Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 36
Corações Distantes | Laryssa e Henrik


Notas iniciais do capítulo

Hoje é quinta, hoje é dia de RDC!
Antes de qualquer coisa, gostaria de fazer um agradecimento. Natasha Castro e Rosalie Potter. Duas recomendações que quase me mataram. Foi muita emoção para uma semana só. Sério! Não consigo nem expressar minha felicidade!!! MUITO MUITO MUITO OBRIGADA!!! É muito gratificante ver que meu trabalho agrada pessoas maravilhosas como vocês!
Tô muito feliz, sério. Não sei como não morri, porque foi tudo de uma vez. Dois comentários lindos da Rosalie, a recomendação da Natasha e depois a recomendação da Rosalie. Acho que um dia vou morrer por causa de vocês! (Demais recados nas notas finais, fui cortada novamente)



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“A alegria e o sofrimento são inseparáveis como compassos diferentes da mesma música.” - Hermann Hesse

“Sete horas da noite — ou melhor tarde — de um longo dia de verão. O sol ainda brilhava tímido no céu, aos poucos dava espaço ao roxo do crepúsculo. Mesmo assim, a temperatura não mudava. Era uma das tardes mais quentes do ano, 20º C *¹. E Laryssa, depois de viver tantos meses de frio intenso, adorava aquilo. Amava ver as crianças brincando nos parques. Amava ver famílias fazendo piqueniques. Amava ver a alegria no rosto de todos. Apenas caminhar da escola até a casa já melhorava seu dia com toda aquela energia positiva. Com certeza, os melhores momentos do ano para ela.

E aquele final de dia, como todos os outros daquela época, iria ocorrer normalmente. A caminhada. A chegada à casa de tijolos à vista envolvida por trepadeiras floridas. As luzes desligadas. O dever de casa à luz alaranjada do por do sol. A espera pelos pais e pela tia, que trabalhavam até tarde.

Isso se não fosse pela visita que recebeu.

Era seu vizinho. Seu incrivelmente doce e simpático vizinho. Ele pedia farinha, dizendo que a mãe faria um bolo. Algo tão simples e rotineiro para a comunidade que a jovem garota de 15 quase 16anos nem notou, em um primeiro momento, o brilho malicioso em seus olhos.

Quando notou, porém já era tarde demais.

Eles já estavam na cozinha quando as mãos grandes de homem dele tocaram a cintura fina dela, que pegava a farinha em uma das altas prateleiras do local. Assim, assustada, ela se distanciou, mas ele era mais forte. Quanto mais ela tentava se soltar de seus braços musculosos, mais ele a apertava. E, quanto mais ela o chutava, mais ele a levava para o quarto escuro inutilizado ao lado da cozinha.

Depois disso, as memórias de Lary ficam turvas, nunca consegue se lembrar qual foram os próximos passos de seu agressor. Talvez por causa do choque, talvez porque ele a jogara no chão. As únicas coisas que ficaram em sua mente foram a dor. A terrível dor. E as lágrimas que não paravam de rolar em suas bochechas.

As primeiras recordações que tinha do ato eram os pesadelos, que continuariam por semanas e mais semanas, em que sentia as mãos do vizinho em todo seu corpo; em que sentia novamente as lágrimas de sofrimento; em que gritava em plenos pulmões, acordando todos da casa.

Um trauma que mudou sua vida para sempre.”

Deitada em uma das diversas camas da Ala Hospitalar do Palácio, Laryssa fechou os olhos, tentando afastar aquelas imagens de sua mente. Agora que estava a um fio de ser curada do choque, perto, enfim, de ser feliz novamente, não poderia nem pensar naqueles momentos de terror.

Mas e agora que tinha o fruto daquela violação em seu ventre, o que faria? Ele — ou ela —, mesmo não tendo culpa de nada, seria eternamente a lembrança do que acontecera naquela noite. O sofrimento voltaria cada vez que olhasse para a pequena saliência que logo se mostraria presente. E, o pior de tudo, aquilo tudo arrancaria a chance de vencer a competição; de ter, eventualmente, uma vida alegre ao lado do Príncipe.

Era por isso que as lágrimas, dolorosas como naquela noite, quase três meses antes, escorriam por suas bochechas e molhavam o travesseiro de penas. Era por isso que a beleza doce de Lary parecia sombria. Era por isso que, para ela, as estrelas não pareciam brilhar.

