Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 49
Estratégia | Aline


Notas iniciais do capítulo

Oioi, gente!! Hoje é quinta, hoje é dia de RDC!!!
Bom, eu sei que eu disse que postaria semana passada, pra me encaixar ao meu calendário novamente. Mas não dá, gente. é muito trabalho, muita prova... Só consigo postar de duas em duas semanas. Tentei ser mais rápida, juro, mas não é humanamente possível.
E hoje, olha, o Universo tava querendo que eu não postasse. Sério. Minha internet caiu (JUSTO NO FERIADO, PQ, DEUS) e estou ilhada bem antes das minhas provas (massacre começa segunda). MAS EU DRIBLEI O UNIVERSO E AQUI ESTOU!!!
Espero que vocês gostem do capítulo, porque tá recheado de treta e foi feito com muito amor!!
xoxo ♥ ACE



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O dia amanheceu propício para a agenda séria de Aline. O céu estava coberto com nuvens cinza, como um manto de melancolia que escondia a alegria do azul habitual. A luz que entrava pelas tão belas janelas de Amalienborg era fraca, fazendo com que tudo parecesse mais triste, mais opaco. E, para completar, o frio — talvez um dos mais intensos daquele ano — entrava pelo cardigã cor de coral da jovem Princesa Herdeira como se pudesse congelá-la.

Ao andar pelos inúmeros corredores, a nobre sentia todo o sentimento de desânimo também nas pessoas. Diferente das outras manhãs, que àquele horário já estavam movimentadas, essa em particular estava quieta. As Selecionadas não perambulavam pelos quartos. As crianças não brincavam. As criadas não corriam de um lado para o outro. Os carpetes, que sempre recebiam milhares de passos, agora estavam como um deserto, de cujo chão o vento removera as pegadas do dia anterior, quando todos estavam vibrantes com a festa de Henrik.

Os únicos que Aline encontrou fora de seus quartos e prontos para o serviço foram — sem muitas surpresas — aqueles convocados para a reunião. Ou seja, os representantes mais notáveis dos países visitantes, que estavam tão sérios como o resto do dia. Não era de se estranhar as expressões sonolentas em alguns, ou o mau-humor de outros. Mas seus deveres eram mais importantes que seus desejos. Eles mesmo pensando que não mereciam estar ali após uma noite em que dormiram tão pouco, permaneciam firmes, sentados em volta da mesa redonda da Sala de Conferências, honrando suas posições.

E, assim, a Princesa britânica os imitou.  Calada, ela foi até sua posição, um pouco mais ao fundo do aposento. Seus olhos cansados contemplavam a paisagem que a janela em sua frente mostrava. Nos longos minutos que separaram sua chegada do início do evento, ela observou inúmeras pessoas indo e vindo na Praça Amalienborg Slotplads, fazendo uma companhia momentânea à sempre tão solitária estátua de Frederick V. Nenhum daqueles cidadãos poderia imaginar a importância das conversas que aqueles nobres tinham naquela pequena sala. Alguns sequer sabiam da existência de uma Guerra, continuavam com suas vidas normalmente, sem nenhuma mudança. Diferente de Aline, que, com apenas seus 20 anos, era obrigada a ouvir e participar de tudo aquilo...

— Bom, estamos aqui, como todos devem saber, para discutir os conflitos iminentes e firmar uma aliança com os países de vossas senhorias — começou o Rei Christian, de pé em frente à mesa com os braços abertos, acordando a jovem aristocrata de seus devaneios. — Temos aqui presente o Primeiro Ministro da Dinamarca, Ingolf Hummel, para nos auxiliar nessa tarefa. E também o comandante geral do Exército Dinamarquês, Matthias Stenberg. Senhor Hummel, Marechal Stenberg.

A britânica desviou seu olhar da janela para os dois homens, que se sentavam ao lado do soberano. Um deles, o civil, acenou com a cabeça, parando de mexer nos papéis em sua frente. O outro, completamente fardado, permaneceu imóvel, apenas dando uma leve piscada em reconhecimento.

— Vamos começar expondo toda a situação bélica atualmente vivida por nosso continente — continuou Juliane de pé ao lado do marido. — Por favor, Rainha-mãe Sybil.

