Linha Tênue escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 22
Right Now


Notas iniciais do capítulo

Eu voltei dos mortos! Sim! E sou um zombie simpático, galera, não fujam!
Peço mil perdões pela demora, aconteceram várias coisas... mas enfim, consegui continuar LN
Falta pouco tempo para eu terminá-la, então segurem as pontas ai.

Música: Right Now- One direction



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Um festival estava vigorando na cidade, naquele dia.

Sob um céu de estrelas prateadas, as barracas se estendiam, prometendo diversão e alegria. O parque de diversões ofuscava a visão com suas luzes coloridas de neon. E um pouco mais a frente, um palco era preparado. Parecia que uma banda logo iria tocar, mas enquanto isso não ocorria, uma caixa de som inundava a multidão de pessoas com músicas aleatórias.

Lights go down
And the night is calling to me, yeah
I hear voices singing songs in the street
And I know that we won't be going home
For so long, for so long
But I know that I won't be on my own, yeah
I love this feeling and

Bom, não era sua intenção, como sempre, cantarolar o que quer que fosse. Mas Melisandre era incapaz de ouvir uma música conhecida sem que a cantasse junto, com seus próprios lábios. E também, as músicas sempre vinham nas situações mais inesperadas possíveis. Oh, que ignorante ela era, achando que podia cometer tal “pecado” sem ser notada.

Ela estava fugindo de casa...

Era o tipo de coisa que nunca sonhara fazer em toda a sua vida, mas era a verdade. Para ser bem sincera, ela ainda não havia decidido de fato ir embora. Queria mais do que tudo “dar um tempo”. Nem que fosse por uma única noite.

Ela deixou o corpo cair num banco qualquer e atirou sua mochila ao seu lado. Logo, jogava a cabeça para trás, com os braços apoiados no encosto.

Realmente. Ela não estava fugindo, só ganhando tempo. Tempo para que as coisas entrassem com mais facilidade em sua cabeça, para que conseguisse aceitá-las. Obrigar-se a isso. O que ela havia encontrado naquela tarde ao chegar em casa, havia feito com que sua cabeça -tão incrivelmente indiferente- desse um nó.

Era incapaz de não culpar Isaak por aquilo também.Se aquele idiota não tivesse irritado-a a ponto de fazê-la retornar mais cedo para casa... se bem que não podia jogar toda a culpa em cima dele. Ela era difícil de se lidar normalmente, e depois daquele dia... que ele tentara fazer...

– Hum...

Um resmungo baixo, inaudível, veio de sua boca. Não queria ter de lembrar daquilo também. Em sua situação atual, iria apenas piorar sua cabeça, que já começava a doer insistentemente. Uma das mãos buscou-a, descansando sobre um dos olhos, o que tirou bastante de sua perspectiva. Algumas estrelas, do céu que observava, ficaram escondidas pela palma de sua mão.

O que ela vira... fora uma reatação entre seu pai e sua mãe.

Chamar aquilo de “reatar” era ser muito ingênuo, na verdade. Afinal, o trauma mais complexo que pode passar pela mente de um jovem é se deparar com os pais fazendo sexo. Ainda mais quando ambos são separados, divorciados, e se odeiam.

Bom, talvez eles não se odiassem tanto assim... ou tivessem uma relação amor/ódio parecida com a a que compartilhava com Isaak. De uma forma ou de outra, aquilo fez com que entrasse em choque. Apenas por um segundo. Antes que girasse nos calcanhares e batesse a porta atrás de si.

O que aconteceu a eles depois ela não sabia, nem fazia questão de saber. Seu corpo se movera sozinho, andando sem rumo por um tempo. Quando chegara ao dito festival, já estava escurecendo. Estava cansada, e aflita. Não iria muito mais longe, afinal. Mel nunca fora uma filha rebelde, no fim das contas. Era bruta e grosseira, mas não desobediente.

Forçou-se a respirar profundamente: uma, duas, três vezes ela inspirou e expirou, concentrando-se. Com a mão livre, tateou a mochila procurando pela abertura e, ao encontrá-la, tentando achar algo de comestível ali dentro. Depois de poucos minutos, retirou de lá um pacote com biscoitos amanteigados. Lembrara-se, também, que estava com fome, de maneira que não se fez de rogada, atacando seu pequeno lanche em seguida.

