Renascer Dourado escrita por Sargas


Capítulo 6
As Caçadoras




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GRÉCIA



O helicóptero pousou no alto do edifício no centro comercial. Antes mesmo de descer, Mu avistou um pequeno grupo de rapazes parados esperando por eles, ou não exatamente por eles... esperando por quem quer estivesse faltando para integrar o grupo dos doze.

Doze Cavaleiros de Ouro.

Aquelas palavras martelavam em sua cabeça de forma assustadoramente familiar mesmo que jamais tivesse ouvido falar nisso antes. A estranha garota que lhes ajudara na enchente, no hospital infantil, contou a ele e a Aldebaran porque haviam manifestado aquela estranha energia dourada para salvar a vida daquelas crianças.

Mas foi basicamente isso que ela disse, depois os levou para um local distante dos curiosos que presenciaram o estranho acontecimento na frente do hospital semidestruído pela forte tempestade. Começou com uma explicação surreal sobre uma lenda antiga da mitologia, uma parte secreta sobre os guerreiros sagrados de cada deus grego, principalmente sobre os guerreiros sagrados de Atena – a deusa da sabedoria. A lenda sobre como tais guerreiros sagrados retornariam a Terra cada vez que humanidade estivesse em grande perigo.

Nada obrigaria Mu, ou o amigo Deba, a acreditarem no que ela dizia. Se não fosse o fato deles mesmos terem provado da tal força sobre-humana, em forma de energia, que eles emanaram quando socorreram as crianças doentes. Energia essa que ela chamou de Cosmo e disse que todos os humanos guerreiros sagrados, assim como os deuses, possuíam uma grande Cosmo Energia... e que aquela que ambos despertaram, não era nada comparada a tudo que ainda teriam de alcançar.

Mu lembrou-se de Aldebaran sorrindo para a jovem, que tinha altura um pouco maior que uma criança, e do amigo trocando com ele um olhar entre crer e saber que de alguma forma aquilo se encaixava, tanto na sensação de familiaridade que sentiram, quanto misturado ao fato de tudo parecer tão fantasticamente fantasioso para jovens comuns como eram. Mesmo depois da experiência com a tal cosmo energia, como ela chamava, devia entender que era extremamente complicado querer faze-los compreender e assimilar todas aquelas informações tão surpreendentes.

Passaram de jovens universitários com suas vidinhas comuns a guerreiros sagrados de Atena. Defensores da humanidade, da noite pro dia ou melhor, de uma hora para outra.

Mu preferia não argumentar nada, permaneceu de braços cruzados pensativo, tentando achar uma forma de explicar aquela energia dourada que sentiu, que ainda ecoava dentro de si. Mas por mais que pensasse não conseguia achar uma explicação coerente para ela, para o enorme sentimento, o qual dizia que a jovem estranha não mentia.

Deba se levantou passando preocupadamente a mão pela nuca e Mu sabia o que aquele gesto significava. Existia um conflito interno no amigo, sempre tão racional, sempre tão pés no chão. Era difícil para ele acreditar nas palavras da 'baixinha', como Aldebaran havia apelidado a garota, já que até então, ninguém se importava em perguntar seu nome e ela tampouco dizer.

Antes mesmo que Deba pudesse murmurar qualquer conclusão, a “baixinha” disse algo que os deixaram assombrados.

Teriam que partir com ela. Argumentou friamente que aquela altura os “outros” já sabiam do despertar de ambos e que eles não poderiam mais ficar expostos sem o poder necessário para se defenderem. Disse que um transporte os esperava para levá-los em segurança até os outros nove, e no local onde deveriam se reunir teriam todas as explicações.

Mu olhou incrédulo para a garota, ouvir aquela conversa sobre lutas sagradas e poderes capazes de abrir fendas em montanhas, tudo bem, mas pensar que eles largariam tudo para segui-la? Começava a desconfiar da sanidade da garota o que claro, ainda não explicava a “Cosmo Energia” que eles emanaram.

Porém, foi Deba quem falou, demonstrando primeiro sua incredulidade.

— Tá louca, baixinha? Acha mesmo que é só vir aqui e vomitar meia dúzia de lendas gregas que a gente vai te seguir? Desculpa, mas parece que nos julga meio idiotas, não?

A baixinha piscou como se as palavras de Deba a ofendessem apenas superficialmente.

