O Estranho que Apareceu na Minha Vida escrita por Bloody Butterfly


Capítulo 5
Amigos retardados para a garota problemática


Notas iniciais do capítulo

Oiii, pessoal! Estou feliz pelos acompanhamentos e decidi atualizar logo a fic. Bom, espero que gostem!



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POV. Bianca

Fiquei feliz por ter conhecido aquele grupo. Pareciam ser um bando de delinquentes juvenis prontos pra invadir propriedade provada ou difamar patrimônio público, ou seja, minha cara. De novo, nunca cheguei a fazer isso, mas estava tão deprimida com a minha vida que ter gente como eles ao meu lado seria bom.

Passei o resto das aulas rabiscando poesias no meu caderno, hábito que adquiri. Meus pensamentos iam a vinham sem parar, alguns eram banais, outros, lembranças. Eu me recordava da minha mãe mais nítidamente do que queria, seus cabelos castanhos cor de mel, seu sorriso doce e seus biscoitos deliciosos. A depressão dela refletia em mim como uma sombra, mais fraca, porém ainda devastadora. Olhei para minhas mãos em cima do caderno, minha blusa cobria as cicatrizes dos pulsos, as coisas que eu preferia esconder. Ainda haviam feridas vermelhas naquele emaranhado de riscos brancos sobre a pele, as mais recentes. Foi um dos hábitos que adquiri, tudo por causa da minha mãe. Ela descontava seus sofrimentos nos remédios, eu, em mim mesma.

Pensar naquilo me deixava mal. Me fazia querer mesmo ter estao dentro daquela casa no dia do incêndio, talvez para me salvar, talvez para sentar no chão e esperar o fogo me consumir também. Essas ideias me apareceram na cabeça depois que o pessoal da escola descobriu sobre a morte da minha mãe. Minha inimiga mais mortal, Gaby, nunca mais me deixou em paz.

–Uma pena que você não tenha morrido junto naquele incêndio. Do jeito que sua mãe te odeia deveria ter pôsto fogo na casa com você dentro. Seria o melhor. –falava sempre.

Depois disso as brigas ficaram piores. Caí em mais crises de detenções e brigas. Lembro que apanhei muito por causa dela pelas mãos do namoradinha daquela vadia. Ele era do clube de luta e me provocava a ponto de me fazer querer enfrentá-lo. O que fiz. Muitas e muitas vezes. Perdi a maioria. Mas ainda os odeio, odeio com um ódio venenoso. Por causa dela eu me cortava, por causa dela eu chorava. E, em contra partida, a fiz chorar muito também. Perdi a conta das vezes que bati nela, é claro que depois o namorado dela, Kyle, vinha atrás de mim me dar uma surra, mas valia a pena. Só porque conseguia fazer ela sangrar como eu sangrei, mesmo que apenas um pouco.

Nunca fui a um psicólogo, mas sei que tenho tendências genéticas à depressão. E, provavelmente, tendências suicidas. Acho que isso explicaria essa vontade de desistir. Mas... a gente sempre tenta achar razões para as coisas ruins, não é?

Katie sabe. Lembro do dia que ela descobriu sobre os cortes no pulso, foi um show de gritos violentos e tapas. Katie tinha vindo a minha casa de surpresa, me encontrou com minha mãe deitada no chão, tendo colvulsões, e eu chorando ao seu lado em desespero, os pulsos cortados. Ela ficou em desespero. Chamou a ambulância. Recordo-me de sangrar muito de novo, depois desmaiei. Quando acordei no hospital não queria vê-la. Me recusei a deixá-la entrar no meu quarto, dizendo para as enfeimeiras manterem-ne fora. Foi quando Katie subiu no prédio pela escada de incêndio e invadiu meu leito pela janela. Ele gritou comigo, chorou, nós duas choramos, sem muito para nos consolar. Ela me fez prometer que não faria nenhuma besteira, só isso.

Depois de alguns dias passamos a esquecer o assunto. Katie é minha melhor amiga. Sempre.

Acordei desses devaneios quando alguém estalou os dedos na minha frente. Pisquei, os alunos já estavam saindo da sala. Yury sorriu, cruzando os braços ao meu lado.

–Céus vocês dois são iguaizinhos! -ele apontou para Will, que parecia estar em outra dimensão, olhando para a janela.

–WILL! -Marcos quase se jogou em cima do garoto, fazendo-o dar de testa na janela.

–Mas o quê...? -Will esfregou a cabeça- Marcos, vá se ferrar, mano!

