Alvo Potter e o Jardim Maravilhoso escrita por Yomika


Capítulo 19
Feitiços e Marca Negra


Notas iniciais do capítulo

※ No capítulo anterior… Alvo está se sentindo solitário: evita as primas por vergonha e não consegue lidar muito bem com os Sonserinos, principalmente Escórpio, que o humilha sendo um terrível sabe-tudo arrogante. Entrementes, o garoto descobre uma importante pista sobre o roubo: ele ouve Vogelweide falar com Ravus sobre a morte de Flaunteroy Gorgento, que era dono do misterioso antiquário Quinquilhares, mas que estava doente e deixava seu elfo liberto, Thatcher, para cuidar das vendas. O elfo sumiu logo após a morte de seu dono, e os professores parecem não mais confiarem em Thatcher, que pela conversa anterior que Alvo e Tiago ouviram, o elfo e Ravus escondem algo do Ministério... ※

※ Agradecimentos a BiaSonserina por sempre comentar primeiro e ser uma grande apoiadora dessa história! Brigado também, LaemonNada, pelos seus comentários enormes! ♥ amo vocês e obrigado por acreditarem na história!
OBRIGADO A RANDY, que acompanha a história desde 2014!! Você é incrível!!※

※ Espero que gostem desse capítulo! Vamos ter um pouco do velho Weasley vs Malfoy! ※



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Muitas possibilidades, muitos suspeitos, porém apenas aquele que Alvo tinha certeza da inocência, justamente esse era o que estava sendo perseguido pela matilha de Luduans. Ele e Harry foram acusados pelos bichos, mas nenhum deles sequer tinha a possibilidade de ter roubado algo. Isso era estranho. Com absoluta certeza era algum tipo de armadilha.

O mago vermelho de fato queria atingir o pai através de Alvo. Era bem compreensível, pois o garoto era um dos filhos do chefe dos aurores. Talvez o ladrão estivesse querendo despistar todos de suas verdadeiras ações, fazendo com que Harry e Alvo fossem vistos como suspeitos. Mas como ele estava conseguindo fazer isso? E por que os Luduans não faziam nada? Bem, primeiramente ele teria que entender o que de fato eram esses bichos. Tinha que entender também como o mago possuía poderes tão extraordinários, sem precisar de varinha.

Ravus, Vogelweide, elfo Thatcher, Integra... Todos estavam relacionados de alguma forma. O garoto pensava, mas não conseguia encontrar nenhum tipo de lógica nisso.

— Talvez se eu tivesse ajuda de Rosa... Mas ela não... Ela não... — pensou um Alvo amargo.

O garoto saiu do pátio de transfiguração, conseguindo encontrar uma lógica entre os corredores do primeiro andar, até achar a porta de mogno que dava para a grande escadaria. Ele iria almoçar e esperar pela próxima aula. Qual? Não fazia a mínima ideia até Juliana responder à Patrichio:

— Feitiços.

— Ah sim... E com qual casa vamos dividir a aula? Corvinal de novo?

Grifinórios — respondeu um Nelson rancoroso.

O coração de Alvo deu um aperto.

Significa que ele teria de sentar com Rosa. Será que ele podia? Será que era proibido um Sonserino dividir mesa com um Grifinório? Na verdade, não importava. O garoto sentia-se sujo, envergonhado demais para falar com os primos ou qualquer outro parente. Só que Alvo sabia de uma coisa: ele não ia sentar ao lado de Escórpio, se pudesse escolher. Não se ele não quisesse ter o ego rebaixado ao de um pocotó particularmente lento.

Na verdade, enquanto o garoto comia o rosbife com saladas e grãos diversos, dava algumas espiadas marotas nos Grifinórios. Seu irmão estava contando algo no ouvido de Letty e a menina ria-se mais descontrolada, dando um tapa repreensor quando Fred falou alguma outra piada. Caerulleu treinava um feitiço na saleira, fazendo-a ganhar pernas e sapatear para o seu público de fs excitadíssimos.

Rosa não estava ali. Por sua vez, Dominique conversava com uma menina que ele não conhecia, como que segredando-a algo. A prima notou que Alvo a observava. O garoto virou a cabeça rápido e pôs-se a terminar seu prato o mais rápido possível. Não queria se perder. Iria precisar da ajuda do monitor para encontrar a sala de feitiços...

— Estou cansado de teoria. Eu quero explodir alguma coisa! — exclamou Dorian.

A menina loira que Alvo reconheceu como Tabatha riu-se para o instinto rebelde de Dorian. Ela percebeu que Alvo ouvia a conversa, mas ele novamente desviou o olhar, que foi ao encontro do de Isobel que estava bem à frente dele na mesa.

— Que é?