— Desculpa eu, grandão! Não me lembro de ter dito que era uma escolha.

Desta vez foi Mu quem se indignou.

— Essa história já ta começando a sair do limite da coerência e bom senso.

— Não está pensando que pode nos obrigar a te seguir pra nos juntar a um grupo de gente que nem conhecemos, só porque nós...

Ela sorriu completando a frase dele, pontuando as palavras como quem esconde um trunfo.

— Despertaram um poder, que mesmo não conseguindo explicar porque, sabem que é parte do que vocês são?

Mu manteve os olhos fixos nela, e como não achou resposta a altura, apenas desviou o rosto para Deba, que já tomara sua decisão.

— Não vamos a lugar nenhum contigo, baixinha. Agradecemos por nos ajudar com as crianças...

— E por explicar porque vocês dois brilharam como vaga-lumes, não conta?

Ignorando esse ultimo comentário bem humorado dela, Mu continuou por Deba, que pareceu se confundir momentaneamente.

— Não há nada que nos prove o que você afirma como verdade, sentimos muito. Nós temos uma vida aqui, mesmo que acreditássemos no que diz e que poderíamos ter mais explicações sobre o que houve, não deixaríamos para trás nossos...

— Entes queridos? – Ela suspirou profundamente. — É isso que os prendem?

— Sei que tem me dizendo que é meu destino acompanha-la, que é parte de minha missão ou chame do que quiser... Mas é isso. Não podemos deixar tudo para trás para seguir um impulso.

Deba sorriu nervosamente.

— Não sei nem como essa ideia chegou a ser cogitada nessa sua cabecinha, baixinha.

A jovem falou mais para si que para eles.

— Eles pensaram nisso. Os outros pensaram nesse apego todo a seus familiares. – Encarou-os novamente, de Mu para Deba. — Bom... e se eu dissesse que a segurança de seus entes dependessem de vocês virem comigo ou não?

Deba segurou-se para não agarra-la e sacudi-la, como uma boneca de pano tamanho miniatura.

— Como é que é?!!

Mas Mu reparou na expressão preocupada da garota, viu que suas palavras não eram de ameaça, como deduziu o amigo.

— Espera Deba... – Olhou para ela, agora também assumindo o ar de preocupação. — O que quer dizer com isso?

— Quero dizer que, eu deveria acompanhá-los até suas casas... e depois, a gente volta a falar sobre o assunto, o que acham?

— Sem truques?

Ela sorriu com simpatia, não parecia mentir.

— Gente, se eu quisesse mesmo fazer alguma coisa com vocês eu já não poderia ter feito? Ou não se lembram quem foi que controlou aquele monte de água que ia esmagar o grandão?

Depois deu dois tapinhas nas costas de ambos.

— E depois, mesmo sendo vocês dois dos sagrados Cavaleiros de Ouro não estão em plena posse de seus poderes, na verdade, eu não diria nem cinco por cento.

E antes que Mu e Deba pudessem perceber, ela já estava com uma expressão carregada, resmungando pra si mesma.

— E isso vai ser um problemão...

Mu foi o primeiro a saltar, seguido de perto por Deba, que desceu um tanto desconjuntado pela longa viagem já estava reclamando dos acentos pouco espaçosos do helicóptero, com a baixinha rindo divertida dele. Deba cochichou para Mu num momento em que ela se distraiu falando com o piloto.

— Fácil pra ela rir, qualquer bolso seria confortável pra alguém daquele tamanho...

Mas não houve jeito, a baixinha ouviu o comentário, porém diferente do que Deba achou, ela sorriu com superioridade simpática.

— Eu não sou baixinha, senhor Aldebaran, acontece que eu venho em pequenas porções para degustação!

Mu não conseguiu se segurar, e mesmo estando ainda com o peito carregado de tristeza pelo que viu e vivenciou nos últimos dias, riu divertido do amigo que enrubesceu furiosamente.

O rapaz reparou no grupo de rapazes à frente deles, alguns se aproximaram curiosos, mas a maioria permaneceu observando de longe. Perceberam também quando um deles, um chinês vestido com roupas parcialmente típicas olhou estupefato para Deba.

O que parecia o mais velho deles, vestido com um terno formal, chegou-se até ambos, acompanhado por uma garota de cabelos pretos e pele demasiada pálida. O rapaz estendeu a mão para Mu.

— Olá, meu nome é Saga e eu...

