Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 74
Esperança | Alexander


Notas iniciais do capítulo

Hoje é (quase) quinta, hoje é dia de RDC.
Eu sei que já faz meia hora que não é quinta-feira, mas juro que o post estava prontíssimo pra hoje/ontem mais cedo. Eu terminei o capítulo pela manha e depois resolvi revisar (não confio mais em mim mesma escrevendo porque passei tanto tempo sem fazer isso que acho que perdi a prática). Tudo ficou pronto de tarde, mas aí eu tive que sair para o ensaio geral do musical do qual eu estava participando (foi hoje a apresentação e foi lindooo, Carol, Ana e Amanda, se um dia vocês lerem isso, saibam que eu tenho muita admiração por vocês)
Enfim, o importante é que o capítulo saiu!!! E saiu cedo, porque não tivemos uma pausa de 7 meses!
A partir de agora, espero postar com mais frequência. Não garanto que será uma vez por semana como era algum tempo atrás, mas prometo que vou fazer de tudo para não abandonar a fic por tanto tempo hahaha
Esse capítulo volta para o ponto de vista de Alexander depois de muito tempo!
Boa leitura e até as notas finais!
xoxo ♥ ACE
PS: As notas devem estar meio sem sentido. Me desculpem, eu estou com muito sono.



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Os olhos castanhos de Alexander estavam fixos nas ondas que se quebravam de forma suave no mar perfeitamente azul em sua frente. Seus cabelos, já mais compridos que o usual, voavam com a brisa gelada de início de novembro, que trazia consigo algumas folhas secas do parque que ficava ao lado do Palácio. Em sua volta, a paisagem já começava a ficar branca, resultado da neve que caíra pela primeira vez na noite anterior, o que indicava que logo o frio intenso congelaria todo o território dinamarquês. A grama, que quando chegaram a Skagen — um pouco mais de um mês antes — se mostrava nos tons mais vívidos de verde, agora, lentamente, se tornava marrom, escondendo sua felicidade para sobreviver à tristeza do inverno com seus dias gélidos e cinzas.

O Príncipe Herdeiro, entretanto, ignorava as baixas temperaturas, estando vestido apenas com um fino casaco azul-escuro que não o protegia nem um pouco. Mas era sua única opção. O frio, mesmo sendo tão comum aos dinamarqueses, afastava perguntas, conversas e, principalmente, responsabilidades. Nas últimas semanas, após o anúncio de sua escolha à família e às outras Selecionadas, a vida do rapaz se resumira à organização formal da competição e a outros assuntos de Estado — em que os pais o envolveram com a justificativa que logo seria ele a cuidar das mais importantes questões do país. Mesmo estando tão longe de Copenhague, as notícias da Guerra chegavam muito rápido e nem sempre eram positivas. Com a deposição de Luther, as tropas germânicas haviam recuado, apaziguando a frente ocidental do conflito. Porém, ainda que tenha perdido seus aliados mais importantes, a Turquia seguia com seus ataques ao país vizinho, não sinalizando um desfecho próximo às hostilidades. Dessa forma, em momento algum os Reis ou Alexander estavam livres da papelada, e o Príncipe se sentia cada vez mais sufocado.

Ali, então, Alexei poderia finalmente ter uma pausa. Finalmente poderia ter a apenas a companhia de seus pensamentos. Seus pensamentos, então, voaram com a brisa invernal, levando-o aos mais diversos lugares. Sua cabeça, sem preocupações, pelo menos momentaneamente, se deu a liberdade de vagar por suas recordações. Com o frio batendo em seu rosto, era como se ele voltasse ao ano anterior, naquela mesma época do ano, quando a família passava o fim de semana em Lyngby-Taarbæk, um subúrbio da capital. Ao fechar os olhos, a memória daquele dia sem preocupações ficava ainda mais viva. Era o aniversário de 16 anos das gêmeas, e o universo os brindara com uma nevasca alguns dias antes, fato raro que embranquecera totalmente as colinas do Palácio de Sorgenfri. Como se fossem apenas crianças comuns, os cinco irmãos, animados, passaram o dia todo brincando na neve. Naquelas poucas horas, Alexander havia se sentido mais feliz do que nunca. E agora, no auge do seu estresse, apenas a lembrança daquele momento o fazia sorrir.

