Alvo Potter e o Jardim Maravilhoso escrita por Yomika


Capítulo 18
Herbologia e Transfiguração


Notas iniciais do capítulo

※ No capítulo anterior… Alvo foi para a Sonserina, para o choque de todos! Além disso, deverá cumprir detenção com Escórpio Malfoy, que se tornou imediatamente inimigo do garoto, apesar de ambos serem da mesma casa... ※

※ Agradecimentos a BiaSonserina por, como sempre, comentar primeiro! E também à Laimon, por apoiar também essa história. Vocês são incríveis! ※

※ Espero que gostem desse capítulo! ※



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Alvo acordou cansado.

Preguiçoso, pôs-se a continuar com os olhos fechados, em um estado hipnótico entre o sono e a vontade de não se levantar. O menino teve um sonho que alguém poderia achar engraçado, mas era, para ele, uma brincadeira de extremo mau gosto: sonhara que o chapéu seletor o colocara na Sonserina e que ele descia até o fundo da terra, nas masmorras mais escuras e pavorosas, onde encontrara o salão comunal esverdeado e claustrofóbico, onde se juntava aos seus mais novos amigos Sonserinos. Deixando escapar um bocejo preguiçoso, Alvo virou-se de lado, finalmente permitindo-se abrir aquele par de olhos verdíssimos...

Mas não eram as únicas coisas verdes.

A cortina que cobria a cama era de um verde profundo. Alvo se assustou e sentou-se na cama imediatamente. O tecido do colchão era branco, mas bordado com um enorme ‘s’ prateado. Alvo puxou a cortina com uma pressa feroz e levantou-se. O que encontrou tornou o fato todo ainda mais consumado.

Ao lado de sua cama antiga de quatro colunas de cedro havia um criado mudo também negro lustroso, cujo qual descansava em cima dele uma gravata verde com listras prateadas acimando uma veste negra caprichosamente dobrada de forma que o brasão prateado da serpente ficasse a mostra. Alvo sentou-se na cama, mirando sem ver as tapeçarias que ilustravam as aventuras dos Sonserinos famosos. Ele pensou em deitar novamente e ver se acordava desse novo pesadelo.

Mas antes de ter qualquer tipo de reação, ouviu Dorian bocejar alto ao acordar vindo do outro lado. Na outra cama que tinha a cortina entreaberta, viu Nelson espalhado a babar no travesseiro de plumas.

— Deixa ele dormir. Vai ser engraçado ver ele chegar atrasado no primeiro dia de aula.

Mathew Owen já voltava do banho, ajeitando a gravata verde sob a camisa branca e pondo por cima desta a veste negra com o brasão da Sonserina, o qual ele mirava orgulhoso.

— Dormiu bem, Potter? — perguntou Mathew — eu dormi feito uma pedra... O som do lago batendo nas janelas é bem calmante pra mim...

Alvo apenas concordou. Tinha a garganta seca.

Após alguns minutos o menino terminou de se aprontar. Olhou-se no espelho do banheiro anexo ao quarto dos garotos do primeiro ano e viu que o verde da gravata tinha o mesmo tom do verde de seus olhos.

Mas isso é bobagem, meu pai é da Grifinória e tem olho verde também. — disse Alvo para si mesmo.

Mas você é da Sonserina, não negue” o espelho respondeu, com um sorriso maligno, digno das serpentes.

Nesse momento um menino chamado Endy, que tinha um jeito apático saiu de um box, fitando-o.

— Você é doido, é?

Alvo não se demorou para sair, pois temia se perder na saída das masmorras. Seguiu o grupo de alunos da Sonserina de todos os anos que tagarelavam pelos corredores das masmorras, agora iluminado por apenas algumas tochas. Alvo sentia-se um anexo, algo que não pertencia realmente, mas fora posto por algum tipo de engano. Os garotos conversavam no caminho, contando como haviam gostado de ver o fundo do lago, alguns até juraram ver a lula gigante ou um sereiano. Alvo já tinha achado suficiente ver o fantasma choroso da menina para envergonhá-lo à noite. Mas os veteranos dobravam, subiam, direita, esquerda, espera um pouco, direita, esquerda, esquerda e mais um lance de escadas...

