Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 4
Nova Vida | Emery e Kristal


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada quero explicar o critério que usei para escolher as três meninas que estão narrando nesse capítulo. é bem simples: sorteio! Numerei as meninas e coloquei os números em um sorteio on-line. Então, se sua personagem não está narrando, não fique triste, ela terá outras oportunidades de narrar!
Espero que vocês gostem e que as personagens estejam perto de como vocês imaginaram. Foi um desafio para mim ser fiel às fichas haha


[CAPÍTULO ATUALIZADO 22/05/2020 - LEIAM AS NOTAS FINAIS]



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Emery usava as sofisticadas roupas enviadas pelo governo, uma bata azul, com alguns detalhes em dourado e um jeans, que eram, provavelmente, as peças mais caras que ela já vestira. Ao olhar-se no espelho, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se bonita. Estava tão elegante e, ela poderia até dizer, nobre. Pela manhã, um agente do governo viera arrumá-la para o grande dia, a fim de fazê-la parecer-se com uma verdadeira princesa. E, em sua humilde opinião, ela parecia. Seus cabelos, geralmente presos em um rabo de cavalo mal-feito, foram cuidadosamente hidratados com os mais sofisticados produtos. Seu rosto, geralmente nada maquidado, agora era coberto por uma fina camada de base — que o fazia ficar brilhante e com uma aparência saudável. Seus lábios foram pintados com um tom natural, mas que ressaltava ainda mais suas feições delicadas. Ela esperava, porém, que todas as garotas tivessem tido o mesmo tratamento. Se apenas ela estivesse assim, tão bem vestida e arrumada, as atenções seriam todas voltadas para ela, situação que, definitivamente, queria evitar.

Ela encarou-se no espelho por alguns instantes e mal conseguiu acreditar que a menina magra que via logo estaria longe dali, em Copenhague e, pior ainda, no Palácio. Poucas semanas antes, quando se inscrevera para a Seleção, jamais imaginara que seria sorteada. Holstebro tinha tantas garotas bonitas que, com certeza, fariam uma ótima consorte para o Príncipe Alexander e que poderiam ter sido escolhidas. O destino, entretanto, quis colocar a tímida Emery — que mal conseguia falar com os clientes da joalheria — a caminho de Amalienborg, o local mais importante do país. 

Desde que seu nome fora chamado, Emery pensava que não seria nada boa naquele tipo de competição. Tinha medo de todas as câmeras que rodeavam a Família Real, tornando-os o centro das atenções. Medo de competir contra tantas garotas pelo coração do Príncipe. Medo de falhar. Medo de decepcionar seus irmãos. Nas semanas que seguiram o sorteio, ela refletira sobre tudo isso e até pensou em desistir, dando lugar a uma das milhares de meninas da cidade que fariam uma princesa muito melhor que ela. Mas tinha consciência que não podia se dar o luxo de perder a melhor oportunidade para ajudar sua família. Mesmo que fosse péssima e fosse eliminada na primeira semana, sabia que a quantia que receberia por sua curta estadia era infinitamente maior que a que receberia com suas joias. Naquele momento ela tinha o dever de ajudar sua família como podia tal qual os amados pais costumavam fazer.

— Emy — chamou o irmão mais velho, Luke, passando pela porta do pequeno banheiro da casa. Ele trazia uma feição preocupada, tão comum depois da morte dos pais. — Preparada?

Ela se virou, ficando de frente para o irmão. Eles simplesmente trocaram um olhar, os olhos verdes dela nos castanhos dele, sendo capazes de transmitir, dessa maneira, todo o pavor e o sentimento de responsabilidade de Emy e a aflição de Luke por deixar sua irmãzinha ir. Sem conseguir se conter, ela se jogou nos braços do irmão, que passou a mão, carinhosamente, por seus cabelos. Seu toque era suave, como uma pena, e fazia Emy querer ficar ali para sempre. Desde que ambos seus pais faleceram, os dois se tornaram ainda mais próximo. Com apenas 2 anos de diferença em idade, eles dividiam um quarto e contavam todos os seus segredos um para o outro. No tempo que ficaria no Palácio, com certeza, sentiria falta de suas palavras tranquilas e de seu jeito único de acalmá-la, mesmo nas situações mais difíceis. Desejou, naquele momento, colocá-lo em sua mala e levá-lo consigo para aonde quer que fosse.