— Nada...

Alvo já estava começando a se chatear. Como ele poderia ter amigos da Sonserina, se todos pareciam estar esperando só uma chance para dar uma patada nele? TODOS os sonserinos pareciam ser assim. Sempre irônicos, fazendo piadinhas para rebaixá-lo, só por que ele tinha pais famosos. Eles também tinham! A maioria dos garotos dali eram bem-nascidos, sangue puros e bem sucedidos, com sobrenomes de família tão antigo quanto os Black. Como eles conseguiam viver naquela pressão eterna, entre nojentísses, falsos sorrisos e brincadeiras de mau-gosto? Ele já estava a ponto de explodir!

Precisava sorrir de leve, assim como nos últimos dias de férias... Lembrou-se da promessa com as primas que deveria aprender um grande número de azarações para acertar os Sonserinos. Mas agora ele era um deles!

Mas ele precisava ter coragem e falar com Rosa. Não ia conseguir pensar só. Sem a ajuda dela não dá! E não tinha ninguém com quem falar. Ele sabia que Integra tinha uma relação muito próxima com os dois professores, tanto Kaleb quanto Aleph. Como ele poderia chegar com Nelson ou Juliana, perguntando se a tia deles não estaria seguindo a pista errada e deveria dar uma olhada para os amigos dela, que são mais suspeitos do que qualquer um?

Sem contar que Escórpio estava sempre armado para desmoronar toda a alegria de Alvo. O menino simplesmente não entendia o porquê. Escórpio tinha falado mal dos pais dele na frente de Tiago. Ele mereceu a azaração. E agora ele quer se vingar dele através de Alvo? Não fazia muito sentido! Ele sentia que tinha algo a mais. Não podia ser só isso...

E pensar nessas coisas o levava a um desejo desesperado de ir para o corujal e escrever para o pai. Mas como ele iria lá só, sem se perder e correr o risco de chegar atrasado na aula de Aileen? A mulher era amiga do pai, mas, como tinha dito, não ia passar a mão na cabeça dele. Se ele estava querendo privilégios com Adhara Aileen, deveria pensar em um jeito melhor de se dar bem em feitiços... Só que sem ajuda de Rosa. Ele poderia, por exemplo, treinar até a exaustão e o desmaio.

— Acho que é melhor a gente ir — disse sabiamente Tabatha. Ela e Dorian se levantaram, seguindo Lorcan. Alvo tratou de acompanha-los.

Os garotos seguiram o mesmo caminho para o pátio de transfiguração, acompanhados da monitora da Grifinória, que era a prima Molly. Alvo também percebeu quando a menina quis vir falar com ele, e então se afastou, seguindo Dorian mais de perto. Elliot, o menino gorducho da Grifinória, estava sendo alvo das risadas de Mathew. Isso porque ele ainda mordia um pernil que havia trazido do almoço. Era incrível como podia-se desenhar uma linha entre os Sonserinos e os Grifinórios. Apesar de primeiranistas e terem pouco tempo de convivência, notava-se que ambas as casas já nasceram sem se suportarem.

Ao invés de atravessarem o gramado central, convergiram todos para uma porta no fim do corredor. A porta abria caminho para um novo anexo ao bloco, que continha corredores cheios de estantes contendo pergaminhos, tapetes enormes com ilustrações iluminadas por caldeias de velas em pontos estratégicos da parede. Subiram dois lances de escadas.

Pareciam estar no segundo andar, porém, em outro lado do prédio. Haviam muitas armaduras empeiradas no caminho. Alvo seguia Tabatha e Dorian de perto, que conversavam algo sobre uma passagem secreta que o pai de Dorian conhecia. De repente a menina desacelerou um pouco e manteve-se ao lado de Alvo.

— Você é o Potter, não é?

Alvo a olhou desconfiado e apenas concordou.

— Por que você não fala nada? Sempre te vejo calado.

— Calado ninguém mexe comigo....

A menina quis rir, mas controlou-se.

— Sou Tabatha Ravenborn.

— Alvo...

— Se quiser alguém para conversar eu prometo não...

Splash!

Tabatha estava sorridente, mas no segundo seguinte tinha uma expressão de puro choque. Alvo também estava chocado. Ele tentou tirar o acúmulo de gosma que tinha espirrado no rosto. Nada comparado ao banho de muco que a menina tinha levado. O cabelo estava completamente encharcado e a blusa muito suja. A menina estava parada, com os braços elevados e arqueados, com a boca aberta, pingando gosma.

— HUAHUASHUASHUASH!

Uma voz fina e descontrolada gargalhou-se ecoando do fundo de uma armadura com a viseira entreaberta, pingando gosma verde.

