Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 24
Noite de Pizza




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Quando a noite chega, todos já estão prontos para a festa do meu primo. Bom, eu estou com minha blusa de manga cumprida, calça de moletom e um edredom, sentado em frente a televisão, procurando algum filme bom para assistir.

Minha Tia senta ao meu lado e fica observando os filmes nos canais junto a mim. Meu Pai sentado na poltrona ao lado do sofá enquanto mexe no celular.

– Vamos! - Minha Mãe chama todos durante a sua última arrumada no cabelo em frente ao espelho lado do lado da porta.

– Pipo, estamos indo, qualquer coisa liga - Aline diz.

– Ta bem! - Respondo concentrado na televisão.

– Devemos voltar depois de meia noite, então quando ficar com fome, pode pedir uma pizza, seu Pai deixou dinheiro na mesa perto da porta - Minha Mãe avisa.

– Ta!

– Beijos, até mais - Ouço minha Mãe dizer antes de fechar a porta e me deixar tranquilamente em casa.

Essa paz que fica quando todos saem, é tão boa e tão relaxante. Levanto devagar para não cair no chão como da última vez, e vou mancando até a cozinha. Ás vezes eu gosto de ficar sozinho, mas hoje principalmente, eu realmente precisava disso, dessa tranquilidade.

Não digo que me sinto sozinho porque já sinto isso o tempo todo, não importa se estou cercado por pessoas, afinal, quem aqui se importa realmente comigo? Faço muito essa pergunta há alguns dias.

Sem demora, meu celular começou a tocar, fazendo-me andar rápido até a sala e pegá-lo em cima da mesa.

– Alô! - Digo, sem nem ler quem estava ligando.

Oi Lipe!

– Oi Zac! - Respondo com um sorriso bobo no rosto. Parece que é a primeira vez que estamos nos falando, eu me sinto ridículo por reagir dessa forma.

Como está sua noite?

– Pra falar a verdade está melhorando agora que você me ligou - Caminho lentamente até o sofá.

Seus Pais já foram pra festa?

– Sim! - Sento e pego o controle novamente.

Então você pode abrir a porta?

– Oi?

Acha mesmo que eu ia te deixar sozinho? Eu estou na sua rua agora, chego ai em menos de 5 minutos.

– Zac... - Meu coração se acelera. Não quero mandá-lo de volta pra casa, mas se meus Pais retornarem e encontrá-lo aqui, eu sou um garoto morto.

Estou com medo e não sabia exatamente como reagir a isso agora. Poderia desistir de tudo agora mesmo e voltar para o meu cotidiano, no qual eu me tornaria uma pessoa infeliz e aprenderia a viver da forma que todos querem que eu viva. Mas e se seu coração estivesse cheio de amor, você desistiria?

Levantei-me e fui abrir a porta. Zac estava subindo a escada da varanda quando eu o vejo, próximo, ele da um sorriso e observo algumas sacolas em suas mãos.

– O que é isso? - Pergunto.

Ele adentra com alguns passos e fecho a porta. Viro-me para ele e dou um sorriso curioso.

– Bom... Você disse que ia ficar sozinho e eu pensei te fazer uma visita, mas...

– Mas...

– Eu também queria fazer algo especial.

– Zac, o que você trouxe?

– Aqui tem algumas coisas para fazer um jantar pra você.

– Espera, o que? - Dou uma risada e vejo que ele está falando sério - Zac, não precisava.

– Eu sei, eu quero fazer... Não ia usar as coisas da sua mãe, né?!... Então passei no mercado e comprei algumas coisas - Ele caminha em direção a cozinha e põe as sacolas em cima da pia.

– Como você consegue sempre me surpreender? - Pergunto apoiando o ombro o arco da cozinha.

– Porque eu sou incrível - Ele responde se aproximando.

– E nada modesto! - Brinco dando uma risada.

Ele se aproxima devagar e segura em minha cintura. Sem querer, respiro fundo e desvio minha visão. Algo me forçou a isso, eu queria poder beijá-lo agora, mas no momento minha cabeça está uma tempestade. É como se o fato dele estar aqui, já fosse algo errado e eu iria sofrer as consequências.

Zac me beija no rosto e afasta-se até as sacolas.

– Espero que goste de macarrão ao molho branco... É a única coisa que eu sei fazer.

– É, pode ser - Respondo.

Droga, eu estraguei tudo. Como eu posso ser tão idiota? Parece que os olhos de Deus estão focados em mim, estão me julgando por tudo que eu faço e eu só quero que essa sensação vá embora. A todo o momento, eu me sinto observado, essa angustia está cada vez maior, tem me consumido gradativamente.

