Renascer Dourado escrita por Sargas


Capítulo 5
Entre Mortos e Feridos




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GRÉCIA

A mulher rodopiou como uma boneca de pano pela sala, até cair com um baque surdo no chão de carpete azul petróleo, encharcando-o com o líquido viscoso e vermelho vivo, pintando o carpete com o seu sangue.

Saga observou a cena que seguia como em uma funesta câmera lenta, sabia que não a esqueceria. O rosto de Saga estava grudado no vidro blindado da saleta, sua respiração embaçava seu campo de visão, o que infelizmente não o impedia de reparar um dos homens agarrando Milo com uma chave de braço e apontando a arma para a cabeça do rapaz. Apesar de suar frio, Saga não demonstrou toda a preocupação que sentia.

O que parecia o líder falou alto ao lado da porta.

— Duas já foram Saga. Acho melhor você sair daí pra gente conversar, porque o próximo da fila é o rapazinho aqui...

Milo transpirava, mas não era calor. Seus punhos fechados e dentes cerrados numa revolta contida não conseguiam disfarçar o olhar de ódio ao líder do grupo.

Saga, de sua saleta de segurança, riu com uma falsa despreocupação.

— Ta, vocês vão matar o entregador e daí?

Milo arregalou os olhos indignados, que merda era aquela? Quem era aquele mauricinho para colocar sua pele em risco assim? Gritou cheio de raiva para Saga.

— Como é que é!?

O homem empurrou fortemente a cabeça de Milo com o cano da arma, o rapaz tinha uma boa resposta para aquela atitude, mas deixaria para um momento em que estivesse numa vantagem técnica.

Saga reparou na veia de frustração pulsando na testa do líder quando ele finalmente se movimentou para longe da porta, caminhando lentamente até o vidro da saleta.

— Você realmente não tem a menor idéia de com quem está brincando, não é?

O homem encostou a testa no vidro espalmando as mãos num estalo alto, encarando Saga com olhos vidrados, maníacos. Ele sorria com satisfação crescente, sua voz era quase sussurrada.

— Saga, recebi ordens de leva-lo com vida, mas sempre há uma opção...

O homem afastou o rosto alguns centímetros e cabeceou com força o vidro. Saga afastou-se horrorizado vendo o material blindado se espatifar em pedaços pelo ar e voar contra ele. Seria possível? Com apenas uma cabeçada, o estranho estraçalhou o vidro a prova de balas e nem mesmo arranhou a testa?

Ainda se perdia numa surpresa descrente quando o homem o agarrou pelo colarinho da camisa, puxando seu corpo com força para frente, fazendo-o chocar-se com contra a metade que restou do vidro.

— Vê agora, Saga? Vocês não são nada contra nós. Não vale o esforço nem mesmo de convence-los de suas fraquezas. – Ele sorriu alucinado, Saga sentia a mão do homem apertar ainda mais contra o tecido de seu colarinho, que começava a sufoca-lo.

— Devia fazer com vocês o que fizemos com seu irmão, nada de explicações!

Os olhos de Saga se iluminaram com a menção de seu irmão, mesmo sentido seus pés serem erguidos do chão, ele sibilou.

— O que você disse?

Milo arregalou os olhos, gritou tentando se livrar do homem que o prendia.

— Eu não tenho nada a ver com as tretas da família desse maluco, não! Me libera aí!

O líder, erguendo Saga com apenas um braço enquanto esse ainda se debatia, berrou com Milo.

— Se têm amor a vida, rapaz, trata de calar essa boca ou então...

Um rosnado selvagem soou dentro da sala fazendo todos se calarem. O som de gelar os ossos como um mau agouro se repetiu mais alto e mais ameaçador. Um segundo homem apontou a arma em direção à porta.

— Tem... tem alguma coisa chegando...