PIRRAÇA! EU NÃO ACREDITO! — gritou Lorcan.

Um homenzinho de olhos escuros e sem esclera, contendo o sorriso mais maligno e travesso que Alvo podia imaginar saiu da armadura, se espremendo como fazem os personagens de desenho animado.

Tabatha correu para as escadarias que davam para o andar de cima. Alvo sentiu-se mal por ela.

AUHSUHASHUHASHUS, AI MEU DEUS, VOCÊS TINHAM QUE VER A CARA DELA!

O homenzinho flutuava longe do alcance do monitor, rindo descontrolado.

— Pirraça, como tem coragem! Sabe que eu vou falar com o barão sangrento daqui a pouco sobre isso!

— Será que ela foi chorar? — o palhaço fez uma enjoativa voz de bebê. — Será que o namoradinho vai levar um lencinho pra ela?

Alvo não estava mais ali. Seguira o corredor, atrás de Tabatha. A primeira pessoa que tinha tentado ser simpática com ele merecia uma ajuda. Estava correndo, tentando descobrir onde ela estava indo. Nesse momento, bateu de frente com alguém inesperado. Dois livros caíram da mão da prima, que descia de uma escada.

— Rosa?

—Al! Finalmente te encontrei! — a menina disse, pegando os livros.

— Desculpe... Eu... — Alvo notou que Tabatha estava dobrando o corredor, correndo, enquanto alguns alunos riam dela — Eu preciso ir.

— Calma, Al, não precisa fugir!

— Preciso ajudar aquela garota!

— Mas e a aula?

— Eu já volto... — e Alvo correu em direção ao outro corredor.

Rosa suspirou. Guardou os livros na mochila e alcançou o garoto numa corrida.

— Eu vou com você.

— Não precisa... Você vai se atrasar para a aula.

— Faltam ainda cinco minutos. E a gente está perto.

Alvo ficou desarmado e teve que concordar. Ambos foram correndo, seguindo Tabatha.

Aquele corredor estava bem deserto. No fim dele só havia uma porta, a qual, ao lado, tinha uma placa de “Interditado”.

— O que estamos fazendo, exatamente? — quis saber Rosa.

— Ela entrou ali.

— Ela quem? Aquele é o banheiro interditado.

— Vou lá com ela — Alvo sentenciou.

— Mas é o banheiro feminino!

— Não me importo...

— Tá, dane-se, vou junto.

Os garotos entraram no banheiro.

Era amplo, escuro e sujo. Tinha no centro um círculo de pias brancas e altas, cujas torneiras eram de prata e em forma de cobras.

Ouviram som de água vir de um dos boxes maiores, que podia-se toma banho. Outra vozinha foi ouvida, rindo-se. A menina fantasma de óculos e maria-chiquinhas que Alvo tinha visto veio flutuando até eles.

— Vocês não querem ver isso, coitadinha — a fantasma parecia estar feliz. — ela está horrível.

Alvo aproximou-se do boxe grande, que chiava uma quedinha de água. O garoto deu três tímidas batidinhas.

— Tabatha?

“Oi” respondeu a voz da garota de dentro do box.

— Você... Quer ajuda?

“Você pode pegar alguma toalha. Tô toda molhada”

Alvo pensou um pouco e lembrou-se de algo.

— Eu sei um jeito de secar.

“Sério?” quis saber uma Tabatha incrédula.

— Vem aqui que eu mostro.

A menina saiu do box. Realmente estava horrível. Toda molhada, com o cabelo arrepiado e grudento. Quando ela viu Rosa, ficou um pouco receosa.

— Calma, ela é minha prima.

Tabatha consentiu, dando uma voltinha e rindo-se de sua situação. A fantasma bateu palminhas irônicas.

— Estou ótima, não estou? — Tabatha entrou na brincadeira.

Rosa sorriu de leve, compreensiva. Alvo pegou a varinha e tentou se lembrar com o máximo de detalhes possível do feitiço que o Vice-Diretor usou nele. Deu uma tossidinha para limpa a garganta, apontou a varinha e exclamou:

Impervius!

A menina ficou bem mais seca. Os cabelos menos gosmentos.

— Nossa.. Você é bom.

— O.k, Rosie, me ajuda.

Alvo ensinou rose o movimento Os dois lançaram o feitiço até a menina ficar completamente seca.

— Obrigada. Sério, obrigada mesmo...

Os garotos prepararam-se para ir embora. Mas...

— Ei, garoto! Qual o seu nome? — perguntou a fantasma.

— Alvo... — o garoto olhou para a saída, querendo ir embora. Estavam atrasados.

