Our love is like a song escrita por rosemary


Capítulo 16
Capítulo 16 - Say Something


Notas iniciais do capítulo

Bom, pessoal, ontem não deu para postar o capítulo por diversos motivos que serão explicados nas notas finais, mas cá estamos com mais um capítulo da fanfic.
Lembrando que é yaoi, se não curte, não leia.
Lembrando também que é uma música triste, portanto não será um capítulo feliz.
Here we go:



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“Say something I'm giving up on you
And I'm sorry that I couldn't get to you.”

Say Something - A Great Big World ft Christina Aguilera

~~

Eu ainda não havia tomado coragem de ir até aquele lugar e agora uma ligação havia me obrigado a fazê-lo. Meu telefone vibrou, na tela havia um número desconhecido, mas soube quem era assim que atendi. Aquela voz doce de criança estava triste e ela estava claramente chorando. Eu não consigo ver uma criança chorando e ficar parado, tive de ir até lá para acalma-la.

Encarei a porta do quarto por algum tempo antes de adentrar o recinto, respirando fundo e coletando todas as minhas forças. Ela precisava que eu fosse forte por ela, então sê-lo era uma necessidade quase que vital para mim.

Quando abri a porta um corpinho de criança colou ao meu. Senti seu abraço apertado em mim. Ela havia crescido bastante... Claro, era de se esperar, afinal, fazia quase um mês que eu não a via.

‘Amanda, deixa eu fechar a porta, rapidinho.’ a criança me soltou, mas assim que eu concretizei minha ação voltou a me agarrar. A levantei na altura de meu rosto, dei um beijo em uma de suas bochechas e a abracei de volta. A garotinha morena e cheia de sardas já não chorava. ‘Agora me explica direito o que você tava falando no telefone que eu não entendi nada.’ coloquei-a novamente no chão e ela voltou para onde estava. Ao lado de seu irmão.

Creio que devo algumas explicações importantes. Em primeiro lugar meu nome é Jean Kirschtein, sou um estudante do segundo ano do colegial bastante comum, não me considero nada acima da média, para ser bastante honesto. A criança que agia de forma tão carinhosa quanto a mim era Amanda Bodt, irmã mais nova de Marco Bodt, também conhecido como meu namorado.

Desde que eu comecei a namora-lo, sua irmã se apegou muito a mim. Talvez tenha sido por eu ser ótimo com crianças. Porque elas nos veem como realmente somos, não só como aparentamos ser. Portanto, Amanda via por trás da minha cara carrancuda de sempre e conseguia, como seu irmão, enxergar quem eu era de verdade. Minha relação boa com ela estendia-se para os pais de Marco também. Apesar de eu nunca ter sido muito próximo de seu pai, sua mãe havia tornado-se uma segunda-mãe para mim.

Assim como eu era um alguém comum, nossas vidas também eram. Tínhamos amigos, éramos felizes, brigávamos periodicamente – sempre nos acertando no fim das contas -, Marco e eu éramos dois adolescentes completamente normais, com vidas pacatas e, concomitantemente, boas. Até, claro, alguma coisa estragar tudo.

Acho importante constar que antes da via bacana eu era um caos e que Marco e nossos amigos foram, comigo, protagonistas de minha mudança. Pensam que falar que eu não sou acima da média em nada é falta de autoestima? Imaginem alguém mais de oito mil vezes pior. Muito mais triste; muito mais melancólico. Meus amigos e Marco – principalmente ele, já que se eu não houvesse me aproximado dele eu não haveria me aproximado do resto das pessoas – foram o grande divisor de águas em minha vida.

Agora eu estava, lentamente, voltando para minha concha, na atitude mais detestável e egoísta que eu poderia ter. Porque o que aconteceu não afetou só a mim, então, teoricamente, tínhamos de estar lá para nos apoiar mutuamente. Mas eu não conseguia.

Marco estava indo me encontrar em uma pracinha da cidade porque eu estava mal, porque eu havia pedido que ele fosse até mim ao invés de ir até ele. Ele havia pedido que eu voltasse para casa, ele havia pedido que eu fosse até ele, mas eu insisti. E ele nunca chegou.