Ele foi cortado pela garota, que sorria com familiaridade para baixinha ao lado de Deba.

— Ele é o dono do prédio!

A baixinha sorriu surpresa.

— Sério? Um ricaço? Hahahahaha, se ele tivesse tudo isso uma vida atrás, talvez não tivesse feito tanta merda pelo lugar de Atena na Terra!

A garota de pele clara riu debochada, cumprimentando a baixinha, batendo o punho fechado no punho da outra.

— Mas não é?!

Saga olhou confuso para ambas, assim como Deba e Mu.

— Desculpa, mas referem-se a...?

A baixinha sorriu, caminhando até onde os outros estavam.

— Esquece... é Saga, né? Pois é, esquece Saga, é papo pra mais de um dia.

Ela virou-se para a amiga, enquanto logo atrás Saga cumprimentava Deba.

— Contou tudo a eles?

— Nem, só à parte da lenda, e você?

— Acha que eu ia deixar passar a oportunidade de ver os doze com os queixos caídos? E aí? Cadê os outros? Quem nós temos aqui?

Apontando discretamente para o grupo de rapazes afastados, a jovem de cabelos negros contou.

— Bom, Cavaleiros Dourados de Leão, Sagitário, Libra e Câncer a sua direita...

A baixinha olhou para Carlo, incomodada. — Ewwwww... da onde saiu aquele? Cheira a problema!!

— Ex-assassino da máfia...

— Que?? – A baixinha explodiu em riso. — Hahahahaha, se ela soubesse disso...

— Hah, e você acha que ela não vai saber?

— Mas sei lá... agora a gente ta cuidando de tudo, vai dar problema?

— E qual deles não vai? Enfim, temos também o Cavaleiro de Virgem e o de Capricórnio...

— Uau... gostei do tipo. Muy guapo, no?

— Heh. O pai desapareceu num incêndio, junto com os pais do Virgem ali...

— E nós sabemos que não foi um acidente.

— Qualé, nem precisa ser gênio, os parentes próximos de cada um deles desapareceram ou morreram. Ou os dois. O Áries e o Touro, como estão?

— Nhé, naquelas. A tristeza de tudo isso, é que se não tivessem dado um fim aos parentes, eles não estariam aqui.

— Há males que vem pra bem... – Ela cochichou por fim para a amiga, antes de chegar-se a eles. — Não diga isso a eles.

— Podexá! Não quero começar com o pé esquerdo com esse monte de homens com poder de matar deuses...

A baixinha cumprimentou alguns dos rapazes com um aceno, todos corresponderam, menos Carlo, que acendia um cigarro e não parecia estar olhando pra ela através de seus óculos escuros.

— Onde estão os outros e as meninas?

— Vamos nos encontrar com todos no porto. De lá partimos direto para a ilha.

A garota de cabelos negros foi interrompida por Aiolos.

— Devemos crer que só então saberemos algo mais além de lendas, não?

— Achei que um arqueólogo historiador da mitologia grega iria gostar da parte das lendas...

— Ah sim... – Ele forçou um sorriso descontraído. — Quando eram lendas.

...

O entardecer pintou o céu de laranja e o sol sumia na linha do horizonte. O navio partiu no final do dia e o mar não parecia decidido a lhes causar dificuldades, estava tranquilo, quase preguiçoso.

Camus, sentado na cabine, que dividia com Dohko, encontrava-se sozinho. Aproveitava esse momento para meditar sobre as mudanças drásticas que começaram a ocorrer na sua vida desde que encontrou a estranha garota no parque.

Lembra apenas da pseudo luta com ela, de Cristine gritando com o braço congelado e depois disso, tudo não passava de um borrão de imagens confusas. Quando recobrou a consciência, viu o modelo que posava para as fotos ao seu lado num quarto estranho, parecia um hotel. Sentou-se lentamente e perguntou o que havia acontecido e o nome dele. Necessariamente nessa ordem.

— Pode me chamar de Afrodite, é assim que todos me chamam. Sobre o que aconteceu... bom, acho melhor perguntar para ela.

E apontou para a garota que acabava de entrar no quarto, a mesma que o agrediu no parque aquático.