— Sei... É que você me lembra alguém que eu conheci a muito tempo atrás. Ele visitava meu banheiro, tinha os seus olhos... Verdinhos... Ele era um dos poucos que tinham coragem de vir aqui. Era legal comigo. Por isso que ontem...

— Ah, é... Desculpa por ontem.

A fantasma sorriu.

— Espera, eu sei quem você é! — exclamou Rosa — Meu pai falou de você. É a Murta-que-geme, a fantasma que morreu para o basilisco, há quase setenta anos atrás!

A menina imediatamente ficou emburrada.

— É, EU SEI COMO EU MORRI, SEI QUE ESTOU MORTA, MORTINHA, MOR-TA! NÃO PRECISA FICAR ME LEMBRANDO DISSO, TÁ LEGAL?

E a fantasma berrou, chorando de modo tão escandaloso que Alvo teve que tampar os ouvidos. Ela foi até o box aberto e mergulhou no vaso, dando descarga a si mesmo, o seu choro ecoando pelas encanações...

— Hmmm. Ela é um pouco sensível, não é? — constatou Tabatha.

 

Os três garotos voltaram para a sala de feitiços. Todos os demais alunos já estavam acomodados. A sala era ampla, com o piso e a parede talhados em madeira. As mesas eram contínuas e algumas estavam em um patamar acima, todas recheadas de livros abertos e cadernos, as quais as penas dos Sonserinos e Grifinórios arranhavam. A prima Dominique sentava-se ao lado do garoto Lionel, que ria—se em uma conversa animada com Reggie. Na frente da lareira, Aileen andava para um lado e para o outro, lendo uma parte do capítulo 1 do livro de feitiços para a primeira série. A loira estava bonita como sempre. Usava uma longa capa de couro com o brasão da sonserina. Sem falar da bota de couro enorme. Ela parou de ler quando os três entraram.

Música Tema - Adhara Isla Aillen

— Estão um pouco atrasados, não acham, garotos?

Os três consentiram, de cabeça baixa.

— Ok, tudo bem. Hã, vocês não perderam muita coisa. Na verdade eu estava falando a definição introdutória de feitiços. Err — a garota ponderou. — Alvo, você e a senhorita Weasley podem ficar naqueles lugares vagos no canto ali em cima e você é a...? (“Tabatha Ravenborn…”). Legal. A senhorita Ravenborn pode ficar perto da senhorita Coybonheart. Hmm... Tá, tudo beleza... Vamos continuar? Os feitiços são como se fossem chamados. Você manda uma mensagem e alguém responde com o efeito. A mensagem pode precisar ou não de voz. pode se só um gesto. Ou apenas uma intenção. Quando a mensagem é por voz, chamamos de divinação. Quando é por gesto, é um ritual...

Pode-se imaginar que Alvo sentou-se imediatamente ao lado de Escórpio, enquanto as garotas, Isobel e Rosa, ficaram nas pontas. Alvo mal respirava de nervosismo. Aquele menino era venenoso e estar centímetros dele já lhe causava uma sensação de ataque iminente muito desagradável. Isso piorava com o silêncio letal do garoto, anotando tudo, aparentemente concentrado, enquanto Isobel, como estivera na maioria do dia, mantinha-se calada, ouvindo as palavras da professora Aileen. Ele não entendia. Grossa como era, porque não estava lhe dando patadas como Escorpio?

Apesar de jovem e com um jeito meio loucão, Adhara Aileen era muitíssimo inteligente e competente. Suas explicações eram mais vivas e animadas, em comparação com as de Ravus: tecnicnicistas e desprovidas de empatia. Ela sempre buscava perguntar coisas para alguns alunos específicos. Isobel era uma delas. A menina já estava começando a se irritar. Era visível pelo jeito que olhava para ela e para o livro, como que imaginando a cena sonhada dele voando na cara dela. Alvo era sempre citado, vira e mexe ela pedia a opinião do garoto sobre várias questões. Alvo meditava nervosamente tentando encontrar uma resposta, ao lado de um Escórpio que ria-se da incompetência, o que piorava a auto-estima de Alvo.

Pelo fato de ser claramente uma ex-sonserina, todos os alunos da casa de Alvo imediatamente gostaram dela.

Após o início teórico, a professora Aileen pareceu decidir que, como ela mesmo disse:

— Deveríamos dar uma movimentada mais nas coisas, o que acham?

Os sonserinos concordaram entusiasticamente. Os grifinoria pareciam meio desconfiados ainda.

— Vou ensinar um feitiço muito básico, porém extremamente útil para as mais diversas situações. É o feitiço de levitação — a mulher apontou sua varinha longa e retorcida para uma gaveta, que abriu-se, fugindo dela diversas plumas de pássaros, que se espalharam pelo ar, até que ela apontou para o ar, exclamando: — Wingardium leviosa!

