Linha Tênue escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 24
Imbranato


Notas iniciais do capítulo

Demorou um pouco mais saiu. Yei!
Capítulo referente à música Imbranato, do Tiziano Ferro
Hoje fecho o pequeno especial de Daniel e Isabella. Façam suas apostas. ^^



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Haviam se passado dois meses desde que Melisandre fugira. Dois meses, também, que Daniel passara a dormir com Isabella. O que deve-se dizer com relação a isso? O tempo é uma noção estranha e desvirtuada. Esse pequeno período de dois meses pode ser longo para alguns e curto para outros. Pode trazer inúmeras alegrias e tristezas, ou pode passar de maneira extremamente monótona.

Para Mel, aqueles dois meses foram confusos e passaram arrastados. Seus pais haviam reatado. Realmente reatado. Estavam oficialmente saindo juntos novamente, ainda que as discuções entre ambos continuassem acaloradas. Formavam o tipo de casal estranho e louco que de alguma forma dava certo. E isso pareceu fazê-la aceitar um pouco melhor a situação. Um dia, descobriu que aquilo não incomodava mais.

Alex havia começado a namorar naquele tempo, também. Ele já tivera uma queda por Daniel, outrora, quando o conhecera. Mas esse sentimento havia sumido completamente com a convivência. Dan não era seu tipo, afinal. Agora, havia alguém que realmente se preocupava com ele. Para as piores e melhores horas. Foi dificil para que seus pais aceitassem, e ainda é, e o adorável rapaz simplesmente decidiu que não se importava. Ele era daquele jeito, uma hora sua família ia ter de engolir. E mesmo que isso não acontecesse, ele ainda tinha Mel, e Dan, e até mesmo Isaak. E, é claro, aquele que escolhera para amar.

Isaak poderia afirmar, se o perguntassem, que esse curto período de tempo não moveu em nada sua vida. Sua relação com Melisandre continuava estagnada, sem evoluir nem decair. E aquilo era um alívio por um lado, e tremendamente desesperador por outro, afinal seus hormônios ainda estavam a flor da pele. Ele podia se considerar muito guerreiro por aguentar aquela pressão. Suas notas, em contra-partida, voltaram a subir. Talvez ele tivesse finalmente se conformado com a morte da irmã.

O tempo cura todas as feridas, não é mesmo?

Para Daniel, os últimos dois meses foram terríveis. Aquele sentimento miserável que tinha surgido com relação a Isabella se tornara uma bola de neve em queda vertiginosa, aumentando consideravelmente. E por mais que tivesse tentado se concentrar em seus estudos, a sensação não passava. Os encontros entre ambos continuaram, tornando-se frequentes. Ele não conseguia negá-la por muito tempo. Até tentara, mas não conseguira.

Daniel não era tão teimoso como sua amiga mais chegada, que insistia em ignorar um sentimento já estabelecido em seu coração. Ele sabia o que estava sentindo, e exatamente por essa razão tentava parar. Não era algo bom para si mesmo, nunca seria. Afinal, Isa era uma garota independente.

Ela não era do tipo que se ligava ao primeiro cara que aparecesse. Aliás, parecia mais do tipo que não se juntaria a ninguém. Para não falar nas tentativas frustradas de roubos. Felizmente, Dan arrastava-a de qualquer loja que ousasse entrar assim que reparava que ela podia ter um surto cleptomaníaco. Isso sem dúvida alguma poupara-o de muita confusão, contudo deixava-o à mercê de uma loira-sexy-maníaca e de seus escandâlos.

Por que mesmo havia começado a gostar daquela idiota, para começo de conversa?

Não havia uma explicação lógica para aquela pergunta. Ele bem que procurou achar uma, além do corpo encantador da mesma, mas não conseguia. Quer dizer, não era possível que estivesse vidrado apenas naquelas curvas, isso não tinha nada a ver consigo.

Daniel, nesse instante, caminhava de um lado para o outro do seu quarto, limpando os óculos. Ele esfregava as lentes com tanta energia que era capaz de quebrá-las. Ou deixá-las parecendo um espelho de tão límpidas. Seus pais pareciam ter começado a desconfiar das saídas frequentes a noite e nos fins de semana. Era uma grande sorte eles não estarem em casa, afinal ter de explicar Isabella para ambos seria complicado.

