Por mais que se tivesse passado uma semana, Felicity ainda não tinha se acostumado a ter Oliver Queen vivendo sob o seu teto. Não que ele a incomodasse ou algo assim, mas era surreal, tão inimaginável quanto o plano maluco de Oliver para deter Slade. Porém, em momentos de cansaço, como acordar as três da manhã morrendo de sede, era fácil de se esquecer que havia mais alguém ali. E foi exatamente por isso que ela saltou quando avistou o perfil escuro de um adormecido Oliver no sofá.

Ela parou por um instante sob o batente da porta, observando como os seus membros longos e musculosos pareciam desproporcionalmente maiores do que o seu sofá vermelho, seus braço esquerdo repousando no chão. Parte das pernas de Oliver estavam sobre o braço do sofá, o cobertor escorregando.

Felicity suspirou e se aproximou. Tocou gentilmente o ombro do ex-bilionário e sussurrou seu nome. Seus olhos se abriram instantaneamente procurando pelo perigo.

– Está tudo bem. – Continuou usando o tom baixo. – Exceto pela sua coluna. Por favor, Oliver, venha para a cama.

Ele arqueou uma sobrancelha e ela corou, tendo noção do significado das suas palavras.

– Não que eu esteja sugerindo alguma coisa. Sobre ter você na minha cama. O que não seria completamente ruim. Esqueça isso. É só que meu sofá parece ser pequeno demais pra você, e não dá pra ser o vigilante de Starling com dores nas costas. – Ela fez uma pequena pausa para respirar e continuou, as bochechas ainda mais vermelhas. – Eu poderia ficar com o sofá de qualquer maneira. Eu sou menos do que você. Na realidade eu talvez nem volte a dormir. Eu ainda preciso encontrar um emprego, sabe. Eu poderia fazer isso me empanturrando de sorvete de menta.

Oliver se espreguiçou como um gato e se sentou, observando a loira abrir e fechar a boca várias vezes.

– Eu entendi o que você quis dizer, Felicity. – Ele sorriu. – Mas eu não vou roubar a sua cama. E as três da manhã não é a melhor hora pra se procurar um emprego e se empanturrar de sorvete.

– Eu já dormi o bastante. – Felicity retrucou. – E não sou eu quem pula de telhados atrás dos bandidos. –As mãos da hacker estavam nos seus quadris.

Oliver suspirou.

– Há alguma forma de eu vencer essa discussão? – Ele bufou quando ela balançou a cabeça com um sorriso.

Ele suspirou e se levantou. Antes que qualquer um dos dois pudesse acrescentar mais algum comentário, um apito estridente começou a soar do tablet de Felicity. Ela o apanhou da mesinha de café e começou a digitar freneticamente.

– O que é isso? – Oliver se aproximou por trás, observando por cima do ombro dela.

– Alguém colocou um transmissor nos computadores do SCDP e agora pode acessar todos os casos. – Ele podia ouvir o sorriso na voz de Felicity. – Houveram três chamadas sobre uma potencial briga de casal violenta no centro. A patrulha de plantão está lidando com um assalto armado numa loja de bebida nos Glades. O que acha de dar uma visitinha?

Sem sequer responder, Oliver já estava calçando os sapatos e procurando pelo seu casaco. Felicity fez o mesmo, mas antes que pudesse alcançá-lo, o de Oliver já estava sobre os seus ombros. Ele pegou a sua mão, e ambos tentaram ignorar os pequenos pulsos elétricos que o simples toque carregava enquanto corriam escadas abaixo.

– Você fica com o capacete.

– Oliver... – No instante seguinte, ele já havia gentilmente colocado o capacete na cabeça dela, ajustando as tiras com os dedos ágeis.

Quinze minutos foi o tempo que eles precisaram para chegar até a Fundição*. Quinze minutos que Felicity passou agarrada firmemente as costas de Oliver, os olhos fechados, enquanto eles voavam pela rua em velocidades absurdas.

Ela desceu a escada lentamente enquanto ele corria para vestir seu traje de couro verde. Seus joelhos tremiam, e ela não sabia dizer se era por causa da corrida do inferno ou do contato exacerbado com o corpo de Oliver Queen. Talvez os dois.

