Linha Tênue escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 20
Wrecking Ball


Notas iniciais do capítulo

Hei, olha eu de novo! Sempre eternamente pedindo perdão pela demora, ultimamente ando um pouco ocupada com algumas coisas, e minha inspiração sai pra passear e não costuma voltar.
Mais uma vez o título é apenas o mesmo da música... porque se eu fosse seguir estritamente a letra das músicas da lista, eles iam terminar e voltar a cada dois capítulos. :v
Enfim, acho que o título do cap está um tanto quanto condizente com o conteúdo... haha.
Boa leitura, pessoal :3



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Mel acordou com uma dor de cabeça terrível aquela manhã, por algum motivo que desconhecia. Isaak não a aporrinhara no dia anterior, ela não tomara nenhum medicamento forte, não forçara as vistas, nem ouvira música muito alto. Todos os motivos anteriores eram constantes em sua vida, no entanto aquele dia estava supreendentemente quieto.

Talvez fosse porque as provas finais já haviam passado, e todos esperavam que uma bomba estiçalhasse em suas cabeças junto com uma chuva de notas vermelhas. Ela, obviamente, não estava nem ai para isso, afinal gabava-se de sua inteligência acima da média. Isaak, entretanto...

Ele era inteligente, pegava as coisas rápido, no entanto era incapaz de ficar focado na matéria. Se estava na sala de aula, arranjava rapidamente algo para fazer (o que, ás vezes, envolvia incomodá-la), quando estava apenas com ela distraia-se com outras coisas... ele era um caso perdido nesse aspecto. E com toda a confusão do bimestre anterior, com a morte da irmã dele e seu reajuste forçado à sociedade, suas notas despencaram drasticamente.

Nada o suficiente para fazê-lo repetir de ano, mas ainda assim era um belo golpe. Ainda assim, Mel ficou intimamente feliz em constatar que ele estava melhorando gradualmente. Parecia que o tempo estava curando suas feridas. Ou talvez fosse apenas ela. Mas a garota não era tão pretensiosa em pensar nisso de si mesma.

Ergueu-se da cama, colocando uma mão sobre a testa. Estava quente, de fato. Deveria ter pegado um resfriado, sabe-se lá como. Observou o relógio ao lado da cama, verificando que estava pra lá de atrasada. Mesmo assim não correu, nem nada do tipo... talvez ficar um dia em casa não fosse tão ruim. Ela já havia passado de ano mesmo. Apenas um dia...

Voltou a se deitar... sem comer absolutamente nada. Seu estomago reclamava, mas Melisandre sentia extremo sono. De fato que apenas dormiu por mais algumas horas. A manhã se tornou tarde, e conseguiu distinguir batidas na porta, lá em baixo. Constantes. Elas não paravam. Sua cabeça rodava, e aquele barulho não dava trégua.

Ficou com vontade de levantar e dar um chute na cara do infeliz, mas o cansaço era maior. Fechou novamente os olhos. Alguns minutos depois, porém, uma pedra estilhaçou sua janela. Aquilo era demais. Demais! Com violência, se livrou das cobertas e foi até a janela destruída, sem querer pisando com os pés descalsos nos cacos de vidro. Praguejou, pegando o abajur, a coisa mais próxima de seus dedos, e tacando-o lá em baixo sem pensar duas vezes.

Por sorte o incomodo visitante conseguiu desviar a tempo. Suas feições preocupadas se dilataram, modificando-se para algo mais revoltado.

–Mas que inferno, Mel, que diabos você pensa que está fazendo!?

–Você tá de brincadeira, já viu o buraco que fez na minha janela!?

–Deixe-me subir.

–Cale a droga da boca! - ela soltou-se do parapeito e praguejou mais uma dúzia de impropérios enquanto sentava na cama e arrancava os pedaços de vidro que haviam entrado na pele macia de seu pé. Agora ele estava doendo bastante, e ela estava ainda mais cansada. Com passos claudicantes, conseguiu sair do quarto e descer as escadas, deixando uma trilha de sangue pelo assoalho. Por que vidro tinha que cortar tão fundo? Ela parecia que tinha arrancado um pedaço do pé. Foi até a porta de entrada, ainda mancando, sentindo a ardência percorrer os cortes. Escancarou-a, a frente de Isaak, abrindo a boca para xingá-lo mais.