Os garotos chegaram ao ar livre. O dia era claro, mas as nuvens cinzas e nebulosas sugeriam que a noite passada fora castigada por um temporal. Eles cruzaram a ponte da noite anterior (vários alunos de gravata azul se juntaram nesse percurso), atravessando o portão do pátio maior externo. Todos eles dobraram à esquerda pelo portão duplo de mogno escavado de detalhes.

No salão principal, Alvo se sentou na mesa dos Sonserinos, procurando, no caminho para ela, não olhar para os lados até que estivesse sentado e protegido da visão dos outros, ou dos cochichos nada educados que chegavam em seus ouvidos inadvertidamente. O café da manhã era farto. Tinha ovos com bacon, sucos de todas as qualidades, as frutas mais diversas e uma torta de caramelo, a qual Alvo comeu quieto

Mathew,contudo, conversava animadamente com Patrichio, que parecia idiotamente excitado para as aulas e vivia perguntando quais os horários de hoje. Escórpio chegou logo em seguida, acompanhando um Nelson parecendo deveras chateado.

— Por que vocês não me acordaram?!

Mathew gargalhou. Alvo não conseguiu conter o riso. O cabelo do Nelson não estava espetadinho, mas desarrumado, amassado, nitidamente moldado por um travesseiro de plumas de ganso. Escórpio sentou-se próximo a Isobel, que Alvo acabara de notar a presença. A menina tinha a mesma expressão de sempre: atacar qualquer um que se aproximasse demais. Nelson olhou pelo reflexo da colher e remexeu o cabelo para fazê-los ficarem costumeiramente espetados.

Escórpio nitidamente estava respeitando essa condição de “bicho selvagem” de Isobel, pois ele bebia suco de abóbora quieto enquanto lia um livrinho de bolso intitulado “Pequeno glossário das Ervas mágicas”.

— Ah, é mesmo! — exclamou Patrichio ao notar o livro de Escórpio — teremos herbologia daqui a pouco, não é?

— É, É, Trick, e depois transfiguração e a tarde feitiços, como eu já disse pela centésima vez — bufou uma Juliana já irritada.

Alvo não ouviu quando Juliana soltou os cachorros em Trick. Ele olhava para a mesa próxima, onde os Grifinórios tomavam seu café da manhã. Ele procurou Rosa, Dominique, ou qualquer outro primo, mas não encontrara, apenas Tiago, que fazia mais barulho em seu quarteto inseparável, enquanto seus súditos os observavam sonhadoramente. Alvo procurou virar-se rapidamente quando Tiago quase o vislumbrou fitando-o. Ele não queria falar com com ele por enquanto. Sentia-se envergonhado pelo olhar do irmão de ontem à noite.

Neste exato momento o salão inteiro parou para olhar para o teto, pois de suas frestas laterais chegavam uma revoada de asas a bater, espalhando algumas penas sobre a mesa dos garotos. O correio coruja estava chegando, distribuindo muitas coisas que os alunos tinham esquecido em casa, pequenos agrados mandados dos pais, felicitações e até um garoto da lufa-lufa recebeu um berrador. Todos agora sabiam que Kyle River havia esquecido de deixar comida para o cachorro antes de sair.

Nelson recebeu um medidor de precisão para a preparação de poções. “Fantástico! Então era essa a surpresa!”. Já Juliana felicitou-se quando um pesado livro de “Defesa Contra as Artes das Trevas” que chegara por uma coruja deveras cansada. Escórpio recebera alguns docinhos e parabenizações do pai, enquanto Isobel nem coruja recebera. Por outro lado, Deborah mostrava orgulhosamente uma luva de quadribol bordada a prata queira presenteada. Alvo também conseguiu localizar o Pepp, a coruja de Tiago, que tinha apenas uma carta para o irmão de Alvo.