A mais antiga nobre do recinto se levantou, saindo de seu lugar ao canto da mesa para ocupar a posição de destaque. Quatorze pares de olhos, das mais diferentes cores, a acompanharam em seu pequeno trajeto, encarando a maneira pomposa como as roupas volumosas balançavam em volta de seu corpo magro. Assim que ela chegou a seu destino, quase que magicamente, uma imagem apareceu na parede branca frontal. As atenções, que antes estavam na lendária Soberana, agora estavam nos soldados armados sentados na fina areia do litoral com o sol nascente como plano de fundo. Todos encararam, de forma curiosa, a maneira alegre como aqueles homens estavam lidando com a Guerra, com sorrisos e abraços, como se estivessem em um luau, esperando uma explicação da anciã.

— Bom dia a todos! — disse a velha, ajeitando seu o casaco de pele, que escondia quase todo o seu corpo flácido. — Como vocês podem ver, apresento aqui algumas imagens enviadas recentemente por minha bisneta, a Princesa Herdeira Ariadne. Nelas, podemos ver a concentração de oficiais gregos no litoral leste do país, onde há maior acesso para um possível ataque. Essa tropa já está em posição há uma semana, como já acontece em outras áreas da costa helena, que foram posicionadas minunciosamente pelos maiores estrategistas que temos atualmente.

— Mas e o inimigo, ainda sem enviar sinais? — questionou Odelle, com seus olhos azuis acinzentados repletos de seriedade, a qual não parecia se encaixar neles.

— Até o momento não — respondeu a Rainha-mãe, com um certo receio escondido em sua voz confiante. — Não nos foram enviadas notícias sobre qualquer movimento das forças militares tanto turcas quanto germânicas.

— Então sua aliança está apenas gastando recursos com tantos dias em campo de batalha sem necessidade — falou a duquesa latina, Teresa Cristina, muito intimidadora, com uma expressão de superioridade. — Nenhum de nossos países está em condições para suportar algo que custará tão caro. Até porque: “não poderás manter as tropas em campanha por muito tempo, sem acarretar grande prejuízo ao Estado e sem dar um golpe mortal em tua própria reputação”.

— Ainda mais com toda a crise que a inimizade com a Germânia trará para muitos de nós, por conta da grande importação de alimentos que recebemos de lá — concordou o Imperador dos soviéticos, de cujo nome não recordava.  

— Todos esses problemas já estão sendo levados em conta, visto que a Grécia, inclusive, depende economicamente dos germânicos — explicou Sybil, olhando diretamente para os dois que se opunham a ela, já que estavam sentados um ao lado do outro. — Sabe-se que esse movimento realizado por nosso acordo agora é extremamente arriscado e conhecemos as nossas fraquezas. Entretanto também estamos inteirados das fragilidades do adversário e algumas de suas estratégias.

Aline e a Rainha-mãe se olharam. A mais velha assentiu com a cabeça, anunciando que aquele era o momento certo para seu pronunciamento, o qual seria muito importante para colocar todos a par da situação. A jovem Herdeira britânica, então, se levantou, mas não saiu do lugar na parte esquerda da mesa. Todos os presentes a encararam de forma crítica.

— Temos muitos informantes em solo Germânico, assim como eles têm em nosso solo, mas isso não vem ao caso — esclareceu a jovem, filtrando as informações de sua informante em território inimigo como combinado. — Segundo eles, o país quer começar suas conquistas, objetivo principal da Guerra, pelo Sul, pela Eslovênia e Croácia, até chegar nas fronteiras com a Grécia. Lá, se unirão com as tropas turcas, que já estarão com a campanha de conquista daqueles territórios.

— E a invasão do Norte, da Escandinávia, de que tanto falam? — perguntou o Rei da Noruega.

— Isso ficará em segundo plano, já que a finalidade inicial é auxiliar a Turquia — disse a mais velha. — Mas ainda assim, todas as medidas de precaução estão sendo tomadas, para evitar maiores danos.

— Sabemos muito sobre a Germânia, entretanto não ouvimos nada que não sabia sobre a Turquia — a latina alegou, como se nada que os colegas nobres falassem adiantasse para mudar sua opinião. — Estou começando a pensar que uma aliança com vocês é como um tiro no escuro.

— De fato, temos pouco conhecimento sobre isso. A nós apenas chegou a informação de que a Geórgia entrou na aliança hoje mais cedo, declarando guerra à Grécia também — afirmou o Marechal Stenberg, antes que Aline tivesse a chance de se manifestar. — Além, é claro, dos movimentos armados noticiados nos países do Leste, como Azerbaijão e Líbano, o que pode indicar mais simpatizantes. Mas não há confirmação sobre isso.