Recordava-se da conversa que seguiu, alguma coisa sobre guerreiros sagrados e cosmo energia. Ouviu ela se lamentar por não ter chegado a tempo e por tê-lo agredido, justificando-se como último recurso. Mas ela não contou em nenhum momento o que se seguiu após a amiga dele ter o braço congelado, ao encostar em seu ombro. Disse apenas que ele precisava entrar em contato com os pais, pois seria necessário que os três, Camus, ela e Afrodite, fizessem uma viagem urgente.

Ligou para a casa dos pais de Milo, onde os pais estavam hospedados, ninguém atendeu. Em seguida, tentou o celular de ambos, não obteve respostas e quando pensou em perguntar para a jovem se ela sabia o que estava havendo, preferiu não o fazer. Leu pelo seu rosto que a resposta não o agradaria. Foi exatamente isso, quando finalmente conseguiu contato com o amigo Milo e esse contou o que havia acontecido.

Ouviu batidas fortes na porta, preferiu não levantar ao perceber que a maçaneta já girava, fosse quem fosse, não parecia disposto a esperar uma autorização para entrar na cabine.

Viu primeiro o rosto curioso de alguém que procurava algo, então reconheceu de imediato, saltou da cama.

— Milo!

— Falaí, doido! – Sentiu-se fortemente abraçado pelo amigo, que em seguida deu uma verificada na cabine e assobiou com as mãos no bolso do jeans puído que usava. — Po, sua cabine é mais estilosa que a minha. Vou me mudar pra cá.

— Já tá ocupada, por um outro...

Milo sorriu com amargura completando a frase do amigo. — ... Cavaleiro... sei.

Ficaram em silencio por um tempo, sem conseguir encarar um ao outro. Com medo de que a qualquer momento rissem como malucos do absurdo em que estavam vivendo. Milo socou de leve o ombro de Camus, que deu alguns passos pro lado.

— Porque se escondeu aqui, to te procurando faz tempo! Heh... que loucura essa.

— Bom... – Camus suspirou – Pelo menos a gente se conhece. Poderia ser pior... não gostaria de ter que fazer esse tipo de viagem surreal sem alguém conhecido.

— Fico feliz em seu o seu “alguém conhecido”...

Camus tentou consertar. — Entendeu o que eu quis dizer, Milo.

Milo respondeu sem parecer chateado, dando mostras de que não se ofendeu com o comentário do amigo .

— A gente vai ter tempo pra falar sobre... bom, sobre o que precisar ser falado. Mas é o seguinte, tão chamando a gente lá em cima, no restaurante. Tá na hora de por os pingos nos “is”.

Camus pousou a mão na fechadura, pensativo por alguns segundos, depois olhou para Milo . — Preparado?

Amargamente, Milo riu.

— Na real? Já tive uma arma apontada na cabeça, uma costela avariada, minha casa foi completamente destruída e os nossos pais sumiram sem deixar rastros. Pode ficar pior?

Então, Camus abriu a porta, sem conseguir responder ao amigo.

...

Camus e Milo foram um dos últimos a chegarem no salão do restaurante, avistaram Ailos, Aiolia e Dohko sentados numa mesa mais a frente, comendo um lanche. Saga conversava com Shaka e pela expressão de ambos, se via que o teor da conversa não era nada muito agradável. Shura, Mu, Aldebaran e Afrodite estavam recostados a uma terceira mesa, ao lado do piano fechado. Apesar de sorrirem enquanto falavam, se via que eram risadas tristes, vazias.

O único que pareceu não se enturmar foi Carlo, que estava em pé ao lado da porta de entrada do salão, apenas observando o movimento de braços cruzados.

Nenhuma das garotas estavam presentes até então. Camus pensou em procurar uma mesa vazia, mas viu Milo se adiantar, indo para a mesa onde estavam Mu e os outros, achou melhor seguir o amigo.

Vendo os dois se aproximarem, Shura afastou com o pé uma cadeira vazia do seu lado e correspondeu ao sorriso agradecido de Milo, enquanto Camus se acomodava ao lado de Afrodite que foi o primeiro a falar.

— E ai, Camus, como é que ta a cabeça?

Camus deu de ombros, conformado.

— Parou de doer depois que resolvi fingir que ela não dói mais...

Servindo-se de um pouco de suco da jarra de vidro a sua frente, Milo riu do amigo.

— É igual ao frio, né Camus? É psicológico.

Afrodite mexeu-se desconfortável em sua cadeira, depois olhou pra Camus cheio de suspeita.

— Eu não diria isso.