Mas o garoto engoliu a seco quando viu Lude, a coruja branquíssima de estimação a se aproximar. Ele esticou a perna para mostrar a carta de Alvo e nem esperou cumprimento algum: foi voando para fora do castelo, provavelmente doido de vontade de dormir no corujal.

Outra coruja também chegou para Alvo. Ele pegou o jornal e pagou alguns nuques na bolsinha amarrada a perna da coruja e ela foi-se também. Os garotos ao seu redor começaram a conversar sobre as correspondências e outras besteiras, mas ele fechou-se em sua redoma. Era uma especialidade de Alvo: ficar invisível.

O menino abriu a carta de Lude primeiro, sentindo-se enjoado. Ele sabia que carta era aquela.

Querido Al,

Como prometemos, estamos escrevendo uma carta de fogo para você. Porém, o assunto não é tão agradável. Eu e sua mãe ficamos preocupados quando recebemos a carta do Professor Ravus, informando que você mal pisou em Hogwarts e já recebeu uma detenção. Já estamos acostumados com as cartas dele dizendo sobre as insubordinações do Tiago, mas pensávamos que você, por ser um garoto mais calmo, não nos daria esse tipo de trabalho. Eu e sua mãe conhecemos o filho que temos e sabemos do garoto que esteve envolvido com a sua detenção. Não acreditamos que você seria capaz de jogar alguém no lago de propósito.

Tome cuidado. Não deixe os outros lhe prejudicarem e nem caia em provocações. Lembre-se: não entre em duelos se você não souber como duelar. Nem caia em armadilhas e se afaste dos problemas. Se realmente precisar, peça a ajuda ao Tiago. Ele é o seu irmão mais velho e sempre poderá lhe proteger.

Lembre-se daquilo que conversamos antes de você entrar no expresso de Hogwarts. Tenho muito orgulho de você ser meu filho, estarei sempre do seu lado. Só não se esqueça de quem você é e de onde veio.

Pai.

PS: Controle um pouco mais o Lude. Não é saudável para uma coruja ficar muito tempo fora, principalmente nesses tempos chuvosos.

PPS: Não ligue para o Profeta diário. Encomende o Pasquim. Ele lhe renderá mais risadas do que dores de cabeça.

Alvo ficou matutando sobre a carta do pai. Bem, Alvo sabia que o tio Rony conhecia a família do Escórpio e agora, ao que parece, seu pai também tinha algum conhecimento sobre os Malfoy. Mas ficou um pouco aliviado em saber que sua mãe não ficara chateada. Pior que uma detenção seria decepcionar Gina. O garoto ficou, porém, duplamente aliviado em saber que não havia nenhuma menção de deserdamento, desgosto ou decepção nas entrelinhas, a não ser o fato do conteúdo da carta não conter um “parabéns” sequer. Talvez fosse esperar demais.

Seu pai citara a conversa na porta da locomotiva. Se ele fosse para a Sonserina, então a casa iria ganhar um grande bruxo. Porém tinha o fato do diretor Severo que Juliana tinha citado a inimizade com Harry. Por que o pai tinha dado o nome de um inimigo ao filho? O homem mais corajoso que eu já conheci. Deveria ele escrever para o pai, perguntando sobre isso? Bem, Alvo pensaria nisso mais tarde. Devia confessar que estava sendo um pouco dramático em pensar que todos o odiariam se ele fosse para outra casa... Se bem que... Logo a Sonserina...

E tinha o fato do Alvo não sentir vontade de falar com ninguém naquela mesa. O menino comia seu Waffle em silêncio, enquanto observava Mathew implicar com Patrichio e Nelson conversar com Juliana sobre ervas medicinais que eles obviamente conheciam. Isobel agora parecia estar conseguindo sustentar conversa com Escórpio. E ela até ria! Alvo, porém, notou logo em seguida que a menina havia discretamente apontado para Alvo, que era o foco da piada. Quando Escórpio percebeu o olhar do rival, lançou essa:

— Não vai querer que ela te carregue de novo até as estufas, vai, Potter?