— Vocês ficarão bem? — questionou ela, com a cabeça encaixada na curva do pescoço dele.

— Sempre damos um jeito — ele respondeu, sorrindo para a irmã como sempre fazia. — Não se preocupe.

Emery afastou-se do Luke, dirigindo-lhe um sorriso amarelo, que arrancou uma risada estridente dele. Ela apenas balançou a cabeça e revirou os olhos para ele, que ainda ria. O par de irmãos, então, saiu pela porta, em silêncio. Ao andar pelos corredores, Emery observava a casa que, com tanto esforço, a família comprara alguns anos antes, quando o pai conseguira vender uma de suas mais belas joias para uma dama sueca. Alegrava-se ao pensar que, com a Seleção, muito daquela residência mudaria para melhor. Talvez o fogão, que, de tão velho, mal servia para cozinhar, seria trocado para um mais novo e moderno. Eventualmente, os armários vazios encheriam se de alimentos. O quarto de Eric finalmente poderia ser adaptado para suas necessidades. Talvez conseguissem pagar os materiais escolares de Jake, que estudava em uma das melhores escolas da Dinamarca com uma bolsa. Com certeza a família, que era tão importante para Emy, teria uma vida muito mais digna.

À frente da casa já estavam seus dois irmãos mais novos, Eric e Jake. Emery sorriu ao vê-los perto da entrada do complexo de casas — onde a limusine real logo estaria estacionada — posicionados dramaticamente um ao lado do outro, como se fossem guardas à espera de uma princesa. Eric, como sempre, estava sentado em sua cadeira de rodas quase despedaçada, mas mesmo assim sua expressão demonstrava otimismo. Com Jake, o mais novo da família, não era diferente, ele parecia pronto para tudo.

— A princesa irá para o seu castelo encantado — disse Eric, em uma tentativa falha de contar uma piada. — Pronta para viver no luxo?

Apesar de não ter achado graça, Emery soltou uma gargalhada, que logo foi acompanhada pelas de seus irmãos. Com uma vida tão difícil financeiramente, momentos como aqueles eram raros para a família Kansas. Ela poderia contar nos dedos os momentos, nos últimos seis anos, em que pudera apenas relaxar com seus irmãos, sem se preocupar com nenhum desafio. Por isso, para Emy, vê-los sorrir daquela maneira trazia uma grande satisfação, uma alegria que não poderia ser explicada.

— Escrevam quando puderem, me contem tudo — pediu Emery, com os olhos marejados. — Se precisarem, eu volto, tudo bem?

— Você só sairá de lá quando o príncipe quiser, Emy — disse Jake, aproximando-se dela. —  Você sabe que nós conseguimos. Sempre. Pode ficar tranquila.

Mesmo sendo mais baixo que a irmã, o menino a abraçou de uma maneira protetora. Ele, apesar de ser mais novo, sabia que, por mais que ela virara praticamente uma figura materna após a morte dos pais, Emery às vezes precisava de proteção e cuidados como a menina de 18 anos recém-completos que era. Ele batia desajeitadamente nas costas da garota, em uma tentativa cômica de acalmá-la. E ela cada vez sentia mais dor por deixar os três irmãos para trás e ir para Copenhague.

Uma limusine branca com bandeiras da Dinamarca nos retrovisores estacionou na frente do portão enferrujado do complexo de casas onde os Kansas moravam, assim como fora avisado pelos agentes do Governo naquela manhã. Estava na hora de Emery ir e embarcar para sua nova vida, mesmo que breve, no palácio. Com o coração na mão, ela se despediu dos irmãos, se esforçando para segurar as lágrimas que borrariam sua tão perfeita maquiagem.