E a dita cuja estava indo encontrá-lo em seu lar. Aquela folgada inconveniente que não sabia fazer algo tão simples como esperar! Deveria começar a deixar seu celular no silencioso. De algum modo imaginava que a partir do momento que ela passasse pela porta, as coisas ficariam um tanto mais sérias do que poderiam. Ninguém havia adentrado seu sagrado recanto, com suas pilhas de Hqs, jogos e as roupas que deixava jogadas por ali (nada sóbrio se tratando de um universitário que aparentava ser tão certinho). Ninguém além de sua ex-namorada, e imaginar que a primeira vez de ambos foi naquele exato lugar fazia seu nervosismo aumentar consideravelmente.

— Eu vou mandá-la embora... eu vou... com toda certeza. Ou vamos ir para algum outro lugar qualquer. Comer alguma coisa diferente, temakis, talvez.

Com um peso no estômago, ele lembrou-se que Isa era uma fresca-mala-sem-alça e que ela não iria comer qualquer coisa só porque estava em sua companhia. — Não, aquela chata não iria querer algo assim... espere. Por que diabos eu já sei o que aquela coisa gosta ou deixa de gostar?

Ele trincou os dentes, recolocou os óculos – reparando que eles estavam fazendo um efeito muito melhor depois de sua limpeza exagerada – e passou a mão pela cômoda ao lado de sua cama, tateando o celular. Discou alguns números, esperando começar a chamar. Uma voz monótona, e sonolenta, atendeu do outro lado.

— O que você quer à essa hora da noite, Dan?

Melisandre, como sempre, era um primor de simpatia, para não falar o contrário. Se tivesse acordado-a de fato, ele iria acabar se arrependendo mais tarde.

— É urgente, você precisa vir para cá!

— Hein? Cara, suas piadas estão cada vez piores.

— Não é piada, Isabella está vindo para cá. Nesse exato instante.

— Ahn... a amiga loira do Isaak, né... — a voz tornou-se um pouco estranha, mas logo voltou ao descaso habitual. — Você não está tendo relações com ela?

— Sim... não, quero dizer... como você...

— Ha, eu posso não saber quase nada sobre essas coisas mas te conheço bem o suficiente.

De fato... Mel era realmente observadora, mesmo que nunca demonstrasse esse tipo de coisa. Eles eram amigos a tanto tempo que ela seria capaz de reconhecer quando estivesse diferente... meio fora de si.

— Mel... eu não posso fazer isso aqui.

Ele escorou-se na cômoda e abaixou a cabeça, mantendo o celular pressionado contra sua orelha. Veio um silêncio um tanto quanto longo do outro lado, cortado por um suspiro de cansaço. A voz dela se fez ouvir novamente. — Deixe de ser idiota, Daniel. Eu não posso dizer o que você tem que fazer e definitivamente não vou levantar da minha cama quente porque está com medo de encarar o passado. Seja sincero consigo mesmo, seu idiota! E tome uma decisão que não vá fazer com que se arrependa depois.

Ahn... ela era realmente direta. Dan não conteve um sorrisinho de canto. Sua amiga infantil, bruta e ignorante parecia ter aprendido alguma coisa nesses últimos meses, afinal. — Quem diria... você se tornou uma boa conselheira.

— Morra.

E desligou. O que de certa forma fez com que ri-se. Voltou a distanciar o aparelho do ouvido e fechou-o, ouvindo um raspar alto de pneus no asfalto. Seus pés levaram-no até a janela, e com um movimento de mão jogou a cortina para o lado para conseguir visualizar a rua. O carro de Isa tinha sido estacionado de uma maneira bizarra, e a loira saia do mesmo, chacoalhando a cabeça de maneira que seus cabelos dourados saíssem de seu rosto. Ergueu seus olhos na direção em que ele estava e acenou.

É... hora de tomar decisões.

Daniel desceu as escadas de dois em dois degraus, ligou as luzes do andar de baixo e se dirigiu à sala para abrir a porta de entrada. Mal virou a maçaneta a mulher já estava se jogando sobre ele, cingindo os braços em seu pescoço. — Quatro-Olhos, você é um péssimo partido, me fazendo sair de casa a essa hora da noite.

— Foi você que quis vir. — Rebateu ele, com um olhar cético.

— Era para você ir me ver, seu estúpido.

— Eu não estou a sua disposição, garota!