Com pesar, ele recordou-se do sorriso radiante de Isabella, que, com casaco mais grosso, se atirava nos montes de neve com a irmã. Seus risos poderiam ser ouvidos por todos os terrenos do palácio e sua alegria conseguia clarear até o dia mais cinza. Mal sabia o irmão mais velho que, um ano depois, com a data se aproximando novamente, só uma das meninas estaria ali comemorar. Ele daria tudo para voltar algumas semanas, para antes da tragédia que desolara toda sua família. Queria ainda estar em Copenhague, levando a competição normalmente. “Será que as coisas teriam sido diferentes?” Pensava ele, abrindo os olhos e se deparando mais uma vez com a imensidão do mar em sua frente. “Será que eu teria feito as mesmas escolhas?

Bom, ele nunca saberia.

O silêncio que o fazia viajar pelas lembranças, porém, em poucos minutos, foi interrompido pelo som regular de passos, os quais vinham da área de concreto que levava ao quintal. Ao contrário do que ele pensava, o frio, não fora capaz de afastar uma pessoa. Laryssa surgiu lentamente no campo de visão do rapaz. Os olhos dele, inconscientemente, focaram na barriga da garota. O suéter rosa e o cachecol colorido — assim como todas as roupas que ela utilizara no período que estava no palácio — ainda escondiam o ventre que certamente já se desenvolvia com velocidade. Prestando muita atenção, ele já era capaz de ver uma pequena saliência, o que já significava um mundo para Alexei. Há algumas semanas, aquela menina era apenas uma competidora comum, que tentava, como todas as outras, conquistar seu coração. Mas agora tudo era diferente. Dentro dela, uma criança crescia. Em alguns meses, os dois estariam casados, ela seria sua Princesa consorte. E isso tudo deixava Alexei apavorado.

Ela não falou nada, apenas fixou seus olhos no mar. Pequenos fios de seu belo cabelo ruivo se soltavam lentamente por conta do vento. E, mesmo estando muito melhor vestida do que o rapaz, ela se encolhia de frio, abraçando o tronco com os próprios braços. Ele não sabia o porquê de ela estar ali. Talvez quisesse ter um momento a sós e fora surpreendida pela presença dele, talvez tivesse visto o futuro marido sozinho nos jardins e decidira ir falar com ele. Qualquer que fosse o motivo, apesar de tudo, sua presença, tão suave e delicada, reconfortava-o.

— Eu estava pensando em Isabella — ele disse, enfim olhando diretamente para a garota após alguns instantes perdido em seus pensamentos. — No quanto a morte dela mudou nossos destinos. Você pensa que as coisas teriam sido diferentes se ela ainda estivesse aqui?

— Diferentes como? — ela questionou, ficando de frente para ele.

— Em relação às escolhas que tomamos. Mandar Henrik para outro continente, mover a casa real para o extremo do país, terminar a Seleção mais rápido… — Ele suspirou, também virando-se para ela. — Não estou dizendo que todas foram decisões ruins, mas talvez elas não tivessem sido as mesmas se aquela bomba nunca tivesse explodido.

— Pode ser que sim — ela respondeu, ainda com a expressão muito calma. — Mas algumas coisas acontecem para fazer com que nossas vidas tomem o caminho do destino, por mais que sejam ruins ou que causem tanta dor quanto a morte de sua irmã.

Os olhos do Príncipe logo se voltaram para a barriga da menina. Ele pensou em todo o trauma pelo qual ela passou antes de chegar ao Palácio, em como ela deveria ter chorado ou ter pensado que nunca mais conseguiria retomar a sua vida. Mas ela estava ali. Ela conseguira achar um rumo.

— Eu teria feito tudo diferente se pudesse — ela afirmou, esticando os braços para tocar nas mãos dele. — Nunca teria aberto a porta para meu vizinho. Talvez teria gritado mais, a ponto de fazer com que os outros moradores do bairro. Assim, eu nunca teria de passar pelo que passei, nunca sentiria a dor que senti. Entretanto, por mais que o sofrimento tenha sido insuportável, agora entendo que ele levou a alguma felicidade, se é que isso é possível.