Os olhos do líder reviraram furiosos, não havia mais tempo. Gritou para o rapaz que prendia Milo ao mesmo tempo em que puxava Saga para fora da saleta fazendo mais alguns pedaços de vidro se desfalecerem, arranharem seu rosto e desfiarem seu terno caro:

— Atire nele! Atire antes que...

Não houve tempo para reação, algo invadiu a sala.

Aos olhos de Milo pareceu apenas um borrão branco voando de um salto da porta. O homem já não lhe apontava mais a arma, agora atirava no ar contra aquela mancha branca que rosnava alto.

Os tiros não atingiram o alvo e quando a criatura avançou contra a jugular do seu agressor, Milo caiu livre no chão e pôde entender do que se tratava: Um enorme lobo branco se banqueteava com o pescoço do homem que rolava no chão, gritando de pavor.

O líder, ainda segurando Saga, ordenava com ódio e impaciência para ele ao mesmo tempo em que os outros tentavam abater o animal furioso e faminto.

— Seu idiota, não é nada! Mantenha o controle, ele não pode te ferir!

Um som de risada abafada veio de trás das costas de Milo que olhou sobre os ombros para a mesa e sem tentar entender mais nada do que havia ali, avistou sentada comodamente ao lado do corpo da secretária, uma garota jovem!

Ela tinha o cabelo cortado acima do ombro, tão negros quanto o carvão, contrastando com a pele clara que beirava a palidez, as bochechas levemente rosadas. Vestia jeans rasgados e desfiados e uma jaqueta de couro sobre uma blusa vermelha.

Ela sorriu divertida para ele, piscando simpática.

O líder rosnou atirando com força Saga contra uma parede, que mesmo tentando se proteger do impacto não pôde evitar o choque e bater a cabeça contra a argamassa, desfalecendo com o impacto.

— Eu devia saber... estava fácil demais! Eles finalmente enviaram as Caçadoras!

Milo olhou do líder para Saga desacordado no chão, e de Saga para a garota. De onde ela havia saído? Como entrara ali? E como, em nome de Deus – essa era uma boa hora pra apelar para uma religião - ela podia parecer tão relaxada numa situação daquela e com uma mulher feito uma peneira caída morta ao seu lado?!

A jovem continuava sorrindo descontraída, agora para o homem que falava com ela sem parecer se incomodar com a presença dos outros, nem ligava mais para seu capanga embolado com o lobo estranho.

— Vocês vilões sempre dizem isso, né? – Ela saltou levemente da mesa, pisando o sangue ainda fresco da secretária, estalando os dedos entrelaçados, usava luvas de motoqueiro — Eu já sabia, eu te conheço, blábláblá. Nunca reconhecem um elemento surpresa.

Aproximou-se com passadas calmas, mantendo um olhar entediado para ele, quase despreocupada. O líder falou com os dentes cerrados de ódio pela sua interrupção, não parecia com paciência para gracejos do tipo.

— Qual delas é você? O Fogo? A Terra?

Ela parou ao lado do homem morto pelo lobo há segundos atrás sem que alguém percebesse seu desespero nos instantes finais. O líder olhou para o canino que agora admirava a moça como um fiel amigo, havia algo de estranho naquele animal, como se não estivesse realmente na sala.

— Te dou um doce se você adinhar!

— Eu já devia saber... esse lobo não está aqui, não é? Ele nunca esteve... é apenas uma ilusão...

O lobo emanou uma forte luz ao seu redor e desapareceu transformando-se num raio de luz ,viajando rapidamente até a mão dela, que fechou o punho sorrindo com carinho.

O líder observou silencioso por alguns segundos o seu capanga morto, a garganta estraçalhada pelas presas do animal.

— Ele era uma distração para que você entrasse, não era? Era tudo uma ilusão... e há apenas uma entre as Caçadoras com o poder de dar vida a uma ilusão e torna-la letal... Você é a LUZ!

Nesse mesmo instante, Milo percebeu que os dois outros homens ainda estavam de posse de suas metralhadoras, prontos para disparar contra ela, aguardando apenas um sinal do líder. O rapaz observou a estranha jovem olhar sem surpresa para as armas.