Por sorte, a própria Família Real pedira sigilo, e as casas não seriam mostradas pelas câmeras. A equipe de filmagem  — que registraria toda a competição  — a encontraria apenas alguns minutos depois, já na estação de trem da cidade, onde milhares de pessoas já a esperavam. Segundo os agentes, ela deveria dar uma breve entrevista, que seria televisionada, contando suas expectativas para a competição. A jovem, entretanto, tentou relaxar, controlando os nervos. Assim, respirou fundo antes de, finalmente, deixar sua simples casa para trás.

O motorista permaneceu em silêncio durante todo o percurso, deixando a Selecionada sozinha com seus pensamentos. Emery olhava pela janela, observando as inúmeras casas de tijolos marrons da cidade. Holstebro, local onde nascera, com apenas 34 mil habitantes, a encantava muito. Em seus 18 anos de vida, por conta de sua condição financeira, nunca tivera a oportunidade de conhecer outras localidades da Dinamarca. Acreditava, porém, que sua cidade natal era uma das mais belas. Naquele momento, observando as ruas e ruelas, percebeu o quanto sentiria falta daquele local, de onde guardaria memórias para toda sua vida.

Por fim, chegando à estação de trem, deparou-se com os monstros mais temidos daquela Seleção: as câmeras. E elas estavam por todos os lados.

***

Kristal era uma celebridade nata. A garota, filha adotiva de um casal de atores, se dava muito bem com as câmeras desde a infância, quando começou a participar de alguns comerciais. Com o tempo, cada vez mais contratos chegavam em sua casa, os quais sua mãe, Koriê, sempre analisava com cuidado, de modo a proteger a filha dos mais diferentes abusos presentes na indústria midiática. Assim, o talento natural da menina foi sendo conhecido por toda a Dinamarca, que se apaixonava cada vez mais por seu carisma e sua doçura. Um ano e meio antes de se inscrever na Seleção, recebera o contrato de uma série de TV, Royals, na qual faria o papel de uma garota extremamente rica moradora de um dos bairros mais prestigiados de Copenhague, Ivann. Rapidamente, a personagem se tornou uma das mais queridas do país, apesar de ser a vilã do seriado.

Assim, no dia em que saiu de sua casa para começar sua jornada na Seleção, Kristal estava calma. Vestida de forma simples com uma bata azul e calças jeans, a garota se despediu de  Frederiksberg — bairro onde morava em Copenhague — de forma animada. Distribuindo sorrisos por onde passava, ela cumprimentou diversos adoradores, de crianças a idosos, que pediam autógrafos e declaravam sua preferência por ela como futura Rainha da Dinamarca. Mesmo depois de anos de vida pública, aquelas demonstrações de carinho a alegravam profundamente. E saber que todas aquelas pessoas confiavam nela a ponto de quererem que ela fosse a Escolhida de Alexander a deixava lisonjeada. Com certeza, teria um caminho de sucesso na Seleção.

Depois de passar alguns minutos conversando com os fãs, Kristal teve de seguir seu caminho até um palanque, montado no meio da praça da comunidade. Lá, encontravam-se duas cadeiras, uma para ela e outra para um dos jornalistas que trabalhavam para a Família Real. Com graciosidade, ela se sentou na da esquerda, nunca deixando de sorrir para seu público.

— Kristal O’Mally, quem não conhece a tão amada estrela de Royals, da SH Tv? Ivana, a antagonista da série, conquistou os corações de milhões de dinamarqueses. A atriz, porém, agora decidiu seguir caminhos de fato reais e vai tentar conquistar o coração também do Príncipe Alexander.  — A repórter, uma jovem de cabelos negros curtos, olhava diretamente para a câmera, posta à frente das cadeiras. Após sorrir para o público, que batia palmas freneticamente, ela se virou para a Selecionada. — Kristal, nos conte: qual é a sensação de ser uma das favoritas da competição?

