Linha Tênue escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 18
Say Something


Notas iniciais do capítulo

Música referente ao dia 18-Say Something (Christina Aguilera)

Bem, com todos os meus atrasos e tal, acabei desistindo de postar no dia certo. Mas não surtem, sim? Vou continuar a fic usando a mesma ordem de músicas até o fim. Mesmo que eu não me considere mais no desafio.
Desculpem mais uma vez pela demora, e boa leitura.



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Aquele fim de semana foi como uma calmaria que precede a tempestade... com a volta à rotina normal, tudo parecia continuar do mesmo jeito que sempre fora.

No entanto, os dias felizes sempre acabam. A vida é uma sucessão de altos e baixos. E para Isaak, ela estava prestes a despencar das alturas...

–A gente ainda não foi ao cinema, afinal.

–Pensei que já havia se esquecido disso. -Mel mastigou a parte interna da bochecha, prova de que estava nervosa, ou com o assunto, ou com qualquer outra coisa.

–Você fica tão nervosa por nada... -ele cutucou o rosto dela com o dedo indicador, e para variar recebeu um golpe no pulso.

–Pare com isso. E você, já decidiu que filme vamos ver?

–Não, apenas pretendo levá-la ao cinema e entrar em qualquer sala que não esteja passando um filme meloso.

–Ahn, que plano bem elaborado. -ironizou a garota, e nisso levantou-se do banco em que estava sentada. As marias-chiquinhas cairam sobre os ombros e ela bocejou longamente, se espreguiçando. -Chega de estudar por hoje.

–Caramba... vai chover. -ele piscou os olhos escuros em direção ao céu, como se esperasse realmente que gotas caissem em sua cabeça. Melisandre aplicou um belo de um pontapé em sua canela que o fez parar imediatamente com aquilo.

–Já disse pra parar! Mais que coisa chata.

–Ai! Sua bruta! Alguém deveria colocar você em uma camisa-de-força, cruz-credo.

–Camisas-de-força são para loucos, e eu sou normal.

–Não sei onde.

Os dois se encararam por mais alguns segundos, antes que cada um desistisse da discução. O rapaz segurou as mãos dela brevemente, brincando com seus polegares por um tempo antes de se aproximar mais um pouco.

–E então... no próximo final de semana está bom pra você?

–Tudo bem. -Mel deu de ombros, fingindo indiferença. Ia falar mais alguma coisa quando o celular do rapaz começou a tocar (a música de chamada era Papermoon, a segunda abertura de Soul Eater). Ele abriu o aparelho com a mão vazia e atendeu. Houve um momento de silêncio enquanto escutava o que tinham a dizer do outro lado. O telefone acabou por escorregar de sua mão, depois desse tempo. Ele parecia ter virado uma estátua. Mel notou o choque se espalhando pelo seu rosto, e descobriu-se realmente assustada. Tentando manter a calma, pegou o aparelho que havia caído no chão, depois de recolher todas as suas partes, afinal ele havia desmontado-se, e colocou-o sobre o banco em que estava sentada. Chegou mais perto de Isaak, sentindo certo receio. Afinal, não sabia o que estava se passando com o garoto.

–Isaak...?

Ele não respondeu. Mel o segurou pelos ombros e o chacoalhou. Não pareceu surtir efeito nenhum.

–Isaak... o que houve? Você está me assustando...

O garoto se desvencilhou dela e andou até o banco, sentando-se no mesmo e colocando o rosto entre as mãos... sem desistir, Mel tentou se aproximar de novo.

–Eu não sei o que aconteceu... você precisa me dizer... precisa me dizer, ou não conseguirei te ajudar.

Se fosse qualquer outra pessoa, aquele silêncio faria ela virar as costas e ir embora. Não se incomodava se isso a tornava uma pessoa ruim ou insensível. Ela estava tentando, e estava sendo claramente ignorada. Queria desistir. Queria deixá-lo pra lá. Era a atitude normal que tomaria.

Se ele não fosse Isaak.

Ela abaixou o corpo em frente ao dele, perguntando-se o que fazer. Mordeu o lábio inferior, segurando-o pelos ombros, e o sacudiu.

–Diga algo... eu não quero desistir de você... então diga algo. Qualquer coisa.

O Rapaz pareceu finalmente sair um pouco de seu estupor, ao notar certa úmidade nos olhos dela. Os dele também estavam. Ele parecia prestes a chorar. Quando menos esperava, já havia sido cingida pelos braços dele, e sua cabeça estava apoiada mo ombro de Mel. E então, ele disse algumas palavras em seu ouvido.

Não imaginava sentir aquela compaixão em nenhum momento. Ela não era compassiva... era? Não se lembrava. Aliás, o tempo corria tão devagar que a jovem mal conseguia raciocinar o peso daquelas palavras. E sabendo que responder com mais palavras seria vão, apenas deixou que sua mão acariciasse os cabelos revoltos dele, enquanto o mesmo se desmanchava em lágrimas.

“Minha irmã morreu” ele dissera, sem entonação.

Ela já tinha visto, uma moça com tendência a ser aquelas garotas populares de colégio, embora já devesse estar na faculdade. Perdera o controle do carro que dirigia (ficou sabendo mais tarde), e este acabou atravessando a cerca de contenção em uma curva , rolando a ribanceira e afundando no rio. A mulher havia perdido os sentidos, e não pudera deixar o veículo antes da água enxê-lo completamente.

Uma tragédia. Não havia como ser evitada. E a garota não sabia como lidar com isso, afinal nada parecido havia acontecido em sua vida. De forma que teve de levá-lo aos tropeços para a própria casa, entregá-lo aos cuidados de seus pais, e esperar. Apesar de todo aquele sofrimento ser demais para ela suportar, em nenhum momento deixou-o sozinho. Foi com ele até o funeral. Seguiu-o até o caixão. Colocou flores.

Se sentia um robô, incapaz de compreender aquela situação. Começou a se perguntar se havia algo de errado com ela. E quando o caixão desceu cada vez mais fundo dentro da terra, apenas uma lágrima escapou por um de seus olhos, escorrendo até o pescoço. E segurou com mais força ainda a mão de Isaak.

Podia ser uma insensível, mas não deixaria ele lidar com aquilo sozinho.

Mas mesmo depois que o enterro chegou ao fim, e que o tempo começou a passar, de maneira ainda mais lenta... por um bom tempo Isaak foi incapaz de “dizer algo”. E Melisandre, guardando a pouca paciência que tinha, esperou, e esperou, até que ele conseguisse novamente voltar a ser o que era.

Embora soubesse lá no fundo que algo dentro dele havia se quebrado naquele dia, e talvez nunca voltasse para o lugar...


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Notas finais do capítulo

Hum, eu realmente tive dificuldades com esse... foi complicado, mas consegui terminar (depois do atraso de uma semana... acontece nas melhores familias).
Kisses



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