E quando seus planos mudam completamente, do dia para a noite? Isso costumava acontecer muito a Melisandre. Principalmente naquilo que deveria ter sido uma ida ao cinema, e no final das contas virou uma viagem para a praia...

–Por que as coisas sempre acabam do jeito oposto que imaginei...

–Ahn, filinha, relaxe... vai ser super empolgante, você verá.

–Não vejo o que pode ser tão empolgante, a não ser me afogar por não saber nadar. -a menina resmungou, grudando o rosto na janela do carro e olhando para a rodovia que se estendia a perder de vista, assim como os carros e a paisagem que passava por ela. -Ou ficar parecendo um pimentão por ser branca demais... já ouviu falar numa coisa chamada insolação?

–Eu não venho a praia a mais de dois anos, querida, e não vou deixá-la sozinha em casa enquanto saio para me divertir. Nem que isso inclua amarrá-la e levá-la comigo.

Ela notou o olhar feroz da mãe pelo espelho retrovisor e revirou os olhos, mordendo o lábio inferior. -Certo, mas pode me explicar o que eles estão fazendo aqui?

Alex dormia a sono solto no banco da frente, enquanto Dan se acomodava na outra ponta do banco traseiro do veiculo. E bem no meio estava...

–Isaak... pra que diabos está usando óculos escuros aqui dentro?

–É estiloso, oras... se tivessemos ido a um cinema não precisaria deles...

–Se mais algum de vocês reclamar do passeio vou jogá-los para fora do carro e seguir sozinha!

A voz de Kath fez eles estremecerem, com exceção de Alex, que parecia ter se transformado em uma pedra.

–Não tem outro jeito, é passar esse fim de semana na praia ou ser jogado na pista para morrer atropelado... embora eu duvide que sua mãe faça isso. -comentou Daniel, tirando a atenção de sua janela.

–Não duvide, pode ser a ultima coisa que você fará em sua vida.

Talvez essas palavras tenham colocado certo receio ali dentro, porque o resto da viagem passou sem mais reclamação alguma, com exceção de pedidos envolvendo paradas estratégicas para comer/ir ao banheiro. O sol já estava no ápice quando de fato conseguiram chegar ao condomínio onde ficariam hospedados. Enquanto subiam com as malas, e então se instalavam, conseguiam observar todo o local. Era pequeno, mas agradável... cada casa era composta de banheiro, cozinha e pelo menos dois quartos, assim como uma pequena sala e uma garagem. A varanda tinha decoração de hera, cuja qual subia pelas paredes, e também haviam alguns vazos de flores vermelhas distribuídos pelo muro.

–Oh, é até aconchegante isso aqui...

O comentário de Mel passou despercebido. Houve uma verdadeira tempestade para saber quem ia usar o banheiro primeiro. Como a própria não estava com a menor vontade de vestir seu biquíni, apenas balançou a mão e alegou que iria por ultimo.

Ainda demorou um pouco até que todos estivessem prontos. Kath apelou para seu bom senso e colocou um biquíni largo de cor esverdeada. Apesar da idade (ela tinha pelo menos 36 anos) seu corpo ainda estava em boa forma.

Alex havia se contentado em usar uma sunga de cor vermelha, o que chamava bastante a atenção. Quem olhasse para ele nunca diria que tinha uma opção sexual distinta. Dan simplesmente decidira não entrar na água e se contentou em ficar de bermuda e camiseta, alegando que não iria sair andando semi-nu por ai. De forma que quando chegara a praia, se enfiara debaixo de um guarda-sol e não parecia disposto a sair dali tão cedo.

Isaak era o mais empolgado, apesar das reclamações dentro do carro. Agora estava com uma sunga azul-marinho, os músculos bem delineados aparecendo relaxados, antes que se espreguiçasse... sua pele não era lá muito bronzeada, o que levantou alguns questionamentos parecidos com “você não pega sol?”. Ele mal se incomodava. Afinal, tinha uma bela visão neste exato instante.

Mel, embaixo de protestos, havia vestido o biquíni. Ele era roxo, em formato meia taça, mas mal dava para perceber, já que ela se utilizara de sua saída de praia para tampar boa parte do corpo, como se fosse uma capa.

–Mel, você é tão sem graça... seu corpo é lindo...

–Mãe!

–Que foi, é verdade.

–Argh. -ela sentou-se embaixo do mesmo guarda-sol em que estava o amigo de óculos e se embolou ainda mais no tecido, embora isso lhe causa-se calor.

–Você vai cozinhar ai dentro. -ele argumentou, tomando um gole da latinha de coca-cola que tinha em mãos.

–Olha só quem fala...

–É muito diferente.

–Não sei aonde...

–Meeeeel! Venha cá, vamos nadar! -ela ouviu o grito de Alex, que a chamava com a mão e quase pulava para que fosse mais visivel. Estreitou os olhos e suspirou.

–EU NÃO SEI NADAR!

–A gente te ensina!

–Não, obrigada!

–E que tal se eu te ensinar? -a voz veio de trás dela e conseguiu snetir braços em volta de si, dando de cara com Isaak.

–Da onde você saiu? Tá aprendendo táticas de espionagem pra aparecer do nada assim?

–Eu estava bem aqui o tempo todo, você que é distraída. E então, vamos?

–O que?

–Aprender a nadar, lógico.

–Nem morta... aliás, é capaz de você me matar e eu não aprender coisa nenhuma...

–Won't miss out on the fun

Gotta get it While our hearts are young...¹

–Ah... não vou me convencer com você cantand...

–Ela é toda sua. -Dan, aquele traidor safado, como iria nomeá-lo depois, empurrou-a na direção de Isaak e voltou a beber sua coca-cola como se nada tivesse feito. -Divirtam-se.

–Viu só, ele concorda... -Isaak, ignorando a força que a outra fazia para ficar no chão, puxou-a para cima e logo através da areia em direção ao mar.

–Eu odeio você, sabia?

–Ha... eu sei. Seu ódio é muito reconfortante. -ele sabia bem que, embora ela dissesse tal coisa, na realidade sentia o oposto...

Sem outra opção, ela deixou cair a saída de praia e a jogou em direção a toalha em que estava sentada (mirando bem na cabeça de Daniel, só por desaforo), e deixou seu corpo completamente a mostra. Bem, ela não tinha muitas curvas nem nada, mas Isaak precisou respirar profundamente e virar o rosto para que ela não notasse que estava ficando vermelho.

–O que foi agora?

–N-nada... sua mãe tem razão, você tem um corpo bonito.

Mel, que havia parado para soltar suas marias-chiquinhas e transformá-las num rabo de cavalo, e de tal forma ficava numa posição deveras chamativa, parou no mesmo instante e focou-o, piscando. Sentiu o rosto esquentar e mais que depressa levou as mãos para baixo, dando-lhe as costas.

–Deixe disso e vamos logo, você disse que ia me ensinar a nadar, não é?

–Sim, eu disse...

Ela apenas estendeu-lhe a mão e abriu um minimo sorriso, quase convidativo. -Ande, antes que eu mude de ideia.

–Como quiser. -ele segurou a mão dela e a puxou, em direção a água. Por mais que ela estivesse receosa, sabia lá no fundo que Isaak nunca deixaria nada de trágico acontecer consigo. Mesmo que para isso tivesse de machucar a si mesmo...