O Tratador de Leões escrita por Last Rose of Summer


Capítulo 3
Capítulo dois — preparado para o circo


Notas iniciais do capítulo

Hallo~
Eu sei que eu demorei, mas minha frequência de postagens é meio feiosa assim mesmo HAUHAUA Minha escola fica puxando o meu pé e eu meio que só tenho tempo nas férias (mesmo que eu não vá ter férias do estágio ;-;)
Eu não abandonei a fic nem pretendo abandoná-la, viu? Vou levá-la até o final e cês podem vir puxar minha orelha se quiserem se eu tiver demorando demais :p
Anyway, espero que gostem do capítulo



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Caspian se jogou no sofá, os cabelos escuros ainda molhados por causa do banho, e colocou os pés em cima da mesinha de centro. Sua mãe não estava em casa, então não havia risco de ela vê-lo fazendo aquilo e brigar com ele. Caspian buscou o controle com uma das mãos e ligou a televisão num canal aleatório.

Não havia nada para fazer.

Geralmente, naquele horário, ele estaria trabalhando, mas fora demitido de seu último emprego como garçom porque fora flagrado beijando o filho de seu chefe. Não era a primeira vez que ele perdia um emprego — o anterior fora pela quantidade de faltas, e ele se demitira do emprego antes desse porque o achava muito enfadonho. Ainda não tivera coragem de contar para a sua mãe sobre sua última demissão, porque sabia que ela lhe lançaria aquele olhar cansado, bagunçaria seus cabelos e diria que compraria um jornal no dia seguinte para que ele pudesse começar a procurar algum outro trabalho.

Algumas vezes ele preferiria que ela brigasse, gritasse que ele era inútil, porque talvez assim tomasse vergonha na cara e começasse a trabalhar de verdade. Sua mãe estava juntando cada centavo que podia para mandá-lo para uma faculdade, mas Caspian não a ajudava nem estudando para tentar um vestibular, nem trabalhando para juntar dinheiro também.

Sim, ele era inútil, mas não sabia ser de outra maneira. Era só começar a trabalhar que ele se cansava da rotina, e era só começar a estudar que ele morria de tédio. Além disso, qualquer trabalho que ele encontrasse pagaria muito pouco pelo seu tempo precioso, e ele não conseguiria parar de pensar que estava desperdiçando a sua vida em uma coisa que detestava.

Levantou-se quando começaram os comerciais e foi até a cozinha pegar alguma coisa para comer. Havia um recado de sua mãe na geladeira — ela sabia. Caspian deu um sorriso triste, mas não estava exatamente surpreso. Sua mãe tinha um talento sobrenatural para descobrir as coisas — ou quase isso. Ela pedia, no pequeno bilhete em post-it amarelo, para ele colocar o lixo para fora, lavar a louça, pegar a correspondência e manter os pés sujos longe da mesinha de centro.

Ele suspirou. Odiava fazer qualquer tipo de tarefa de casa, mas sabia que sua mãe chegaria cansada mais tarde e ele se sentiria culpado por ignorar a mensagem. Caspian começou por lavar a louça e resmungou alguma coisa ao ouvir a televisão anunciar que eles voltariam com o filme.

Depois de intermináveis minutos, finalmente terminou de colocar tudo para secar e seguiu para a lixeira. Caspian morava num apartamento de seis andares, localizado numa parte mais ou menos pobre da cidade, perto do centro, e o seu andar era o último. Não havia elevador, então ele era obrigado a descer todos os lances de escada para colocar o saco de lixo na grande caçamba coletiva que eles mantinham por lá.

Era grande, fedida, e estava quase sempre transbordando, uma vez que o caminhão de lixo raramente passava por ali para fazer a coleta.

Ele foi, depois de se livrar do lixo, até onde ficava a correspondência e procurou pela sua — 603. Caspian pegou sem olhá-las e subiu tão depressa quanto suas pernas lhe permitiram. Se chegasse rápido, poderia pegar o filme antes da metade.

Caspian chegou esbaforido ao apartamento, fechou a porta que deixara aberta por pura preguiça de fechar e deitou no sofá novamente, antes de jogar a cartas em cima da mesa de centro. Elas caíram espalhadas, e foi só então que ele percebeu um envelope diferente, branco, que pegou por curiosidade.

Tinha seu nome como destinatário, o que era estranho.

Ninguém nunca lhe enviava cartas.

Uma semana depois

Caspian acordou com o barulho do alarme em seus ouvidos e resmungou um palavrão ao ver o horário. Odiava acordar a qualquer momento antes das nove horas, qualquer que fosse o motivo para ter que fazê-lo. Naquele dia em particular o motivo era uma longa viagem até a cidade onde ficava o circo de seu tio.