Então, entre tanta angústia, a menina ouviu passos vindos do fim do corredor. Primeiramente, achou que fosse mais uma enfermeira trazendo comida ou remédios para uma criada aparentemente muito resfriada que se deitava ao lado. Porém não era nenhuma mulher vestida de branco.

Caminhando com calma e extrema elegância, um rapaz vinha em direção à cama da Selecionada. Seus cabelos castanhos lisos, que pareciam negros de longe, estavam bagunçados, devido a um provável dia ocupado. Os olhos estavam escurecidos de cansaço e tensão. Laryssa já desconfiava, mas, pelas roupas de primeira linha e pelos sapatos tão engraxados que reluziam a luz artificial do local, ela pôde ter certeza.

Era o Príncipe.

Rapidamente, a Selecionada tentou enxugar as lágrimas. Respirou fundo várias vezes para afastar a vermelhidão do rosto. E, por fim, forçou um sorriso suave. Ela deveria esconder seu sofrimento e guardar o motivo de seu mal-estar a sete chaves. Ninguém jamais deveria saber. Pelo menos não sem o consentimento de Ophelia.

“Há muitas pessoas em quem não se pode confiar nesse Palácio. Você precisa ser muito cuidadosa, ainda mais agora que carrega uma criança que pode facilmente atingida por essa confusão toda.” dissera a criada, arrumando Lary na cama da Ala Hospitalar. “Por isso, não conte a ninguém, Nem pensei nisso. Qualquer menção a sua condição pode ser fatal. Espere que eu decida quem saberá disso e quem poderá ajuda-la.”

Mas será que o Príncipe era uma dessas pessoas? Será que ele, como pretendente a marido, não deveria saber da verdade? Será que ele não poderia ajudar?

Acordando a garota dos pensamentos, Alexander encosta sua mão à dela, causando uma sensação estranha de conforto. Lentamente, ela vira a cabeça para ele, tirando a atenção dos belos olhos azuis das estrelas para a face preocupada dele.

— Está tudo bem com você, Senhorita? — perguntou o rapaz, com uma mistura de medo e doçura em sua voz.

—- Foi só um susto, não se preocupe. — mentiu ela, tentando tranquiliza-lo —Os médicos decidiram me deixar em observação por algumas horas apenas para assegurar minha saúde, você sabe, caso eu tenha uma recaída.

— Entendo, isso acontece várias vezes com Saphira… —- disse ele, com brilho nos olhos ao falar da irmã mais nova. — Mas, enfim, fico feliz. Estava aflito com a sua situação. Aliás, acho que suas colegas de competição também estavam, pois metade delas quis sair do Salão para ajudar.

Os dois riram juntos. Laryssa imaginou as outras garotas, principalmente a tão distante Wanessa, indo contra as vontades da Rainha e correndo até a porta para seguir Ophelia. A cena criada em sua mente teve direito até a alguns gritos histéricos por parte das Selecionadas mais escandalosas.

— Acredito que um inimigo comum, no caso essa vida totalmente nova e exaustiva que temos aqui no Palácio, acaba nos unindo. — ela afirmou, ainda com um sorriso no rosto.

— Fico feliz em ver amizades se formando aqui dentro, mesmo no meio de toda a rivalidade. — ele disse, balançando a cabeça.

Depois disso, o silêncio reinou. Os dois apenas se encaravam, sem falar nada. Parecia que tudo que deveria ser dito já fora dito. Palavras não pareciam mais necessárias naquele momento, apenas a presença um do outro. O que era, de certa forma, reconfortante. Quando estavam assim, somente eles dois, a Seleção não existia e outras garotas não lutavam por ele. Laryssa não poderia dizer que aquilo era amor, porque não era, mas, com certeza, ela estava presenciando uma grande amizade se formar ali. E ela sabia que a cumplicidade formada por essa relação era muito maior e melhor do que a formada por amor, o que a deixava muito feliz.

— Bom, sinto ter de lhe deixar aqui sozinha, mas eu preciso resolver alguns detalhes de um evento com minha mãe. — disse ele, depois de vários minutos de silêncio. — Se você se sentir mal qualquer outra vez, deixe-me saber. Não tenha medo.