As várias plumas que antes planavam em uma queda lenta, estacaram no ar, flutuando sob o efeito do feitiço de Aileen. Os alunos deixaram escapar “Óooos” para a demonstração dela. A professora curvou-se em uma reverência para os alunos, sorrindo. Ela agitou ainda a varinha e cada pluma pousou preguiçosamente na frente de cada aluno.

— Legal. Agora vocês vão apontar suas varinhas para a pluma. Gira, balança, e um, dois e três, Wingardium leviosa. Repitam comigo agora, sem usar a varinha, senhor Erickies!

Wingardium leviosa” os alunos repetiram em coro.

— Isso. O ‘Win’ é curto, o ‘gar’ é mais forte. Digam: Win-GAR-dium. Legal, legal. Agora o ‘o’ do ‘leviosa’ é bem mais longo e pronunciado. Repitam: Levi-ooooo-sa. Ta bom, ótimo, meninos, muito bem mesmo. Agora, quanto ao floreio. Como eu disse, gira e balança. Err... Faz um círculo menor, Al, assim você vai machucar o seu amigo...

Escórpio já tinha lançado um carão para o garoto já deveras nervoso. Alvo fez um movimento de varinha mais amuado.

— Hmm, é, mas dá pra melhorar. Depois de girar, você balança, mas não muito rápido, Mccoy! Então gira, balança fraquinho... Isso. É. Vamos, tentem vocês sós.

Os garotos começaram a repetir o encantamento. Alvo repetiu diversas vezes, mas estava nervoso demais, tentando provar que conseguia, porém, mostrando-se ainda mais medíocre na frente de Escórpio. A pluma não dava sinais de querer ganhar os ares. Não demorou muito, obviamente, para o loiro conseguir levar a pluma para as alturas da sala.

— Aê — a professora bateu palmas entusiasmadas — É isso aí. Parabéns aos dois. Dez pontos para a Sonserina e para a Grifinória.

Isso porque Rosa também tinha conseguido fazer sua pluma flutuar ao mesmo tempo que Escórpio. A menina fitava Escórpio em tom de desafio, ultrapassando a pluma do menino em altura. Escórpio revidou, levando a pluma ainda mais alto... Ambos ficaram se encarando até as duas plumas baterem no teto e eles cancelarem sem querer o feitiço.

— Bem, é isso mesmo que eu queria explicar. Obrigado, garotos. Quando se perde o foco no feitiço, ele é desfeito. Não que eles teriam uma duração eterna, claro que não. Mas perder o foco do feitiço faz com que essa duração seja anormalmente curta e até acabe abruptamente, como foi o caso deles. Com o treino, manter um feitiço ao mesmo tempo que se faz outras coisas - e até outros feitiços - vai ficando mais fácil e natural. Mas só com treino. É preciso meio que dividir sua mente em dois... Bem, isso já é outro papo e eu não vou me aprofundar.

A professora continuou a explicar os efeitos que podem cancelar um feitiço. Ela repreendeu um pouco Lionel, pois o Grifinório estava conversando alto demais. Alvo de repente sentiu um esquisito rompante de prazer pelo grifinório levar a pior.

— E então, vocês poderiam me dizer por que dar vida a um objeto é considerado uma a área da transfiguração, não de feitiços?

Rosa e Escórpio levantaram a mão ao mesmo tempo. O menino ia começar a falar, mas ela foi mais rápida.

— Transfiguração se caracteriza por “Toda e qualquer magia que mude a essência de um objeto ou ser” enquanto um feitiço nunca muda, apenas acrescenta propriedades ao alvo da mágica.

Ela disse isso e lançou um olhar desafiador para Escórpio. O garoto tinha a mandíbula endurecida, em uma expressão fria que fez Alvo temer mais do que nunca um ataque.

— Minha nossa! Isso mesmo. Espera, sua mãe é a senhorita Granger, não é? — perguntou Aileen. Rosa concordou topetuda — Claro que é. Amo aquela mulher... Você é como ela. Dez pontos para Grifinória, então! Bem, garotos, é isso aí. Um feitiço acrescenta propriedades, mas não muda a essência. E um objeto desanimado, ao ser animado, tem sua essência vital modificada. Mas qual a única propriedade, além da vida, que um feitiço não pode acrescentar a um objeto?

— Todo-e-qualquer-efeito-que-altere-o-tempo.

Malfoy nem pediu para permissão para falar. Rosa tinha a mão levantada, mas com uma expressão zangada.

— Caramba, isso aí! Dez pontos para a Sonserina. Você é uma máquina, menino! Orgulho da minha casa! Um feitiço que altera o tempo é considerado de um outro ramo da magia, segundo os estudiosos.