Ele agora era um homem rico, um herdeiro.

Ficara surpreso ao ler a carta de seu tio na semana anterior, falando sobre o desejo de deixar o circo que administrava para ele uma vez que morresse. Ficara ainda mais surpreso ao, no dia seguinte, receber um telefonema de um advogado indicando que o enterro do tio já acontecera e que o testamento fora lido.

Miraz deixara cinquenta por cento de todo o seu dinheiro — o que era muito, muito mais do que Caspian jamais sonhara ter na vida — para ele, dinheiro que seria depositado em sua conta tão logo o testamento fosse validado. Também herdara um circo para administrar, e já fora avisado de que não poderia vendê-lo.

Não importava: com todo aquele dinheiro que possuía, era bem capaz de contratar um administrador para fazer todo o trabalho por ele e curtir a vida.

Antes disso, porém, fora aconselhado pelo advogado a visitar o circo. Alguma coisa sobre a possibilidade de os outros herdeiros encrencarem com o fato de o circo ser dele e tentarem entrar com um recurso. Era por este motivo que ele estava acordado naquele horário, descendo os seis andares de escada de seu prédio, à espera do carro que o advogado dissera que iria mandar e que devia chegar a qualquer momento.

Seria uma viagem de três horas — e a única coisa que o deixava mais feliz era saber que poderia dormir por todas as três horas até chegar lá. É claro que ele não queria ver a cara de quem estava dirigindo o carro: eram sete horas da manhã, e o motorista teria que ter saído muito, muito cedo para buscá-lo. Devia estar cheio de olheiras e com um mal-humor terrível.

Caspian lançou um longo olhar impaciente para a rua vazia e se encolheu dentro do casaco quando o vento soprou. Alguns segundos depois, porém, um carro escuro passou e estacionou em frente ao seu prédio. A janela foi aberta e o motorista — um homem velho, com cabelos já brancos pela idade, sem traços de mal-humor — lançou-lhe um olhar inquisidor.

— Senhor Telmar? — Então ele era senhor, agora. Não estava acostumado com aquele tipo de tratamento e não sabia exatamente se gostava. “Senhor” o lembrava daqueles homens de terno que se achavam demais por terem muito dinheiro. Ele não queria ser assim.

— Caspian — pediu. — E sim, sou eu.

Ele abriu a própria porta e entrou antes que o motorista sequer pensasse em sair de seu assento. Não era uma dama e tinha mãos funcionais, não queria que as pessoas fizessem coisas para ele quando podia fazê-las — a não ser que essa coisa fosse lavar a louça. Nesse caso, ele não se importaria. Abrir a porta de um carro era, porém, uma tarefa trivial demais.



Ele achou que dormiria a viagem inteira, mas não conseguiu nada além de cochilar por uma hora e meia. Caspian acordou com o carro balançando ao passar por um buraco e com o motorista praguejando alguma coisa num palavreado que não era nem um pouco adequado.

— Está acordado, senhor? — o motorista apontou o óbvio ao olhar pelo retrovisor e vê-lo desperto. — A partir de agora é só buraqueira, mesmo, não tem outro caminho.

Ele suspirou e assentiu. Apoiou a cabeça no encosto do banco e passou a observar a paisagem — árvores e mais árvores, grandes terrenos com apenas uma ou duas casinhas com telhados em cor de laranja e outros com muitos animais pastando.

O cenário aos poucos se modificou para uma cidadezinha, as casinhas uma ao lado da outra, as ruas mais estreitas, as calçadas pequenas e a iluminação esparsa. Depois vieram as cidades maiores, e por fim a placa que indicava que eles chegaram à cidade-destino.

— Vai demorar muito?

— Não, senhor, mais uns cinco minutos.

Caspian olhou para o celular, para ver as horas, e percebeu que eram quase dez da manhã. Não comera nada desde que saíra de casa e seu estômago já começara a reclamar. Ele levou algum tempo decidindo entre pedir ao motorista para parar em alguma lanchonete ou seguir para o circo e tentar conseguir alguma coisa para comer por lá mesmo, e resolveu que preferia chegar primeiro, colocar suas malas onde quer que ficaria, e só então comer.

Recostou-se no banco mais uma vez e observou enquanto os prédios davam lugar a uma rua mais residencial.

Quando a lona surgiu no horizonte, alegre e colorida, Caspian sentiu seu estômago revirar.

Não sabia se estava preparado para encarar o que quer que tivesse que encarar ali. Não era avesso a mudanças, mas também não era do tipo que se jogava nelas de cabeça. Não, não estava nem um pouco preparado.

E nem o circo estava preparado para ele.


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