Lentamente, ele se levantou. Não tirou, porém, os olhos da Selecionada, como se ela fosse fugir dali. A vontade de falar dele era perceptível e seus olhos denunciavam a vontade de ficar ali cuidando da garota, porém não fez nenhum dos dois. Apenas beijou a pequena e delicada mão dela, com muita timidez. E, então, virou, ficando de frente para a entrada da Ala Hospitalar. Fez, apressado, o mesmo caminho pelo comprido corredor que fizera antes, deixando, cada vez mais rápido Laryssa, sozinha com os seus pensamentos.

E, observando os passos rápidos dele enquanto acariciava tristemente a pequena saliência de sua barriga, ela concluiu, com muito pesar:

Mesmo que ela quisesse conuistá-lo, o coração dele estava muito distante.

******

дорогой Lara,

A saudade de você me define nesse momento. Não consigo parar de pensar nos dias em que corríamos pelo extenso gramado da Residência de Verão parecem tão distantes. Quase outra vida. Naquele tempo, não existia guerra, não existia discórdia entre países. Eu sei, eu sei, a Dinamarca não está em guerra ainda. Ainda. Mas mesmo que o conflito não tenha chegado aos nossos territórios, eu sei que ele está em nossa volta, esperando apenas um momento de fraqueza para nos destruir. E esse sentimento, o medo da violência da batalha iminente, é um dos piores que eu poderia sentir.

Temo até que nossos países estejam em um momento de rivalidade. Sabe, minha mãe nunca mais comentou nada sobre você e sua família. Antes, eu tinha certeza que ela queria firmar uma aliança com Império Soviético me unindo a você, afinal, seria muito mais fácil casar suas pessoas que já são amigas. Mas agora ela se esqueceu da ideia. Acho que ela pensa que os horários diferentes e os inúmeros países que nos separam fizeram a amizade acabar. Penso, inclusive, que as propostas para meu casamento já estão correndo soltas, visto que Alexander irá casar com uma Selecionada e as gêmeas já estão com os contratos praticamente firmados — o futuro marido de Grid já está aqui conosco e Bella está uma fera com isso, o que muitos dizem ser ciúme. Ela nunca comentou comigo, mas eu sei que ela não está com inveja porque gosta de Arthur, o “Pretendente perfeito” (como diz a Tia Hannah), mas sim por ele estar roubando uma parte dela, a irmã. Você sabe como aquelas duas são…

Mas enfim, saiba que, apesar da distância, podemos estar tão próximos quanto as pessoas, inclusive minha mãe, possam imaginar. Você sabe que nenhuma outra garota vai tomar seu lugar como minha melhor amiga. Ah, e também sabe que minha proposta de viver fora do luxo com você ainda está de pé.

Neste tempo que passamos separados, descobri que preciso de você. Na Academia, não tenho ninguém que possa me fazer esquecer da minha vida de príncipe. Em casa, não posso ter uma conversa sincera. Essas pequenas coisas, depois de meses e meses, fazem falta. E faz tanto tempo, não é? Um ano… Lembro-me que você estava aqui no meu aniversário que é, coincidentemente, daqui uma semana, o que me enche de ideias e esperanças.

Para comemorar minha 15ª primavera — ou melhor, outono, como Isabella gosta de falar — minha mãe está organizando uma festa. Na verdade, minhas queridas cunhadas estão — imagine a confusão. Por isso, gostaria de convidar você e sua família para uma breve visita. Eu sei que seu pai está cortando gastos por causa da guerra, mas, por favor, tente. Você não tem noção de quão feliz eu ficaria com isso.

Com muito amor,

Henrik.

Henrik estava debruçado sobre a escrivaninha de seu quarto, quando terminou sua carta com sua caprichosa assinatura. Em meio de tantos outros papeis de rascunho que se encontravam espalhados pela superfície de madeira escura, aquele era o único que continha a tão desejada firma do Príncipe em quarto lugar na linha de sucessão. Era a única, também, em que, durante a escrita, o garoto pudera fechar o dicionário de inglês, o qual o acompanhara durante toda sua maratona de escrita.