Eu fiquei pior, até mesmo com uma pontada de raiva. Fiquei pensando que Marco havia me abandonado quando eu precisei dele. Idiota...

No meio do caminho um carro bateu em seu, ele capotou, foi coisa feia. O outro motorista - alcoolizado e sem cinto de segurança - deu a maior sorte do mundo: sobreviveu. Perdeu todos os movimentos do corpo, ficou tetraplégico, mas sobreviveu – o que, para mim, era uma puta sorte, afinal, o cara estava sem cinto e bêbado, tudo conspirava para que ele morresse. Marco entrou em coma, teve todo seu lado direito do rosto desfigurado por conta de um dos vidros o carro que estourou e o cortou. Sua visão do olho direito, caso ele acordasse, estaria completamente comprometida.

Sua mãe foi até minha casa me contar sobre o acidente, mas eu não consegui lidar com isso. Fechei-me para o mundo, parei de responder nossos amigos – que estavam, claramente, preocupados com meu estado diante dessa situação -, ignorei a família de Marco porque não conseguia vê-los e não desabar – especialmente Amanda, que era extremamente parecida com o irmão. Fui um completo egoísta.

‘E-eu fugi de casa...’ começou a falar com a voz baixa, provavelmente com medo que eu lhe desse uma bronca por isso. ‘Eu briguei com a mamãe... Porque eu pedi pra ir pra casa de uma amiga minha, ela disse que não podia me levar e eu falei de ir a pé...’ ela mexia em uma mecha de seu cabelo, como fazia quando sabia que estava errada, mas não queria admitir. ‘Ela ficou brava, falou não e eu fiquei brava e falei que não era justo. Aí mamãe começou a gritar comigo, a falar que eu não tinha como entender o medo de ela perder outro filho... Aí eu fui pro meu quarto e, quando ela não tava olhando, eu fugi de casa...’ ela finalmente olhou para mim. ‘Eu antes tinha o Marco pra ficar comigo quando mamãe brigava comigo, mas agora...’ olhou para seu irmão, tristemente, meu coração apertou. ‘Eu não sabia pra quem ligar...’

‘Você fez bem em ligar pra mim, moça.’ fui até seu lado e ajoelhei para ficar na altura dela. ‘Só que sua mãe deve tá super preocupada, então eu vou ter que ligar pra ela e avisar que você tá aqui comigo, tá bom?’ ela assentiu. Peguei o telefone e disquei, com dor no coração, para a casa de Marco. O nome de contato daquele número em meu celular era um coração. Assim que ela atendeu, com a voz preocupadíssima, expliquei toda a situação e a mãe de Amanda disse que logo estaria no hospital para busca-la.

Eu não queria ter de encarar mais nenhum integrante da família Bodt naquele dia. Olhar para Amanda já era difícil o suficiente para mim. Todo o esforço para ignorar o corpo de meu namorado, desacordado, naquele quarto e para fingir não vê-lo lá já drenava muito de mim. Principalmente porque eu tinha medo de como a senhora Bodt me encararia.

Amanda era muito nova, ela não julgaria minha ausência, mas sua mãe já era adulta, a história era outra. Eu sabia que estava sendo covarde, obviamente, mas não precisava que ninguém apontasse isso para mim. Eu estava tentando me manter forte, mesmo que de uma maneira errada.

Sentei na cadeira poltrona ao lado da cama, virando-a, discretamente, de modo a não ficar de frente para Marco, e coloquei Amanda em meu colo.

‘Jeaaan.’ ela me chamou com a voz mais audível. ‘Mamãe já perdeu algum filho?’ sorri tristemente.

‘Não. Ela tava falando do seu irmão mesmo, princesa.’ comecei a fazer cafuné nela. Amanda adorava cafunés. Marco também.

‘Mas ela não perdeu ele... Ele só tá dormindo, não é?’ assenti.

‘É, mas a gente não sabe por quanto tempo mais ele vai ficar dormindo. Aí as pessoas mais velhas não conseguem se manter tão esperançosas igual a você. Porque eles já viveram muito e já tiveram muitas esperanças, aí eles tão cansados, entendeu?’