— Ah, me faz um favor e diz que sabe muito bem que isso não vai me machucar. Armas humanas, contra as Caçadoras?! Você já foi mais esperto.

O líder sorriu com maldade – Verdade... mas o que aconteceria se elas atingissem aquele que ainda não despertou?

Só então a garota se deu conta que as balas não seriam para ela e sim para Milo, que começava a se levantar do chão!

O clique encheu a sala desfazendo todo o silêncio mórbido, a jovem se moveu rápido demais para que os olhos de Milo pudessem acompanhar. Em milésimos de segundos ele viu as balas ricochetearem para os lados e ela prostrada como um escudo humano à frente dele. Abrira os braços protegendo toda a extensão do corpo de Milo, que reparou na diferença do tamanho de ambos... o que emprestava a jovem um enganoso ar de fragilidade!

Mas não importava, na verdade nada nela parecia ser o que realmente era.

Ela sorriu novamente e soltou um ruído ameaçador, quase selvagem que o fez recuar surpreso, alguns centímetros para trás. A luz branca em volta de seu corpo explodiu, o rapaz achou que poderia ser tragado pela explosão que milagrosamente varreu os dois últimos homens armados para fora da sala, derrubando a parede oposta. O líder não parecia fazer força para manter o equilíbrio, embora Saga ainda desacordado também deslizasse alguns metros para longe e Milo nada sofresse.

Por alguns instantes ele visualizou um brilho cálido e quase reconhecível no olhar da moça, havia algo dentro de seus olhos. Alguma coisa que ele já vira antes centenas de vezes e tantas que nem ao menos se dava ao trabalho de se reparar em sua existência... parecia...

Sua concentração foi interrompida quando líder se movimentou atrás dela, preparando-se para alguma coisa, Milo gritou.

— Cuidado, ele vai... !

A moça sofreu o impacto do punho que nem ao menos chegou a tocar suas costas, lançando-a para longe! Seu corpo chocou-se com violência contra a janela que rachou e trincou com o atrito e ela caiu pela lacuna aberta, desaparecendo da vista de Milo.

A gargalhada do líder chegou abafada aos ouvidos do rapaz.

— Ora, mas veja você, rapaz! Uma Caçadora sacrificando a vida para ajudar um merdinha que nem ao menos despertou! Um projeto de guerreiro que o próprio companheiro de outrora menosprezou há pouco!

Milo virou-se para o homem, não havia mais sinal do entregar de pizza ameaçado, apenas uma a fúria equiparada ao orgulho ferido. O ódio de quem que cansou de ver tantas mortes no mesmo dia, alguém que por um instante se imaginou no lugar das vítimas.

O líder ainda ria debochando com total falta de respeito daqueles olhos carregados de puro desejo de vingança.

— Que foi? O garotinho ficou triste porque perdeu a amiguinha? Não se preocupe... — O homem chegou até ele tão rápido que o ar mal se deslocou com suas passadas, encarou Milo que pôde perceber mais que arrogância naquele rosto, ele viu toda a loucura por trás da força bruta e inumana. — Logo vai fazer companhia a ela.

Sua mão se ergueu para tocar-lhe o ombro, mas não conseguiu. Se não foi a enorme explosão dourada que emergiu de Milo, certamente foi o olhar do jovem para o líder. Olhos que por alguns instantes não se podia mais ver a íris azul pelos jatos de luzes vermelha que brotaram deles.

Durou poucos segundos, mas o suficiente para o líder ter certeza de que não conseguia mais mover o braço nem as pernas. A mão ainda parada no ar, próxima ao ombro de Milo, que agora sorria com superioridade.

— E ai? Não estava cheio de vontade de me jogar pela janela? Por que não tenta?

— Você sabe bem porque, seu puto! – O homem tentava tomar novamente o controle de seu corpo que insistia naquela inércia — Eu não posso me mexer! O tempo todo você podia ter se utilizado disso... e fingiu! Covarde!