Alvo pegou o jornal bufando, querendo distrair-se, seguindo o conselho do pai de “não aceitar provocações”, apesar de desobedecer a parte em que ele dizia para não lê-lo. Por que ele diria aquilo? Será que... Não... O garoto abriu o Profeta rapidamente, buscando seu nome em algum canto. Na borda inferior da página havia uma notícia intitulada: “CASO DE JUPEROS SEGUE SEM SOLUÇÃO”. Mas antes do menino começar ler a matéria, quando ouviu um sino a soar distante.

— Onde vai ser Herbologia? — quis saber Patrichio, se levantando para alcançar os demais.

Nas estufas — disseram Escórpio e Juliana em coro.

— Você não lê o quadro de avisos, hein, Trick? — perguntou Dedâmia.

— Espero que vocês saibam o caminho. Eu não tenho a mínima idéia...

— Claro que não faz... Se soubesse, não seria o Trick — disse um Mathew cínico. Todos riram da cara de Trick. O menino ficou meio amuado a partir daí.

— O monitor vai mostrar, espertão. — disse Nelson.

Mas Alvo não podia culpar o menino. Também não tinha lido o quadro de avisos na pressa de ter companhia para encontrar a saída das masmorras. Por isso ele seguiu Lorcan de perto. Ele parecia que sabia para onde estava indo. Junto a Lorcan, uma outra menina do mesmo ano que ele, com as vestes de detalhe azul, também liderou o grupo de alunos da Corvinal. Alvo conseguiu identificar Mallone Hirase se arrastando entre os alunos. Viu também Beatriz Bathory que mandava um menino tagarela calar a boca e andar, por que o ouvido dela não era pinico.

As estufas ficavam na ala leste, fora do castelo. Tiveram que atravessar todo o bloco onde ficava, inferiormente, as masmorras. O local era cheio de corredores com portas que riam, gárgulas que resmungavam e lajotas que afundavam se você pisava nelas sem ter pisado em outra. Quando finalmente conseguiram sair por trás do prédio, seguindo o Monitor. Havia um gramado fofo lá fora, o céu continuava cinza anuviado. Avistaram mais à frente as Estufas. Eram seis casas de vidro, sendo as duas mais afastadas das demais.

— Vocês devem ficar na estufa número um — informou Lorcan, parecendo apressado — aquela ali bem da frente, próxima daquele carvalho enorme. Agora eu tenho que ir, estou atrasado para a aula do Ravus e ele vai me matar se eu não chegar cedo...

A sala era repleta de plantas, a maioria imóveis, mas algumas trepadeiras penduradas em um canto da parede de vidro mexiam-se preguiçosamente. Haviam banquinhos para cada aluno, os quais se uniam a duas mesas continuas que tinham abaixo um espaço para terra, bem como no meio um gradil para sustentar vasos, plantas etc. O chão era de madeira, e num canto haviam várias sacas de terra. Em frente a um quadro negro todo arranhado estava o professor, com uma camisa com as mangas dobradas até o antebraço e entreaberta na altura da clavícula, mostrando um colar com um ideograma chinês. A calça jeans do homem e metade da camisa eram cobertas por um avental da cor magenta.

Alvo o conhecia. Neville sempre fora nos eventos. Estiveram juntos no aniversário da Lily, perto do natal, no jogo de quadribol em Washington, exceto no aniversário de casamento, pois o professor estava em trabalho de campo na China. Além disso, o filho dele, um garoto magro, de bochechas almofadadas, coradas e um sorriso calmo, Caerulleu Longbotton, sempre estava com Tiago, junto com Fred e Leticia. Só que era uma experiência diferente tê-lo como professor. Diferente tornou-se Desagradável antes que Alvo conseguisse dizer a palavra “vergonhoso”.