Escórpio sorriu-se satisfeito, lançando um olhar altivo por cima de Alvo.

E a aula seguiu-se assim. Sempre que Aileen tinha uma pergunta, Escórpio e Rosa quase gritavam para um responder antes que o outro. Aileen parecia que estava ficando tonta com aquela disputa. A campa do segundo horário tocou, indicando o fim da aula dupla de feitiços.

— Urfa, hein? Olha, eu não costumo pedir dever de casa. Só quero que vocês treinem o feitiço Wingardium leviosa. Nada de centímetros de pergaminho. Na aula que vem, quem conseguir fazer o feitiço além dos senhores Malfoy e Weasley, claro... Vai ganhar uma surpresinha gostosa da Zonko’s. Legal, né? Até mais, garotos!

Ao fim da aula, Alvo estava se sentindo mais humilhado possível. A única coisa que queria fazer era sair dali. Ele levantou-se e deu as costas para a prima. Ela ainda gritou: “Alvo, volta aqui!”, mas ele continuou correndo.

Ele saiu pelo caminho do banheiro, porém seguindo o corredor baixo e abobado até um outro corredor anexo, que tinha o teto também baixo, mas com meia abóboda e com janelas semicirculares apenas em um lado da parede. Descendo uma escada e seguindo reto, viu-se uma sala feita com piso de madeira e teto com hastes e vincos de paus. Nos vincos perdiam-se três sinos, dois de cobres e o central era de ouro, todos ligados a grossas correntes de ferro. E havia um buraco abaixo do sino, o qual seguia um tronco de ferro seguindo até o fundo, que balançava da esquerda à direita, esquerda à direita... Era provavelmente um enorme badalo.

Alvo desceu uma escadinha de madeira e viu-se em uma sala cheia de engrenagens. Mais a frente havia uma meia janela redonda enorme, com um “XII” desenhado, além de ponteiros. Ele estava dentro da face de um Relógio. O menino se aproximou da janela.

Música tema - Tempo chuvoso em Hogwarts

Lá de cima ele via o céu nublado, prometendo uma tempestade. O pátio pavimentado da torre do relógio estava cheio de estudantes, que logo dispersaram-se e entraram nos corredores laterais protegidos por um teto de plantas trepadeiras, o quando as primeiras gotas se tornaram uma chuva forte. Ela molhava os gramados, a água descia pela encosta a qual uma ponte de madeira se estendia. E mais a frente uma cabana rodeada por um jardim de abóboras recebendo a garoa calmante. Alvo já não pensava em nada. Sentou-se ali e ficou observando toda a chuva descarregar-se no solo por horas. Ali ninguém podia jogar na cara dele que era melhor, mais inteligente, que não era uma montanha de estrumes. Só o chuvisco a tamborilar no vidro do relógio, calmo e incessante...

O sino tocou mais de quatro vezes e o garoto só saiu dali quando já estava escuro o bastante. Ele seguiu um aluno da Sonserina qualquer que voltava de uma sala próxima e encontrou o seu salão comunal, indo direto para a cama, sem mais querer falar com ninguém, nem mesmo Nelson, que conversava com Mathew sobre os times de quadribol internacionais, ou sobre a aula de feitiços e a bonita professora Aileen. Alvo apenas observava o bailar lento das algas nas profundezas do lago…

 

O garoto acordou com uma presença estranha. Uma criatura com a pele branquela, sem pelo e toda engelhada, com aqueles olhos azuis com pupilas verticais a fitar o garoto. Estava sentado no peito de Alvo.

— ARRRRREE!

O susto foi tão tremendo que o garoto saltou da cama, fazendo o gato voar dando um miado de pura irritabilidade ao pousar levemente no chão do quarto. O gato lançou um olhar assassino para Alvo e foi-se balançando o rabo de chicote seco, agora pulando em cima da cama de Nelson.

— Bo-ooh-om... ‘dia, Conde... — Bocejou Nelson. O menino coçou a orelha do gato e ele fechou os olhos, curtindo o carinho. Após isso, Nelson voltou imediatamente a dormir.

Alvo levantou-se logo e se aprontou o mais rápido que pôde. Pegou um pedaço de pergaminho e escreveu uma carta curta. Depois acompanhou Deborah Waldorf, que levantara mais cedo também. Ela tinha uma vassoura na mão e fingia não perceber que Alvo a seguia para não se perder nos túneis das masmorras.