— Ahh, agora o covarde sou eu!? Quer saber, não tenho ideia do que tu ta falando, mas vou pagar pra ver!

— O que...?!

Milo socou o mais forte que conseguiu o rosto do homem, o resultado, porém, foi mais destruidor do que podia esperar! Talvez, por causa daquela energia que corria em suas veias e se manifestava na forma de luz dourada ao seu redor, o homem tenha girado nas próprias pernas e caído a alguns metros dele. Milo olhou para os punhos surpreso sem ousar falar, não enquanto ainda não tinha dado àquele monte de lixo alucinado o que ele merecia.

O homem mal se recompôs e já estava novamente sendo golpeado pelo rapaz, que o empurrava cada vez mais contra a parede, que mesmo apesar do furor dos socos e do aumento perceptível de sua força depois de ser envolvido por aquela energia, notava que os golpes estavam perdendo a potência de outrora.

Será que o efeito anterior foi graças ao elemento surpresa?

Sentia os ossos do líder sob seu punho cerrado, mas ele agora ria, divertindo-se. Os socos já não o estavam afetando mais.

Milo sabia que lhe restava apenas um ultimo golpe e que esse teria que valer a pena ou o líder se voltaria novamente contra ele, muito mais poderoso, extremamente furioso pelos ferimentos causados! Fechou a mão e sentiu as unhas apertadas contra a carne da palma, o punho voou em direção ao rosto do líder, a energia parecia duplicar diante de toda sua esperança de acabar com aquilo de uma vez...!

Arregalou os olhos numa surpresa frustrada, o líder segurou seu golpe sem muito esforço e apertando fortemente seus dedos, sorria alucinadamente.

— É só isso que tem pra mim? Tudo isso só por que joguei a garotinha janela afora ou por que te humilhei, cavaleiro?

Milo soltou um gemido débil ao sentir as articulações chiarem diante do aperto do homem, teria todos os dedos quebrados se não se livrasse logo dele. O líder agarrou-o pelo braço, puxando-o, tirando-o do chão. Milo viu a sala rodopiar quando foi arremessado contra a parede, suas costelas estalaram alto, gritando junto com ele. Caiu de bruços num estalo seco ao lado dos dois capangas que jaziam inconscientes perto de suas armas, mas nem por um instante pensou em se apoderar de uma delas, sabia de forma instintiva que nada daquilo funcionaria contra aquela montanha de força destrutiva.

Levantou-se lentamente, se tivesse que abotoar o palito de madeira que fosse de forma honrosa. Passara os últimos anos se dando mal, iria distribuir uns bons socos no caminho pro inferno!

Mal teve tempo para a decisão derradeira e sentiu o forte golpe na coluna, as mãos do líder desceu velozmente contra suas costelas fazendo-o inclinar-se para a frente, soltando um rugido alto junto com um punhado de sangue que escapou-lhe entre os dentes. Ótimo, agora tinha certeza que quebrara algo lá dentro.

— Que acha disso, hein cavaleiro? Tentar me enfrentar com um truquezinho tão fraco! Quer saber...?

Ele ria com orgulho enquanto seguia socando as costas de Milo que se apoiava com as duas mãos no chão, embora essas já quisessem sucumbir pelas pancadas e pelo peso de seu corpo.

Apesar da dor lancinante e de sangrar a baldes, não entedia como ainda não havia desmaiado sendo surrado daquela forma.

Mais uma cusparada vermelha e Milo encarou o líder soltando pequenas faíscas douradas quase palpáveis de fúria, embora duvidasse poder fazer mais que isso, seu corpo todo paralisava diante da dor, sua vista ficando turva e o gosto de sangue quente na boca revirava seu estômago.

O homem continuava se gabando de suas conquistas.

— Acabar com vocês dois foi mais fácil do que dar um sumiço naquela que se autodenomina a deusa da humanidade e no rapazinho que a acompanhava... pelo menos ele reagiu. Não fez como esse covarde do irmão que se escondeu atrás de invenções humanas para se proteger de mim.