Foi muito constrangedor quando, antes da aula começar, Neville chamou Alvo na frente de todos os Sonserinos e Corvinos para dizer que ele era um garoto muito inteligente e que ia se dar bem, com certeza (“com certeza não. Ele quis dizer”). O professor deixou claro que gostava muito do pai, contando a história de quando ele era jovem e participou de um grupo rebelde, onde eles aprendiam a se defender dos comensais, pois uma professora nojenta não queria ensiná-los na época, por não acreditarem que Você-sabe-quem tinha voltado ao poder.

Escórpio bateu palminhas irônicas para Alvo, dizendo “Potter, celebridade da Sonserina!”. O garoto ficou ainda mais vermelho quando o professor Longbotton perdeu um pouco a voz quando citou o fato dele ser da Sonserina, disfarçando ao dizer que lá haviam bruxos ótimos, porém sem conseguir dar um único exemplo. Neville depois disso percebeu que havia irritado um grande número de alunos e resolvera começar logo a aula introdutória.

Eles estudaram o que era Herbologia, alguns antecedentes históricos, bruxos famosos como Morgana la fay, e Vivien, a dama do lago, Verano... Explicou um pouco sobre magia natural e magibotância simplificada, além das propriedades da terra, do clima, do período do dia e influências astronômicas sob o plantio. A aula teórica sobre Herbalismo foi interessantíssima para Alvo, mas muitos Sonserinos não abriram a expressão desde quando o professor tinha cometido a gafe de insultar tão descaradamente os Sonserinos.

Ainda tinha o fato de Neville ser o diretor da Grifinória. Alvo pode ouvir Mathew criticar o jeito brincalhão demais, Juliana dissera que ele não tinha explicado direito sobre “Esses encantamentos geomágicos” para preparar um solo de boas condições de plantio de ervas e fungos mágicos. Mas ela ficou visivelmente desconcertada quando o professor pediu para os alunos pegassem suas luvas de couro de dragão, colocassem seus aventais e tirassem areia das sacas, pondo no vaso. Quando todos estavam com seus respectivos vasos em sua frente, o professor Longbotton falou um encantamento. Era algo como “Nai domhainis adh Nai... Nai domhainis adh Nai...”, servia para enfeitiçar o solo que amanhã eles iriam começar a plantar.

— Isso é Gaélico! É algum feitiço Celta? — perguntou uma menina da Corvinal, bonita e de jeito meigo, a qual Alvo reconheceu da cerimônia de seleção, mas não lembrava o nome.

— Sim, senhorita...?

— Noite, Marcela Noite — apresentou-se. O professor sorriu-lhe, simpático.

— É um feitiço Celta sim, senhorita Noite. Alguém sabe a relação dos celtas com a magia verde? — perguntou o professor animadamente para a turma.

Alvo não sabia. Nelson levantou a mão.

— Eles entendiam de ervas medicinais?

— Hmmm, é. Mas não era exatamente isso que eu queria ouvir... Sim, senhor...?

— Escórpio Malfoy. Por causa druidas. — murmurou.

— Isso mesmo — Neville não conseguiu disfarçar um certo choque quando percebeu o menino, mas logo continuou a falar. - D-Dez pontos, então, para a Sonserina! (Alvo ouviu Nelson murmurar “Droga, era isso que eu ia dizer”). Os druidas eram bruxos que tinham um profundo conhecimento de magia natural, o qual, como eu citei anteriormente, está relacionada com o despertar da Máthair, a mãe de todos...

Depois disso, os alunos começaram a tentar enfeitiçar o solo. Na verdade era bem chato, pois tinham que ficar colocando a areia e cantando a música, várias e várias vezes, sem errar. E não poderiam saber se tinha dado certo, só amanhã. Se tivessem feito corretamente , a planta ia crescer bem. Se não... Além disso, o garoto se sentia solitário. Não tinha com quem falar, não sentia vontade de falar com ninguém também. Isobel estava longe... Mas ela com certeza não iria falar com ele. E Escórpio nem era uma opção.