O admiro enquanto retirava as coisas das sacolas. Dou uma risada e pego uma panela debaixo da pia. Tenho que tentar não dar razão ao medo e aproveitar o momento, eu preciso disso, não vou deixar que nada estrague.

– Ei, você não pode ficar ajudando - Zac diz pegando calmamente a panela da minha mão.

– É só uma panela.

– Você vai ficar sentado, eu vou fazer as coisas sozinho... - Ele segura minha mão.

– Não vou te deixar aqui sozinho, é entediante - Respondo.

Ando com ele até a mesa da cozinha e sento em cima dela.

– Agora eu posso ficar aqui com você - Digo.

– Ta bem, mas só pode ficar olhando - Ele diz.

– Eu prometo - Levanto as mãos dando um sorriso.

Zac às vezes passa do limite do quanto uma pessoa pode ser perfeita. Sei que todos têm defeitos, ele tem os dele, mas eu não ligo, porque suas qualidades são impressionantes. Ninguém nunca fez nada assim pra mim antes, estou me sentindo bem agora, ele faz com que eu me sinta especial. Vê-lo empenhado e feliz por estar fazendo isso, foi incrível.

Zac pega dois copos no armário, seguido de uma garrafa de refrigerante e vira-se para mim. Entrega-me um copo e brinda dando uma risada. Palavras não vão traduzir o que é olhá-lo nos olhos e vê-lo sorrir.

– A esperança que esse jantar fique bom - Zac diz.

– Ao jantar! - Digo antes de tomar o primeiro gole.

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Deitamos no sofá para assistir televisão enquanto o macarrão estava cozinhando. Eu me deito em sua frente, de forma que ele me abrace e me aproxime mais de seu corpo. Nossos dedos indicadores ficam brigando durante todo o tempo deitados, nossas pernas entrelaçadas de forma simples e aconchegante. Pra falar a verdade eu nunca mais quero sair daqui, o sofá agora se tornou um dos meus lugares favorito do mundo.

Minha cabeça relaxa sobre seu braço que está esticado. Acredito que está passando "Sexta-Feira 13", não sei direito, pois não estou prestando atenção na televisão, apenas me perguntando se isso está realmente acontecendo?

– Como você está? - Zac me pergunta murmurando delicadamente perto do meu ouvido.

– Estou bem! - Minto olhando para a televisão. Não suportava mentir pra ele, mas não quero que ele se preocupe mais comigo. Não sei se fiz bem em mandar aqueles áudios pra ele, mas eu estava tão desesperado por um apoio, que não pensei direito.

– Você sabe que pode me contar qualquer coisa... Eu sei que não está bem, ninguém estaria bem depois de ouvir tudo aquilo - Diz Zac.

– Eu não quero falar sobre isso - Digo, segurando tão firme sua mão, que eu poderia sentir suas veias pulsando. Me seguro para não me lembrar de nada e não ter que chorar de novo na frente dele.

– Você sabe que nunca vai estar sozinho, eu vou estar sempre aqui para te abraçar - Ele diz me abraçando um pouco mais forte - Eu estou aqui com você!

Fecho os olhos respirando fundo.

– Às vezes dá vontade de desistir de tudo, não sair mais de casa, dormir e dormir... - Digo.

– Ta tudo bem... Isso é normal... Você está passando por dificuldades com seus Pais. Não se cobre tanto, você não é feito de ferro - Ele beija minha cabeça e seguro-me cada vez mais para não chorar - Você sabe que muitas pessoas não aguentam tão bem assim? Elas as vezes se perdem no caminho e acabam indo para o lado errado.

– Eu não sei meu caminho - Falo ao me virar e olhá-lo nos olhos.

– Você vai descobrir. Sei que parece um borrão agora, como se o futuro fosse uma grande tela preta que te assusta... Mas tudo bem, porque você não está sozinho - Ele toca meu rosto com graciosidade - Eu estou aqui com você, eu vou lutar essa batalha com você e por você!

Suas palavras são tão sinceras, sua voz suave, e seu olhar vidrado no meu, como se pudesse entrar na minha alma e acalmá-la de forma que ninguém mais consegue. É ele quem eu quero do meu lado quando meus sonhos se realizarem, e que quero ao meu lado quando eles não se realizarem. Desde que o tenha, nada mais importa.

– Obrigado! - Agradeço, aproximando meu rosto de seu peito, podendo ouvir seu coração bater de forma tão serena, que soa como som para meus ouvidos.