— Mas como que a morte de Bella pode trazer algo bom? — ele perguntou, fitando-a nos olhos. — Até agora, eu só vejo dor nisso.

— Eu não sei, Alexei. — Ela deu um passo à frente, ficando ainda mais perto do garoto. — Ainda é muito recente, é claro que todos vocês ainda estejam em luto, lamentando a morte precoce ao invés de celebrar a vida incrível que ela teve, apesar de tudo.

Ele ficou em silêncio por um tempo. Alguns minutos antes, ele estava lembrando de um momento alegre que vivera com a falecida irmã. Sua futura esposa poderia, sim, estar certa. Isabella aproveitou sua curta vida. Era difícil vê-la sem um sorriso em seu rosto. Talvez ele devesse começar a pensar nela com a alegria que ela sempre teve, não com a tristeza que raramente estava presente nos olhos da Princesa.

— Pouco tempo atrás, ouvi Saphira afirmar que logo a irmã de vocês logo estaria de volta. Eu não sei em que sentido ela quis dizer isso, mas o que sei é que ela sempre estará com vocês, mesmo que só em suas memórias. — Ela entrelaçou os dedos de uma de suas mãos aos dele. — Uma vez que você se envolve com uma pessoa, ela nunca vai abandoná-lo.

Ele encarou suas mãos entrelaçadas. Apesar de sua aparência frágil, ela uma das pessoas mais fortes que ele conhecia. Em seus 16 anos, aquela garota havia passado por sofrimentos inimagináveis, mas, mesmo assim, ela estava pronta para ajudá-lo em seu momento de tristeza.

Quando ela o contara sobre a gravidez, ele fizera o mesmo por ela. Naquela noite, seu choro desesperado ao lembrar do dia em que fora cruelmente violentada balançou o coração de Alexander. O Príncipe só conseguia pensar no quanto queria protegê-la, afastá-la de todos os males e impedir que qualquer coisa parecida lhe passasse novamente. “Eu nunca deixaria nado acontecer a você” ele prometera, tentando dar força a ela. Foi naquele momento que os dois se comprometeram um com o outro. Quando ela precisara, ele estava ali. Agora ele precisava, ela estava ali. E era assim que deveria ser.

— Então pode ter certeza que eu nunca vou abandoná-la. — Ele voltou o olhar novamente para ela. — Já disse isso para você, mas repito. Você e seu bebê estão seguros aqui. Farei de tudo para que nada de mau aconteça a vocês. Posso não ter nenhuma relação de sangue com essa criança, mas prometo que vou protegê-la da melhor maneira que eu puder. Quando eu pedi você em casamento, aceitei toda a bagagem que você carrega. Aceitei você por inteiro.

Ela sorriu para ele, aproximando-se lentamente. Colocou, então, os braços em volta do pescoço dele. Os dois apenas se abraçaram por alguns instantes, aproveitando o calor e o conforto que aquele toque tão singelo os dava. Após algum tempo, ela deu um passo para trás, olhando fixamente para os olhos do rapaz. Ela pegou dele, colocando-a em sua barriga. Assim, ele conseguia sentir o quão grande já estava a saliência. Apenas o toque o fez ficar arrepiado. Ele não conseguia sentir a criança se mexendo, mas ela estava ali. Uma nova vida, uma luz em um mundo que parecia tão escuro naquele momento.

— Eu tinha certeza de tudo isso quando aceitei me casar com você. Sei que o cargo que me aguarda traz com ele muitas responsabilidades e que não será fácil, ainda mais com um filho, mas aceitei porque sabia que você estaria sempre pronto para nos ajudar. — Os dois voltaram os olhos ao mesmo tempo, para a mão dele encostada à barriga dela. — Por isso quero pedir que você, além de meu marido, seja o pai de meu filho. Pode não ser o pai biológico, mas tenho certeza que você vai amar essa criança mais do que qualquer um poderia fazê-lo.