Além disso, Escópio tinha terminado antes que todos. Ele passou próximo de Alvo, dizendo para o menino:

— Você está com a pronúncia errada e esse floreio parece mais alguém espantando mosquitos com uma espátula...

E foi apresentar uma anotação para o professor Longbotton, retirando-se com Isobel logo em seguida. Esta seguia estranhamente calada.

Alvo repetira o feitiço mais algumas vezes, nervoso, tentando não errar, tentando compensar sua completa ignorância durante a aula. Ele não seria aquele que teria que repetir os feitiços amanhã. Não ia decepcionar Neville. Escórpio estava errado. A campa já havia batido, Alvo continuava tentando. O professor Longbotton já havia dispensado os alunos e retirava algumas sementes de um saco cheio. Nelson foi falar com ele, perguntando coisas sobre os druidas.

Alvo viu Mallone a cochilar com a cara em cima do vaso. Quando ele o acordou, o menino limpou a bochecha e cuspiu um pouco de terra.

— Brigado... O que vai ser agora?

— A gente é de casa diferente. Pra mim é transfiguração...

— Pra Corvinal também. Transfiguração com o Ravus — informou Nelson — só não sei onde é a sala... E a monitora já levou os outros alunos.

Alvo lembrou-se que já tinha estado na sala de Ravus, aquela com várias gaiolas de pássaros... Bem, talvez ele conseguisse achar de novo.

— Eu sei mais ou menos onde é... — disse Alvo.

— Sério? Fantástico! Vamos rápido que faltam cinco minutos e eu ouvi falar que esse Ravus é bem rígido.

“E como é” Alvo pensou.

Mallone, Nelson e Alvo correram pelo gramado até a entrada do castelo. Mallone (para a surpresa dos garotos) sabia exatamente como voltar para o bloco do salão principal. Eles atravessaram a ponte novamente e chegaram ao portão de mogno e encontraram a torre das escadas. Alvo parou antes de subir o primeiro lance, olhando para cima.

— Não lembro se era no primeiro ou no segundo andar...

— Ai meu deus, Potter, a gente vai chegar atrasado. Faltam dois minutos!

Alvo viu um garoto mais velho da Grifinória passando por eles.

— Licença, onde fica o pátio de transfiguração?

— E eu tenho cara de mapa, Sonserino? — e foi-se embora.

Alvo ficou parado ali, perplexo.

— E depois os Sonserinos que são os malvadões... — comentou Nelson, aborrecido.

— Vamos tentar a sorte... Vamos procurar no primeiro andar, se não estiver é no segundo... — disse Mallone.

Era fácil dizer. O primeiro andar poderia ter quilômetros de corredores e dezenas de portas. As escadas estavam praticamente vazias, pois os alunos já estavam na sala no momento. Não tinham como pedir ajuda. Faltava um minuto...

— Vamos no primeiro andar. Quando eu estiver lá, eu me lembro.

Todos concordaram. Eles subiram os lances de escadas, tendo ainda que ouvir um quadro de um nobre bruxo intrometido dizer da parede: “Vocês não deveriam estar em aula, mocinhos?”. Sem contar na escada do terceiro lance que resolveu encaixar na direção oposta de que estavam indo, fazendo eles darem uma volta pela parede até alcançar a entrada do primeiro andar. Eles atravessaram o primeiro corredor.

Alvo suspirou aliviado quando reconheceu o corredor que Ravus o havia liderado ontem à noite. Ele correu disparado, dobrando a esquerda, encontrando a segunda porta de mogno. E lá estava o pátio de transfiguração.

Os garotos saíram da passarela coberta e cruzaram o jardim a céu aberto do pátio, alcançando o outro lado da passarela. Lá estava a porta da torre onde ficava a sala de Ravus.

Ofegantes, os garotos abriram a porta.