— Nada foi autenticado, mas é uma questão de lógica. Todas essas nações são, de alguma forma, ligadas economicamente com a Germânia, nunca desejariam perder todas as vantagens que isso traz e querem garantir e provar sua lealdade — falou Alba, a princesa árabe, chamando atenção ao levantar com seu exótico traje verde bordado a ouro. —Tomemos por exemplo minha pátria, a Arábia Saudita. O governante, meu pai, que pode ser insensato em muitos assuntos, mas que de ouro entende. Não abandonaria por nada o laço tão forte com os germanos, que compram nosso petróleo e vendem muitos alimentos

— Se os sauditas serão nossos inimigos, tão por que a senhorita está aqui? — questionou o Rei sueco, sentado no outro extremo da mesa, erguendo descaradamente as sobrancelhas para a outra locutora.

— Os Soberanos de meu país, meus queridos progenitores, pensam que eu estou aqui apenas para o aniversário de Henrik, porém a verdade é que tenho outros problemas para resolver na corte Dinamarquesa — ela rebateu, olhando levemente para o que a contestara. — Isso não tem importância para vocês no momento, pois o que realmente deve estar em foco é a quantidade de tropas que estão sendo reunidas no território inimigo. E, acreditem, são muitas.

Um pequeno alvoroço, composto por murmúrios paralelos e suspiros discretos de pavor, tomou conta do ambiente. Entre aquilo tudo, a Herdeira das Arábias permanecia calma, com as mãos repletas de brilhantes e diamantes entrelaçadas em frente ao corpo. Seus olhos, carregados de maquiagem — que era forte, mas, ainda assim, se encaixava perfeitamente ao seu semblante — percorreram a sala até cruzarem com os de Aline. Ela, então, mordeu seus lábios perfeitos, vermelhos e carnudos, recebendo um levantar de sobrancelhas como resposta da amiga. Com aquela expressão, ela até parecia se sentir culpada pelo pavor que colocara nos demais nobres, mas a britânica a conhecia muito bem para saber que isso não era verdade. Ela adorava seu dom de deixar as pessoas mais desesperadas que o necessário.

— Se vocês não querem perder todas as suas terras e sua liberdade para a liga Germano-turca, sugiro que se unam — ela concluiu, finalmente sentando-se.

Assim que o tecido caríssimo vindo das índias encostou na cadeira forrada a veludo, o Primeiro-Ministro Dinamarquês organizou os papeis em sua frente, os quais todos deveriam assinar. Dessa forma, eles finalmente firmavam um acordo.

***

Uma pequena confusão se formou na saída da reunião. Obviamente, todos os nobres eram muito educados e tentavam não empurrar ou pisar no pé de alguém, mas a porta era muito pequena para aquela quantidade de pessoas. Aline, quase invisível em meio de tantos nobres de mais alta hierarquia, assim que se livrou da desordem, puxou o braço de Juliane, também envolta por tudo aquilo, conduzindo-a para um canto um pouco mais afastado.

— Tia, preciso falar com a senhora — sussurrou a jovem princesa em alemão ao ouvido da mulher. — A sós.

A Rainha assentiu apenas com a cabeça, olhando para os lados. Sem emitir uma sequer palavra, ela entrelaçou seu braço ao da prima-sobrinha. O vestido longo de cores de terra da mais velha se fundia com o alegre e amarelo da mais nova enquanto elas caminhavam calmamente pelos corredores, como melhores amigas. Aline sempre admirara a força da mulher ao seu lado, por governar tão bem ao lado do seu marido, mas, naquele momento, a maneira como ela lidava com as mais diferentes situações, com tanta serenidade e sabedoria, também era de se surpreender.Com certeza, se outra pessoa estivesse em seu lugar, a reação seria escandalosa e estragaria todo o sentido que a palavra segredo portava.

Após poucos minutos de um breve percurso pelos labirintos do Palácio, elas finalmente chegaram a um local julgado como apropriado pela Soberana, passando por uma porta com vidros foscos, que apenas deixavam ser vistas sombras do lado contrário. Era uma sala relativamente pequena na Ala Oeste, com apenas algumas estantes vazias e uma mesa de carvalho ao centro rodeada por três cadeiras escuras, postas sobre um tapete azul-marinho. As paredes, contrastando com a decoração, eram brancas, como as de uma ala hospitalar. Aparentemente, aquele não era um ambiente muito utilizado pela Família Real, pela falta de objetos representativos, desde fotos até pequenas esculturas, tão característicos dos outros cômodos da residência. Um lugar discreto e desconhecido, apropriado para uma conversa como a que teriam...