Fez-se um silêncio constrangedor na mesa, mas Mu tratou de quebrá-lo.

— Acham elas estão estudando a melhor forma de nos dar a notícia?

Shura jogou os braços pra trás da cabeça, numa postura relaxada, embora não parecesse nada tranquilo.

— E tem alguma coisa pior do que passamos nesses dias? E no me refiro só àquela luz bizarra de nome curioso que brotou de nós...

Embora fosse difícil falar sobre o desaparecimento dos pais, Aldebaran achou que estando todos no mesmo barco – literalmente – não havia porque evitar o assunto.

— Como foi que eles desapareceram?

— Num incêndio – Respondeu Shura de cara fechada e apontando pra Shaka que agora parecia num momento carregado, em silêncio ao lado de Saga — Junto com os pais do rubio ali. Depois de revistarem o que sobrou da casa os bombeiros no encontraram os corpos... No sei o que é pior.

Mu foi o próximo em seu relato.

— Encontrei a loja dos meus avôs revirada, mas nem sinal deles... assim como a casa do Deba. Sumiram a mãe e a irmã dele.

Milo ergueu a mão, desanimado em repetir a história pela segunda vez, a primeira foi para Camus no telefone.

— Idem, casa numa zona só, e pais ausentes. Pra azar do Camus, os pais deles estavam hospedados na minha casa, logo...

— Recebi um telefonema do meu agente, que foi verificar como estavam meus pais, depois que falamos com a garota que nos convocou... desaparecidos. – Completou Afrodite. – Mas acham que somos os únicos com parentes desaparecidos, então, pelo que me consta o chinês e o esquisitão ali – Virou o rosto na direção de Carlo – Estão aqui pela viagem.

Mu olhando para Aiolia e Aiolos também acrescentou.

— A namorada do irmão mais novo sumiu, pelo que ouvi das conversas aqui... o mais velho deve ter vindo para acompanhar o caçula.

Depois de esvaziar o copo de suco num gole só, Milo se lembrou.

— É! E o irmão do mauricinho do Saga, o dono do prédio... também sumiu. – Depois resmungou com cara feia ao grupo. — Aquele puto ia deixar que me dessem um tiro na sala dele.

Camus não pôde deixar a oportunidade de zoar com o amigo. — Puxa, e isso sem nem ao menos te conhecer... imagina se já fosse seu amigo.

Milo mostrou o dedo do meio pra Camus.

— Olha quem fala, pelo que o Afrodite aqui me contou enquanto tu tava trancado lá embaixo na cabine, levou o maior pau da minazinha que te apanhou, raspadinha de limão.

— Ela não teve escolha, ok? Ou isso ou eu acabaria... – Camus desviou os olhos de todos que o encaravam com curiosidade. — Matando alguém...

Shura suspirou.

— É amigos, começamos muy bien...

O murmúrio dos rapazes cessou quando a maçaneta da porta do salão girou outra vez para enfim verem entrar as garotas. As primeiras a adentrar ao salão, foram reconhecidas por Camus e Afrodite. Era a mesma do parque.

Seguida dela estava a jovem de pela clara e cabelos negros que ajudou Milo e Saga, essa ao entrar acenou descontraída para o Escorpião, que correspondeu ao aceno.

Logo atrás dela, lado a lado vinham a baixinha, que ajudou Mu e Deba, e a jovem alta e negra, que Dohko reconheceu de imediato, ao mesmo tempo em que Carlo olhava pra ela com raiva, se retirando para um local longe da porta.

Por último chegou a garota alta que Aiolos e Aiolia conheceram. Quando ela entrou, os outros 10 arregalaram os olhos diante do seu tipo físico.

Camus jurou ter ouvido um “eita porra” saído da boca de Milo, mas depois de observar bem, viu que o amigo não poderia ter falado nada, tamanha era sua cara de espanto.

Shaka parecia ser o único que não reparava na “giganta”, Shura percebeu que o rapaz olhava para um canto do salão, logo atrás do piano onde a iluminação não era tão forte. Foi lá que notou o que chamava a atenção dele: sentada no banco atrás do piano, cabisbaixa e com um olhar vazio e perdido, estava a jovem de cabelos louros pálido, que os ajudou durante o incêndio.

Shaka virou para encarar o Capricórnio que manteve a expressão curiosa para ele, que sacudiu o ombro em sinal de que também não havia visto como e nem quando ela entrou no salão.