Milo continuava encarando-o, os braços dormentes e as costelas rangendo numa dor pulsante.

O líder uniu as duas mãos para um ultimo soco, rindo enlouquecido.

O golpe parou no ar acima de sua cabeça e Milo percebeu uma nuvem de fúria cruzar os olhos dele. Então sentiu o que havia perturbado tão imediatamente o homem, uma segunda fonte de energia dourada encheu a sala fazendo os vidros ao redor espatifarem-se em milhares de pedaços brilhantes como cristais. Uma luz dourada parecida com a que ele mesmo emanara há minutos atrás, porém, essa não partia de seu corpo.

Era Saga, de pé logo atrás de Milo, ele falava consciente da energia dourada que dançava envolvendo seu corpo.

— Obrigado pela informação a respeito de meu irmão, permita-me agora te provar que ele não é o único com coragem pra te desafiar.

O líder preparou o soco com toda a frustração, se não derrotasse Saga e Milo agora, eles se reergueriam com novas forças, afinal, os Cavaleiros de Atena eram conhecidos por se fortificarem a beira da morte.

O homem movimentou-se rápido, tinha que acerta-lo, derruba-lo e que agora ele não pudesse se levantar nunca mais.

Podia sentir os ossos estalando e destruindo o maxilar de Saga, via o sangue escorrer de sua boca e nariz e o corpo do rapaz ser jogado longe. Provavelmente ele morreria com a pancada.

Só se deu conta de ter imaginado todo o desfecho quando viu que seu golpe não atingira Saga e que o rapaz o evitara detendo sua forte mão a poucos centímetros do rosto. O líder balbuciou furioso.

— Não... pode ser, isso é impossível! Vocês não passam de vermes comparados a mim!

Ouviu atrás de si a voz de Milo já de pé, limpando com o dorso da mão o sangue de sua boca.

— Seu ponto fraco é tua língua! Você fala demais!

Saga aproveitou o momento de distração do homem e virou-lhe um certeiro golpe no estômago, esse o fez deslizar com uma velocidade para trás e ele só não caiu porque foi amparado pela mesa que tombara sob o seu peso. Já não demonstrava tanto ódio, agora parecia um pouco surpreso, talvez até assombrado.

— Vocês não ousariam... não conseguiriam...

Milo correu em sua direção acertando-lhe um segundo soco, o homem sentia a energia dourada do rapaz queimando sua face onde o havia atingido, agora a sala tremia diante das auras de puro poder emanada por Saga e Milo.

Incrédulo ele tentava reagir, mas não conseguia fazer com que seu corpo o obedecesse. Visualizou mais uma vez o brilho vermelho no olhar de Milo e entendeu que o rapaz lhe aplicava uma nova imobilização sem ao menos se dar conta disso, enquanto continuava socando-o com os punhos rodeados maciços graças ao cosmo dourado.

— E aí? Não parece tão valente sem seus capangas e suas armas! Por que não tenta acertar a gente agora, hein?

— Garoto, pare!

Milo não tinha intenção de parar, mas algo na voz de Saga o deteve e então ele desistiu do golpe que certamente afundaria o nariz do líder dentro de seu crânio. Olhou para Saga que se aproximava com um olhar gélido, via-se o esforço que estava lhe custando o autocontrole.

— Como é que é? Esse puto queria matar a gente, detonou suas secretárias, jogou uma garota pela janela e acabou de dizer que sumiu com seu irmão e tu ainda me impede de...

— Exato. Ele sabe onde está Kanon, não posso deixar que você o mate. Levaremos o homem até as autoridades competentes...

Milo se empertigou todo. Autoridades? Que mané autoridades! Que tipo de homens na terra poderiam explicar o que estava acontecendo ali? Será que aquele almofadinha não conseguia sentir a energia quase sólida e reluzente que emanava de todos naquele momento? Quem explicaria toda aquela situação?

