Exergue-me - EM HIATUS escrita por Alihhh


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Olá!!! Primeiramente, gostaria de pedir perdão a todos que acompanham "Enxergue-me". Como disse na minha outra história, "As mãos da Rainha", estava na época de provas da minha faculdade. Ainda estou, mas felizmente essa semana não tem mais nenhuma prova ou trabalho (Ufa!). Muito obrigada pela compreensão e boa leitura!
Só uma observação, se não for dizer muito, vocês podem me avisar quais foram os erros de digitação deste capítulo? Estava lendo os outros dois postados e encontrei vários errinho bobos, porém importantes!!! Agradeço desde já!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/539264/chapter/3

Meu coração é cristal. Cristal envenenado de confusão. Cristal trincado com incertezas. Cristal estilhaçado na rocha.

Eu sou quem acredito ser?

O que sou?

O que acredito?

No mais profundo abismo, uma mosca se contorce na teia de uma aranha-reclusa. Porém, quanto mais o inseto tenta fugir, mais preso seu diminuto corpo se encontra. A belíssima aranha se aproxima lentamente, ela gosta da tortura. Gosta de ver a mosca debater-se inutilmente nos seus últimos segundos de vida. A aranha aproxima-se mais e para.

A mosca não é mais uma mosca, ela começa a mudar.

A transformação é asquerosa, entranhas tergiversam-se entre si, a pele explode e sulcos escuros irrompem das torcidas asas do inseto. A mosca agora é uma vespa. Uma vespa tão sedenta de sangue como a outra. A aranha por alguns segundos permanece quieta, assustada com a repentina atração medonha. Contudo logo suas preocupação desaparecem. A mosca pode ser uma vespa agora, mas ainda está presa em sua armadilha. Não importa quão letal ela seja, uma vez presa, não há chance de sobrevivência. A aranha-reclusa avança e crava suas finas, delicadas e letais presas na vespa. E no fim, a vespa morre como uma mosca.

Meus delirantes pensamentos são interrompidos quando ele entra novamente no quarto. O cabelo ainda continua com o mesmo tom claro, os olhos ainda continuam com o mesmo brilho sádico, a boca ainda continua contorcida na mesma careta disfarçada de sorriso. A beleza horrenda da aranha estampada em suas células. Se o que ele havia dito era verdade, se realmente sou quem diz que sou, agora é irrelevante. Se tornou insignificante no momento que seus olhos me capturaram na primeira vez.

– Pensei que nunca iria parar de gritar. - o bote é preparado, mas não efetivado. Não há pressa, a precipitação é desnecessária. Ouço uma leve risada, percebo que sou eu. Provavelmente enlouqueci. Ou talvez sempre fui louca, somente não me lembro. Não importa.

Devo ser muito fraca, concluo. Deveria ser mais forte, cogito. Não existe mais esperança, entendo.

Gostaria de saber quanto tempo fiquei sozinha neste quarto. A dor que sinto no lugar onde um dia foi meu estomago me diz que não foram meras horas. Porém, é impossível saber neste quarto sem janelas.

– Estou aqui há quanto tempo? - algo dentro de mim mudou, talvez um fantasma de quem fui, talvez a aceitação após o choque inicial. Quando abri meus olhos pela primeira vez neste lugar, me apavorei. Era uma criança mimada recebendo o primeiro tapa. Certeiro e dolorido. Porém, não importa o motivo da mudança. Não importa se mudei.

– Quem faz as perguntas aqui, sou eu. - o sorriso seguido da afirmação não me abala, antes mesmo de perguntar, já sabia a resposta. Na realidade, pensei que seria pior. - Mas primeiro, acredito que já teve tempo suficiente para pensar nas consequências de seus atos. Acredito que poderemos continuar nossa conversa sem dramas desnecessários, aliás você me pegou de surpresa. Não esperava aquela reação vinda de você.

– Se quiser conversar, gostaria que me desamarrasse. Serei completamente honesta após comer e beber alguma coisa.

– Eu diria que você não está em condições de exigir nada, porém estou com um ótimo humor essa manhã. - meus olhos se arregalam momentaneamente, o simples fato de saber que estamos na parte da manhã me revigora de alguma maneira, ou talvez o fato dele estar cedendo para minhas necessidades básicas. - aceito suas condições. Mas não se acostume. Luka!, - agora sua voz direciona-se para a porta de saída, ele está falando com outra pessoa. Não estamos sozinhos neste local, concluo. Não sei se fico feliz ou não com esta nova informação. - traga comida e água! Agora.

No mesmo instante um menino, por volta de 15 anos, entra no quarto carregando uma bandeja. Ele é alto e magro, seus membros são finos e desengonçados. Típico de meninos na puberdade que cresceram rápido demais e não tem exato controle de suas pernas e braços. O cabelo é preto e encaracolado, não muito curto. Os olhos são castanhos esverdeados, o nariz é achatado e sua boca é fina. Seu rosto é coberto de espinhas. Está usando uma bermuda jeans e camiseta azul marinho lisa. Não consigo ver seus pés, não sei se está descalço. Provavelmente não está. A bandeja é prateada e sobre ela está um prato e um copo d'água. Não consigo ver o que tem no prato. Não me importo, estou com muita fome para me importar.

Minha análise leva menos de um segundo. O segundo seguinte é preenchido por um gemido estranho. Dessa vez, o som não vem de mim. Percebo que quem está emitindo o ruído, é o garoto. Luka.