Alexander não precisou responder. Seu sorriso se abriu instantânea e verdadeiramente, coisa que não acontecia há muitas semanas. Ele nunca poderia negar um pedido desses. Tinha completa consciência que teria de enfrentar muitos problemas, muitos julgamentos, principalmente por parte da família, visto estava inserindo um bastardo à realeza. Porém, naquele momento não se importou com isso. Ele tinha acabado de perder uma irmã que amava muito, e, mesmo alguns segundos antes, nada parecia que daria certo em sua vida depois daquele fato. Mas agora estava ganhando um filho ou filha, e isso o dava esperança para continuar, mesmo com todas as dificuldades.

— Nós três estamos juntos nisso — ele disse por fim, abraçando-a.

Essa era sua nova família.

***

Mais uma vez, Alexander estava sozinho. O pequeno escritório que os pais dividiam em Skagen era iluminado apenas por um abajur bem ao canto do cômodo. Tudo estava em silêncio. O príncipe observava as pilhas de papel que estavam sobre as mesas. Pilhas e mais pilhas de trabalho que deveriam ser feitos em pouco tempo. Era um estresse premeditado. Em meio a tudo aquilo, porém, estava uma foto de Isabella tirada na última sessão de fotos de verão da família. Ela trajava um vestido leve branco com algumas flores coloridas. Seus cabelos estavam perfeitamente arrumados em uma trança única que descia por suas costas delicadamente. Alexander lembrava-se bem daquele dia. Era uma tarde quente de final de maio, o sol brilhava no céu pela primeira vez naquele ano, o que fazia com que a alegria se espalhasse rapidamente pelo palácio. Naquela memória, tão vívida para o Príncipe, Bella era a menina alegre que sempre fora e corria pelos jardins do palácio rindo com a irmã. Agora, porém, ela era apenas uma fotografia que sorria cercada pelo caos da papelada.

Pela segunda vez naquele dia, ele sentiu saudades da irmã e percebeu o quanto sua morte afetava toda sua família. Não era típico da mãe ter fotos pessoais em seu ambiente de trabalho. Ela sempre preferira separar as duas esferas de sua vida. Entretanto, agora Bella estava ali, sempre a encarando. A verdade era que, após a fatalidade ocorrida mais de um mês antes, Juliane se aproximara dos filhos. Além de ter chamado Alexander para ajudá-la todos os dias, mesmo que o escritório ficasse ainda menor assim, ela escrevia para Henrik e Ingrid todos os dias, perguntando tudo sobre suas novas vidas no Império Latino-Americano e na Noruega, e, o mais chocante de tudo, colocava Saphira para dormir todas as noites — coisa que provavelmente estava fazendo naquele exato momento.

Como Ophelia ficara em Copenhague por conta da pouca capacidade no Palácio de Klitgaarden, a pequena Princesa estava sendo assistida apenas por uma equipe médica, que conhecia pouco de sua rotina. Assim, a Rainha insistia em verificar que a filha caçula estava seguindo rigorosamente os horários já estabelecidos em Copenhague, inclusive a hora de ir para cama. Todas as noites, então, a mulher visitava o quarto da menina, ficando lá por vários minutos. Alexei não sabia o que ela fazia lá e também nunca tivera coragem de perguntar. Ele, porém, sabia que verificar a competência de seus funcionários era apenas uma desculpa. A mãe apenas queria estar perto de Phinny, evitando que perdesse a infância dela e que sua morte — que sempre parecia muito próxima por conta da doença — fosse tão dolorida.

Finalmente, então, Juliane chegou ao escritório, carregando mais alguns documentos. Seu cabelo, sempre perfeitamente arrumado, estava preso em um coque desengonçado. Suas roupas, contrastando com os trajes formais usuais, eram leves e descontraídas. Sua expressão era cansada, mas mesmo assim sua postura era perfeita, como se estivesse pronta para iniciar um dia de trabalho.

— O que você está fazendo aqui a essa hora? — ela disse com uma expressão confusa ao entrar no cômodo e ver o filho mais velho sentado em frente a sua mesa. — As criadas não passaram o recado de que eu precisaria de você só amanhã pela manhã? Pode descansar um pouco, filho.

— Eu preciso falar com a senhora — Alexander falou, respirando fundo, o que fez com que a mãe o encarasse com preocupação. — É importante.