— ... Entre “transmutação” e transfiguração é básica... — dizia Ravus. A sala redonda, cheia de gaiolas de pássaros penduradas no teto, estava cheia de alunos, que se viraram para ver para onde Ravus estava olhando de cima da cadeira alta. Ele olhou profundamente para os garotos. E disse:

— Quem chega atrasado não assiste a minha aula.

Alvo ficou pálido.

— Mas Professor Aleph...! — Nelson começou desesperado — Mas nós..!

Vice-diretor Ravus. Desta vez vocês entrarão. O primeiro dia sempre temos alunos atrasados. Só é uma pena vocês terem perdido minha pequena atração...

Os alunos riram.

— Derwent, Hirase suponho? E, obviamente,  Potter.

Os garotos fizeram que sim.

— Dez pontos descontados da Corvinal e vinte da Sonserina. E senhor Hirase, sente-se ao lado do senhor Archimenes. Você pode mostrar as suas anotações para ele, Walfran?

O menino de cabelo castanho longo e liso que estava sentado em um canto, com mais dois alunos assentiu, amuado. Alvo e Nelson sentiram os olhares julgadores dos sonserinos.

— Os dois podem sentar junto a senhorita Waldorf e o senhor Malfoy. O senhor Malfoy também se importaria de mostrar suas anotações para o seu colega, o senhor Potter?

Ravus fitou profundamente Escórpio e o menino sustentou o olhar de Ravus.

— Posso sim, senhor Vice-diretor.

Alvo foi sentar-se ao lado de Escórpio. Nelson ficou no canto e Isobel do outro.

— Pode tirar o unicórnio da chuva. — disse Escórpio ao pé do ouvido de Alvo - No meu caderno você não toca. E para de perder pontos para a Sonserina. — e voltou a riscar a pena em sua folha já totalmente cheia de anotações.

Alvo daria tudo pra estar no lugar de Mallone, que já dormia em sua cadeira ao lado de um Walfran indignadíssimo.

Do que ele tava falando quando disse ‘pequena atração?’ — perguntou Nelson baixinho para Escórpio.

Ele é um animago ou algo assim — disse Escorpio sem parar de anotar.

Sério? — Nelson pareceu impressionado — No que ele se transforma?

Urso pardo.

Uaaau. Droga, eu queria ter visto.

“Shhhhh” fez Marcela, que estava na mesa ao lado.

— ... E, portanto, a transfiguração é uma arte que possui níveis de complexidades. Já citei as exceções da lei de Gamp sobre a transfiguração, doravante citarei mais alguns limites da transfiguração. O primeiro limite é o peso. Na transfiguração, não se pode transfigurar um objeto em outro com uma superioridade ou inferioridade de dez quilos. Além disso, é impossível conjurar ou invocar objetos os quais estiverem em uma distância superior a um quilômetro...

Alvo sentiu que deveria copiar tudo aquilo. Pegou o caderno na mochila e sua pena e começou a arranhar furiosamente o pergaminho. O vice-diretor Ravus parecia saber muito, era alguém extremamente inteligente. Ravus ia fazendo pontuais anotações no quadro e Alvo ia tentando acompanhar, sem, entretanto, muito sucesso. O menino era deveras lento na escrita. Mas quando Ravus moveu a mão para escrever “Transilusão”, Alvo viu brilhar em seu dedo algo que ele não tinha reparado antes. Ravus tinha um anel em forma de serpente. Ele era dourado, poderia ser de ouro, no mínimo folheado. E o anel tinha pedras vermelhas no lugar dos olhos da cobra. Eram provavelmente Rubis. Alvo ficou se perguntando quanto um professor de Hogwarts recebe de salário, pois aquilo deveria ser no mínimo uma fortuna.

Será que Ravus era realmente o ladrão? Será que a capa de pele de urso, o barrete, as roupas nobres, tudo era sustentado pelos roubos? Será que ele havia participado do roubo, pegado a fênix e o Nefilante, além do artefato do Ministério na primeira vez? Ele e Thatcher, o Elfo doméstico do antiquário, conversaram sobre retirar dali algo muito provavelmente ilícito, guardar com os duendes, longe da vista do Ministério...