Alguns minutos depois, meu celular desperta para me lembrar de tomar o último comprimido do remédio para o pé. Zac o pegou em cima da mesa e o traz para que eu pudesse destravá-lo.

– Eu preciso pegar o remédio lá no meu quarto - Digo, já me preparando para levantar.

– Não, eu pego pra você - Zac diz.

– Ta bem, está em cima da mesa do computador - Respondo-o - Vou pegando o copo com água.

– Não pode só esperar?

– Por acaso eu vou ficar te fazendo de empregado aqui? - Brinco. Ele da um sorriso olhando para mim com as duas mãos na cintura - Eu só vou pegar o copo com água, relaxa!

– Okay... Vou lá em cima em então! - Zac vira-se correndo em direção a escada.

Dirijo-me lentamente até a cozinha, a cada passo mais próximo eu poderia sentir um cheio diferente, não um cheiro bom, mas algo estranho. Quando chego perto do arco da cozinha, o cheiro de queimado está dominando o ar do cômodo, fazendo-me arregalar os olhos e deparar com a panela do macarrão sem metade da água e todos grudados e secos.

– Mas que merda - Caminho rápido até o fogão para apagar o fogo.

Em uma ação sem pensar, seguro o cabo da panela de ferro sem proteção nas mãos, fazendo minha pele arder com menos de dois segundos em contato com o cabo. Solto com um pequeno grito enquanto sacudo a mão com dor. Vejo o quanto a palma de minha mão está vermelha e a levo para debaixo da água gelada da bica.

– O que aconteceu? - Zac pergunta ao se aproximar normalmente do arco. Assim que seu olhar chega à mim, o me vê com a mão debaixo da água e o cheiro de queimado. Ele rapidamente corre até mim preocupado - Você se queimou?

– Não, não... Eu acho que não - Digo - Eu vou ficar bem... Já o nosso jantar, não posso dizer o mesmo.

– Droga - Ele olha para a panela.

– É, eu acho que não deu muito certo - Fecho a bica e pego o pano para secar minha mão que ainda ardia.

– Desculpa, eu estraguei tudo.

– Não, ta tudo bem - Seguro seu braço com minha mão não enfaixada e o viro para mim - Não se preocupa, eu adorei... Mesmo sem comer - Dou uma risada para deixá-lo mais tranquilo - Acho que vamos ter que pedir uma pizza, o que acha?

– É pode ser!

– Esquenta com isso não, vamos - Seguro sua mão e o retiro da cozinha.

Ligo o ventilador da sala para amenizar o cheiro de queimado e Zac se aproxima com o telefone residencial em mãos.

– Eu pago a pizza! - Zac diz.

– Ah não, parou... Deixa que eu pago!

– Não!

– Qual é, Zac?! Você ta sempre tentando me agradar, fez essa surpresa incrível... Me deixa fazer isso por você, okay? - Digo.

Ele me encara pensativo. Dou uma risada, aproximo-me e lhe dou um rápido selinho, fazendo-o concordar com minha escolha. Ligamos para pizzaria e enquanto aguardávamos a entrega chegar, assistimos a outro filme... Desta vez eu posso confirmar que era "Marley e Eu", pois eu estava realmente assistindo!

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Não demorou muito para a pizza chegar. Comemos sentados no sofá com as pernas cruzadas. Cortamos a pizza em fatias. Gosto dessas coisas, vejo muito em filme americano as pessoas comerem pizza em fatia e cobertos com edredom e tudo mais. Foi exatamente como foi minha noite, tendo a melhor companhia do mundo, uma pizza de calabresa deliciosa cortada em fatias e um bom filme.

Tarde da noite, Zac me ajuda a arrumar as coisas na cozinha e limpar o refrigerante, que pra variar eu deixei cair no tapete da sala. Ainda não sei como eu consigo me manter vivo! Sou uma das pessoas mais estabanadas do mundo... Ou a mais desligada.

Enquanto ele lavava os copos que tomamos refrigerante, eu estou dobrando o papelão da pizza. Posso estar viajando um pouco, mas imagino como seria a minha vida com ele, fazer essas coisas de casal, morar juntos, conversar sobre o dia enquanto os dois fazem as tarefas de casa. Não sei se estou errado em pensar assim, algumas pessoas acreditam que sim, mas eu penso que quando você realmente gosta de alguém, você quer passar o resto da sua vida com essa pessoa. Zac é a única pessoa que me entende e me aceita do jeito que eu sou, com meus erros, defeitos, até mesmo como o modo em que lido com as coisas e às vezes quebro algo ou acabo me machucando. Então é isso, eu imaginei como seria minha vida com ele, e eu gostei!