‘Uhum.’ ela começou a balançar os pezinhos. ‘Eu ouvi o papai falando que talvez meu irmão não acorde. Eu acho que ele tá errado. O Marco nunca ia embora sem me falar tchau. Nem pra você.’ assenti mais uma vez, mas não disse nada. ‘Por que você não veio antes?’

‘Porque...’ hesitei, tentando inventar uma desculpa qualquer, mas Amanda não merecia uma mentira. ‘Não sei, princesa. Eu não tive coragem, eu acho.’ ela virou para mim.

‘E é por falta de coragem que você não olhou pro Marco nenhuma vez hoje?’ sorri para ela e apertei suas bochechas.

‘Você é uma menininha muito observadora, sabia?’ ela sorriu de volta, agradecendo. ‘Acho que é, em partes...’

‘Em partes? Então você também tá com medo de ver como ficou o rosto dele? Eu fiquei com bastante medo, sabe... Mas o Marco ainda é o Marco, eu prometo.’ engoli em seco e assenti, parando de sorrir. Depois disso Amanda mudou de assunto e começou a contar sobre sua escola, seus amigos, o menino que ela achava bonitinho e que não gostava dela por causa de suas sardas – nesse momento eu disse que ele era um idiota porque só idiotas não gostam de sardas – entre outras coisas.

Aquilo me destruiu um pouco mais por dentro. Perceber que a vida continuava, mesmo com Marco em coma, deitado ao nosso lado, a vida continuava. O mundo não parara de girar, as estações não parariam de mudar, Amanda, eu e os outros todos continuamos indo à escola, tendo provas, vivendo nossas vidas. Aquilo era, no mínimo desesperador.

‘Amanda!’ sua mãe entrou brava no quarto. A garota saltou de meu colo e abaixou a cabeça, mas a senhora Bodt não lhe deu bronca, apenas a abraçou com força. ‘Por favor, jamais volte a fazer isso, meu amor. Eu fiquei tão preocupada...’

‘Desculpa, mamãe...’ levantei-me para cumprimentar minha sogra.

‘Jean, querido... Há tanto tempo que não nos vemos...’ ao contrário do que eu pensei, seu olhar não era cheio de julgamento. Eu a abracei. ‘Desculpe por Amanda ter ligado pra você, mas obrigada por me avisar que ela estava segura com você.’

‘Tempo mesmo... Não tem de que, senhora B. Eu devo bastante à família de vocês e gosto muito da Amanda, não conseguiria ignorar um telefonema dela jamais.’ ela me abraçou, sorrindo.

‘Entendo. Estamos com saudade de você, tenho certeza que Amanda já disse isso, mas gostaria de frisar. Apareça em casa para jantar um dia desses, sim?’ assenti. Eu nunca conseguiria fazê-lo, mas não custava ser educado. ‘É a primeira vez que você vem aqui, não?’ assenti novamente. ‘Entendo... Acho que vamos deixar vocês a sós, então. Creio que você tenha muito a dizer e a pensar, sim?’

‘Obrigado, mas acho que vou deixar para uma próxima vez. Preciso voltar pra casa logo e...’ ela me interrompeu, como se houvesse ignorado tudo o que eu disse.

‘Ele não tem respondido aos estímulos externos, mas, quem sabe sua voz não o faça reagir minimamente...’ suspirou. ‘Eu sei que é difícil pra você. A primeira vez foi quase impossível pra mim, querido, mas... Você entende meu pedido?’

‘Sim, senhora B.’ ela sorriu para mim.

‘A gente não pode perder a esperança, certo?’ assenti. ‘Bom, vamos, Amanda? Vejo você por aí, querido. Apareça em casa qualquer dia.’ pegou a mão de sua filha, que mandou um beijo para mim, e desapareceu de minha vista, fechando a porta ao sair. Fiquei de costas para Marco por, pelo menos, um minuto.

Tive de criar toda a coragem do mundo de ir até seu lado e olha para ele de perto. Sua irmã estava certa: ele ainda era o Marco. Seu lado direito não estava tão ruim quanto eu esperava que estivesse. Acariciei suas cicatrizes no rosto e mordi o lábio inferior.

