Bad Things escrita por Melody Malone


Capítulo 5
Henry


Notas iniciais do capítulo

Milhões de desculpas pela enorme demora para postar um capítulo novo. Agradeço pelos comentários, não pude deixar de notar que eles diminuíram muito, fiquei um pouco triste. Espero que gostem mais desse capítulo.



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Conforme todos os dias, acordei antes do horário esperado na velha pensão. Olhei para cama ao lado e Elena ainda estava dormindo. Naquele mesmo instante desci para a recepção do hotel. A garota que havia me atendido a primeira vez que eu cheguei naquela pensão já não estava mais lá, talvez não fosse o horário de trabalho dela ou algo mais. Não que isso fosse extremamente relevante, mas eu estava começando a achar que deveria focar nos detalhes de tudo que se passa em minha volta. Eu sou o melhor caçador de toda a história da Ordem, nenhum monstrinho mexe com a minha mente e sai por aí criando joguinhos como se eu fosse entrar neles. Já era hora de tomar providências.

Eu já ia subir para o quarto quando vi algumas crianças correndo na frente da pensão, elas estavam com cestas alaranjadas nas mãos e fantasias ridículas. Não ridículas de um jeito ruim, mas eram ridículas.

— É Halloween! — exclamou a moça ao meu lado. — Você nunca comemorou?

— Não é um feriado muito comemorado de onde eu venho.

— Entendo. Talvez você queira uns doces para entrar no espírito.

— Entrar no espírito de Halloween é a última coisa que eu quero no momento.

— Ouch!

— Não, você me entendeu mal — eu disse, depois de perceber a arrogância na maneira em que eu falava com ela. Percebi também que eu mal olhei em seus olhos ao conversar. — Me desculpe.

— Tudo bem. Eu já vou.

Modestia à parte, eu sempre fui um galanteador, mas eu acho que o tempo me deixou meio enferrujado. De qualquer maneira, já era hora da Elena acordar. Subi as escadarias que davam até o quarto 11, meu quarto. Enquanto subi as escadas percebi algo que nunca parei pra pensar sobre. Eu nunca vi nenhum outro hospede naquele lugar antes, aquela mulher era a primeira e eu nem ao menos perguntei o seu nome.

— Hora de acordar, love — eu disse gritando enquanto eu entrava no quarto. Dois segundos depois eu percebi que ela já não estava mais na cama.

— Que tipo de pessoa você acha que eu sou, John? Eu não durmo até uma hora dessas.

Eu a olhei de baixo à cima. Ela estava apenas de camisola. Uma bonita por sinal. Estava usando um batom vermelho sangue, seus cabelos estavam de lado e estava se encostando na quina da porta do banheiro, em uma posição que deixava mais curta ainda a camisola que ela vestia. Sem querer parecer perverso ou algo do tipo, mas estava óbvio as intenções dela. Mesmo depois do acontecido com o Joseph, qualquer um podia perceber os sentimentos dela por mim. Acontece que eu não podia me dar ao luxo.

— Vista-se — falei, jogando-lhe um sobretudo. — precisamos sair.

— Posso saber onde?

— Vamos rezar um pouco.

— A igreja de novo?

— Talvez fazer umas escavações.

— Você não está pensando no que eu acho que está pensando, está?

Eu sorri descaradamente para ela.

— Às vezes eu me impressiono com o seu sarcasmo e cara de pau, John.

— É um dom.

Enquanto Elena terminava de se arrumar, eu desci até a recepção novamente e comecei a pensar sobre algumas coisas. Confesso que não sabia o que esperar da minha ida até a igreja. Eu tinha uma intuição e um palpite mas precisava checar antes. Quando eu subia as escadas e reparei não ver nenhum hospede naquela pensão sem ser a mulher nessa manhã, pensei sobre meus sonhos, eles eram tão lúcidos quanto essa mesma realidade. Quando eu sonhei com a igreja destruída, realmente parecia um sonho, eu sentia estar sonhando. Quando eu vi lúcifer na rua pareceu bem real. Quando eu vi crianças correndo com roupas de Halloween, uma mulher que eu nunca vi nesta pensão, uma recepcionista diferente e uma pensão com hospedes que não saiam dos seus quartos, me pareceu real. Eu tive a brilhante ideia de que talvez eles não estavam eu seus quartos, talvez estivessem na igreja, pensei no murmúrio que eu ouvi quando cheguei, parecia a entrada de um hotel para tão poucas pessoas em uma igreja. Estava na hora de checar seu subterrâneo, talvez meu sonho estivesse querendo me dizer algo naquela noite. Se o Joseph estava possuído, por que eu deveria acreditar que tudo que aconteceu antes da biblioteca foi um sonho? Tenho fortes motivos para pensar que a única mente alterada nessa história foi a mente da Elena.

— O que está pensando? Parece tão preocupado.

Eu reconhecia a voz. Olhei para trás mas não reconhecia a pessoa.

— Você a moça com quem eu fui arrogante mais cedo?

— Essa mesmo.

— Eu peço desculpas.