Marcos deu um sorriso debochado. O rapaz se vestia como um típico maloqueiro, blusa larga assim como os jeans surrados, tênis desamarrados, mãos nos bolsos e a expressão maliciosa. Ele era mais baixo que Will, sua pele era mais escura e seus cabelos castanhos-escuros eram encaracolados, os olhos eram brincalhões, cinzentos.

–Alguém tem que te acordar, nem venha me culpar! -ele mostrou-lhe a língua, se apoiando na mesa ao lado- Vamos?

–Cadê o Gabe? -perguntou Yury.

Ele era mais fácil de reconhecer. Era o mais alto da turma, a pele pálida, os cabelos negros lisos eram desarrumados e cortados curtos. Vestia roupas mais comportadas, blusa cinza de manga comprida com finas listras pretas e calças pretas negras também, usava All-Stars e uma corrente de para ao redor do pescoço.

–Quem é Gabe? -perguntei, não lembrando do nome.

–Ninguém apresentou Gabe? -perguntou Marcos com um sorriso malvado- Ah, é mesmo. Ele saiu da sala antes da primeira aula começar.

–É só um metaleiro folgado! -Yury deu de ombros, sorrindo pra mim- Se eu fosse você ficaria longe dele.

–E Isa e Artie? -perguntou Will, passando a mão pelos cabelos castanhos.

Marcos riu.

–Quer apostar que estão se agarrando no corredor?

Will fez uma careta.

–Não duvido de mais nada. Vamos logo, tô morrendo de fome!

Isa e Artie estavam mesmo se agarrando no corredor. Quando saímos, com as mochilas nos ombros, os dois estavam nos armários entre beijos. Yury fez cara de nojo e Marcos começou a rir. Will só revirou os olhos. Marcos se apoximou dos dois.

–Ei, vocês vem pra pista ou vão direto pra cama mesmo?

Isa se soltou de Artie e lhe deu um tapa, o rosto ficando vermelho. Isa era uma menina meio largada, pelo menos parecia. Era morena de cabelos repicados e olhos claros, sua pele era bem bronzeada e seu corpo era de dar inveja.

–Idiota um, só porque não pega ninguém fica embaçando aí! -reclamou ela, jogando os cabelos por cima dos ombros.

–Idiota um? -perguntei, contendo um sorriso.

Ela devolveu o sorriso com uma expressão divertida.

–É mais ou menos isso. Eu classifico como: Idiota Um -ela apontou para Marcos- Retardado dois, -ela se virou para Yury- E Débil Mental três. -terminou com Will.

Antes que os três pudessem protestar uma voz falou atrás de nós:

–E aí, gente? -um rapaz apareceu do corredor.

Esse eu não conhecia. Estava todo vestido de preto, jaqueta de couro, calça skinny e coturnos, mas seu cabelo era loiro bem claro, assim como a pele.

–Ah, -disse Isa- E esse é o Babaca quatro.

Ele ergueu os olhos para ela com um sorriso sarcástico, provavelmente se perguntando sobre o quê estávamos convesando. Seus olhos eram azuis cristalinos, bonitos.

–Esse é o Gabe. -esclareceu Yury- O gótico rabugento.

–Isso quem fala é o idiota que bateu o carro dos pais justo quando tomou um porre.

Will suspirou.

–O amor entre vocês é admirável, mas agora dá pra alguém me dizer onde a Amber foi parar?

Gabe fungou.

–Ela estava esperando a gente lá fora.

–Então vamos partir! -exclamou Marcos, dando pulinhos.

Enquanto saíamos fiquei conversando com Isa. Aparentemente eles eram amigos desde o começo do ensino médio. Ela era bem simpática, penso que podemos ser boa amigas. Enquanto conversávamos Amber apareceu, tinha um sorriso radiante no rosto.

–Alguém se ferrou bonito! -falou com alegria, olhando para Gabe- E acho que foi você!

–O que quer dizer, projeto de gente? -inquiriu o garoto, de mal humor.

O sorriso dela se tornou ua expressão irritada.

–Primeiro: projeto de gente é a sua mãe. Segundo: alguém arrebentou seu skate.

Ele ficou chocado.

–Tá zoando?

Ela deu um sorriso de novo, maliciosa.

–Tô nada. Acho que foi o Diego.

Ele foi direto para o estacionamento, o rosto vermelho de raiva. O seguimos. Quando ele parou estava de frente a uma coisa que um dia devia ter sido um skate, mas agora parecia todo desmontado.

–Filho de uma puta! -praguejou ele.

–Ah, fala sério! -Yury se aproximou por trás, olhando o estrago- Foi porque você bateu no irmão dele?