– Comendo enquanto nos deixa preocupados, não é? Bem típico de você...

A voz, vinda de trás do banco, pegou-a de surpresa, fazendo-a engasgar. Alguns tapas em suas costas pareceram resolver o problema. Dan, seu salvador, não parecia de bom humor, no entanto.

– Agora você pode me explicar que diabos está passando pela sua cabeça?

– Nada. - Uma resposta seca, que ele já esperava. O rapaz ajeitou os óculos e retirou a mochila para que pudesse sentar ao lado dela, atirando-a sem dó nem piedade em cima da garota.

– Eu não sei o que aconteceu com sua mãe e seu pai para você ter tido essa ideia absurda de fugir de casa...

– Eu não etsou fugindo de casa.

– Então me dê uma boa explicação para isso! Seus pais estão desesperados atrás de você, não atende ligações, não estava por perto, nem eu e os outros sabiamos onde você estava. Acho que nem o Isaak sabe!

Mel desviou sua atenção para o celular, observando distraidamente as dezenas de chamadas não atendidas. “Pai”, “Mãe”, “Idiota”, “Alex”, “Dan”. Todas as pessoas que conhecia e se apegara, e mais alguns outros nomes. Por um momento, sentiu-se realmente estúpida. - Eu só precisava esfriar um pouco a cabeça.

– Me pergunto desde quando começou a pensar assim. A Mel que eu conheço não foge de ninguém, se não gosta de algo dá logo uma voadora! Estou falando sério. O que houve com você?

O comentário sobre a voadora a fez rir, mas ela continuou olhando para o celular quando respondeu a ele. - Eu os vi... juntos. - Como para justificar a atenção que dispensava no celular, começou a jogar a primeira coisa que viu.

– Hum... defina juntos. - Ele disse, mas ao ver o olhar letal que Mel lançou, teve uma compreensão instantânea e a absoluta certeza que não deveria insistir nos detalhes. - Ah... entendi. Olhando por esse ângulo, acho que até entendo essa sua reação.

– Cale-a-boca, Dan... não tem nada de errado comigo.

– Acho que você é muito inocente em vários aspectos, a despeito desse seu gênio terrível.

– Você realmente perdeu o amor a vida, não é? - A maneira como ela enfiou o celular novamente no bolso do casaco fez parecer que ela queria era fazer o rapaz engolir o aparelho.

– Você é sempre tão bruta... - Ele passou a mão pelos cabelos, ajeitando-os. - Apenas aceite.

– Se for olhar por esse ângulo você é tão inocente quanto eu.

– Ah, eu duvido muito. - Uma risada saiu da sua boca, mas ele conseguiu manter-se sério a partir dali. - Acho que você está com medo das coisas mudarem. Com as pessoas a sua volta, consigo mesma...

– Eu não tenho medo de algo tão superficial como a “mudança”. - Resmungou a garota, vltando a pegar o pacote de biscoitos e oferecendo-o ao amigo para que pegasse um.

– Okay. Eu vou fingir que acredito. Afinal você sabe muito bem quais são os seus problemas e como lidar com eles.

– Você fala demais, Dan.

– Sou apenas um bom amigo.

– Nem de longe. - Mel revirou os olhos, encostando a cabeça no ombro dele. Daniel era realmente um bom amigo. Era o tipo de pessoa que mostrava a verdade sem receio de ofender. Por isso, desde sempre, ambos davam-se tão bem.

– Você vai voltar?

– É óbvio, não tenho outro lugar para onde ir.

– Ai, ai... que garota mais dramática!

– Eu estou falando sério, Dan, vou acabar matando você!

No segundo seguinte ambos haviam entrado numa “guerra de comida” que por sorte não acertou ninguém mais do que eles mesmos. E Mel questionou-se, sorrateiramente, se realmente tinha medo de “mudar” e o que isso poderia significar. Silenciosamente, raciocinou sobre tudo o que havia visto e sentido. No final, talvez, nada disso importasse. Ela estava sendo terrivelmente infantil.