— Ce ta louco?? Se liga que policia não vai dar conta dessa aberração não!! Se não aproveitarmos agora ele vai...

Os dois sentiram uma explosão atrás de si. O homem se libertara da imobilização de Milo e corria para cima deles. Não se via mais suas íris, os olhos estavam brancos. Salivava com as dentes arreganhados de ódio, como presas de um animal descontrolado e faminto, sua testa repleta de veias saltadas e lívidas de suor.

DEVIAM TER ACABADO COMIGO QUANDO TIVERAM A CHANCE!! DANE-SE O DEUS DOS DEUSES, O TÚMULO DOS GUERREIROS DELA SERÁ ESSE LUGAR INFAME!!!

— Porra...! — Milo piscou atordoado com novo ataque de fúria do estranho. Saga, no entanto, preparou-se para contra-atacar, junto com Milo boquiaberto ao seu lado.

Então o homem parou de imediato, tão de repente que derrapou alguns passos. Algo atrás dos dois rapazes o fez recuar, mas Milo e Saga não ousavam tirar os olhos dele.

O líder falou para alguém que eles não podiam ver:

— Isso é obra sua? Você ainda está ai, sua cadela?? Não é possível, eles não podem ter se juntado tão depressa...!!

Saga sentiu pela perturbação que tomou conta do homem que deveria descobrir o que estava acontecendo ali. Milo ouviu o som estalado de passos revestidos de metal que pisavam com força os destroços da sala, esmiuçando-os.

Eles finalmente viraram-se para descobrir o que deixara o homem tão transtornado.

Estreitando os olhos a fim de focar melhor a visão, espantaram-se: Havia dez rapazes na sala! Dez rapazes trajando armaduras douradas!

Os dez não falaram palavra alguma, continuaram avançando até eles numa postura altiva e rígida. Fizeram um escudo humano em torno de Saga e Milo, distribuindo-se ao lado e atrás deles. Não era possível ver seus rostos, apenas uma sombra cobrindo os olhos de cada um que já se colocava em posição defensiva.

O homem continuava gritando para alguém.

— Mesmo se eles aqui estivessem, não estariam trajados de suas armaduras!! Elas foram destruídas há dezenas de anos...! Não vai me enganar dessa vez!

Uma mão surgiu detrás da mesa tombada, alguém se apoiava nela para se levantar. Milo imediatamente reconheceu a garota que havia lhe defendido do golpe do estranho, uma Caçadora ela dissera. Então ela não havia caído...?

A garota tinha uma mão amparando o peito ferido, o rosto marcado de arranhões e sangue, porém, ela sorria enquanto esticava a mão direita para frente.

— Não posso te enganar, tem razão... Mas como você mesmo já disse, sou aquela que pode dar o poder letal as ilusões...

Ela fechou os dedos da mão que estava apontada em direção a eles. Saga e Milo viram os dez rapazes tomarem posições de ataque diante daquele seu gesto. A jovem sequer desviou o olhar do homem.

— E então, acha que consegue suportar o ataque dos doze Cavaleiros de Ouro?

O líder olhou para os guerreiros a sua frente. Doze! Os doze dourados estavam unidos e mesmo que dez deles fosse apenas uma ilusão criada pela Caçadora, ele não era burro o bastante para enfrentar de frente o ataque dos do grupo, caso a mulher realmente tivesse a capacidade de recria-los.

Viu com ódio Saga e Milo tomaram também uma posição ofensiva. Sem abaixar os punhos, virou-se furioso para a garota que falava como se lhe estendendo um convite.

— Vai embora!

— Não antes de levar comigo a cabeça de uma Caçadora daquela vagabunda que se julga deusa!

Uma voz forte e ressonante ordenou direto ao cosmo do líder, sem que os outros pudessem ouvir.

— “Volte!”

