Regina olhava concentrada para os papéis sobre sua mesa. Quanto mais documentos assinava, mais coisas haviam para assinar. Era incrível a quantidade de problemas a serem resolvidos que uma cidade pequena como Storybrooke poderia ter. Ela suspirou cansada, deixando os papéis um pouco de lado para pegar o celular.

– Imagino o que minha mãe diria... - murmurou com um meio sorriso enquanto encarava a tela. No papel de parede, Emma, Elsa e Henry sorriam para ela, cobertos de neve. Regina riu lembrando-se do dia anterior , quando a foto foi tirada: Henry havia escondido o cordão da irmã e tudo virou uma grande bagunça branca e gelada. Ela havia se divertido tanto com Emma, que colocou a foto como papel de parede para lembrar cada vez que pegasse o telefone, nem que fosse para olhar as horas. Tal como uma adolescente de 15 anos faria.

– Incrível o que essa Salvadora faz comigo. - disse rindo de si mesma. Ouviu um barulho na porta e imediatamente guardou o telefone em uma gaveta qualquer, voltando a se debruçar sobre os papéis.

– Mamãe! - Regina olhou para a frente ao ouvir a voz de Elsa, que vinha correndo em sua direção com os bracinhos abertos. A morena riu ao afastar a cadeira da mesa para pegar a filha no colo.

– O que você acha de Kale Salad? - Regina escutou Emma colocar uma embalagem sobre sua mesa, mas continuou dando atenção para Elsa que estava em seu colo.

– Parece que alguém finalmente encontrou outro lugar além do Granny's para pedir comida. - implicou, tentando não sorrir.

– Eu gosto do queijo grelhado, mas sei que é disso que você gosta.

– Você come igual a uma criança. - A morena respondeu entre risos. Tentou não demonstrar o quão feliz ficou em escutar aquilo.

Emma provavelmente não fazia ideia do quanto aquele gesto significou para Regina. O fato de a xerife tentar agradá-la com algo que ela gosta. Regina gostou desse cuidado e atenção. Ela não estava muito acostumada. Ainda rindo, ela levantou o olhar para encarar Emma.

– Isso é uma cerveja preta? - perguntou apontando para a garrafa na mão de Emma. A loira sorriu orgulhosa.

– Duas. - ela corrigiu, mostrando as duas garrafas. - Trouxe uma pra você, achei que podia dar uma pausa. - sugeriu, encolhendo os ombros.

Regina se levantou com Elsa em seu colo e deu alguns passos em direção a xerife. Emma sentiu sua respiração falhar quando a morena parou muito perto dela e depositou um selinho demorado em seus lábios.

– Obrigada. - a morena disse sorrindo e manteve seu olhar em contato com o de Emma ao completar: - Por tudo.

Emma sorriu de volta, mesmo sem saber ao que exatamente a prefeita se referia.

– De nada. Se quiser pode agradecer me ajudando com as garrafas. Achei que estavam abertas. - reclamou.

– Eu pareço alguém que pode abrir isso com os dentes? - Regina perguntou, indo até o sofá. Colocou Elsa sentada e virou-se de volta para Emma. - Eu sou uma Rainha e pouco mais refinada.

Emma riu.

– É, eu sei disso. - A loira foi até a mesa e abriu a gaveta. - Deve ter um abridor aqui em algum lugar.

– Emma, espera! - Regina disse, mas parou ao ver a loira mexer na gaveta. Ela viu Emma esboçar um sorriso e encará-la.

– O que é isso? - a xerife perguntou, deixando as garrafas sobre a mesa antes de ir até a prefeita.

– Um celular. - Regina respondeu secamente. Tentando disfarçar o constrangimento.

– Sim. É o seu celular. E tem uma foto minha como papel de parede. - constatou, com um sorriso implicante nos lábios. Quase riu ao ver como Regina demorou para responder.

– Não, querida. Tem uma foto das crianças brincando. - argumentou, observando enquanto Emma sentava ao lado de Elsa.

– Elsa, olha aqui! - a loira disse mostrando o aparelho para a menina. - Olha que foto legal. Quem é que tá nela?

– Elsa... Henry... E mamãe Em. - a menina respondeu, apontando para cada um conforme falava. Ela sorriu para Emma que olhou de canto para Regina antes de voltar sua atenção a menina.

– Sabe o que parece, Els? Que a mamãe Gi colocou a mamãe Em no telefone dela só pra ficar olhando quando sentir saudades. - Emma implicou. - Não parece? - virou-se para Regina e arqueou uma sobrancelha.

A morena cruzou os braços e revirou os olhos enquanto pensava em uma resposta.