–----------x-----------

Uma mensagem havia chegado no celular dele, e o garoto leu-a prontamente, esperando que fosse noticias de Melisandre. Seus olhos percorreram aquelas poucas linhas com ansiedade e alívio.

Eu acabei de encontrá-la, está no festival. Vou tentar conversar para ver o que aconteceu, mas não demore.

Daniel.

– Ah... aquela cabeça de vento. - Seus dedos foram para a ponta do nariz, enquanto Isaak soltava o ar que prendera instantes antes, achando que pudesse ter acontecido algo ruim. Se tratando das suas experiências anteriores, estava sempre esperando pelo pior. - Quanto tempo mais pretende me deixar preocupado?

– Encontrou a sua amiguinha? - A voz familiar, sedutora e macia bateu contra seu pescoço. Isabella ficara na ponta dos pés (o que era desnecessário, já que usava salto alto) e observava a tela do celular, usando os braços para prender-se a ele e não desequilibrar.

– Sim. Estou indo encontrá-la agora.

A loira fez um biquinho, soltando-o e pondo-se a beber mais um gole do que parecia ser cerveja, afinal estava em uma lata de alúminio bastante simples. - Parece que você foi realmente laçado, não é?

– Está com ciume? - Ele ergueu uma sobrancelha, observando-a de esguelha. Afinal, quando se tratava de Isa, tudo era possível.

– Um pouco. Afinal eu ia ser sua primeira garota, e acabei perdendo meu posto para uma esquisita de marias-chiquinhas. - Enquanto dizia isso, a moça havia trazido metade do cabelo para a frente dos ombros e prendia-o com a mão livre. Possivelmente faria tal coisa com a outra metade também, se não estivesse bebendo.

– Você realmente não se importa com isso, não é?

– Não. - Mostrou-lhe a língua. Não dava para ter certeza se era pelo gosto do que bebia ou simplesmente para incomodá-lo. - Só tenho um pouco de inveja.

– Inveja...?

Isabella desviou o olhar, parando de brincar com o próprio cabelo e mordendo o lábio inferior. - É... vocês dois são legais juntos.

O rapaz inclinou a cabeça, pensando se deveria responder aquilo. Mas então, foi impedido pela própria companheira, que abandonou a expressão quase séria para levar o dedo indicador a bochecha. - E então... vocês já transaram?

– Que diabo de pergunta é essa, maldição!? E isso não é da sua conta! - Ele praguejou, virando o rosto para esconder seu rubor e enfiando com força as mãos dentro do casaco, praticamente marchando em direção ao local que sabia estar havendo o festival.

– Ora, não seja tão timido... espere, vou com você!

Ele definitivamente não sabia como Isa conseguia correr atrás dele de salto alto, mas o fato é que ela conseguiu alcansá-lo a tempo. Bom, que seja. Isaak estava com pressa. Queria encontrar Mel o quanto antes...

–----------x-----------

O que os dois encontraram ao chegar no festival foram dois adolescentes sendo reeprendidos por um guarda, que possivelmente havia sido atingido por algum biscoito amanteigado. Enquanto Daniel murmurava palavras de desculpas, Mel mantinha sua cara de poucos amigos de sempre. Quando o oficial afastou-se, dava-se para ouvir os dois voltando a discutir.

– Você deveria ser mais cuidadosa!

– É culpa sua por ter desviado!

– Pobrezinha de você, se acha que eu ia ficar esperando que jogue biscoito amanteigado no meu rosto.

– Oh... vocês dois já estão animados cedo assim? - Isaak questionou, batendo as mãos brevemente para chamar a atenção deles.

– Onde diabos isso é cedo para você? - Isabella alegou de seu lado, colocando uma das mãos na cintura, enquanto bebia outro gole de sua latinha. Houve um instante de tensão quando Melisandre desceu seus olhos sobre a moça... que jurava conhecer de algum lugar, mas não lembrava de onde. Mas como Mel era absurdamente prática (e tinha um conjunto de reações distintas de pessoas normais), ignorou momentaneamente aquela sensação.

– Nós só estavamos debatendo assuntos importantes.