O céu que se refletia no teto do salão principal estava ainda acinzentado, com nuvens de jeito lento e denso, cobrindo um sol pálido e fraco. Havia pouquíssimas pessoas no salão comunal, graças a Deus. O menino fez o desjejum rapidamente e saiu, ganhando o pátio exterior do castelo, onde fazia um frio preguiçoso. Alvo sentou—se em um banquinho e aguardou algum aluno mais velho aparecer. Teve sorte. Lorcan, quer dizer, Lissandro apareceu. Era o monitor da Corvinal, que era idêntico ao irmão, mas tinha na gravata o azul da casa das águias;

— Ei... Licença. Você pode me dizer onde é o corujal?

— Olá Alvo... Se você quer mandar uma carta, por que não espera o correio? Vai chegar daqui a uma hora... Eu também vou mandar uma para a minha mãe Luna. Esqueci meus óculos que veem o invisível...

O menino ficou calado, pensando no que dizer.

— É que eu sei que não vou receber nenhuma carta hoje.

— Ahh. Que pena. Me contaram que você anda bem solitário esses tempos. Todo mundo odeia a Sonserina. O Tiago deve estar bem chocado, não? Eu também fiquei quando o Lorcan caiu naquele lar de cobras nojentas. Tudo bem, não fique triste... — disse o garoto, sorrindo-se — É, acho que posso levar você. Está bem cedo, apesar do frio dessa chuva fazer a gente pegar algum resfriado. Tem uma dezena de gente doente na enfermaria. Mas seria legal. Ao menos eu posso melhorar meu trabalho de Poções. Bem, de qualquer jeito... Já sei. A gente pegar um atalho pra ficar menos molhados.

Os garotos subiram a grande escadaria. Lissandro as vezes subia mais rápido. Parecia ter decorado quando a escada ia se mover. Pelo quarto andar, entraram em um átrio circular, com uma estátua de um frei, abraçado por duas escadas em semi-circulo que dava acesso a um corredor abaixo. Este corredor tinha muitas tapeçarias e estátuas de anões. O próximo corredor tinha janelas laterais baixas, informando que estavam em uma passarela entre-prédios. O terceiro andar dava acesso a um outro corredor que tinha no fim uma série de engrenagens. Alvo já estivera ali no dia anterior.

Na outra ponta do corredor estava uma sala a qual Lissandro apontou ser a Ala Hospitalar. Mas eles desceram mais escadarias até encontrarem um amplo salão onde um badalo enorme balançava. Saindo de lá encontraram o pátio da torre que era ao ar livre. Chuviscava fraco. Eles seguiram por um corredor protegido da chuva até conseguirem acesso à uma ponte de madeira bastante longa. Encontraram do outro lado os campos de Hogwarts. Imediatamente no fim da ponte havia uma espécie de pátio de grama rustico definido por sete colunas de pedras, como ruinas de Storhenge, mas em uma versão menor.

Eles seguiram um caminho íngreme, subindo um monte ladeado por pinheiros. Mais na frente havia uma colina alta, e em seu pico uma torre pedia. Uma outra torrinha anexa à torre maior fazia-a alcançar uma altura ainda maior.

— Está vendo aquela torre? É o corujal. Sua coruja deve estar lá. Não mexe com as que estiverem dormindo. Elas bicam pra valer.

— Hã... Lissandro...

— Diga? Já se sente doente?

—Não... é que... você pode me acompanhar na volta? Acho que não vou encontrar o caminho de novo... — explicou o garotinho, envergonhado.

— Certo... — disse um Lissandro compreensivo — vou te esperar aqui. Assim você pode fazer o que tem de fazer lá, sem a minha presença para xeretar.

Alvo subiu uma escadaria de pedras que se alinhava aos acidentes rochosos do monte. Ao olhar para a esquerda, em um ponto, vislumbrou lá no fundo, coberto por névoas, o campo de Quadribol. Era enorme... Continuou galgando os degraus. Finalmente em seu topo, adentrou a torre por uma porta de madeira simples.

O corujal era um antro circular, cuja parede era cheia de centenas de casinhas escuras alojando corujas dorminhocas. Algumas notaram a presença de Alvo e abriram um dos olhos. Outras nem se deram ao trabalho, apesar de piarem em sobreaviso. O garoto procurou uma coruja completamente branca, mas não encontrava em lugar algum. Ele subiu uma escada circular que se ligava à parede da torre, ganhando o segundo andar. Nada de Lude. No topo do corujal, onde havia a porta da torre anexa cuja abertura era gradeada, lá também não se encontrava a coruja de Alvo. Ele não estava em Hogwarts.

Apesar de achar estranho o sumiço de Lude, o garoto resolveu usar uma coruja da escola para enviar sua carta. Antes de colocar o papel no coldre anexo à perninha de uma coruja-da-igreja, o menino releu a carta.

 

Pai, é o Alvo,

Lude desapareceu, por isso estou mandando essa carta por uma coruja da escola. Se ele estiver por aí, manda ele vir aqui de volta.