– Senhorita Swan, eu sei muito bem como colocar alguém em uma tela. Literalmente. - disse num tom firme. - Então eu acho melhor você ter cuidado com o que deseja. O último que quis algo parecido ficou preso em um espelho.

Emma ficou quieta por um segundo, assistindo atentamente ao esforço de Regina para se manter naquele papel. Quando a morena acabou, a xerife explodiu em uma gargalhada. A prefeita bufou, desistindo de argumentar. Ela pegou o celular da mão de Emma e sentou-se entre ela e Elsa.

– Mamãe Em? - a menina chamou, fazendo as duas olharem para ela. Elsa se debruçou sobre Regina para falar com Emma e baixou a voz para um sussurro como se fosse contar um segredo. - Acho que a mamãe Gi gosta de você.

Regina arregalou os olhos e sentiu seu rosto queimar enquanto a gargalhada de Emma ecoava no escritório.

– Acha mesmo, princesa? - A xerife perguntou, arqueando uma sobrancelha pra Regina que estava quase se afundado no sofá entre as duas loiras.

– Acho. - Elsa afirmou, balançando a cabeça com veemência. - Gosta muitão.

Emma riu ainda mais ao ver Regina tímida. Era uma cena impagável. Mas durou apenas alguns minutos, pois a morena logo recuperou sua pose.

– Sabe o que a mamãe Gi realmente gosta, querida? - Regina perguntou para Elsa, embora olhasse para Emma. - Que a mamãe Em seja pontual na hora de buscar o filho na escola.

– Mas eu não sei que horas tem. - a loira argumentou. - Me empresta seu celular pra eu ver? - disse rindo, fazendo a morena revirar os olhos mais uma vez.

– Estou falando sério, querida. Vocês vão perder a hora. - Regina disse num tom doce enquanto se levantava, tentando deixar de lado o assunto da foto. Emma olhou para ela com uma expressão triste e fez um biquinho infantil.

– Mas eu trouxe cerveja e salada pra você. - choramingou. Regina sorriu.

– E eu agradeço. Fiquei muito feliz, de verdade. - Emma deu um sorriso radiante ao ouvir aquilo e Regina se sentiu a pessoa mais sortuda do mundo naquele momento. Ela estendeu a mão para ajudar a xerife se levantar.

– Podemos tomar essas cervejas juntas mais tarde? - a loira perguntou, se colocando de pé e ficando muito próxima de Regina.

– Quer que eu beba com você? - a rainha perguntou. Sorrindo ao notar como os olhos verdes de Emma fitavam sua boca.

– Você não quer sair pra beber comigo?

– Que tipo de mulher pensa que eu sou, senhorita Swan? - reclamou, embora não deixasse de sorrir. - Já disse que sou um rainha e sou mais refinada. Melhore esse convite.

Emma revirou os olhos mas sorriu também. Tirou uma mecha de cabelo preto do rosto da morena e a olhou nos olhos antes de falar.

– Regina, você me daria a honra de ter sua companhia hoje a noite? Podemos jantar e beber alguma coisa, só nós duas. - sugeriu, passando os braços em volta da cintura da morena enquanto falava.

– Um encontro? - A prefeita arqueou uma sobrancelha. Emma assentiu e esperou enquanto a morena fingia estar pensando.

– Sim, Emma. Na verdade, eu adoraria. - Emma sorriu e puxou Regina para um beijo calmo e terno. Ambas sorriam ao se afastarem. - Viu? Muito melhor quando se faz um convite decente.

– É, tô vendo. - A loira concordou rindo, enquanto ia até o sofá onde Elsa brincava com algumas canetas que havia encontrado. - Vamos, pequena. Temos que buscar o Henry.

– Mamãe Gi também? - perguntou, apontando para Regina, que negou com a cabeça.

– Não, meu amor. Hoje é a mamãe Gi que tem que trabalhar. - a prefeita disse indo até ela.

– Mas eu qué você. - a menina choramingou para ela.

Emma ficou parada assistindo Elsa começar a ensaiar um choro. Os olhos azuis já estavam marejados e os lábios se curvado em um bico. Toda vez que a menina tinha que ficar com apenas uma das duas, era a mesma coisa. A xerife deixou que Regina resolvesse aquilo.

– Els, querida, preste atenção. Vou te contar um segredo. - a prefeita começou, pegando a filha no colo. - Você tem razão: eu gosto da mamãe Em.

Regina viu Emma dar um sorriso vitorioso e revirou os olhos antes de continuar conversando com Elsa.

– Sabe aquela boneca de cabelo rosa que você gosta muito e gosta de cuidar dela? - Elsa assentiu, prestando atenção em cada palavra. Ela apontou para o sofá, onde a tal boneca estava. Regina sorriu. - Isso. Você gosta dela e gosta de saber que ela está bem, não é?

