ela fechou o livro sobre os joelhos, dando uma olhada em seu celular para ver as horas. Depois pôs-se a recolher os outros volumes, ajuntando-os todos numa pilha quase organizada. — O intervalo está terminando, não tenho tempo para as suas brincadeiras.

— Olha, quase fiquei ofendido. — Isaak escorregou no banco para ficar mais perto dela e passou um braço pelos seus ombros, num movimento conciliador. — Os exames finais estão quase ai… e eu sei que a Senhorita Sabe-tudo vai estudar que nem uma louca até que terminem.

— Que ótimo que você sabe disso. E se sabe, pode me explicar o porquê de estar me atrapalhando?

— Eu não estou, juro!

— Sim, você está fazendo isso agora mesmo. — ela revirou os olhos, assoprando para tirar a franja deles.

— Bom, pense no que quiser. Mas minha proposta é sairmos para comemorar assim que os exames chegarem ao fim. O que acha?

Como esperado dela, Melisandre inclinou a cabeça para a esquerda, maquinalmente, com uma expressão entediada que definia perfeitamente sua opinião sobre aquela ideia. — Defina “sair”.

— Ora… sair de sair. Comer alguma coisa, se divertir… talvez possamos ir ao cinema, se quiser.

— Creio que já chegamos à conclusão que nunca conseguimos ver realmente alguma coisa no cinema.

Ele calou-se com esse comentário. Da primeira vez, os planos mudaram por causa da ida a praia. Da segunda, deu praticamente tudo errado e eles conseguiram se atrasar a ponto de perderem metade do filme. E na última, deram o azar de pegar um filme de terror tão ruim que era mais fácil apontar pontos negativos do que positivos na história. Aliás, havia alguma coisa boa naquilo?

Isaak piscou algumas vezes, engolindo em seco, e depois ergueu o dedo indicador. — Karaokê!

— Hum? — Mel, por sua vez, já havia levantado-se, com a pilha de livros nos braços, e observava-o com certa desconfiança. — O que você disse?

— Vamos a um Karaokê! Isso vai ser perfeito!

— Perfeito se quisermos estourar os tímpanos de alguém, você quer dizer… eu não sei cantar, duvido que você saiba.

— É apenas diversão, diversão! Se fosse pra cantar bem, entraríamos num daqueles reality shows de música.

— Uau, acho isso muito a sua cara. Você deveria tentar.

— Poupe-me do seu sarcasmo. — ele revirou os olhos. — E então, estamos combinados? Podemos chamar os meninos, e tal…

— Tá, tá… — ela voltou a agitar a mão, para Melisandre tanto fazia ir acompanhada ou não, já que não estava nem um pouco ansiosa para aquilo. — Desde que você me deixe em paz durante o período de provas…

— Você é tão cruel, Mel! E meu coração, como fica?

— Em frangalhos, espero. — ela equilibrou-se, endireitando a pilha e começando a andar. — Afinal, sou sempre eu que colo ele no fim das contas, não é?

O rapaz havia jogado os braços para trás do corpo, deixando as mãos atrás da nuca, e abriu um sorrisinho trocista ao ouvir aquilo. — Mas é claro, garota teimosa. Em agradecimento, poderia ajudá-la a levar alguns desses livros? Antes que você tropece e espalhe todos pelo chão?

— Vá te catar… — foi a resposta, dita em um tom ofensivo. — Mas eu aceito a ajuda com os livros…

 

 

—________________________x_________________________

 

 

— Você tem certeza que isso vai dar certo? Se sua amiguinha colorida descobrir que fui eu quem você beijou naquele dia no baile, ela vai dar um piti ou algo do tipo… — Isabela havia-lhe dito, ao que Isaak apenas meneara a cabeça e dera de ombros. Aquilo não importava, se Melisandre tivesse de descobrir, acabaria fazendo-o uma hora ou outra.

Uma noite de Karaokê não era legal a menos que juntasse uma boa roda de amigos para curti-la juntos, era o que se dizia. Então, o rapaz decidira estender seu convite à Dan e Alex, assim como seus respectivos pares. O namorado de Alex não apresentara nenhuma queixa ou reclamação, contudo Isa tinha uma memória muito boa. Ela se orgulhava bastante disso.

— Uma hora ela vai ter que saber né? E, pense bem, se você não mencionar o assunto, duvido que ela se lembre por conta própria…

— Quem diria, você é realmente demoníaco, mais do que pensei. — Isa mordiscou a ponta de suas unhas cumpridas, mesmo sabendo que isso poderia descascar seu esmalte de cor indefinida. — Mas se insiste tanto nisso… não vejo porque discutir…

— Pense bem, eu só quero fazer com que todos se divirtam e esqueçam os problemas por um tempo. Não tem necessidade de haver nenhum tipo de confusão, acho. — os dois estavam na porta da casa dela. No momento, Isaak jogava todo o peso do corpo no batente. — Vamos? Seria injusto se só o Daniel viesse…

— Ele é bem do tipo que iria de uma forma ou de outra, por mais que essas coisas não sejam muito a sua cara. — Ela replicou, piscando um pouco os olhos, pensativa. — Okay, okay! Mas está por sua própria conta e risco. Eu não me responsabilizarei por nada de ruim que venha a acontecer.

— Não precisa se preocupar. — Isaak abriu um sorriso amigável, fazendo um sinal de “beleza” com a mão. — E se acontecer algo, assumo a culpa.

— Tudo bem… — Isabella parou de mastigar as próprias unhas e fitou-o, cruzando os braços e começando a bater o pé contra o chão. — O que me lembra… você continua me devendo uma garrafa de vinho.

— Você realmente tem uma boa memória, não é?

— É claro que sim, ao contrário da sua garota.

— Certo, certo… eu te pago uma quando estivermos lá, tudo bem?