O homem tentou argumentar, sabia de suas chances de dar cabo dos três mesmo correndo o risco de ser atingido pelo ataque dos doze cavaleiros, afinal ainda restava a possibilidade da Caçadora estar mentindo.

Milo e Saga não ousavam desviar a atenção, continuavam na ofensiva, ao lado dos dez em igual posição.

— Mas... senhor, eu sei que posso...

— “VOLTE! AGORA!”

O líder, com raiva e frustração, se calou.

Uma luz vermelha rodeou o corpo dele fazendo-o desaparecer dentro dela, mas Saga e Milo perceberam o olhar de ódio fixo neles, e algo ficou claro. Aquilo não terminara ali.

Quando o homem sumiu, o braço esticado da garota caiu ao longo de seu corpo e os rapazes viram os dez cavaleiros desaparecerem aos poucos, como estatuas de areia fina dissolvendo-se numa brisa leve.

A garota cambaleou, Milo correu para ampara-la. Saga chegou-se a eles.

— Você não caiu... era outra ilusão sua?

— Essa é minha especialidade, garotão!

— Não vou perguntar quem é você, porque hoje meu escritório está repleto de invasores desconhecidos... Porém, não me parece aliada daquele sujeito...

Ela sorriu com esforço. — Nem, nunca gostei de músculos e burrice... é uma péssima combinação!

Milo olhou para ela com uma expressão agradecida ao mesmo tempo em que passava o braço em torno de sua cintura, auxiliando-a a manter-se de pé.

— Ela apareceu aqui de um jeito ainda mais estranho que o sujeito bizarro e me deu uma mão. Só não sei por que demorar tanto pra se mostrar de novo, o cara tava me moendo na porrada!

— Desculpa gente, mas era o único jeito de fazer os dois reagirem contra aquele caos ambulante! Eu não tinha mais tempo.

— Tempo pra que?

Nesse instante um grupo de policiais armados invadiram a sala portando coletes a prova de balas, todos pareciam tensos com as armas em riste. O tenente atravessou o caminho empurrando alguns homens, chegou falando alto e exasperado, assustando Milo, Saga e a garota.

— Senhor Saga? Há alguém ferido por aqui?

Saga, recuperando-se do susto, olhou para os policiais que continuavam empunhando suas armas, enquanto alguns outros apontavam-nas para os capangas restantes que agora acordavam um tanto desnorteados.

— Minhas secretárias, as duas mortas por esses rapazes, mas o líder fugiu...

O tenente reparou em volta coçando a nuca, parecia constrangido pelo que tinha a dizer. — Senhor... desculpe, mas... isso é impossível...

Saga questionou com irritação, estava confuso, exausto e só naquele instante lhe ocorrera que os policiais demoraram demais para chegar.

— Impossível é confiar na competência da segurança desse edifício. Por que demoraram tanto? O quadro aqui poderia ter sido bem pior!!

Sacudindo os ombros sem saber ao certo como responder, vendo os demais policiais algemavam os capangas o tenente usou um tom de confidencia aos três.

— Mas senhor... não conseguíamos entrar porque havia algo bloqueando nossa passagem...

— Bloqueando...?

— O senhor pode achar loucura, mas parecia uma espécie de... parede de luz. A gente tentou atravessar, mas a única coisa que conseguíamos era ouvir os barulhos vindo daqui de dentro. Só agora a pouco a parede... desapareceu. Parecia coisa de outro mundo... e é por isso que eu digo que... é impossível o chefe desses caras ter fugido...

Milo que ajudava a garota a se locomover até o elevador juntamente com Saga e um policial que os escoltava. O rapaz começava a sentir também a forte dor nas costas aumentar, consequência da onda de adrenalina que se esvaia de seu corpo... Olhou pra ela um tanto irritado, vendo-a sorrir com tranquilidade.

— Que? Que foi?! – Ela cochichou travessa — Tá, eu sei, fui eu quem fez a parede, mas tem noção do que teria acontecido se eu não isolasse o local? A gente teria pedaços desse prédio espalhado por todo o centro, você viu muito bem o poder do cara!!