– Sim. - murmurou, com a voz embargada, escondendo o rosto no pescoço de Regina.

– Então... Eu também gosto de saber que sua mãe está bem quando eu não estou perto. Será que você me ajudar com isso? Pode cuidar da mamãe Em enquanto a mamãe Gi trabalha?

Elsa demorou para responder, mas fez que sim com a cabeça, ainda aninhada no colo de Regina. Regina trocou um olhar cumplice com Emma, que sorriu. Se ela tivesse que escolher qual lado de Regina que ela mais admirava, seria esse lado maternal. Era simplesmente encantador de se assistir e a fazia imaginar a vida que Henry teve quando era um bebê.

– Obrigada, querida. Fico muito feliz em poder contar com você. Viu só porque você tem que ir? Precisa cuidar da mamãe pra mim, está bem?

– Tá. - respondeu, com a voz ainda chorosa, mas um pouco mais calma. Regina deu um beijo no rosto dela antes de entregá-la para Emma.

– Els, tenho que admitir que fico mais calma sabendo que você vai cuidar de mim. - Emma disse enquanto limpava as lágrimas do rostinho da menina.

– E do Henry. - Elsa acrescentou, fazendo Emma e Regina sorrirem completamente derretidas por ela. Regina foi até o sofá e pegou a boneca e as canetas que ela estava brincando.

– Isso mesmo, cuide dele também. Mas sem congelar nada, está bem? - a prefeita disse, fazendo a menina rir ao fazer que sim com a cabeça. - Não esquece sua boneca. E pode levar as canetas também, a mamãe tem outras aqui.

Emma riu da cara de felicidade que Elsa fez e virou-se para Regina.

– Até mais tarde, senhora prefeita. - Regina esboçou um sorriso e deu um selinho nela.

– Até mais tarde, senhorita Swan. Obrigada por trazer meu almoço.

Emma apenas sorriu em resposta e já ia saindo. Regina já estava sentada de volta à sua mesa quando a loira se virou para olhá-la.

– Regina?

– Sim?

– Quer dizer que você gosta de mim, é? - Emma perguntou com um sorriso travesso nos lábios. Regina revirou os olhos e fez um movimento com as mãos, abrindo a porta com magia.

– O horário, Emma. Vai logo. - Emma riu e encolheu os ombros antes de sair fechando a porta atrás de si.

Regina viu a porta se fechar e suspirou, desviando o olhar para as duas garrafas de cerveja esquecidas sobre a mesa. Não pode deixar de sorrir.

– Sim, eu gosto. - respondeu para a sala agora vazia.

Sabendo que as horas se arrastariam até encontrar Emma de novo, ela agradeceu por ter tanta coisa pra fazer. Assim se manteria ocupada. Percorreu os olhos sobre os documentos, mas parou ao ver a embalagem que a xerife havia lhe trazido. Resolveu almoçar antes de voltar ao trabalho. Afinal, não era todo dia que alguém tinha o cuidado de comprar sua comida favorita só para lhe agradar.

– O que eu acho que Kale Salad? - a morena repetiu a pergunta, sorrindo contente ao abrir a caixinha de plástico. - Muito melhor que queijo grelhado.

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– Tem certeza de que não é um problema? - Emma perguntou à sua mãe, entregando à ela a bolsa de Elsa e a mochila de Henry. - Quer dizer, você tem o Neal pra tomar conta e...

– Emma, pode deixar. - Snow interrompeu. - Seu irmão é um bebê, ele vai estar dormindo. Seu pai está em casa e Henry já é um rapaz, pode me ajudar com a irmã. Vamos ficar todos bem.

Emma sorriu, aliviada e agradecida.

– Certo. Obrigada. Qualquer coisa é só me ligar, ou ligar pra Regina. - A morena assentiu e cruzou os braços de forma ansiosa.

– Divirtam-se... - ela hesitou. - O que disse que iam fazer mesmo?

– Trabalhar. - Emma respondeu rapidamente, tentando ser convincente. - Uns documentos da prefeitura deram problema e alguns tem a ver com a delegacia. Me ofereci pra ajudar.

Mary assentiu mais uma vez. Olhou de relance para Henry e Elsa que estavam debruçados sobre o berço de Neal e depois voltou a encarar a filha.

– Seu pai não disse nada sobre documentos da delegacia. - comentou. - Vocês vão ficar na prefeitura a noite toda?

Emma encolheu os ombros.

– Não queremos. Mas no mínimo vamos chegar em casa bem tarde. - Explicou, enquanto puxava o celular do bolso e olhava o horário. - Tenho que ir.

Mary continuou parada na cozinha observando Emma ir até o canto da sala onde ficava o berço. A xerife deu um abraço em Henry e se abaixou para pegar Elsa no colo.

