Passamos mais alguns dias com a nossa rotina relativamente tranquila até o dia em que os problemas chegaram.

Nós aproveitamos os suprimentos ao máximo ,tentando faze-los durar,mas uma semana depois já estávamos mais uma vez sem alimentos,então teríamos que sair novamente para nos reabastecermos.Dessa vez resolvemos não ir muito longe.

Achamos uma casa razoavelmente grande e aparentemente segura e que para nossa sorte estava aberta.Começamos a coletar os suprimentos como sempre,até que eu ouço o som de um carro estacionando logo em frente a casa.Olhei pra Andrew desesperada e ele fez sinal pra que eu me acalmasse.

–Eu vou procurar a Sarah,você vai saindo devagar pela porta dos fundos,nos encontramos daqui a pouco.-Ele sussurou confiante,mas eu discordei.

–Não devemos nos separar,e eu não vou embora sozinha e deixar vocês aqui.-Eu disse sentindo meu coração bater tão forte,que chegava a doer.

–Faça oque eu mandei.Agora.-Ele disse,mas eu não me movi.

–Elizabeth,isso não é hora para discutir,você só está me atrasando.Faça oque eu mandei,vai ficar tudo bem.-Eu o obedeci,já que eu sabia que se eu não fizesse oque ele mandou ele não iria atrás de Sarah e nós iriamos nos atrasar e acabar sendo pegos.Andrew só usa o meu nome quando está falando sério,acredito que ele tenha herdado esse habito de nossa mãe.

Eu peguei nossas mochilas cheias de coisas e me dirigi até a porta.O tempo que eu gastei tentando abrir foi o suficiente pra que eu já ouvisse o som de vozes se aproximando.Quando finalmente consegui abrir me joguei no chão de grama do quintal e fui engatinhando pra fora da casa.Pra minha felicidade alguns minutos depois Andrew e Sarah também conseguiram sair da casa sem terem sido vistos.Fomos andando o mais rápido possível em direção ao carro,que estava em um lugar mais distante e isolado,próximo de um supermercado ou coisa do tipo.Durante o caminho podia sentir todo meu corpo tremer.Chegamos na rua escura onde havíamos estacionado o carro e percebi que havia algo parecido com um furgão estacionado perto dele.Andrew fez sinal pra que eu e Sarah esperássemos.Nos escoramos em uma parede de um beco próximo e tentamos descobrir se tinha alguém dentro do veiculo.

Havia um homem lá dentro.Não consegui enxergar seus olhos a distancia que estava,mas era muito provável que fosse uma alma.

–Droga.-Sarah exclamou contrariada.

–Vocês acham que devemos deixar o carro ai e ir embora ou preferem tentar recupera-lo?-Andrew perguntou pensativo.

–Acho que perder o outro carro já foi prejuízo demais,devíamos ir lá e dar uma surra nessa alma.-Sarah disse.

Ela era a mais impulsiva de nós três.As vezes tínhamos que controlar ela para que não fizesse nenhuma besteira.Mas dessa vez eu cheguei a concordar com ela.Se nós perdêssemos esse carro teríamos que voltar pra casa a pé,oque não era nem seguro,nem confortável.

–Não acho que essa seja uma boa ideia.-Andrew respondeu sendo sensato,algo que vindo dele,não era nenhuma novidade.

–Eu também acho,mas não podemos simplesmente ir pra casa a pé.Nós somos três e ele é só um,nós podíamos...sei lá,amarrar ele.-Eu disse nervosa.

–Correção:ele era um só,tem mais gente chegando.-Andrew disse apontando para o furgão.Mais três pessoas haviam se juntado ao homem que estava lá dentro.Mas isso não foi oque me assustou mais.Um homem estava carregando um corpo apoiado em seu ombro.

–Mas...oque?-Sarah sussurrou surpresa.

–Oque essas almas iriam querer fazer com um corpo?Eles não são buscadores.Eu tenho certeza.-Andrew disse confuso.Mais uma vez sentia meu coração disparar em meu peito e meu corpo inteiro tremer.Nada daquilo fazia sentido.

–Será que são almas mesmo?

Não houve tempo pra responder á pergunta de Sarah.Ouvi passos atrás de nós e nos viramos bruscamente.

–Olha só oque temos aqui.-Disse um homem alto e forte o suficiente para não permitir que nenhum de nós fugíssemos. Ele falou alto o suficiente para chamar a atenção dos outros homens que estavam perto do furgão.Tanto eu quanto os outros dois tentamos correr.

Eu corri o mais rápido que pude,mas logo senti duas mãos fortes me segurando e acabei desabando no chão,senti minha testa bater numa pedra e logo sangue começou a escorrer pelo meu rosto,me deixando tonta.Pude notar que tanto Sarah quanto meu irmão também já haviam sido pegos pelos outros homens,mas continuavam a tentar fugir,mesmo assim não me rendi.O homem veio pra cima de mim afim de me imobilizar mas aproveitei a oportunidade pra dar-lhe um belo chute,que eu queria que tivesse acertado uma parte mais sensível,mas que atingiu sua perna.Isso foi o suficiente para que eu conseguisse levantar.Ainda meio tonta pela queda,não consegui dar mais dois passos e logo senti ele puxando meu pé.Mais um vez mergulhei com vontade no chão.Dessa vez ele conseguiu me imobilizar.Ja estava me preparando pra morder com vontade qualquer parte de seu corpo que eu alcançasse,quando senti um pano molhado sobre a minha boca.Fiz de tudo pra prender a respiração,mas a minha pancada na cabeça já tinha me deixado tonta demais.Foi nesse momento que eu ouvi a voz de Sarah um pouco mais distante de onde eu estava:

–Para com isso,eu também sou humana.

Como assim também é humana?Eles eram humanos então?Antes de ter qualquer resposta senti minha cabeça começar a rodar e apaguei.