Depois que a jovem “giganta” fechou a porta dupla de acesso ao salão, sentou-se ao lado da baixinha, o que inevitavelmente dava um tom cômico a cena, dois extremos!

Camus reparou quando a garota do parque cochichou algo para a jovem de cabelos negros, que em seguida estalou os dedos das duas mãos, parecia empolgada com alguma coisa.

Mas não deu vazão aos seus pensamentos, pois logo após falar com a amiga, a garota virou-se para eles falando calmamente.

— Sei que vocês estão muito curiosos quanto ao motivo dessa viagem e, acima de tudo, estão preocupados com o que foi feito de seus familiares. Mas não precisam, eles estarão seguros, por algum tempo...

Aiolia a interrompeu, já levemente irritado.

— E como é que você pode saber disso?

A jovem sorriu tranquila.

— Porque eles são moedas de troca.

Após essas palavras, o murmúrio foi geral, mas as jovens a frente deles continuavam com expressões calmas enquanto a amiga elevava a voz para fazer-se ouvir.

— Eu peço a vocês só alguns minutos, prometo que após esse tempo, vou lhes contar onde estão e porque seus entes foram aprisionados. Porém, antes a boa educação pede que nos apresentemos...

Quando os rapazes finalmente se aquietaram, ela continuou. Ao seu lado a garota de cabelos negros colocou-se de pé, porém as outras permaneceram nas suas posições.

— Todos vocês estão aqui por fazerem parte dos sagrados Cavaleiros de Atena, bem como já lhes foi adiantado. O mesmo se aplica a nós.

Saga a interrompeu educadamente.

— Quer dizer que vocês todas também são...?

A garota negou com um movimento de cabeça.

— Não, não fazemos parte do grupo dos guerreiros sagrados que protegem Atena. Mas somos guerreiras sim, um tipo de amazonas. Porém não seguimos Atena, não lhes rendemos lealdade ou mesmo parte de nossa afeição.

— Então...?

— Nós seguimos nossa deusa. Revivemos por sua vontade, assim como todos vocês têm por destino renascerem para lutarem por Atena, nós temos por destino servir e proteger nossa deusa que, diferente de Atena, não aceita entre seus combatentes a presença masculina. Somos chamadas de Caçadoras.

Aiolos foi o primeiro a se dar conta do que a garota dizia, ocorreu-lhe como um estalo.

— ...Ártemis, a Caçadora. – Todos os outros viraram a atenção para o Sagitário, que continuou falando, perdido em sua própria explicação. — Deusa da Lua, dos animais selvagens e da natureza, protetora das amazonas e irmã gêmea de Apolo. Irmã mais nova de Atena, também filha de Zeus.

— Exatamente, Cavaleiro. – Concordou a jovem, com um sorriso satisfeito, em finalmente poder revelar a identidade de sua deusa. — Somos as Caçadoras, enviadas por Ártemis. Assim como vocês, dotadas do poder de controlar e elevar nossa Cosmo Energia.

Uma luz branca e forte encheu o salão surpreendendo aos 12. Logo a luz criou forma, humanóide. E dali a silhueta de algumas garotas sem rostos, trajadas de armaduras e peles,algumas carregavam lanças, outras arco e flechas. Saga e Milo já sabiam quem era a responsável pela visão, mas os outros rapazes admirados, observando os movimentos das mãos da jovem de cabelos negros que manipulava aquelas mulheres ilusórias. A outra continuou a explicação.

— “Porém, por ser nossa deusa aquela que zela pela natureza, recebemos a autorização suprema de manipula-la. Dando-nos o poder de utilizarmos nossa Cosmo Energia para controlar os elementos naturais.”

As formas ilusórias femininas mudaram então de aspecto. Algumas se tornarem tochas humanas, outras tiveram parte do corpo transformado em pequenas nuvens distorcido de ar. Afrodite prendeu a respiração quando uma delas, feita totalmente de água dançou a sua frente, sorrindo enquanto lhe acariciava o rosto, ao mesmo tempo em que Aiolia se admirava com uma segunda, que batia os punhos um contra o outro, transformados em terra sólida.

— “Cada uma de nós concentra seu Cosmo para utilizarmos os elementos os quais representamos, como uma forma de ataque e/ou defesa. A nós foram forjadas armaduras sagradas, assim como Atena ordenou que fizessem a vocês, ou como Posseidon ordenou que se construísse aos seus Marinas. Nossas proteções recebem o nome de Aljavas, protetoras das flechas de Ártemis, flechas essas que representam simbolicamente nossos corpos.”