– Vocês se comportem, tá? Obedeçam, não quero ter que usar magia nas minhas próprias crianças. - brincou, ao que Henry riu e fez que sim com a cabeça. Ela deu um beijo no rosto de Elsa que tinha os bracinhos ao redor de seu pescoço. - Tchau, princesa. Amanhã as mamães vem buscar vocês, tá bom?

Emma se preparou para ter que lidar com um escândalo. Imaginou que Elsa choraria, faria pirraça, tivesse o comportamento que ela costumava ter quando tinha que se separar dela ou de Regina. Mas para seu espanto, a menina apenas assentiu, as marias-chiquinhas balançando no ar enquanto ela o fazia. A xerife sorriu, surpresa e deu mais uma abraço nela antes de colocá-la no chão.

– Ok, crianças, até amanhã. - Ela disse dando um beijinho no irmão e passando a mão nos cabelos de Henry antes de se dirigir até a porta. Mary a seguiu.

– Tchau, mãe. Obrigada e qualquer coisa é só ligar. - A morena assentiu, segurando a porta para ela.

– Pode deixar. - ela deu um sorrisinho que Emma não soube interpretar. - Divirtam-se. Bom... trabalho pra vocês.

Emma deu de ombros.

– Trabalhar não é divertido. Mas vou tentar. - disse forçando uma risada. Deu um beijo no rosto da mãe e saiu, escutando a porta fechar atrás de si.

Já no fusca, ela dirigiu de volta para o número 108. Precisava se arrumar. Se ia levar Regina para um encontro, precisava estar vestida de acordo com a ocasião.

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Era início de noite e Emma estava em pé em frente a biblioteca da cidade. A ideia inicial da xerife era que Regina esperasse por ela na prefeitura. Então a loira iria buscá-la, com aquele romantismo de filmes, como as pessoas normais fazem. Talvez até com um buquê de flores. Mas eram Emma e Regina, afinal. Coisas de pessoas normais não funcionavam com elas. Depois de muito argumentarem e discutirem por telefone, combinaram de se encontrar na biblioteca para irem juntas ao restaurante. Assim, Regina poderia passar em casa para se arrumar.

Agora Emma estava parada, olhando o visor do celular de minuto em minuto, esperando por Regina. Estava tão ansiosa que já considerava a possibilidade de usar um feitiço localizador pra saber se a morena iria demorar ainda mais. Isso se ela soubesse usar um, pensou, com um suspiro. Ia olhar de novo as horas no celular quando escutou passos à sua frente. Aquele barulho inconfundível do salto de Regina batendo chão.

– Boa noite, senhorita Swan. - A morena cumprimentou ao se aproximar com um sorriso nos lábios.

Seus olhos percorreram o corpo de Emma, que usava um vestido preto bem justo e uma meia calça que realçava as pernas que o vestido não cobria. A xerife sorriu de volta, dando alguns passos em direção à ela.

– Boa noite, Regina. - respondeu. A loira estendeu a mão, entregando à Regina uma única rosa vermelha.

– Flores? - A rainha disse surpresa, sem esconder a felicidade. Emma deu de ombros.

– Flor. - corrigiu. - Uma só. Imaginei que ia ser desconfortável ir comer carregando um buquê de flores. Assim é mais prático. - ela deu um sorriso sem jeito. Droga, porque tão adorável? Regina, pensou enquanto assentia.

– E mais discreto também. -comentou. - E extremamente adorável. Eu amei. - completou em um sussurro, olhando fixamente para os olhos de Emma. As duas ficaram quietas por um momento, apenas se encarando, até que Emma quebrou o silencio.

– Então, eu escolhi um lugar legal pra gente. Não se preocupe que não é o Granny's. - disse um pouco nervosa, começando a caminhar. Regina riu.

– Isso me deixa mais tranquila, querida. - respondeu caminhando ao lado de Emma. - Embora eu ache que você acaba de decepcionar alguém.

Emma franziu a testa sem entender de quem Regina estava falando. Esperou ela completar a frase.

– Me refiro a menina cachorro... Digo, lobo. Tanto faz. Não me importa o tipo de coisa que aquela garota é, na verdade. - Emma tentou não rir, mas foi inevitável. Sua risada ecoou na rua praticamente deserta.

– Cara, você é inacreditável. - Regina revirou os olhos e deu um sorriso debochado.

– São anos de prática, obrigada. - Ela colocou uma das mãos no bolso do casaco e olhou para o chão antes de mudar o assunto. - Então, Emma Swan, pra onde estamos indo?

Emma deu um sorriso que fez seus olhos verdes se estreitarem, parecia uma criança.

– É surpresa.