Exergue-me - EM HIATUS escrita por Alihhh


Capítulo 2
Capítulo 1




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Abro lentamente os olhos, me arrependo. Minha cabeça está latejando. Milhares de agulhas perfuram meu cérebro. Sinto a pulsação sanguínea em minhas têmporas. Ecos de um passado recente me atordoam. O vazio de um passado anterior inexistente me aterroriza. Estou com medo. Tento me localizar. Estou deitada em uma cama. Sinto os calombos em meu dorso. Ao me mover levemente, gemo de dor. Meu corpo está rígido. Devo estar dormindo há muito tempo, concluo.

Há duas portas no quarto. Uma fechada e outra aberta. A fechada provavelmente é a saída. Consigo visualizar resquícios de um banheiro do outro lado da outra.

Tento me levantar, não consigo. Percebo que eu não estou simplesmente deitada na cama, estou presa nela. Minhas mãos estão presas por algemas a cabeceira da cama, meus pés também estão amarrados. Agora entendo toda a rigidez. Estou na mesma posição há horas. Estremeço.

– É só um sonho. - Tento inutilmente murmurar, porém há uma fita unindo meus lábios. Impedindo-me de falar. Impedindo-me de gritar por ajuda, ou emitir quaisquer sons além de débeis múrmuros descontentes e rachados. Minha garganta parece estar rachada. Preciso de água. Meu estomago dói. Preciso de comida. Aperto meus olhos numa medíocre tentativa de acordar. Ao abri-los me deparo com o mesmo cenário. Nada mudou.

Não estou sonhando.

Entro em pânico.

Como isso pode acontecer comigo?

O que eu fiz?

Por que?

As respostas viram seus rostos pra mim. Não querem me ouvir. Simplesmente me ignoram. Fingir que nada está acontecendo é mais fácil.

Meu cérebro continua a implorar as respostas. O que eu estou fazendo? É inútil. Estou nervosa demais para raciocinar algo direito.

Tento me acalmar. Raciocinar. Juntar as peças do quebra-cabeças.

Começo pelo inicio. O que eu estava fazendo? Eu me lembro de estar naquela rua da cidade, mas qual cidade? Lembro de entrar no parque. Lembro dos olhos castanhos que me prenderam. De quem eram aqueles olhos? Pertencia a um homem? Era uma mulher? Criança? Idoso? Mais perguntas sem respostas. Minha mente vira na rua da insanidade.

Tento inutilmente me acalmar, de novo, Porém as mesmas perguntas inundam minha consciência, trazendo com elas o pânico. Como posso me acalmar? Como vou acalmar? Eu estou presa! Estou amordaçada! Volto a estaca zero entrando em pânico novamente.

Só percebo que estou chorando quando não consigo mais enxergar. As lágrimas transbordam dos meus olhos como uma enchente de um rio em época de cheias.

Não posso dizer quanto tempo passou. Minutos? Horas? A única coisa que tenho certeza é que me encontro no mesmo estado desesperado de antes. Será que vou apodrecer neste quarto? Passar meus últimos minutos na solidão e escuridão deste ambiente sem nenhuma janela?

Minhas dúvidas estilhaçam-se na parede assim que ouço a fechadura da porta. Alguém entrou. Mas não um qualquer alguém. Aquele alguém... o dono do par de olhos castanhos. Pertencia a um homem, no fim das contas.

Ele é alto e forte, consigo ver a forma dos músculos moldando a camisa. Seu cabelo é claro e comprido. Seus olhos são espertos e sádicos. Sua boca se contorce num sorriso. Parece uma careta, mas não é feia. Mas tenho medo dela. Tenho medo de tudo nele, na verdade.

– Vejo que finalmente acordou. Você estava muito fraca. - sua voz é escarnecida. Parece estar adorando o que vê. Se divertindo. Seus olhos estão franzidos, formando pés de galinha em suas têmporas, piorando a careta. - Pessoalmente não sabia por quanto tempo você ficaria assim tão.... frágil? Quase não pude acreditar quando te vi naquele parque. Imagine minha reação ao perceber que caiu tão facilmente em uma conexão de alma?- Há incredulidade em sua voz. Ele explode em gargalhadas. Me contraio e seguro o choro. Minha mente tenta desesperadamente buscar a resposta para a nova pergunta. O que é uma conexão de alma? - Só para te alertar: também coloquei, o que deu muito trabalho, uma barreira de energia ao redor do quarto... por isso não tente nenhuma gracinha! Uma barreira bem poderosa.

Tento dizer algo, mas não consigo. A fita me impede. Percebendo meu ato, o homem se aproxima e a arranca sem piedade. Grito de dor.

– O que você queria dizer, docinho?

– Quem é você? - fico surpresa com a coerência e dicção de minha voz. - Como assim conexão de alma? Barreira de energia? Por que estou aqui? Por favor, me liberte! Não fiz nada de errado! O que você quer de mim? - as perguntas irrompem minha boca e não posso fazer nada a respeito. Minha boca tem vida própria agora. Não tenho mais domínio sobre ela.

– Você sabe muito bem o porque de estar aqui! Me de um tempo, Marie! Pare de agir como se você fosse uma inocente garota que não sabe de nada! Mas que cara é essa?! Oh, pare de fingir! Te conheço muito bem! - o homem parece perder o controle e grita.

Entro em choque. Como assim eu sei as respostas? As respostas viraram seus rostos! Me ignoraram! Eu não estou fingindo. Porém o que mais me choca é a pergunta infantil que sai de meus lábios ensanguentados e doloridos pela fita:

– Quem é Marie?

– Quem é Marie? - ele repete minha pergunta. - Quem é Marie? Você está tentando me irritar? Seu joguinho de perda de memória já está passando dos limites! Só vai te ferrar e você sabe muito bem disso. Você não pode sumir com todo aquele dinheiro e voltar dizendo que não sabe quem você é!

– Todo aquele dinheiro? Moço, você pegou a pessoa errada!

– Peguei a pessoa errada? - ele pressiona o nariz na altura dos olhos exasperado. - Se seu nome não é Marie, então qual é o seu nome? - meu olhos se arregalam com a terrível verdade: eu não sei. Minha mente está vagando na escuridão da interrogação. Percebendo meu choque, sorri vitorioso. Ele interpreta erroneamente minha expressão. - Estou avisando. Pare com isso. Vou sair por enquanto. Enquanto estiver sozinha é melhor pensar bem e acabar com essa palhaçada. Minha paciência tem limite. Mas se você realmente esqueceu... o que eu duvido. E muito! Vai ser interessante ter você aqui. - Ele disse colocando o dedo indicador na palma da sua mão. - Interessante e muito divertido. - Sua palavras finais são ditas e ele sai do quarto, trancando a porta em seguida.

Me deixando amarrada no mesmo lugar.

Mas há uma diferença. Mesmo com diversas perguntas acrescentadas a lista sem fim.

Agora, ao menos, posso gritar.


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Notas finais do capítulo

Cometar faz parte, sabe? kkkkkkkkkk