Os dois se encararam por alguns segundos, os rostos realmente próximos, afinal ela ainda estava pendurada em seu pescoço. Não demorou muito, porém, e suas bocas se encontraram, num beijo intenso... que havia se tornado até mesmo comum, se tratando deles dois. Dan conseguiu recuperar o raciocínio antes que eles começassem a fazer algo a mais ali mesmo, e delicadamente a separou de si. — Isa... precisamos conversar.

— Não... não comece com isso. — ela inflou as bochechas, num gesto infantil, cruzando os braços. — Isso nunca acaba bem, quando os homens começam com esse tipo de frase as coisas sempre desandam.

— Isa...

— Mas nós estamos nos divertindo tanto. — Ela levou um dedo a boca dele, numa tentativa de calá-lo, e ele agarrou sua mão para tirá-la de tal posição.

— Eu não posso mais ser um brinquedo para você.

Ele disse. Num tom que soou mais irritado do que esperava, ou queria, usar. Isabella automaticamente deu passos para trás, criando uma distância entre ambos e mordendo o lábio inferior. Entreabriu a boca para falar algo, mas então balançou a cabeça brevemente, abrindo um sorriso claramente forçado. — Ah... eu não sabia que se sentia assim. Acho que é melhor eu ir embora então, né? — Girou nos calcanhares. Seus pés já chegavam na porta novamente, e ela não parecia disposta a olhar para trás... ele havia chateado-a? Que estranho. Sempre achara que na pior das hipóteses quem sairia ferido de um “rompimento” seria ele mesmo.

— Não é isso.

As palavras saíram baixas demais para Isa ouvir. Então ele agarrou-a pelo braço, com isso fazendo-a virar-se novamente para si. Seus belos olhos de orgulho ferino estavam avermelhados, ela parecia estar tentando segurar o choro. Uma lágrima acabou escorrendo por seu rosto.

— N... não é isso que eu quis dizer.

— O que é, então? — Seu cenho se franziu de raiva, enquanto ela limpava a lágrima que teimara em cair. — O que você quer com a manipuladora aqui?

— Eu estou apaixonado por você, Isa. É por isso que quero parar isso por agora. — Daniel abriu um mínimo sorriso, mais doloroso do que feliz, e ajeitou os óculos. Sua outra mão, contudo, não havia soltado-a. — Porque eu sei que isso é apenas diversão para você, e não vou tentar forçá-la a assumir algo sério.

Ela não respondeu, mesmo quando ouviu mais algumas palavras vindas dele. E então, quando sua omissão tornou-se notada por Dan, ela riu. Seus pés levaram-na para mais perto do garoto novamente. — Você acha que vou deixá-lo ir assim fácil? Só pode estar brincando. — Voltou a passar um dos braços pelo pescoço dele, enquanto tocava o indicador em seu peito e olhava-o nos olhos. — Cale-se, Quatro-Olhos. Você é meu.

Daniel piscou algumas vezes... aquela garota não podia estar falando sério. — Mas...

E Isabella de fato calou-o, à força, com um beijo mais apaixonado que o normal. Parecia que aquilo era o mais perto de uma declaração que conseguiria dela, afinal. Ela mordeu seus lábios, puxando-os com delicadeza, e logo toda a tensão tinha desaparecido. Daniel preferiu não perguntar mais coisa alguma depois que fechara a porta e ambos subiam aos tropeços em direção ao quarto do mesmo. Para mais uma noite muito agitada.

A diferença era que desta vez Isabella sabia que ele era todo dela. E ele compartilhava de sua certeza. Em cada toque, beijo, carícia e até mesmo nas mordidas que trocavam, era ditada essa verdade.

Do rádio que tocava baixo desde horas antes, era possível ouvir algumas partes da letra que tocava, por entre os sons dos gemidos que foram se sucedendo.

Scusa se ti amo e se ci conosciamo
Da due mesi o poco più
Scusa se non parlo piano
Ma se non urlo muoio
Non so se sai che ti amo
Scusami se rido, dall'imbarazzo cedo
Ti guardo fisso e tremo
All'idea di averti accanto
E sentirmi tuo soltanto
E sono qui che parlo emozionato
E sono un imbranato

Afinal... o amor pode florescer nos terrenos mais improváveis...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado seus lindos!
Próximo capítulo volto com Melisandre e Isaak para vocês.
Kisses kisses e até lá.



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