— Você já pediu mais cedo.

Eu esbocei um sorriso. A olhei atentamente, tinha algo nela que a fazia parecer forte e destemida. E ainda era bonita. Não era muito mais alta que Elena, seu cabelo era curto e preto, seus olhos muito azuis e sua pele era bronzeada, não uma cor que ela tivesse nascido, mas uma cor de exposição ao sol, forte demais para alguém que tivesse nascido naquela cidade.

— Me chamo John.

— Irene. — ela disse, estendendo a mão.

— Olá, Irene. — Peguei sua mão e a beijei.

— Galanteador. Sexy.

— Já me chamaram de coisa pior.

Ela olhou para mim e riu. Seus olhos eram muito chamativos, algo que me prendeu a atenção totalmente, tanto que nem percebi Elena descer. Pelo menos até ela se meter entre mim e Irene, literalmente.

— Podemos ir?

— Claro, Elena.

— Eu tenho algumas coisas para fazer, eu já vou. — disse Irene, notavelmente sem jeito. Esse era o efeito "Elena".

— Foi um prazer conhecê-la, Irene.

— O prazer foi todo meu, John.

Enquanto Elena e eu íamos para a igreja, que não era um caminho tão curto assim, eu pude perceber uma provável irritação nela. Talvez o motivo seja ela ter ignorado todas as minhas tentativas de conversa com ela. Quando chegamos perto da igreja dava para ver uma pequena aglomeração e alguns policiais, mas dessa vez era no cemitério. Olhei para Elena que me entendeu, eu fui em direção aos policiais. Elena foi em direção a multidão para ver se conseguia algo mais.

— Oficial.

— Sim!?

— O que aconteceu aqui? — perguntei.

— Alguém roubou três corpos de suas tumbas.

— Que tipo de pessoa faria isso?

— Ainda não sabemos.

O rádio do policial chamou e eu só pude ouvir umas poucas palavras quando ele se afastou: "Nós o pegamos". Fui junto a Elena.

— Descobriu algo?

— Alguns moradores dizem ser o demônio do garoto que morreu. Você descobriu algo?

— Não foi muita coisa. Tirando as mentiras do policial, eu escutei no rádio que eles tinham pego alguém.

— Vamos para a delegacia?

— Não. Não agora. Eu tenho algumas coisas para fazer. Pode volta para a pensão se quiser.

— Você está me dispensando?

— Não. Não exatamente com essas palavras.

Ela me encarou furiosa. Sua expressão passou de 'quero te matar' para 'sem problemas' em um segundo.

— Vamos. Temos algo para fazer na igreja.

— Suponho que isso é um não para o meu pedido — sussurei. Acho que sussurrei muito alto já que ela me olhou quando eu disse isso.

Entramos na igreja. Estava desvatada. O altar estava quebrado, os bancos caídos, a imagem da cruz estava toda pichada. Parecia com o meu sonho. Olhei para Elena enquanto eu pegava a arma que eu sempre deixava na cintura.

— Elena, cheque os fundos.

Ela assentiu. Comecei a olhar em todos os lugares. Nas paredes haviam marcas de sangue, marcas de mãos.

— John! — gritou Elena. — acho que encontrei algo.

Fui atrás do altar onde Elena estava. Tive a impressão que poupamos o tempo da polícia.

— Os três corpos.

— Atrás do altar da igreja. Me parece uma mensagem. Vocês tem alguma teoria, John?

— Eu queria que não fosse o que eu acho.

— E o que você acha?

— Eu acho que essa cidade não é atormentada por apenas um tipo de monstro. Isso me parece um insulto a trindade. Verifique a fixa desses três cadáveres, tenho certeza que não eram membros da igreja. Eu só não entendo uma coisa.

— O quê?

— Cadáveres não sangram. Eu vi marcas de mãos nas paredes. De quem são?

— Você viu o padre por aqui?

— Acho melhor conversar com os policiais. Encontro você na pensão?

— Tá.

Após avisar aos policiais sobre os corpos e sobre o desaparecimento do padre, fui ao cemitério verificar se havia algum tipo de rastro nas lápides. Curiosamente havia flores de carvalho branco plantadas ao lado dos mesmos. O mesmo tipo de planta que é feita a porta da igreja. Olhei dois dos três túmulos, ambos estavam com flores de carvalho branco. A terceira lápide não tinha flores mas tinha algo muito mais interessante, o nome escrito na lápide era John. Era o meu nome.

— Isso é no mínimo interessante. —disse uma voz familiar atrás, me fazendo virar. 

— Irene. —falei surpreso. — Presumo que não seja coincidência que você esteja aqui.

— Não. Eu sou detetive chefe do departamento de investigações dessa cidade. Vim ver se havia alguma evidência nos túmulos. É interessante que você esteja aqui.

— Achou algo?

— Achei. — disse sorrindo. — Você é algo que eu achei, por exemplo.

— Eu sou uma evidência?

— Sim. É estranho que exista uma lápide com o seu nome.

— Então andou pesquisando sobre mim.