Com calma, ela sentou em sua cadeira. Após afastar algumas pilhas de papéis para o canto da mesa liberando seu campo de visão, ela fez um sinal para que ele começasse.

Antes de começar a falar, Alexander respirou fundo. Talvez tivera sido melhor trazer Laryssa junto para aquela conversa. Assim, com certeza, Juliane não surtaria. Ele, porém, nunca poderia colocar a menina sob tanto estresse. Uma única menção ao estupro, quando não vinha por parte dela, a fazia ficar nervosa. Trazê-la para o escritório dos pais para falar ainda mais abertamente sobre sua história, portanto, não era uma opção.

Mas Alexander tinha medo. Só de pensar no olhar de raiva da mãe, ele estremecia. Odiava irritar a mãe a ponto de fazê-la gritar — o que provavelmente aconteceria em poucos instantes —, mas ele não tinha opção. Após falar com sua futura esposa naquela manhã, ele refletiu muito sobre a necessidade de contar à família sobre a gravidez. Por algum tempo, desconsiderou a possibilidade. Ele poderia achar um jeito de trazer a criança ao mundo sem que os pais soubessem. Poderia fugir com a menina para um lugar qualquer. Poderia dizer que ela estava doente, que precisaria voltar para casa e então a traria de volta depois que ela desse à luz. Ele, entretanto, prometera a Laryssa que ele encararia tudo por ela e por seu filho. Essa era apenas a primeira batalha.

— Quando contamos à senhora e ao papai sobre Laryssa, omitimos uma parte da história. Não achei pertinente contar naquele momento porque ela já estava arriscando muito ao ter de reviver tanto sofrimento. — Ele olhou para a mãe, que o encarava com atenção. — Vou tentar ser direto, mas não sei muito bem como dizer isso. Por favor, fique calma.

— Eu estou calma. — Ela levantou as sobrancelhas. — Apenas conte de uma vez.

— No dia em que Laryssa foi violentada, algo inesperado aconteceu. Ela não sabia disso até pouco tempo atrás. Mas… — Sob a mesa, ele cerrou os punhos, nervoso, ao mesmo tempo, que fechava os olhos com medo de ver a reação da mulher em sua frente. — Ela está grávida.

Juliane arregalou os olhos ao mesmo tempo, que abriu a boca. As palavras de raiva que Alexander esperava, porém, não saíram de sua boca. Diferente do que o filho previra, ela não explodiu. Por alguns instantes — uma eternidade para o Príncipe — ela não falou nada, apenas encarou o filho com seus olhos azuis amedrontadores. O ar ficou mais pesado, a luz fraca do abajur pareceu falhar e todos os músculos do corpo do rapaz se contraíram em tensão.

— Como assim? — ela finalmente perguntou, fazendo com que Alexander soltasse todo o ar que estava segurando nos minutos de silêncio. — Você só está me contando agora? Como pôde escolhê-la sabendo disso? Alexander, você sabe o que isso significa para nós? Para nossa popularidade?

— Sei muito bem. Porém, meu coração a escolheu e eu não pude ignorá-lo. Laryssa é a pessoa com quem quero me casar — ele afirmou com firmeza. Ele estava certo disso e deveria fazer com que a mãe percebesse com clareza. — Ela não tem culpa do que aconteceu. Eu a escolhi e não vou abandoná-la porque aproveitaram de sua inocência e isso resultou em uma vida.

— Alexei. Você é um príncipe. Suas ações devem estar pautadas no que é melhor para seu povo e sua família. Essa criança pode ser nossa ruína. Não podemos deixar que suas decisões inconsequentes destruam um reinado que dura mais de 200 anos. — Ela suspirou e apoiou a cabeça nas mãos, tentando não se exaltar. — Ela já pensou em tirar o bebê ou colocá-lo para adoção?

— Isso não é uma opção. Laryssa tem um coração cheio de amor e não teria coragem de descartar o filho — o rapaz falou, lembrando-se da afeição com que ela colocara sua mão em sua barriga mais cedo. — Quando ela me contou sobre a gravidez, estava disposta a abandonar tudo aqui na Dinamarca para ter a criança.