– Claro. Como quem tem a mira melhor. - Daniel ajeitou os óculos, notando o clima um tanto estranho, e depois de alguns segundos passando o braço pelo de Isabella e puxando-a consigo. - Vamos deixá-los um poucos sós, sim? - Disse para ela, num tom mais baixo, enquanto observava rapidamente o parque, imaginando uma boa desculpa para usar. - Vamos comprar alguns ingressos! Vemos vocês depois!

– Ei! Eu nem te conheço, garoto... o quê? Brinquedos? Você não quer mesmo me arrastar pra um negócio desses, quer?

Os berros de Isabella foram ficando cada vez mais longe, enquanto Isaak e Melisandre se entreolhavam.

– Quem é aquela garota?

– Uma amiga.

– Não sabia que tinha uma “amiga” tão desinibida. - Possivelmente ela queria usar outro adjetivo mais forte, mas mesmo assim segurou a língua.

– Oh. Não sabia que você se importava.

– Eu não me importo, você faz o bem que quiser!

O rapaz simplesmente começou a rir. Rir não... gargalhar, praticamente. O que fez uma ruga de estresse surgir imediatamente na testa da jovem. - O que foi?

– Você fica bonitinha quando está com ciumes.

– E-eu não estou com ciumes.

– Você gaguejou por um momento.

– Ah, apenas cale a boca, idiota. - Ela voltou a sentar no banco, e ele acomodou-se ao seu lado, passando um braço por seu ombro. Depois de algum tempo de um silêncio confortável, foi ela que voltou a falar. - Não vai me perguntar o que estou fazendo aqui?

– Não. Se você quiser falar, vai acabar falando.

– Tsc. Como é irritante...

– E você não é nada agradável, e nem por isso eu reclamo. - Segurou a bochecha dela, brevemente. Depois de mais alguns segundos, ela havia aberto o jogo... da maneira mais sutil que conseguiu mencionar. Aliás, muitas das suas palavras se complementavam com gestos e com entonações.

– Ah... então foi isso.

– Por que todos vocês tem a mesma maldita reação?

Ele deu de obros, simplesmente. - Não faço ideia. Talvez porque os homens pensem igual. - Coçou brevemente a bochecha, pensativo. - Ei, Mel... isso te afetou tanto assim só porque eram seus pais?

– O que quer dizer com isso? - Ela ainda evitava olhar nos olhos dele, talvez por vergonha.

– Hum. Não sei dizer. Claro que é uma coisa que eu nunca gostaria de ver, deve ser perturbador, mas... - Ele pegou uma das mãos dela, começando a brincar ocasionalmente com seus dedos. - Talvez... talvez isso tenha feito com que você se lembrasse do que nós íamos fazer.

– Não íamos fazer nada naquele dia. - Ela cortou. Simples e objetivamente.

– Claro que não. - Isaak suspirou, jogando a cabeça para trás. - Mas eu queria. Não vou bancar o cara bozinho, um santo, e dizer que não. Não vou mentir para você. - Ele entrelaçou os dedos com os da mão dela com a qual estava brincando e a apertou. Forte. - Você pode me odiar por isso. Pode pensar o que quiser. Mas eu queria. Porque você é a única pessoa no mundo que me faz sentir assim. Eu não desejo nenhum outro corpo, ou qualquer outro sorriso que não seja o seu. Eu também entendo... que você pode estar assustada. Se você tem medo, eu vou esperar. Eu posso esperar! Eu só quero que seja especial...

– Você fala demais, Isaak... - Isso fez com que ele voltasse à posição anterior, temendo levar um fora, ou um tapa tão forte que faria-o voar longe. Mas ela simplesmente enlaçou-o com seus braços, descansando a cabeça em seu peito. Não respondeu absolutamente nada, como era de praxe. Ele sabia o quanto ela era dificil com as palavras, o quanto penava para trazer seus sentimentos à tona. Mas como sempre, aquele misero gesto dela, já fora melhor que mil palavras. Porque o rapaz sabia que ela entendera. E que sentia, de certa forma, o mesmo...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, tentarei atualizar o mais rápido possível, assim terminarei ela de uma vez -q
Kises para todos vocês e até a próxima



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