Quem ele pensava que era, agindo como uma bola de demolição? Tinha bebido alguma coisa? Se drogado, talvez. Mel sabia que a segunda opção nunca acontecera, e que havia uma lista pequena de incidentes quando o garoto chegara em casa bêbado. Ele tinha os dias dele. Assim como ela. Mas ao invés de detonar seu organismo engolindo álcool, preferia se enfiar debaixo das cobertas com um fone de ouvido e música alta o suficiente para estourar seus tímpanos.

Antes que ela pudesse xingar, ou quem sabe agredi-lo, como era de praxe, ele praticamente se jogou em cima dela. Mel sentiu seu corpo arriar, a gravidade incidindo violentamente sobre ele, seu pé ruim escorregando. Isaak, no entanto, conseguiu contorcer-se para segurá-la, e de alguma forma ela acabou não batendo a cabeça no chão, como pensou que iria. Isaak usara uma cadeira para apoiar seu peso e a outra mão segurava-a pela cintura. Segundos depois, porém, a cadeira saiu do lugar, e ambos cairam no chão. Com um impactor bem menor, claro.

–Isaak, sua besta, você pirou de vez ou o quê?

Dessa vez ela conseguiu gritar, e expôr toda a sua irritação, atirando-a sobre ele. E teria reclamado ainda mais se tivesse reparado onde a cabeça dele estava descansando. Isso se ela não pudesse senti-lo sacurdir-se de rir.

–Você tá pedindo pra morrer, sabia?

Ele retirou a cabeça de cima dos seios dela e apenas sorriu.

–Sua estúpida... eu achei que tinha acontecido alguma coisa séria com você.

Melisandre quase se sentiu culpada. Quase.

–Claro, e precisa quebrar minha janela e quase me fazer ter um traumatismo craniano. É, Isaak, você é um ótimo guarda-costas.

–Foi mal... - ele se desculpou, e tentou erguê-la com cuidado. - Isso é culpa sua de sumir sem avisar.

–Cara, não se pode nem mais dormir em paz hoje em dia!

–Você estava dormindo?

–Sim! E você me acordou... - Mel levou a mão a testa, e logo Isaak repetiu o movimento.

–Está com febre.

–Já tinha imaginado.

–Você precisa tomar mais conta de si mesma, sabia? - ele notou a trilha de sangue, e olhou para o pé dela. - Ai, ai, olha só isso.

–Pare de falar como se a culpa não tivesse sido sua...

Ele deu de ombros, e ficou de pé, ajudando-a a levantar. Então pegou-a no colo, a base de protestos, e voltou a subir a escada. Colocou-a na cama. Havia uma verdade inquestionável... Isaak nunca tinha entrado no quarto de Melisandre até aquele instante. Ele observou com seus olhos escuros a escrivaninha, um notebook, a prateleira de livros, os cds, os posteres de bandas musicais na parede. Enquanto ela reclamava, ele capturava tudo aquilo. Assim como a janela quebrada.

Isaak recolheu todos os cacos, um por um. Ele fechou a parte externa da janela e apagou a luz. Quando retornou ao quarto, estava com curativos para tratar o pé ferido de Mel. Ela ainda tentou mantê-lo longe, mas chegou a conclusão que era impossível. Praguejou mais algumas vezes enquanto ele limpava a ferida com álcool, que realmente ardia demais.

Mas não o suficiente para ultrapassar a dor do atropelamento. Mel sabia que, de alguma forma, o companheiro tentava ainda compensá-la por aquele dia. Ao ter seu pé enfaixado, ela imaginou o quanto ele queria cuidar dela, naquele incidente que acontecera meses antes. Os dois estavam sempre cuidando um do outro, afinal.

Foi a vez de tentar abaixar sua febre. A essas horas, Mel já desistira completamente de falar qualquer coisa e apenas ficava deitada na cama, esperando seu sono passar, assim como o frio. Ela adormeceu e acordou algumas vezes. Da última vez que reabriu seus olhos, reparou que já eram dez horas da noite. Sua mãe não iria voltar hoje... ela esquecera completamente disso. Bocejou, a procura de Isaak. Ele deveria ter ido embora, já.