— Eu nunca falo com estranhos.

— Pois eu também não, Irene Villanueva.

Eu ia saindo do cemitério quando vi alguém conversando com os policias. Alguém familiar.

— Só pode estar brincando comigo.

— O quê? — perguntou Irene.

— Quem é aquele conversando com os policias?

— É só um garoto, ele disse ser estagiário em um jornal ou algo assim.

— Está mais para "algo assim". Acho que eu deveria ir me apresentar.

Irene me seguiu até os policias, confusa. O garoto ia saindo quando eu cheguei. Felizmente ele não conseguiu.

— E aí, garoto? Repórter?

— Sim.

— Trabalha para que jornal? Talvez seja o mesmo que o meu.

— Acho que não.

— Ah que pena. — falei, forçando-o a falar comigo. — Me chamo John.

— Henry.

— Tenho a impressão de te conhecer, Henry.

— Eu tenho um rosto muito comum. Desculpem, senhores, tenho que me retirar — disse todo apressado.

Irene olhou para mim com confusão.

— O que foi aquilo?

— Acho que conheço o garoto. Na verdade, tenho que ir. Tem alguém me esperando.

— Elena?

— Até mais.

Saí de lá e fui para um beco próximo a igreja, o mesmo beco onde eu vi lúcifer. Estava um pouco escuro, eu estava me impressionando como o tempo passava rápido naquela cidade. A lua estava começando a aparecer e uma leve névoa também. Pude notar pelas sombras que alguém estava me seguindo, o que era uma infelicidade, dado que o beco só dava entrada para a parte de trás da igreja, a mesma parte do meu sonho. Continuei acompanhando as sombras, ela estavam mais próximas, me virei e um rapaz com um faca apontou para o pescoço.

— Passa a carteira! Passa a carteira!

Eu pensei em duas coisas, 1) Passar a carteira e 2) Pegar a arma que estava em minha cintura. Não tive tempo para fazer nenhum dos dois, o ladrão simplesmente caiu em minha frente, paralisado. Atrás dele estava Henry, segurando um tipo de arma tranquilizante.

— Bom te ver, garoto.

— Parece que salvei a sua vida.

— Não se gabe.

— O que tem aí?

— Só uma velha igreja, nada para se preocupar.

— Se não fosse nada para se preocupar você não estaria aqui.

Nós nos encaramos por um tempo até que eu cansei e revirei os olhos.

— Vai fazer as honras ou eu faço? — disse ele, apontando para a porta trancada da igreja.

Peguei a minha arma e atirei no cadeado. A porta era dupla e de ferro, bem pesada, como já estava escuro não dava para ver o chão. Eu e Henry entramos ao mesmo tempo, o que pode ter sido um erro. Mal pisamos na igreja e começamos a cair, estava muito escuro lá dentro e não dava para enxergar nada. Só senti quando eu caí no chão, mas não parecia um chão limpo, tinha algo lá dentro.

— Que lugar é esse? — perguntou Henry, perplexo.

— Você tem uma lanterna?

Ele me deu sua lanterna. Quando eu liguei nós vimos algo chocante, até mesmo para os meus padrões. Era uma grande sala úmida, fedia ao cheiro de morte, havia dezenas de corpos lá, alguns queimados. O chão que nós caímos estava cheio de esqueletos humanos, nas paredes havia várias marcas de sangue, mensagens, parecia algum lugar para rituais ou penitências, eu ainda não tinha certeza.

— Acho que temos um problema.

— Nós caímos no inferno e você diz que temos um problema, John? Parece mais que um problema.

— Não seja dramático. Isso não é o inferno.

— É o que então? Algum demônio fez isso?

— Algum demô.. desde quando você deixou de ser cético? Sinceramente, você era a pessoa mais cética que eu conheci na minha vida.

— Muita coisa aconteceu enquanto você esteve fora.

— É, fiquei sabendo disso. Tem um celular?

— Pra quê? 

— Para ligar para a Elena. Pra que mais seria?

— Desculpe, eu estou chocado. — falou sarcasticamente, depois me entregando o celular. 

— Dá para notar, sério, dá muito para notar, Henry. Seu celular não está chamando.

— É que você não apertou o botão ligar. — falou, apertando o botão.

— Elena? — chamou. 

— John? Aconteceu alguma coisa? De quem é esse celular?

— Bom — eu disse enquanto olhava o resto da sala, até que me deparei com um corpo crucificado e sangrando. Era o padre. — de certo modo aconteceu uma coisa. Acho que precisaremos da sua ajuda.


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Notas finais do capítulo

Desculpem qualquer erro de português que tenha passado despercebido. Espero que tenham gostado desse capítulo, até o próximo.
PS*: Tá, eu não falei diretamente do Nogitsune, não falei sobre o Joseph estar possuído por que tem mais na história que focar só no Joseph, já aviso antes que alguém comente sobre isso.
PS**: Eu sei que pode estar complicado de entender o que é real ou não mas o próximo capítulo é a explicação para tudo. Então esperem até que eu poste, obrigada.