As figuras ilusórias manipuladas pela jovem de cabelos negros se fundiram e tornaram-se uma só e dessa nasceu uma mulher de longos cabelos em chamas e com uma armadura feita de fogo que não consumia o tecido de seu corpo.

— ...“Eu sou o Fogo abrasador, meu nome é Valkyria, sou aquela que traja a Aljava de Vesta, a Chama Sagrada...”

Afrodite se lembrou da cena no parque aquático, quando Camus havia perdido o controle sobre e quase congelou tudo ao redor. Então foi assim que a garota conhecida agora por Valkyria, se defendeu do frio gélido. Foi através do Cosmo manipulando as chamas.

Valkyria em seguida estendeu a mão, apontando para a garota negra, Carlo revirou os olhos e Dohko concentrou-se na explicação.

—“Essa é Atalanta, aquela que domina a leveza do Ar trajando a Aljava de Zéfirus o veloz Vento Oeste...”

E novamente a figura mudou assumindo a forma de uma jovem sorridente que nos pés e no lugar das orelhas, possuía asas emplumadas. Essa passeou pelo salão despenteando os cabelos dos rapazes, enquanto ria de suas travessuras. Carlo a espantou com a mão como se não passasse de uma mosca particularmente incomoda.

—“A jovem de cabelos curtos.” Valkyria apontava para a baixinha, chamando assim a atenção de Mu e Deba – “É a potência destrutiva da Água e seu nome é Daphne, aquela que traja a Aljava de Tritão, honrando o Filho do Senhor dos Mares”

Outra mudança, no lugar da jovem com asas como da orelha, apareceu uma sereia trajando uma armadura feita de corais e com cabelos ondulados como um mar revolto. A Caçadora Valkyria apontava agora para a jovem “giganta”.

—“A que carrega o dom da Terra e tem a força de uma montanha. Essa é Palas, a Caçadora que traja a Aljava de Gorgona, a terceira Irmã de Olhar Petrificante...”

Agora a sereia era substituída por uma gigante, com braços e pernas revestidos de barro e uma máscara feita de pedra. Essa figura não se moveu, parecia apenas uma enorme estátua de braços cruzados no centro do salão.

E foi por isso que todos ficaram surpresos quando essa ultima ilusão começou a rachar e de dentro dela brotou uma forte luz branca, alguns dos rapazes protegeram os olhos com a mão ao mesmo tempo em que a gigante de terra se desfragmentava e surgia em seu lugar uma jovem de vestes brancas rasgadas e manchadas de sangue, mas não dava para ver seu rosto coberto por seus cabelos igualmente brancos como o tecido que a envolvia.

Valkyria por ultimo virou-se para a jovem de cabelos negros que sorria para o grupo.

—“O dom da ilusão. A guardiã da Luz sagrada do luar é chamada de Jana e traja a Aljava do Lobo Branco, companheiro selvagem e fiel de Artemis...”

A garota de cabelos negros, que agora todos sabiam se chamar Jana, encerrou as ilusões, batendo as mãos uma na outra num movimento de dever cumprido.

Nenhum dos rapazes ousava falar qualquer coisa, era informação demais para ser assimilada. Depois de alguns segundos de silêncio, aonde Saga procurava uma cadeira para desabar, Shaka foi o primeiro a quebrar aquela situação.

— Desculpe, é... Valkyria... mas acho que se esqueceu de alguém...

Mas foi a negra Atalanta quem respondeu ao Virgem, ao mesmo tempo que Jana deslocava-se com passos arrastados até o piano, onde a jovem pálida e de olhar vazio estava sem se manifestar em nenhum momento.

— Não esquecemos não... é que nossa amiguinha ai, não costuma usar portas, como as pessoas normais! Gosta de se esgueirar, feito uma cobra.

Só após isso os outros rapazes com exceção a Shura se voltaram ao piano para repararem na jovem de aparência curiosa. Jana já estava ao lado dela, recostada as teclas como um banco improvisado, ela apresentou a ultima Caçadora.