Ela se sentou na sua escrivaninha e ligou a esquadra de computadores, colocando seu comunicador no lugar. Depois de apertar algumas teclas, ela tinha uma clara visão do apartamento em questão através das câmeras de segurança de um prédio vizinho. Ela também puxou os áudios das chamadas dos vizinhos e removeu as vozes principais e os ruídos, porém ela apenas ouvia os grito inteligíveis. No instante seguinte Oliver estava atrás dela, completamente vestido no pecaminoso traje de couro, o arco em punho e a aljava cheia.

Felicity lhe deu as coordenas necessárias e ele saiu em disparada, deixando-a sozinha.

Isso a deu a liberdade de apoiar os cotovelos na mesa e deixar a cabeça cair nas mãos, respirando profundamente. Ela odiava ser tão afetada assim por Oliver. Não, ela odiava que ele surtisse tanto efeito nela, e ela tão pouco nele. Mesmo quando Barry esteve em Starling e ela esteve em Central City, ela se sentia como se estivesse traindo o parceiro, mesmo que eles não fosse mais do que isso.

Bateu os punhos no alumínio e se focou unicamente em guiar o vigilante em sua missão.

***

Oliver tentou se conter enquanto outra vez voava pelas ruas de Starling na sua motocicleta, desta vez só. Ele sentia falta dos braços quentes de Felicity ao seu redor, agarrando-se a ele como se o mundo tivesse chegado ao fim. Com um suspiro ele virou a esquerda aonde ela mandou e continuou a correr. Era frustrante estar tão perto dela e ao mesmo tempo tão longe, impossibilitado de chegar ao seu lugar almejado.

Com uma leve risada ele reparou o quão simplesmente ele havia concordado em ficar na casa de Felicity, sua melhor amiga –e ele odiava que fosse apenas isso- , quando anos antes se recusava terminantemente a morar com Laurel, com quem compartilhava um relacionamento de longo prazo. Tudo bem, as circunstâncias eram completamente diferentes, ele era uma pessoa completamente diferente, mas a ironia ainda o fazia rir.

– Oliver. – A voz de Felicity soou pelo comunicador, o tirando dos seus pensamentos. – Próximo bloco. Prédio de mármore. Terceiro andar.

– Certo. – Ele acelerou a moto ainda mais, focando-se unicamente na sua missão.

Saltou para o chão agilmente assim que o veículo estava seguramente estacionado, e avaliou a melhor maneira de prosseguir.

– Houve uma nova chamada. As coisas estão esquentando. – Felicity o estava apressando.

Com um ligeiro menear de cabeça, Oliver atravessou a rua e atirou uma flecha-gancho no andar de cima, usando-a para se içar até o terceiro andar e irromper pela janela indicada por Felicity. Avaliou a cena por um instante, observando um casal nada comum engalfinhado numa violenta briga. A garota ruiva estava sendo prensada no chão pelo seu agressor, e ambos tinham sangue espalhado pelas roupas.

Disparou em direção a ambos e arrancou o homem de cima da mulher, ambos lutando por um instante. Sem hesitar, o Arqueiro disparou três flechas, que fizeram com que o agressor fosse preso a parede atrás dele. Com três passos rápidos, acertou um soco no seu maxilar, nocauteando-o. Uma busca rápida o fez encontrar uma .9 mm no bolso traseiro, que ele rapidamente desmontou.

– Tudo bem? – Perguntou para a garota, a voz soando grave com o uso do modulador.

Ela assentiu rapidamente, os olhos arregalados, cheios de adoração. Oliver assentiu e disparou outra flecha gancho, desta vez para o chão, a fim de usá-la como tirolesa até a rua.

– Felicity, ligue para Lance e dê as coordenadas do pacote. – Sussurrou e preparou o arco para descer.

– Você é o Vigilante de Starling. – A ruiva murmurou.

Oliver se virou e lhe deu uma piscadela, saltando pela janela estilhaçada, uma única flecha escapando da sua aljava.

O que ambos, Oliver e Felicity, não viram, foi quando, ainda fascinada, a ruiva apanhou a flecha do chão e observou a janela pelo qual o vigilante tinha saltado. Caindo de joelhos, usou a flecha para desenhar um coração trespassado pela flecha do Cupido no lado esquerdo do peito, um sorriso insano tomando conta do seu rosto.

Oliver Queen mal sabia o quanto os seus problemas aumentariam a partir dali.