— Desde que não se esqueça, por mim está ótimo. — ela esperou-o sair do batente para começar a fechar a porta, e então algo passou por sua cabeça. Voltou a observá-lo. — Boa sorte com suas provas…

— Eu lhe diria o mesmo, mas você não parece se incomodar muito com isso.

— Que observativo, você é… — ela abriu um de seus habituais sorrisos maliciosos e acenou, finalmente fechando a porta atrás de si.

 

 

—________________________x_________________________

 

 

— Então esse é o lugar? — questionou Melisandre, sem muita confiança, enquanto entrava no estabelecimento e girava o pescoço para captar tantas informações quantas fossem possíveis sobre o local em que estava. Era um bar restaurante, de grandes proporções e ambientação relativamente tranquila. Ainda assim, havia muitos clientes, e por tal motivo Isaak agarrou-a pelo braço para que ficasse o mais perto possível dele. — O que pensa que está fazendo?

— Tendo certeza de que não vou te perder.

— Isso é absurdo, esse lugar não é tão grande assim… ahn, estou vendo eles. — ela desistiu de escapar dele para apontar na direção de uma mesa mais próxima do ambiente em que estava o próprio Karaokê. Dan limpava calmamente seus óculos com uma flanela, reprimindo um bocejo, pela sua expressão. Alex estava num outro ponto, ao lado de um rapaz de aparência simpática, que assim que notou-os fez um aceno cortês… ao contrário do companheiro, que começava a agitar os braços, como se o casal não houvesse visto-o.

— Mel, Isaak, estamos aqui!

— Dá para ver… — os dois murmuraram em uníssono, aproximando-se da mesa e sentando-se nas partes vazias do banco de estofado vermelho, cuja forma era circular. — Parece que estamos atrasados. — Isaak iniciou a conversa, Mel apenas resmungou um “boa noite” arrastado, o que definia muito bem seu estado de ânimo no momento.

— Nem tanto… nós decidimos chegar mais cedo, tinha uma banda legal tocando… — Greg, o rapaz simpático e de tez morena, de cabelos e olhos escuros, dedilhou pacificamente os dedos na mesa. Alex mantinha o braço passado ao redor de seu pescoço. — A propósito, como foram seus exames finais?

— Terríveis… — Isaak choramingou mais do que respondeu, abaixando a cabeça, mas logo após tossindo e tentando se recuperar. — Mas consegui passar, de alguma forma. Estou quase aliviado.

— Se você colocasse o mesmo esforço que usa para me chatear nos estudos, seria um gênio. — Melisandre cortou, sucinta, passando a brincar com um pedaço de guardanapo, visto que ficava nervosa naquele tipo de recinto. — Para mim foi fácil.

— Isso é porque você come livros no jantar, Mel… — Dan recolocou seus óculos, aparentemente estavam limpos o suficiente.

— Você não para um minuto sequer, garota, precisa relaxar de vez em quando… — atalhou por sua vez Alex, finalmente largando o namorado para segurar as bochechas dela com ambas as mãos, beliscando-as sutilmente. — Tipo… sorrir, curtir, viver a vida.

— Me recuso… — ela balançou freneticamente a cabeça para soltar-se das garras do amigo. — Hum… não está faltando alguém?

— Isa foi tentar arrumar fichas para cantarmos… — Daniel, desta vez, precisou levar a mão aos lábios para esconder o bocejo. — Bom, e possivelmente conseguiu um drink para si mesma, e ficou por lá mesmo.

— Você não está preocupado que ela vá fazer alguma bobagem? — Isaak perguntou, um tanto quanto inseguro.

— Ela prometeu se comportar.

— Incrível! Como você conseguiu essa proeza?

O sorriso que ele deu foi um tanto quanto misterioso. — É um segredo.

Quatro pares de olhos fitaram-no com visível descrença, mas ele não se incomodou, e voltou a tomar da latinha de coca cola que estava bebendo desde um pouco antes de Mel e Isaak chegarem.

Melisandre desviou sua atenção para o palco improvisado onde as pessoas cantavam – ou tentavam cantar – no qual acabava de subir um homem. Não demorou muito para que descobrisse, pela melodia que começava a tocar, a música em questão.

 

Não vejo mais você faz tanto tempo
Que vontade que eu sinto
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços
É verdade, eu não minto

 

— Ah… essa música…

— Ela é meio deprimente. — comentou Alex.

— Pelo menos o cara canta bem. — Isaak sorriu, brincalhão, pegando o menu que uma garçonete que acabava de passar lhe dava. — O que vai querer, Mel?

— Qualquer coisa comestível está bom, pra mim… — ela continuava prestando atenção a música, como se houvesse algo muito importante nela.

 

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho

 

 

Piscou algumas vezes, sentindo a aproximação de alguém e endireitando-se. Isabella retornava para a mesa, e pela enésima vez, pareceu-lhe que a conhecia de algum lugar – tirando a vez que já haviam se encontrado, no parque de diversões. Ela trazia consigo pelo menos umas três fichas, e uma lista com todas as músicas disponíveis para se escolher.

— Espero que você tenha pago por elas, Isa… — Dan ergueu uma sobrancelha, era dificil dizer se ele estava implicando com ela ou sendo sincero.

— Sim, sim, é claro! Eu prometi… — ela fez uma careta de insatisfação. — Não quero ser punida…

— Punição… — Alex cochichou para Greg, com um tom malicioso típico de quem estava pensando alguma bobagem.

— Que assustador. — Isaak riu, enquanto Mel corava brevemente, e escondia o rosto por trás do cardápio.

Perto deles, o homem desconhecido terminava sua música e outra pessoa preparava-se para cantar.

Aquela seria uma noite mais longa do que haviam imaginado…


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