–Aposto que foi. -respondeu Gabe, amargo- Agora que eu arrebento a cara dele também! Foi o irmão dele que me deu um soco, quem mandou eles se meterem comigo?

–Posso ir junto? -pediu Marcos- Aquele lá também está me devendo umas.

–É mesmo. -Will lembrou, as mãos nos bolsos da calça, olhou para Marcos- Ele estava de paquera com a Rebecca.

–Quem é Rebecca? -questionei, entrando na conversa.

Um sorriso coletivo tarjou os lábios de todos, menos de Marcos, que corou um pouco.

–Rebecca é a paixonite do Marcos. -contou Will, rindo- Desde a oitava série e ele nunca trocou duas palavras com ela. Outro amor platônico de colegial.

–É sério? -dei risada, vendo as bochechas de Marcos se pintarem de vermelho.

–É. Os dois estudam juntos desde o fundamental. Só falta ele babar quando olha pra ela.

–Idiota. -debochou Gabe, desfazendo a expressão pesada.

–Dá pra gente ir logo? -reclamou Amber- Estou com fome!

–Vamos. -disse Will.

Amber também parecia uma pessoa legal. Era mais baixa que todos, na verdade, se não fossem pelas roupas ela ia aparentar ser uns quatro anos mais nova, parecia mesmo uma bonquinha. Ela tinha cabelos cor de areia, que não chegavam a ser loiros nem castanhos e iam até a cintura, os olhos eram escuros como piche e a pele queimada de sol. Estava vestida como skatista, camisa larga e shorts jeans curtos e tênis. Era uma pessoa mais temperamental do que se esperava, mas como o ditado diz "Toda baixinha é invocada". Eles pareciam uma gangue às vezes. Amber falava sobre as brigas que tinha, só quando tirou o casaco vermelho percebi os arranhões e curativos nos cotovelos. Sorri, talvez não fôssemos tão diferentes assim.

–Você briga? -ela pareceu surpresa quando lhe contei sobre os conflitos na escola anterior- Parece ser tão fresca.

Revirei os olhos.

–Não sei por que todo mundo acha isso. Mas se precisar eu até gosto. -dei um sorriso de canto- As garotas do outro colégio são mais patricinhas que as deste, por mais incrível que pareça. Detesto gente assim.

Amber concordou com um movimento de cabeça, parecia animada por achar alguém parecida com ela.

–Ouviu essa, Gabe? -ela falou mais alto para os garotos que estavam atrás- Você arrumou uma parceira de luta!

Ele franziu o cenho.

–Essa guria aí? Até parece!

Dei um sorriso maldoso.

–Essa guria tem nome. -falei, arqueando as sobrancelhas- E eu até lutaria com você, mesmo se tivesse que apanhar ia conseguir acertar uns socos.

Ele devolveu o sorriso com malícia.

–Sei. Não parece, guria.

Fiz cara feia.

–Tenho nome, sabia?

Ele deu de ombros.

–Ninguém ainda me disse qual é.

–Bianca. -contei, lembrando que eles não tinham nos apresentado direito. Ele franziu o nariz, rindo.

–Ah, legal. Agora posso dizer que adoraria lutar com você, guria. -retrucou, me ignorando completamente- Gosto do seu tipo.

–Por que não briga com a Amber então? -perguntei.

Ele fez uma careta.

–Com a anã? -surpreendeu-se o rapaz- Não posso. Isso é violência contra os animais, o IBAMA me pega!

Amber lhe deu um soco forte que só lhe atingiu o braço.

–O IBAMA já devia ter te prendido. Ainda não conseguiram descobrir sua espécie. -emburrou-se ela.

Dei risada. Eles pareciam ser ótimos.

–Chegamos. -anunciou Will, apontando para uma lanchonete.

Parecia ser o ponto de encontro deles de sempre. Entramos convesando de boa, mas meu sorriso desapareceu assim que a vi. Parada no balcão com aquele sorriso maldoso e a cara cheia de maquiagem. Gaby sorriu pra mim, aquela cara que sempre fazia para me provocar. Lembranças me atingiram como socos, o namorado, Kyle, me olhava com o mesmo sorriso de malícia, os braços ao redor da cintura de Gaby. Minha mãos começaram a tremer de raiva quando eles se aproximaram, um nó se formou na minha garganta, ódio queimando nos olhos. Foi aquele momento que eu sabia que ia ter briga.


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Notas finais do capítulo

Ficou bom? Quis mostrar como eram os personagens na aparência física, pra vocês conseguirem imaginar melhor. Mas e aí? Quem acha que vai rolar problema nesse encontro?



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