— E você deveria ter deixado. — Ela balançou a cabeça. — Filho, é meu dever como mãe não deixar que você faça isso com sua vida. Deixe a menina ir, ter o filho em outro lugar. Tenho que admitir que gostei dela, parecia muito tranquila. Com certeza, seria uma consorte muito boa para você. A gravidez dela muda tudo.

— Não muda, mãe. Ela continua sendo uma competidora. A diferença é que uma fatalidade irá modificar o curso natural das coisas. Não poderemos nos casar logo, porque quando voltarmos a barriga já estará muito evidente. Porém, o casamento ocorrerá eventualmente. — Ao ouvir essas palavras, a mulher mordeu o lábio inferior um tanto irritada. — Tudo normal.

— Você tinha 34 outras meninas para escolher? Mas foi escolher justo ela! — Juliane levantou um pouco o tom de voz, já perdendo a paciência com o filho e sua teimosia. — Laryssa nunca deveria ter entrado na Seleção.

— Mas entrou! — ele contestou, concentrando-se para manter o semblante sereno. — Agora não podemos mais mudar isso.

A Rainha massageou as têmporas, tentando controlar seus ânimos. Assim como Alexander, ela já estava irritada com aquela conversa e queria que tudo aquilo fosse resolvido de uma vez por todas. Nenhum dos dois, porém, queria ceder. Por isso, mais uma vez, um silêncio angustiante tomou conta do recinto.

— Por favor, mãe, não podemos abandonar Laryssa e muito menos a criança. — Ele a fitou, tentando se manter firme. — Eu não vou aceitar casar com outra garota.

Juliane não respondeu, o que fez com que Alexander ficasse preocupado. Raramente a mãe se deixava ser vencida em uma discussão pelo silêncio. O que se passava em sua cabeça? Esperançoso, o rapaz desejou que ela estivesse considerando a possibilidade. A mãe tinha o exterior duro, mas ele se lembrava muito bem do nascimento de Saphira, de como ela segurava aquele bebê com amor. Por mais que Phinny fosse doente, Juliane nunca a abandonou. Ela esteve lá em todos os primeiros momentos difíceis. Ele, então, esperava que ela o permitisse fazer o mesmo a Laryssa e seu filho.

— Está bem — ela suspirou, vencida. — Mas temos que fazer isso com muita discrição. Em tempos de guerra, não podemos piorar nossa reputação por histórias mal contadas. Se ficar sabendo dessa gravidez agora, talvez o povo não entenda a situação, talvez compreenda que sua futura esposa é uma adúltera e não uma vítima de um crime horrível. Quando tudo se acalmar, podemos explicar, fazer o anúncio oficial do Palácio, para evitar fofocas. Assim, quando chegarmos a Copenhague semana que vem, vamos ser discretos. Laryssa não pode sair do Palácio e temos que fingir que a competição segue normalmente.

Ele sorriu, aliviado. Por mais que a mãe ainda parecesse irritada — o que poderia ser um problema — ele conseguira o que queria. Laryssa poderia ter seu filho com tranquilidade, ali mesmo na Dinamarca com Alexander ao seu lado. Só saber que isso poderia acontecer era uma vitória para o Príncipe.

— Muito obrigado, mãe.

— Apenas me prometa que não vou me arrepender disso. — ela colocou as mãos sobre as do filho.

— Não vai — ele afirmou com um sorriso confiante.


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Notas finais do capítulo

Como assim a Juliane não surtou total? Não era pra ela ter gritado até ser ouvida na China? Não era pra ela expulsar Laryssa na hora? O que vocês acham? Essa reação foi normal para Juliane?
Bom, eu nem sei mais o que estou escrevendo. Logo depois de postar o capítulo vou dormir.
Antes de ir, uma curiosidade sobre o capítulo: a última cena era pra ser da Saphira, do Alexander e da Laryssa. Nosso bebê ficaria sabendo da gravidez da Lary. Mas por motivos de força maior (iria demorar mais uma semana pra escrever) e porque pensei que poderia encaixar um momento da Phinny com o irmão em um dos próximos capítulos (faz até mais sentido para a história), decidi cortar. Aguardem que a cena vai sair em breve e é muito fofa!!

Até o próximo capítulo!

Xoxo ♥ ACE



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