As coisas poderiam estar melhores, mas em geral, estou sobrevivendo. Eu queria perguntar uma coisa. Mas antes, o senhor e a mamãe têm que me desculpar por ser da Sonserina. Eu não tive culpa. Tentei ser Grifinório, mas o chapéu se confundiu e me pôs na Sonserina. Me desculpa. Eu juro que vou dar orgulho para vocês, apesar disso.

A pergunta é sobre um homem chamado Severo Snape. Quem é ele? Ele era seu inimigo? Por que colocou meu nome de Severo? Eu preciso saber.

Abraços, estou com saudades.

Alvo.

 

Estava boa. Ele despachou a coruja para o largo Grimmauld, 12. Foi encontrar se com Lissandro. O garoto estava sentado em uma rocha, cutucando um iguana com um toquinho de pau.

A segunda aula de Herbologia foi mais tranquila. Felizmente, o feitiço de solo que Alvo tinha feito havia funcionado. Neville estava bem animado e não notou que o bocejo de Mathew era uma demonstração de seu apreço pela aula.

Se Mathew bocejara na aula de Herbologia, na de História da Magia ele literalmente dormiu a aula inteira. A sala ficava no primeiro andar, atravessando a ponte que comunicava o bloco da grande escadaria daquele que continha no subsolo as masmorras. Ficava no corredor perpendicular à sala de feitiços e era um lugar reto, cheio de cadeiras, as paredes recheadas de mapas e os armários tinham centenas de rolos de pergaminhos mofentos que faziam Alvo querer espirrar mais que tudo nesse mundo. Um globo mundo girava preguiçosamente sobre a mesa do professor, que era a coisa mais deprimente da sala.

O fato mais digno de nota da aula foi o momento que ele apareceu: atravessou a parede da lousa e ficou flutuando na frente da mesa. O Professor Binns havia lecionado uma vida inteira a matéria. Sua didática era tão participativa e excitante que poderia fazer uma tribo de babuínos eufóricos caírem no sono, como que sob efeito de poderosas drogas sedativas. Talvez só não fosse substituído por alguém mais vivo pois muito provavelmente adquirira cargo vitalício ao se tornar um fantasma.

Alvo poderia ter dormido, assim como Mathew e mais uma considerável porcentagem da sala (o fantasma parecia que nem notara: apenas falava interruptivamente uma introdução longa e espalhafatosa sobre os primeiros bruxos, os Magi), porém o garoto manteve-se muito concentrado em ficar longe das primas Rosa e Dominique, as quais, na falta do que fazer, não paravam de querer fazerem-se vistas por Alvo, que fingia do outro lado da sala estar concentrado nas palavras do fantasma, quando na verdade apenas fitava o quadro em um ponto central, tentando com todas as forças não virar o pescoço.

Ao fim da aula as pessoas já estavam dando graças a Deus silenciosos. Elas só verbalizaram um “ATÉ QUE ENFIM” no momento que o mestre atravessou o quadro de volta. Alvo levantou—se rapidamente e correu para fora da aula, ignorando as chamadas das primas.

De tarde o chuvisco fraco havia se tornado uma tempestade pavorosa, com direito à raios e trovões. Os garotos seguiram até o terceiro andar pela grande escadaria, dobrando corredores, atravessando portas, descendo escadas semi-circulares até acharem um corredor largo, cujos quadros eram mais macabros: árvores negras, ghrouls, espirito agourentos e almas penadas. Uma armadura particularmente velha marcava a porta para a sala de Defesa Contra as Artes das Trevas, aula que os Grifinórios pagavam junto com os alunos da Lufa—Lufa.

A sala era bem, bem ampla. Várias janelas altas foram tendo suas cortinas fechadas pelos acenos da varinha do professor Alto, albino e vestido com um sobretudo azul, cujo tecido farfalhava enquanto ele caminhava até a frente de sua mesa de mogno. A luz do sol foi quase extinta da sala. Porém, de repente um único raio luminoso invadiu o ambiente. Um retroprojetor antiguíssimo fora ligado com dois baques da varinha do Professor Kaleb Vogelweide.

Poucos alunos soltaram exclamações assustadas. A primeira imagem projetada foi a de um crânio. Da boca escancarada desse crânio, saía uma serpente que ia se enrolando, enrolando, enrolando...

— Alguém se atreveria a dizer do que se trata esse símbolo? — disse a voz profunda e reta do professor.

Sob o ambiente escuro, Alvo pela primeira vez levantou a mão.

— Eu acho que é... É a Marca negra.

 


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Notas finais do capítulo

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※ Se puderem dar uma força pra história, comentem e favoritem! ※
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※ Até o próximo e YO! ※