— Essa aqui é o meu oposto. Como tudo na vida tem um lado bom e ruim, eu apresento a vocês nossa paria, a velha jovem Katrine. Um empréstimo do Submundo a nossa deusa por seus antigos préstimos como Caçadora. A ela foi dado o dom das Trevas, o mais perigoso e vil. Assim como a Aljava de Hécate, Senhora Negativa da Noite e da Escuridão Mórbida.

Apesar das palavras nada afetivas de Jana, Katrine não parecia se ofender, aliás, a garota não demonstrava nada a não ser uma apatia quase patológica.

Mais uma vez o silencio, mas agora não era por informações a serem assimiladas e sim pelo constrangimento causado pelas palavras de Jana, que os rapazes notaram sorrir de mordaz para a tal Katrine de olhar morto.

Aiolia tentou conter a curiosidade, mas essa foi maior que suas forças.

— Fala como se ela fosse uma... traidora, usar uma palavra como paria...

Jana deu de ombros, Valkyria que já se aproximava da mesa onde estava Afrodite e os outros, advertiu.

— Sim, é o que ela é. Uma traidora entre as Caçadoras...

Saga quis saber, sentindo-se muito incomodado por ter entre o grupo alguém que notavelmente não era referencia de boa companhia.

— Desculpem, mas se é assim... por que Ártemis permitiu que ela se juntasse novamente ao seu grupo de guerreiras?

— Se ela é tudo isso que disseram, se é uma traidora do grupo, pode representar um perigo para todos nós, não? — Perguntou Afrodite, um tanto preocupado, que ao encarar Katrine sentiu um arrepio incontrolável com a negatividade que ela emanava.

Valkyria não se preocupava em esconder toda a repulsa que sentia por Katrine, se via pela forma como suas sobrancelhas se arquearam ao olhar para a outra, que permanecia sentada, imóvel como uma boneca de cerâmica.

— Questionamos as ações dos deuses, aos quais defendemos Afrodite, somente em circunstancias muito especiais. Principalmente quando uma causa muito maior está envolvida. Ela foi uma boa Caçadora, era a segunda mais forte, senão a primeira... Precisaremos dela, é uma boa aquisição para o que nos aguarda.

Finalmente Carlo se manifestou, atirando a bituca de seu cigarro ainda fumegante num cinzeiro de chão.

— Heh! Pelo visto, é parada casca grossa, pra tal dona Lua ter autorizado uma criatura tão “amada” assim no seu clube da luluzinha...

Jana lançou um olhar sobre os ombros e sorriu maldosamente, como quem esconde um tesouro valioso, mas foi Atalanta quem respondeu de má vontade.

— Acertou, Câncer, ou realmente acha que nós Caçadoras de Ártemis estaríamos nos envolvendo com homens por algum assunto corriqueiro? Nunca precisamos da ajuda de vocês para nada até hoje... Humpf! Cavaleiros de Atena, que piada!

Valkyria estendeu a mão para Atalanta, num sinal mudo de que a amiga deveria se calar. Um se levantou preparando a pergunta que todos queriam fazer, mas poucos tinham certeza de querer ouvir a resposta.

— Então chegamos aqui, não? Ao motivo das Caçadoras de Ártemis, terem se juntado com aqueles que vocês chamam de Cavaleiros de Ouro de Atena...

— Deve ser um motivo muito forte – Aiolos sorria na outra mesa, ao lado de Dohko e Aiolia, mas não era um sinal de deboche, apenas de curiosidade. — Reunir-se a homens não é nada comum para as seguidoras da deusa Lua.

Jana puxou a cadeira que estava ao seu lado, sentou de forma a apoiar os braços no encosto para as costas, numa postura descontraída, suspirou fundo e ainda com aquele sorriso de coringa, começou.

— Estão certos, rapazes. Todos vocês. Mas o que vêm por ai é muito maior que a rixa entre esse ou aquele deus. Nós Caçadoras de Ártemis podemos enfrentar? Não, do contrário, não estaríamos recorrendo aos guerreiros sagrados de Atena, aqueles conhecidos por “serem os matadores de deuses”

“ Já contamos quem são e a lenda que os cerca, sendo assim, acho que já passou da hora de vocês saberem qual o real significado de seus nascimentos ou melhor dizendo, renascimentos”.

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo, dessa vez explicando quem são as tais Caçadoras e qual deus elas representam! =D

E finalmente os 12 dourados se encontram juntos, no mesmo barco. >D Sim, foi um trocadilho horrível, mas eu sou dessas.

Me processem. >)



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