Middletown — Ohio

A pior parte de apaixonar são os efeitos colaterais... Você sente como se seu coração não estivesse mais batendo, como se ninguém pudesse te ajudar. Novamente eu estava atirada na cama, era 10:00 da manha e Lilith ainda não fora lá no meu apartamento com a desculpa de pegar um pouco de café.

Talvez ela tivesse coisas mais importantes para fazer, eu tentei não pensar no Joseph mais isso era tão impossível. A cada minuto pegava o meu celular para verificar se não havia nenhuma mensagem... Nem uma.

— Ele só está confuso Sam... — Falei para mim mesma tentando me acalmar.

Não. Uma voz falou na minha cabeça. Não vê que ele não te ama? Aquilo iria me matar se continuasse. Eu não podia me trancar no quarto tentando fingir que não estava em estado decadente.

Mais uma hora se passou e eu ainda deitada. Arrastei-me para fora da cama ainda com o cobertor e fiquei deitada no tapete felpudo, enrolada no edredom. Aquilo me acalmava. A neve que caia do lado de fora me deixava mais calma, como que por um momento aquilo me fizesse lembrar da minha infância.

Quando eu era mais nova eu e meus ais sempre patinávamos no lago que tinha lá. Liam patinava com a gente às vezes. Quando me tornei adolescente quem patinava comigo era Joseph... Tudo que eu lembrasse faria com que Joseph se encaixasse no meio.

— Esta tão frio. Porque não fica na cama? — Lilith falou me despertando.

— Como entrou? — Esfreguei os olhos enquanto ela deitava no tapete comigo.

— Chaves extras. — Ela se aconchegou junto comigo no edredom. — Porque ainda não tomou um banho?

— Esta frio, estou deprimida e não quero sair daqui. — Fiz biquinho

— Você vai sair porque vamos tomar um cappuccino... Vamos, levante-se Samantha.

— Porque? Eu deveria enfiar uma faca no meu estomago...

— A Samantha que eu conheço iria pelo menos dar uma chance a si mesma.

Fui obrigada a concordar. Eu estava deprimida e era por isso que eu merecia um bom Cappuccino no café da manha — ou almoço já que são 11:00.

— Te dou cinco minutos para estar pronta, pelo contrario não pagarei o biscoito.

— Cadê o espírito natalino? — Forcei um sorriso e entrei no banheiro.

"Não está nem perto do natal" ouvi Lilith dizer antes de eu fechar a porta do banheiro.

oOo

Eu estava totalmente agasalhada, não queria pegar um resfriado. Isso seria muito azar. Apesar de não ser nem um pouco comum estava nevando no final de outubro. Sim, final de outubro. Deve ser um desses problemas do planeta.

Sentamos em uma mesa perto da lareira que estava acesa. Era aconchegante.

Lilith fez seu pedido, assim como eu ela queria um cappuccino caprichado, daqueles para acabar com qualquer tristeza ou magoa. Meus olhos pareciam inchados e estava avermelhado.

— Que tal sairmos hoje? — Ela passou o guardanapo onde havia caído chantilly.

— Não. Não mesmo. — Neguei com a cabeça bebendo minha bebida.

— Ficar em casa não ajuda.

— Vou assistir Discovery e tomarei um chá quente.

— Só isso?

— Odeio o frio Lilith. Você sabe, eu fico toda tremula e não consigo falar. Seria terrível andar pela cidade assim.

— Provavelmente seu encontro com o Discovery é apenas a dois não é mesmo?

— Claro. Isso se você contar o chá como um bom acompanhante.

Lilith sorriu. Provavelmente pensou que a velha Samantha Mahoney havia voltado, que eu já havia me recuperado. Não. Não é tão fácil assim.

Depois de tomarmos o cappuccino e andarmos pela cidade por alguns minutos eu resolvi ir para casa, estava querendo me deitar novamente, porem eu tinha que arrumar o apartamento. Talvez uma faxina bem feita e deixaria ocupada tempo suficiente.

Limpei a cozinha, em seguida esfreguei a bancada, estava com uma sujeira de fritura de Bacon. Joseph, pensei. Limpei o banheiro, sala, quarto. Limpei a sacada do apartamento e fiquei um bom tempo lá fora olhando a cidade e os aviões que voavam para lá e para cá. Como Joseph podia estar em um deles, pensei.

Liguei a televisão no Discovery e assim como disse a Lilith levei um copo de chá bem quente comigo. Tentei ficar acordada o Maximo que pude, mais entre ficar acordada e esperar uma mensagem do Joseph que não viria e dormir eu escolhi o obvio...

oOo

Deveria ser umas duas da manhã quando acordei com o barulho do meu celular. Ele estava tocando e eu quase não consegui atendê-lo a tempo.

— Alo? — Falei com a voz rouca.

— Sam? — Era a voz da Nina.

— Nina?

— Sim. Onde você esta? Estamos preocupados, você não atendia o celular.

— Voltei para Ohio... — Estava confusa.

— Então quer dizer que não haverá mais casamento não é?

— Já não iria ter casamento de qualquer jeito Nina. Aquela farsa algum dia iria acabar, foi melhor assim.

— Samantha...

— O que? — Tentei disfarçar a voz de choro.

— Você precisa voltar. Todos nós estamos com saudades de você...

— Não. E mesmo que eu quisesse não da. As estradas e os aviões... Não posso nem sair de casa.

— Então é isso...

— O que? — Fiquei confusa.

— Nada. Bem, volte a descansar, amanha te ligo.

— Ta bom...

Desliguei o celular e o joguei para longe, torcendo que ele não tivesse estragado na queda. Parte de mim queria que aquela ligação fosse do Joseph...

oOo

Eu dormi no sofá, nem havia reparado nisso. Levantei-me na manha seguindo mais cedo do que o normal e torci para ter um pouco de sol no chão da cozinha. Ainda bem, tinha um pouco de sol.

Isso significava que no terraço tinha sol também, porem eu não poderia aproveitar o mesmo porque antes que eu chegasse na porta de vidro alguém bateu na porta.

Abri e era a Lilith.

— Porque não usou suas chaves?

— Porque eu estou com as mãos cheias, não vê? — Ela deu um sorrisinho sarcástico.

— Entra aí.

Ela deu alguns passos e jogou tudo aquilo no meu sofá, deixando-o mais bagunçado do que ele estava.

— Fiz compras e resolvi trazer algumas coisas para você.

— Tipo saias longas e blusas largas?

Ela deu uma risadinha e olhou para mim.

— Não. Dessa vez eu trouxe algo melhor. — Ela pegou uma sacola bem bonita, com detalhes em dourado. Eu já vira aquilo em algum lugar.

— O que?