‘Oi...’ disse baixinho. ‘Eu demorei, mas eu vim...’ eu tremia um pouco. ‘Porque sua irmã me ligou, tá, mas eu vim, ok? E o pior de tudo é que eu sei que você não se importaria com isso. Você teria entendido de primeira o meu medo, teria entendido minha covardia... Quando eu, em um primeiro momento, não consegui entender que você não havia aparecido por um motivo muito maior do que eu.’ respirei fundo e comecei a fazer cafuné nele. ‘A culpa é minha, não é? Seu eu tivesse ido até você... Se eu tivesse sido menos egoísta, se... Ah, Marco, é tudo culpa minha.’ foi quando eu desabei, quando comecei a chorar. ‘Devia ser eu no seu lugar, não é justo que você esteja assim, não é justo que a sua família seja a que tá sofrendo, não é nada justo.’

Aproximei nossos rostos e encostei nossas testas.

‘Eu sinto tanta falta de você. Sinto tanta falta do seu toque, sinto tanta falta da sua voz... Marco, volta pra mim, volta pra gente, por favor.’ beijei sua testa. ‘Ou pelo menos não vai embora sem falar adeus....’ mais beijos. ‘Por que minha voz não muda nada? Por que eu não mudo nada? Eu te coloquei aí, por que eu não consigo te tirar também? Por favor, Marco... Fala alguma coisa, faz alguma coisa... Por favor não fica assim pra sempre... Eu imploro. Eu até rezo a qualquer deus que seja preciso, eu faço qualquer coisa, mas volta, por favor... Volta pra mim...’ minha voz quase não saia.

Exatamente como eu pensei que seria: nenhuma reação aparente. Ele continuou deitado, os olhos fechados, com uma aparência tão... Morta.

‘Eu te amo, Marco, eu te amo muito. Me desculpa, a culpa é minha... Sei que você ia dizer que não é, mas eu sei que é, eu sei disso.’ dei um selinho nele. ‘Sei também o quão egoísta é pedir que você volte porque eu preciso de você, mas eu sou egoísta, eu sou assim. Mesmo tendo sido o meu egoísmo que te colocou aí é por ele que eu peço que você volte... Eu não aprendo mesmo...’ mordi meu lábio inferior mais uma vez. ‘Eu te amo, tá? Guarda isso contigo. Se você estiver ouvindo, se você ainda estiver aí: eu te amo muito.’

Fiquei cerca de mais dez minutos lá, até eu conseguir me refortalecer e ir embora sem estar chorando. Minha visitas começaram a ser cada vez mais frequentes. De visitas aleatórias até, pelo menos, uma por semana.

Mesmo com a vida seguindo eu não pararia de visita-lo. Aquele quarto de hospital seria muito visto por mim por mais um bom tempo. A esperança tem de ser a última que morre.


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Notas finais do capítulo

Então, queridxs, eu fui numa sabatina da candidata à presidência, Luciana Genro, ontem. Quando eu voltei pra casa era umas oito da noite e eu estava completamente morta, então fui direto para a cama. Por isso não consegui escrever o capítulo. Hoje quase que eu fico sem postar também porque estudei muito o dia todo e ficou super tarde pra postar - já passou da hora da tia Mars nanar ahhaha -, mas fiz o maior esforço da vida e postei um capítulozinho maiorzinho.
Pra vocês que acompanham minha outra fic vou deixar um fun fact (meio spoilerzinho então se não quiser ler não leia): esse era, mais ou menos, o final original que eu tinha planejado pra fanfic. Claro que eu fiz umas mudanças - tipo o irmão do Marco em RS aqui é uma irmã e tal -, mas a ideia era o Marco ficar em coma e tal, tipo aqui.
Podem descartar essa possibilidade de fim pra RS então, beibes. (FIM DO SPOILERZINHO)

Sim, eu sou uma mente maligna, obrigada :D HAHAHAHA
Enfim, vejo vocês amanhã, provavelmente, porque o dia não vai ser tão corrido não, viu. O que é ótimo, né hahahha
Beijos mil ~



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