Saga voltou-se aos dois, pousando a mão sobre o ombro da garota.

— Obrigado, seja você for, mas agora temos de cuidar desses ferimentos. Preciso dar algumas explicações para esses policiais e depois provavelmente a imprensa vai cair sobre mim como um bando de corvos. E acima de tudo, saber do paradeiro daquele homem para achar meu irmão...

Balançando a cabeça sem jeito sabendo que não era portadora de boas noticias, a garota limpou o sangue já seco dos arranhões no rosto.

— Lamento por ambos, mas já disse que não temos tempo. Terão que vir comigo agora.

Saga enfim perdeu a compostura, já havia aturado demais situações que fugiam de seu controle! Levantou o braço e estalou a mão com força contra a parede atrás da jovem, não acertando seu rosto por pouco, vendo Milo se desviar para não ser atingido. Perguntou encarando-a.

— Eu não sei o garoto aqui, mas eu já cansei. Não te conheço e nem de onde saiu, assim como não tenho ideia de quem era o maluco de poder sobre-humano que invadiu minha sala, metralhou minhas secretárias e confessou ter relação com o sequestro de meu irmão. Então chega de enigmas e faça-me o enorme favor de explicar direito o que está acontecendo... ou esse policial terá a satisfação de levar mais uma pra um interrogatório!

Milo, de braços cruzados, apenas olhou de Saga para a garota, estava tão cansado quanto o outro, com o agravante de estar duas vezes mais coberto de hematomas.

O policial olhava para os três sem entender nada do que havia, mas permanecera com atenção redobrada sobre ela após as palavras de Saga, que continuava encarando-a.

A jovem desviou os olhos do policial e depois de um longo suspiro, respondeu a Saga.

— Ta bom, mas acho que é uma conversa muito particular e eu não queria ter que dizer na frente dele. – Ela discretamente apontou com a cabeça para o policial — Mas já que vocês não se importam...

Saga recolheu a mão sem tirar lhe tirar os olhos, enquanto Milo apertou um dos botões fazendo o elevador parar. O tira ergueu a voz incomodado com aquela situação estranha.

— Não é hora pra gracinhas, rapaz...

— Gracinhas? Eu por acaso to com cara de quem aguenta mais alguma “gracinha” hoje, amigo? To mais quebrado que arroz de segunda e só quero ir pra casa ver meus velhos e descarregar essa tensão num saco de areia, valeu? Falou! Por isso, desembucha logo, bonitinha.

A garota passou a mão outra vez no peito que latejava de dor, não era bem esses os seus planos quando se levantou pela manhã e saiu com sua moto à procura de Milo e Saga, mas pelas expressões deles, não havia remédio. Era contar ou contar. Cartas na mesa. Ao menos algumas delas, já sabendo que, por enquanto, nada de coringas. Começou a falar.

— Heh... e o que te faz pensar que tu ainda tem uma casa, garotão?

— Como é que é...?

Interrompeu o incrédulo Milo, sem dar muita atenção a enorme interrogação que surgiu no seu rosto depois que ela insinuou que ele não tinha mais casa. A jovem seguiu com as explicações, olhando fixamente para Saga.

— Tudo bem, Cavaleiros Dourados de Gêmeos e Escorpião, é melhor vocês se prepararem, porque nunca mais serão os mesmos depois de ouvirem o que tenho pra dizer...

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

Eu, honestamente, amei escrever esse capítulo. Amo escrever qualquer parte do Milo porque ele tem umas saídas cômicas que só funcionam com ele. Não sei se era essa a ideia do Kurumada quando criou o Escorpião, mas tenho minha própria interpretação dos Dourados pra essa fic, então sigo o que acho conveniente pra história, sem perder a essência de CDZ.

Obrigada por lerem até aqui e por favor, postem comentários! Isso me motiva e ajuda a saber como as coisas estão indo (se a fic tá agradando, hehehe).



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