Linha Tênue escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 23
Sexy Back


Notas iniciais do capítulo

Música -> Sexy Back, Justin Timberlake

Bom, gente... eu decidi fazer uma coisa diferente nesse capítulo, então ele não se foca em Isaak e Mel, mas sim... bom, vocês verão.
Pretendo fazer um especial desse novo "par", então o próximo capítulo também será deles.
Boa leitura.



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Parecia patético toda vez que ele pensava nisso. E o pior dos clichês românticos. Era irritante a sensação de completude que o rapaz sentia por aquela patricinha metida. Não queria aquilo. Mas uma coisa foi sucedendo a outra, e no fim... era tarde demais para voltar atrás. Mas Daniel deveria saber, desde sempre, que as coisas terminariam daquele jeito.

Ele se apegava demais às pessoas. Era isso que martelava em sua cabeça, enquanto sentia um corpo nu e de pele incrivelmente macia sobre si, os cabelos loiros esparramando-se em seu peito. Isabella dormia, profundamente, sem se preocupar que acabara de ter relações com um nerd esquisito.

E como ele havia chegado àquele ponto? Talvez tudo tenha sido culpa da roda-gigante. Aquele estúpido brinquedo, o primeiro que veio à sua cabeça, quando deixara Mel aos cuidados de Isaak. Isabella reclamara e batera o pé pelo caminho inteiro, ao ser arrastada até lá, mas no fim acabou subindo e se acomodando na cabine, decidindo que quanto mais cedo começasse, mais rápido terminaria. Muito lentamente, ambos viram o chão ficar cada vez mais distante dos seus pés.

Mas pelo fato do movimento ser mais devagar, controlado, aquilo era bem tranquilo e acalentador. Muito melhor do que entrar numa montanha russa. Dan tinha pesadelos com aquela coisa desde que pisara nela pela primeira – e última – vez. Ele nunca fora o tipo de pessoa corajosa ou que gostasse de adrenalina.

Foi na roda gigante que ele se lembrou de algumas coisas que preferia esquecer.

Erica fora sua primeira namorada. Ela lhe ensinara tudo sobre relacionamentos, e sobre garotas, e muitas outras coisas. Sua garota perfeita, a primeira com que se deitara, aquela que se lembraria pelo resto da vida.

Sua garota havia se mudado para o exterior a um ano.

O namoro a distância nunca funcionaria para alguém direto e racional como Daniel. Não era algo viável, e naquele tempo o rapaz tinha muitas coisas com as quais se preocupar. Ele estava terminando o ensino médio e pronto para ingressar numa faculdade. Seus amigos mais novos também estavam passando por dificuldades: Alex em atrito com os pais e metade da escola por causa de sua preferência sexual, Melisandre com as constantes brigas entre os seus pais divorciados.

Ele acabou por escolher cuidar daqueles que estavam mais perto, e carregar a provavel culpa pelo namoro ter acabado. Erica em momento algum cobrara isso dele, contudo. Nunca jogou isso em sua face, e talvez fosseisso o pior. Porque ele, lá no fundo, queria que ela tivesse gritado e voltado até ali para bater nele por sua decisão. Mas obviamente, isso não aconteceu.

As lembranças deixaram-no brevemente deprimido, o que chamou a atenção da garota loira ao seu lado. Minutos depois ela já estava cutucando sua bochecha insistentemente com o dedo indicador. - Ei... estranho...

– Quem diabos você está chamando de “estranho”? - ele reclamou, ajeitando os óculos na ponte do nariz e descendo seu olhar sobre Isabella.

– Bom... eu não conheço seu nome, moço, então tenho que chamá-lo de alguma coisa, certo?

Não havia algo mais desagradável para usar, nesse caso? Ele quase disse, mas engoliu as palavras, deixando-as apenas em pensamento, e voltando a olhar para fora da cabine, disse:

– Daniel. Dan, se preferir.

– Isa... Isabella. Já deve ter ouvido falar sobre mim.

– Pelo Isaak? - ele deduziu, afinal ambos chegaram juntos ao festival. - Não, eu não sou assim tão intimo daquele garoto. - seus olhos astutos voltaram-se da paisagem lá fora para o rosto dela. Uma aparência perfeita e imaculada, muita maquiagem, olhos chamativos, de uma tonalidade que ele não conseguia definir muito bem. Talvez fossem cor de mel. Seus lábios eram carnudos, atrativos. O rosto era delicado, apesar de tudo, ainda mais emoldurado pelos cabelos dourados. Dan precisou piscar algumas vezes antes de retirar os óculos e limpá-los de qualquer jeito na blusa que usava, uma desculpa para parar de olhá-la.

– Bom... então somos dois.

– Você parece um tanto quanto decepcionada por isso. Seria parte de um triângulo amoroso? - ele provocou, e recolocou os óculos, contentando-se em observá-la apenas de esguelha.

– Ha... hahaha! - Isa pareceu gostar da ideia, porque começara a rir, divertida. - Nada tão complexo assim, meu caro. Se está preocupado com sua amiga ser traída, essa possibilidade não existe.