– Ma-marie? - o menino balbucia fracamente. Existe algo errado nesta afirmação. Luka parece estar chocado, incrédulo e... algo mais. Não sei identificar qual sentimento é esse que transborda no coração do menino. Seus olhos estão molhados, percebo que ele está chorando. Seus olhos ficam mais verdes quando estão cheios de lágrimas. Um segundo depois sei qual sentimento desconhecido é esse, ele está feliz em me ver. No instante seguinte ele está irritado, algo o perturbou acima de qualquer limite. Não sei o motivo, só sei o sentimento. - Zene, o que significa isso? Por que Marie está neste estado? - não sei o que me surpreende mais. Saber o nome daquele homem odioso, ou saber que o motivo da felicidade de Luka foi me ver e da raiva me ver presa.

– Luka, não vou responder sua pergunta. Irei mostrar a você. Quero que olhe no fundo dos olhos da Marie. - o menino imediatamente obedece o comendo de Zene. Ele parece decidido, seus olhos molhados prendem meu olhar. Sinto que ele acredita e tem total confiança em mim. Percebo em sobressalto que ele também acredita em Zene, apesar de não confiar nele da mesma forma que confia em mim - Ótimo. Agora, Marie, peça para ele te soltar.

A ordem é ilógica, porém a sigo fielmente. Acredito que isso pode me levar a liberdade e a bandeja com comida. Nada acontece. Luka não faz o que pedi, continua me olhando sem ao menos piscar. Algo brota no fundo dele, um sentimento de confusão e desespero. Algo está errado. Não entendo. Mas agora, me importo. Existe alguma coisa nesse menino, alguma coisa importante. Meu coração sente que ele é especial, mas minha mente recusa a me dar as respostas que preciso.

– Por favor, me solte. - tento mais uma vez. Novamente Luka não se move. Sua expressão é de completa confusão, ele está abismado, desentendido, desamparado. Preciso abraça-lo. Preciso esfregar minhas mãos nas suas costas e dizer que tudo vai ficar bem. - Está tudo bem. Vamos, me desamarre, destranque estas algemas.

A cabeça de Luka lentamente gira em direção a Zene. Se houvesse um ponto de interrogação desenhado em vermelho em sua testa, seria menos evidente do que a interrogação em seus olhos.

– O que está acontecendo, Zene? O que há com ela? O que há com minha irmã? - sinto como se tivesse levado um soco na boca do estomago.

– Irmã? - a palavra escapa de meus lábios secos e rachados. - Irmã? - volto a dizer. Aquele sentimento de que ele era alguém especial não era sem fundamento, afinal. Luka virasse rapidamente para mim, seus olhos demonstram magoa.

Porém nenhum de nós pode dizer mais nada. A porta abre em um estrondo e uma terceira figura preenche o quarto. Ele é completamente diferente dos outros dois. Por um segundo imagino se haveria alguma outra mulher na casa, ao olhar seu rosto, não me importo mais com nada. A cor do olho do recém chegado é cinza claro. Ele deveria ter vinte anos, no máximo. Seu cabelo é castanho e liso, lábios grossos, nariz fino, mandíbula larga e longos cílios escuros. Os ombros largos são camuflados por um grosso casaco de moletom preto fechado, um símbolo desconhecido estampado na frente.

Ele imediatamente se dirige a Zene, não houve palavras. Seus olhos se encontram por alguns segundos e ele olha para mim. Ninguém ousa dizer nenhuma palavra, porém Luka chora silenciosamente. Ele havia compreendido o inevitável: eu não sabia quem ele era. Me sinto um tipo estranho de monstro, o sentimento de culpa preenche meu peito.

– Luka, desamarre-a. - sua voz é grossa, mas ao mesmo tempo melodiosa.

O menino se move lentamente. Primeiro deposita a bandeja no chão e depois se vira para Zene e estende a mão, segundos depois uma pequena chave é depositada em sua palma. Após estar livre, lentamente começo a me mexer. Dói muito a principio, passar tanto tempo na mesma posição deixou minhas juntas doloridas e sensíveis. Aos poucos consigo sentar, mas meus ombros estão em chamas. A bandeja me é oferecida após ordens do homem recém chegado. Percebo que provavelmente ele é o líder daqueles três. O prato contém uma substancia bege, começo a comer vagarosamente, afinal sei que depois de ficar tanto tempo de estomago vazio, colocar tudo pra dentro só me faria mal. Beberico a água de tempos em tempos. Rápido demais estou raspando o prato em busca de alguma migalha escondida na cerâmica. Obviamente não há mais nada. A água também já havia acabado.

Os três me olham em expectativa. Quando percebo o quão burra havia sido, a fome e sede haviam me cegado.

– Está envenenado. - sussurro pra ninguém. Somente preciso verbalizar. Aqueles três estavam brincando comigo este tempo todo. No final, a aranha deu seu bote. E não importa se eu sou uma mosca, vespa ou ser humano. O fim seria o mesmo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!!!
OBS: Temos uma FicTrailer agora!!!

https://www.youtube.com/watch?v=EGvnF8zBxLI

E para quem se interessar, escrevo outra fanfic. Vou deixar o trailer e o link!
TRAILER: https://www.youtube.com/watch?v=rBhowwuak9c&feature=youtu.be
LINK: http://fanfiction.com.br/historia/528463/As_maos_da_Rainha/