Não pareceu surpresa, porém, em vê-lo sentado numa cadeira ao lado oposto da cama, adormecido. Não queria acordá-lo, mas era preciso. Afinal, os pais dele deveriam estar preocupados. Já tinham perdido uma filha... Mel espantou esses pensamentos e cutucou-o.

–Isaak?

–Humm?

–Já está tarde... seus pais...

–Eu já liguei para eles.

–Ahn... - ela voltou a fechar os olhos, por pouco tempo, e então reabriu-os num repente. -Você não espera dormir aqui, não é?

Ela sabia que estava escedendo o tom de voz necessário, o que o fez acordar também, e colocar um dedo nos ouvidos.

–Você está passando mal, sua mãe não volta hoje, não vou te deixar aqui sozinha, sua retardada!

–Argh! Tanto faz então... vou arrumar as coisas pra você dormir no sofá.

–Você vai ficar deitada ai, eu me viro sozinho.

Nem deixou que ela respondesse, antes que se virasse num rompante. Mel não gostava da ideia dele caçando roupas de cama pela casa. Foi forçada a engolir suas reclamações e estender a mão para ele. Aquela ideia... não poderia acabar bem.

–Espere... não quer dormir comigo?

Ele voltou seus olhos pra ela como se estivesse a beira da morte. - O que? Na sua cama? Pera, como assim?

–É seu idiota... estou quase morrendo mesmo, não creio que vá fazer muita diferença... - ela puxou o cobertor para cima. -Venha!

–Er não posso tomar um banho antes?

–Seja lá que diabos você está pensando que vou fazer, acho melhor repensar...

–Estou o dia inteiro na rua...

–Tá, tá! As toalhas estão no armário. O quarto é em frente a esse. - não esperou uma resposta dele e voltou a se deitar. Ela bem que poderia fazer isso com as roupas de cama também, mas... de alguma forma, queria passar a noite ao lado dele. Deu batidinhas na cabeça, verificando que ele já havia saído. Quando foi que ficara tão sentimental?

Mel se lembrou que também não havia tomado banho naquele dia, e apesar de estar tarde, forçou-se a levantar de suas cobertas quentinhas e a pegar as coisas que precisava. Parou em frente a porta do banheiro, completamente paramentada. A toalha caia sobre seus ombros, e um pijama fresco (nem um pouco provocante, ela fizera questão de observar) e limpo, assim como suas roupas intimas também limpas, estavam ambos embolados e acomodados entre seus braços.

Quando Isaak saiu lá de dentro, com a parte superior do corpo nua e secando os cabelos negros e espetados com a toalha, Mel fingiu não reparar e passou direto por ele, trancando-se lá dentro. Deixando o garoto chocado do lado de fora. Ela deu mais algumas batidas na cabeça, como se tal coisa pudesse fazer seu juízo voltar, e começou a se despir, entrando debaixo do chuveiro e deixando a água que vertia dele morna.

Mel ficou bastante tempo ali, clareando as ideias... quando saiu, sentia-se mais leve, e no entanto mais incomodada... ao voltar para o quarto novamente, imaginando que Isaak de fato não tinha levado a sério o que ela dissera, encontrou-o deitado em seu lugar.

Quão folgado ele pode ser? Perguntou a si mesma, logo lembrando-se que fora ela mesma que convidara. Bufou, fazendo os cabelos molhados se espalharem e deixando as antigas roupas dentro de um cesto, antes de erguer o cobertor.

–Hei... eu quero um espaço para mim...

Ele apenas a agarrou, puxando-a para a cama, enlaçando-a em um abraço quente. Melisandre cabia perfeitamente nos braços dele, seu corpo sendo tão pequeno como era...

–Você cheira bem...

–Qualquer um que acabe de tomar um banho vai cheirar.

–Deixe de ser teimosa...

–E você deixe de tentar ser agradável.

Ele riu, e acomodou-se mais. Mel tinha que admitir que estava muito confortável nos braços dele... então apenas fechou os olhos, esperando que o sono a levasse, antes que sua fina linha de raciocínio se rompesse...


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Notas finais do capítulo

Hum, prevendo pessoas ficando nervosas :v
Agradeço mais uma vez por todos os que perdem um pouco de seu tempo para ler essas linhas. Arigatou



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