— Sou extremamente grata pelo apoio incondicional de todas as pessoas que estão presentes aqui hoje e, claro, de todos que nos assistem de suas casas. Desde que me inscrevi para a Seleção, tenho recebido inúmeras cartas de apoio, que me deixam muito feliz. — Enquanto falava, ela alternava seu olhar entre a jornalista e o público naturalmente, como fora instruída por sua mãe a fazer. — Ainda não conheci as outras garotas, mas imagino que sejam todas adoráveis. Então saber que o público já me considera uma das favoritas, mesmo estando entre tantas outras moças, é uma honra.

— Realmente, você terá concorrentes fortes, como já pudemos ver hoje — afirmou a mulher, balançando a cabeça. — Conte-nos, então, o que você espera da Seleção. 

— Espero aproveitar ao máximo todos os momentos que terei com a Família Real. Será, com certeza, uma oportunidade única para mim, uma experiência que eu jamais poderia ter não fosse a competição — ela respondeu. — Vou sentir muita saudade das gravações de Royals, mas tenho certeza que a Seleção me ajudará muito a crescer como pessoa e atriz.

— E com certeza seremos muito afortunados por poder ver seu desenvolvimento na competição. — Ela se virou novamente para a câmera. — Essa foi nossa querida Selecionada Kristal O’Mally, de Copenhague, nossa décima entrevistada de hoje. Fiquem ligados na TV Dinamarca para conhecer as outras 25 em breve!

Assim que a jornalista terminou de falar, as câmeras foram desligadas. Rapidamente, toda a equipe televisiva da realeza se acomodou em uma pequena van, prontos para a próxima entrevista em Copenhague. Quando o veículo deixou a praça de Frederiksberg, Kristal viu-se cercada de inúmeros agentes do governo. Eles a dirigiram para uma limousine no canto oeste do local, fazendo de tudo para afastar as inúmeras pessoas que tentavam falar com a Selecionada. Assim que conseguiram acomodar a garota, fecharam a porta.

Kristal estava, então, finalmente a caminho de Amalienborg.

Estava na hora.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Qualquer erro, me avisem!
Algumas coisas que quero fala com vocês:
1-Amo capítulos bônus e gostaria que vocês dessem uma sugestão de tema para o primeiro deles para essa fanfic!
2-Se alguém ainda quiser enviar fichas com os nomes que eu criei, fiquem à vontade!
3-Sinto falta de algumas leitoras/donas de personagens! Cadê vocês?
4-Última: O que estão achando da fanfic? O que vocês acham que poderia ser melhorado?

É isso!
Até o próximo capítulo (que vai ser no ponto de vista do Alexei! õ/ )

[ATUALIZAÇÃO 22/05/2020]
Esse capítulo foi postado em setembro de 2014 e se chamava, originalmente, "O Maquinar do Trem", narrado por Emery, Wanessa e Kristal. Como eu estava tentando incluir os personagens que os leitores haviam criado, tentava colocar o máximo de coisas em um capítulo só e apresentar milhões de personagens de uma vez. Agora, passados quase 6 anos, percebi que nunca fui capaz de focar nas Selecionadas, principalmente naquelas que tiveram maior relevância no decorrer da fanfic. Por isso, reformulei esse capítulo para que ele tivesse um foco maior nas meninas e em suas experiências, contando mais sobre a vida delas. Resolvi tirar a narração da Wanessa porque ela já está narrando o capítulo 8 (também revisado recentemente) e também porque esse era o único capítulo com três narradoras, o que o deixava um tanto confuso. Estou bastante satisfeita com o resultado dessa revisão e com os detalhes que pude adicionar. Espero que gostem. Qualquer sugestão, minha MP está sempre aberta!
xoxo ♥ ACE