– Eu vi que colocou a prancha em cima da sua cama - Zac comenta secando os copos.

– É... Seria idiota eu falar que também durmo abraçado com ela? - Falo dando uma risada envergonhada.

– Não, de forma alguma... Seria fofo - Ele responde.

Antes que eu pudesse respondê-lo, recebo uma mensagem no meu celular,ao olhá-la, é minha Mãe avisando que já sairão da festa e perguntando se eu já tinha jantando ou ia querer que eles levassem alguma coisa. Meu coração começou a ficar tão acelerado que eu sinto meu rosto a esquentar.

– O que foi? - Ele pergunta.

– Nada - Respondo, tentando não tremular minha voz.

– Já te conheço tempo o suficiente para saber que você está nervoso, o que foi?

– É que meus Pais estão chegando - Digo, descendo meu olhar e já esperando que ele fosse dizer algo do tipo "Eu não quero me esconder" ou sei lá.

– Ta bem, eu vou indo então - Diz normalmente, sem qualquer insinuação de estar chateado comigo.

– Foi mal, Zac, eu...

– Não se preocupa, eu sei... Eu te entendo e você sabe disso... Eu não vou ficar bolado com você - Ele se aproxima e me beija devagar, um beijo tão bom e tão duradouro para mim, igual aos filmes de romance, quando duas pessoas apaixonadas se beijam antes do final do filme.

É engraçado, já que às vezes a minha vida parece um filme de romance e outras é a vida real. Talvez isso me assegure na sanidade para poder aguentar a dureza do dia a dia e também me ajuda a relaxar para que eu não enlouqueça de vez.

Já me despedindo dele na porta, antes que vira-se para a rua, ele me beija no rosto e olha para mim.

– Fique bem. Qualquer coisa me liga, por favor, eu vou estar sempre aqui!

– Obrigado!

– Depois me fala como ficou a sua mão.

– Pode deixar, eu te falo - Dou um sorriso olhando-o. De fato eu queria poder eternizar esta noite, afinal, quem não iria querer? Eu nunca tinha tido nada perfeito na minha vida antes, não sei o que é perfeição, mas sei que esta noite chegou bem perto disto.

O abraço sem querer soltá-lo nunca mais, ele me aperta um pouco mais forte e então afasta-se devagar. Observo caminhar pela calçada, indo em direção à esquina da rua, e devagar, saindo do meu campo de visão.

Desço meu olhar e entro em casa. Olho para a sala vazia e a televisão que mesmo no mínimo, agora soa tão alto.

Não fico sozinho por muito tempo, minha família chega alguns minutos depois e contando como foi a festa e que todos perguntaram por mim. Eu duvido que tanta gente tenha sentido minha falta, ao começar pelo meu primo, nem próximos somos.

Depois de ouvir tudo que tinham para dizer, fui para meu quarto, onde fiquei enrolando na cama por pelo menos uma hora, até cair no sono.

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Depois de acordar e me arrumar, ligo meu notebook para escrever mais uma história e novamente me perco nas conversas com meus amigos e outros sites. Estou conversando pelo chat enquanto analiso minha time line e deparo-me com uma foto de Ana Beatriz e Leonardo em um parque aquático.

Penso que só poderia ser uma foto antiga, mas infelizmente eu estava errado. Ela realmente foi com ele para o parque aquático, mesmo sabendo de tudo que aconteceu. E nem somente por isso, mas por todas às vezes que ela foi deixada de lado por ele, para que ele pudesse chamar sua melhor amiga, Amanda... Ou quando ele saiu várias vezes com seus amigos da faculdade e não a convidou, nem se quer perguntou se ela poderia ir. E quanto a mim, a considerei uma amiga de verdade, que não a deixava em segundo plano e sempre tentei ajudar.

Eu não sei deixar ninguém partir, eu não sei escolher, excluir, deletar. São as pessoas que resolvem me deixar, e dói quando isso vem de um amigo que você considerava bastante. Não vou falar com ela agora e nem depois, ela sabe o que faz da vida e não tenho nada com isso, Ana escolheu um lado e não posso obrigá-la a ser do meu. Tem gente que vai me perdendo, me deixando escapar. Ela pode não enxergar agora, no entanto ele só está fazendo isso porque sabe que ela ficou do lado dele e quer agradá-la, mas isso vai acabar. Ela não pode ter os dois, e é péssimo pra mim, saber que ela o escolheu. Então percebo que a importância que eu pensava ter, na verdade, nunca existiu.


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