Nelson cutucou Alvo. O garoto disse:

— Ei, acorda... A gente vai praticar transfiguração em um palito de dente agora.

Minha nossa! Alvo tinha perdido o início da aula e patetado na outra metade! Iria passar vergonha na frente de todo mundo. Sentiu-se imediatamente culpado. Precisava de ajuda, não ia conseguir só. Onde estava Rosa nesses momentos? Com os Grifinórios, é claro... E ela nunca ia ajudar um Sonserino a treinar a transfiguração...

Quando todos receberam seus palitos, Ravus disse:

— Lembrem-se: Stecchinade ago. Mentalizem bem o objeto. O floreio é como eu disse. Quem conseguir primeiro: dez pontos para a sua casa.

Os alunos começaram a repetir as palavras mágicas, agitando as varinhas para o palitinho. Alvo nem sabia como mover a varinha e já havia esquecido como se pronunciar. Tentou observar como Nelson fazia, mas como o menino não estava tendo sucesso, pensou que era melhor pegar outro modelo...

— Consegui.

— Deixe-me ver? — Ravus aproximou-se da carteira de Escórpio e mirou a agulha que estava, apesar disso, muito grossa, porém, indubitavelmente metálica — Certo, certo. Dez pontos para a Sonserina. Os demais... — Ravus fitou principalmente Alvo, que tinha o palito insensível a sua varinha, com nenhum rastro metálico sequer — devem me entregar na próxima aula dez centímetros de pergaminho explicando o método, com ênfase na pronúncia, floreio e mentalização. É só isso. Estão dispensados.

Escórpio Malfoy sorriu-se levemente e pegou as coisas, dando uma ombrada em Alvo quando passou, novamente parando para dizer:

— A gente vê que ter pai famoso não faz bom bruxo.

Isobel fitou Alvo por um segundo, com aquela cara desconfiada e foi-se sem dizer nada. Nelson olhou para o palitinho de Alvo e riu baixinho enquanto se retirava.

Alvo olhou para a mesa. O palito de Isobel estava bem prateado, mas ainda era um palito. O de Nelson tinha as pontas mais finas e brilhando um retinir metálico. O de Escórpio era uma obra de arte. Mallone ainda dormia em sua carteira mais à frente. Walfran tinha o abandonado bufando de raiva.

Ravus mantinha-se sentado na cadeira alta, lendo alguma coisa no jornal. Alvo estava só. Ficou ali, se sentindo um medíocre, um idiota, que não sabia fazer nada, um bruxo zero-à-esquerda... E mais só do que nunca. Ser o número um em Hogwarts, ele disse que ia ser o melhor... Que sonho mais imbecil. Escórpio tinha o humilhado, o rebaixado de uma maneira tão vil que sentia algo doendo muito dentro de si. Alvo era um fraco e covarde... Ele guardou suas anotações vagas e incompletas e foi triste se dirigindo a saída.

Mas alguém abriu a porta de supetão, entrando na sala dizendo:

— Fauntleroy Gorgento está morto e Thatcher desapareceu! Eu sabia que não podíamos confiar naquele Elfo!

Quando o albino Professor Vogelweide notou que Alvo estava ali na sala ainda, ele fez uma expressão de choque amalgamado a ódio. Alvo olhou para Ravus, que parecia estar estarrecido, e para Vogelweide, que tinha a mandíbula trincada. O garoto preparou-se para gaguejar algum perdão, alguma desculpa...

— Fora, Fora, FORA! — gritou Vogelweide.

O menino saiu da sala disparado, sem nem olhar para trás. Ele sentou-se em um banquinho do pátio de transfiguração que estava lotado de alunos aproveitando o intervalo. Mas agora Alvo não queria aproveitar nada, só queria entender uma coisa:

Por que e como Thatcher assassinaria o seu próprio senhor?


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Notas finais do capítulo

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