– Eu não estou preocupado...

– Imagine... só de olhar já percebo que você deve ser quase uma mãe.

Ele entreabriu os lábios, pronto para protestar, mas apenas fechou-os novamente, para responder segundos mais tarde. - Nada tão complexo, minha cara.

– Você aprende rápido!

– É o que me dizem sempre.

Houve um silêncio agradável, apesar de tudo, depois daquela frase. A cabine agora estava no ponto mais alto que poderia. A visão que se descortinava dali de cima era incrivel. Tudo parecia tão pequeno... barracas e pessoas. Isaak chegou a conclusão que definitivamente não devia ter escolhido aquele brinquedo. Estar naquele lugar, naquela posição, lhe deixava nostálgico o suficiente para esquecer a moça que estava ao seu lado totalmente, pela segunda vez.

Mas Isa nunca aceitava ser esquecida ou deixada de lado por ninguém.

– Você está fazendo aquela cara de novo.

– Que cara?

– Essa cara de cachorro sem dono. Você foi abandonado por acaso? - Ela fez um movimento rápido e tirou o óculos do rosto dele, colocando-os no seu próprio e logo fazendo uma careta. - Meu Deus, você é quase cego! Quantos graus isso tem?

– Não é da sua conta. Dá pra devolver? Preciso disso pra enxergar!

– É o que você vai me dar em troca?

– O que? Por que eu te daria algo pra me devolver o que pertence a mim? Isso não faz nenhum sentido, garota!

– Claro que faz, estamos em um encontro e você não me dá atenção.

– Isso não é um encontro.

– Parece um encontro pra mim.

– Você está louca se acha realmente isso. - Ele tentou arrancar os óculos dela, mas Isa tirou-os rapidamente, deixando-os na mão oposta, longe dele. Para que pudesse pegá-los de volta, Dan precisaria praticamente ficar por cima dela, coisa que com certeza não lhe agradava. - Isabella!

– Vai me dar algo?

– Argh... droga. - Daniel voltou a sentar certo, segurando a ponte do nariz. Não estava realmente com cabeça para aquilo. - Certo! Apenas me devolva.

– Qualquer coisa?

– Qualquer coisa.

– Uma promessa?

– É claro. - Não esperava que ela fosse pedir algo radical demais. No entanto, Isa acabara surpreendendo-o quando ajeitou o óculos roubado no rosto dele e chegou mais perto, para sussurrar em seu ouvido:

– Como dizer isso? Hum... vejo você na minha cama.

–-------x--------

Daniel não pode dizer que se arrependeu, naquela noite. Na realidade, ele chegou a ter esse pensamento, mas depois.

Num primeiro instante, apesar de ter sido indiretamente forçado a chegar naquela situação, ele ficara embevecido. E aquela patricinha mimada sabia ser divertida quando queria, ela tinha um tipo de encanto, uma atração irresistível. Para não falar de um corpo que beirava a perfeição. Isso não era o mais importante, claro, mas era um fator a se considerar...

Teve seu óculos mais uma vez roubado por ela, mas não teria-o de volta tão cedo. Isabella era uma perfeita cleptomaníaca, especialista em roubar objetos, atenção, beijos e corações. Ela começara tudo com um beijo tão ardente que deixara-o sem folêgo. Tirara suas roupas peça por peça, seduzindo-o aos poucos. Enlouquecendo-o. Era uma boa definição para o que estava fazendo a ele, Isa tirava completamente o seu juízo.

Dan já não se importava em manter distância, ou percorrer cada curva dela com as mãos, querendo tocar em cada parte de seu corpo. Quanto mais próxima estivesse, melhor. Trejeitos, poses, gemidos e sussurros, naquela noite ela lhe pertencia. Já não se incomodava se era apenas mais um em sua cama, mais um com quem compartilhava uma noite de prazer. Isso foi apagado de sua mente completamente, enquanto ela murmurava seu nom entre arquejos e pedia por mais.

Que miserável.

Ele nunca deveria ter se deixado levar. E nem mesmo tinha o direito de deitar-se com ela depois de tudo, e deixar que dormisse entre seus braços. Aquilo não era para ser assim. Era apenas atração carnal, não poderia sair daquilo. Ah... ele se sentiria a pessoa mais idiota, ridícula e burra de todo o mundo depois daquela noite.

Era como uma música que odiava, mas que as vezes escutava tocando nas lojas ou em qualquer outro lugar.

Dirty babe (aha)
You see these shackles
Baby I'm your slave (aha)
I'll let you whip me if I misbehave (aha)
It's just that no one makes me feel this way (aha)

Sim... ele agira como um escravo, como alguém que não conseguia pensar direito. Aquela garota havia entrado em seu cérebro de uma maneira tão bizarra, e não iria conseguir tirá-la de lá tão cedo.

Mas aquilo não era amor, ainda.

Era desejo, paixão, luxúria... talvez um pouco até de desilusão e carência. Mas não amor.

Amor não nasce em uma noite.

O amor é cultivado. E se não cuidam bem dele, acaba por morrer sufocado pela aridez.


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