A jovem parou por um tempo, antes de observá-lo com o canto dos olhos. Sentia-se quente demais, e isso era desagradável. Pensara em dizer tudo aquilo que estava passando em sua cabeça de uma forma clara e breve, mas quem disse que seu corpo admitia isso?

Não... ele tornava tudo mais dificil. E quanto ao seu coração duro como pedra, ele parecia agora mais preparado para provocar uma avalanche.

Como muitas vezes, ela se perguntou o que a levara a tal situação... deveria já saber que era sempre suas próprias bobagens, seus próprios medos e aflições.

Estavam em outubro... era halloween.

A noite mais assustadora do ano para uma confissão...

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Dois dias atrás, Mel sentira-se entediada, e pela primeira vez foi ela quem procurou por Isaak, e não vice-versa. Fez todo o percurso até a casa dele e gritou seu nome debaixo da janela. Este demorou um pouco a atender, e quando o fez, seus cabelos estavam mais bagunçados que o usual.

–Que foi?

–Nossa... você já se olhou no espelho hoje?

–É claro que não, você me acordou. Tem ideia de que horas são?

Ela mordeu o lábio inferior e olhou seu relógio de pulso. Logo voltou seus olhos para o rapaz e fez um sinal com as mãos. -São sete da manhã.

–E você ainda diz isso com toda essa calma... fala sério! -ele cogitou jogar o travesseiro lá de cima na cabeça dela, mas lembrou que precisaria ir pegá-lo depois, então desistiu. -Volte a dormir, como uma pessoa normal.

–Não, você me incomoda desde que eu te conheço nas piores horas possíveis, hoje quem está sem nada pra fazer sou eu. -ela apontou um dedo para cima, na direção dele. -Sua vez de me aguentar!

–Sua tampinha egoísta. -ele cruzou os braços e xingou, mas depois de meia hora, estava lá em baixo, de banho tomado e roupa trocada. -Saco... só você mesmo pra me tirar da cama a essas horas. -Bocejou longamente. -O que vai fazer?

–Não faço ideia. -ela respondeu num tom neutro, o que fez com que ele puxasse suas chiquinhas para o lado, fazendo com que sua cabeça tombasse, e Isaak chegou bem perto, talvez tentando deixá-la assutada. Sucesso nenhum. Como esperado, tomou um tapa na cabeça tão forte que ele precisou soltá-la.

–Ai... você tem sorte de eu não bater em meninas...

–O que vai fazer no halloween?

Ela mudou de assunto tão de repente que ele ficou sem reação, mas logo ergueu os braços para o céu. -Eu sei lá! Que pergunta é essa do nada?

–Vai haver uma casa mal assombrada aqui por perto. Eu soube que eles estão organizando. -Mel piscou os olhos lentamente. -Poderiamos ir juntos... talvez fazer uma fantasia?

A mão dele foi imediatamente para a testa dela, testar sua temperatura. -Cara... deve estar ardendo em febre, não é possível.

–Tá vendo por que não te chamo pra fazer nada, você sempre faz esse tipo de coisa... -ela cruzou os braços. -Se estou chamando é porque quero, não porque estou doente. Aprenda isso.

–Ahn, tanto faz... então vai querer que tipo de fantasia?

–Me surpreenda... -ela fechou os olhos, esperando o próximo comentário dele.

–Farei isso, mas em troca... -Isaak girou o corpo e parou de frente a ela, segurando uma de suas chiquinhas novamente, mas dessa vez de maneira delicada. -Você vai ter de ser sincera.

–Sobre o que?

Mel tentou a todo custo não corar e manter sua indiferença. Foi um trabalho árduo,sem sombra de dúvida. Mas ela aguentou firme.

–Sobre seus sentimentos. -ele largou as mechas de cabelo e se endireitou. -E então, você irá de que?

–Você só saberá quando chegar a hora. -manteve-se firme, sem gaguejar. E eles seguiram adiante, em direção a loja mais próxima. Provavelmente para tomar um café da manhã decente. E Mel ouviu a sua outra parte cantando baixinho em sua mente, uma música que não a ajudava em nada a manter a compostura.

I made it through the wilderness
Somehow I made it through
Didn't know how lost I was
Until I found you¹