— Agora estamos mais seguras — a Rainha afirmou, puxando uma cadeira e logo se sentando, passando a olhar diretamente para a prima-sobrinha. — Pode falar.

— Já havíamos conversado sobre o assunto, na verdade, creio que a senhora já saiba do que se trata — a moça se apoiou na mesa, continuando a falar no mesmo momento em que Juliane balançou afirmativamente a cabeça. — Eris.

— Alguma nova informação?

— Não posso classificar como nova. Suponho que você até já saiba mais do que eu, visto que conheceu Freya pessoalmente, não só por fotos — a mais nova cruzou os braços em frente ao corpo. — Mas, enfim, desde a última vez que discutimos, já tirei várias conclusões por meio da observação das Selecionadas.

— Não é possível reconhecer alguém apenas por uma análise superficial. Nunca lhe ensinaram que não se deve tirar conclusões precipitadas, menina? — julgou a Rainha, levantando as sobrancelhas.

— Claro que sim, por isso que gostaria de pedir permissão para convocar a provável princesa para uma reunião — explicou a outra, com segurança. — Gostaria de falar com ela, para verificar se há a marca dos primogênitos, mas apenas depois de ser devidamente autorizada.

— Não a impedirei. Mas, poderia me dizer: por que tanta pressa? Esse assunto não pode esperar até o fim da competição ou até o fim da Guerra? — falou a mais velha entrelaçando as mãos em seu colo. — Até lá, uma garota herdeira legítima, com mais direito que o atual Rei, de tão vastas terras que não sabe nada sobre governar não nos ajudará em nada.

— Eu sei, tia, porém não é esse o caso. O que desejo nesse momento vai além das pretensões políticas e de nada interessa para a situação atual vivida por nossos países — Aline suspirou, olhando diretamente para a tia. — Se eu não fizer isso agora, nosso futuro estará em risco.

    Juliane não falou nada, apenas observou a jovem Herdeira. Os cabelos loiros encaracolados flutuavam com o vento leve vindo das janelas abertas. Os fios de ouro, lentamente, saiam de sua testa, deixando-a completamente à mostra. Suas mãos esguias foram às têmporas quase que imediatamente ao ouvirem a notícia ruim, ou, pelo menos, o começo dela.

    — Luther quer fazer a Eris o mesmo que fez com Werner e sua esposa. Quer aniquila-la, o que, supostamente, não conseguiu há quase 17 anos. E, caso isso aconteça, não haverá mais esperanças — a Princesa fechou os olhos, temendo só por imaginar. — O legado dele continuará a governar a Germânia com a mesma tirania, começando por aquela filha asquerosa dele, Helga.

— Mas o que você pretende fazer para salvá-la? — Finalmente a outra questionou, com uma voz crítica. — Sua conversa emergencial não vai baixar as chances do perigo, até porque ela não saberá como proceder, ficará assustada e todo aquele ritual que adolescentes fazem quando são postos frente a desafios.

— Tenho conhecimento de tudo isso — a jovem deu uma risadinha, lembrando de seus dramas de alguns anos, ou melhor, até de alguns meses antes. — Mas, em um momento de desespero como esse, apenas consigo planejar uma fuga. Apenas preciso tirá-la daqui e recebê-la como hóspede. A ameaça aqui é constante, ainda mais por causa da...

Antes que pudesse terminar, porém, duas figuras irreconhecíveis passaram correndo pela porta. Um frio percorreu a espinha de Aline, como se o vento gelado do dia soprasse diretamente dentro de seu corpo. As nobres param de falar imediatamente, pois, se alguém soubesse — ainda mais quem a britânica estava pensando, por ter visualizado a longa cabeleira ruiva —, aí sim as esperanças estariam no fundo do poço.


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Notas finais do capítulo

QUEM ERA A CABELEIRA RUIVA? HEUEHUEHEUEHEUEHUE FAÇAM SUAS APOSTAS!!!
Até a próxima e me desejem sorte nas provas!
May the odds be ever in our (sim, nosso) favour!
xx ACE



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