Apesar de ser praticamente fluente naquela língua, se expressar corretamente para Lara ainda era difícil. Às vezes apenas palavras dinamarquesas, que a amiga russa quase certamente não entendia, vinham a sua mente e sempre eram as palavras que mais importavam para o entendimento da mensagem. Além disso, tinha sempre de revisar as frases antes de continuar, para evitar possíveis erros ortográficos e de gramática. Escrever para ela, apesar de ser algo que Henrik apreciava muito, se tornava um processo demorado e cansativo, por conta de tantas traduções e correções. Sabia que, quando lesse a carta, Lara também teria que se esforçar para entender totalmente o sentimento contido nela. Seria muito mais fácil, é claro, se eles pudessem se comunicar na língua nativa de um dos dois, mas, infelizmente, os conhecimentos de Henrik em russo ainda eram precários e a amiga nunca sequer tentara aprender dinamarquês. A dificuldade de comunicação, porém, era um obstáculo que ambos deveriam superar pelo bem da bela amizade que tinham.

Fechando a carta, ele pensou mais uma vez na linda garota de cabelos loiros e olhos verdes que a receberia. Conseguia até imaginar o sorriso animado dela ao ler as palavras do amigo. Imaginava-a ela implorando ao pai para que eles fossem. Henrik a conhecia tão bem que conseguia montar cenas vívidas em sua mente do que aconteceria no distante palácio na capital do Reino Soviético. E esse era o problema. Ele conseguia ver Rei Yuri negando a visita. Conseguia prever a tristeza e frustração de Lara após a resposta. Isso deixava o garoto ainda mais inseguro…

Afinal, será que ela viria mesmo com tantas dificuldades?

De repente, o ranger irritante foi ouvido, tirando Henrik de seus devaneios. Aos poucos, a grande e pesada porta se abria, revelando uma pequena figura de cabelos dourados. Saphira.

Sem dizer nada, ela pula no colo do irmão mais velho. Logo, o vestidinho floral azul dela encostavam-se às canelas dele e os bracinhos debruçavam-se à mesa para observar — e tentar ler — os diversos papéis. Como uma criança de oito anos poderia ser tão bisbilhoteira?

— Para quem você está escrevendo? — perguntou ela, virando a cabeça para o menino, com os olhos azuis brilhando de curiosidade.

— Para Lara. — respondeu ele, tentando ignorar o fato de ela estar se metendo na vida dele. — Lembra-se dela?

— Como não me lembraria? — disse ela, sorrindo — Você está convidando ela para sua festa?

Ele apenas faz que sim com a cabeça, o que deixa a garotinha ainda mais animada.

— Natasha vem junto? — questionou ela, saindo do colo do irmão em um pulo.

— Provavelmente. — disse ele, pensa um pouco — Não sei se ela aceitará o convite, na verdade.

— Não seja bobo, é claro que ela vai aceitar! — afirmou ela, pulando do lado do irmão, com a alegria infantil de sempre. — Ela está muito, muito, MUITO longe, mais a amizade de vocês é maior que isso. Lembra do que a vovó disse? Da história dela com a vovô, que morava aqui na Dinamarca e ela lá longe na Romênia… E a vovó está sempre certa!

— Assim espero. — admitiu ele, voltando a cabeça rapidamente para baixo, tímido, mas, logo depois, olhou para a irmãzinha novamente. — Mas, enfim, o qual é o motivo de eu receber sua honrosa visita?

— Ah, é mesmo! — ela falou, rindo. — Mamãe está o chamando. Ela quer conversar com você antes da reunião de organização com Selecionadas, que será amanhã de manhã.

— A essa hora? — perguntou ele, indignado. — Mamãe deve estar louca por convocar uma reunião à noite…

— É verdade… — concordou ela, dando de ombros logo depois. — Vamos?

Ele, então, seguiu a irmã, que saltitava pelos corredores, como se nunca tivesse sido internada em um hospital. Ele, mesmo estando um pouco afastado dela, podia sentir a alegria em todo seu corpo miúdo. Sabia que Phinny estava extremamente entusiasmada com a festa que as Selecionadas organizariam. E ele, pela primeira vez em sua vida, podia compartilhar um sentimento com a irmãzinha. Daquela vez, finalmente, ele tinha um motivo para se alegrar.

Seu coração, que estava sempre distante, finalmente estaria ao seu lado.

*¹ 20º C é quente? Para a Dinamarca é. A temperatura máxima média em junho (mês em questão) é 19º.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? A amizade (será amizade apenas? u.u) que está se formando entre Laryssa e Alexei... Nosso querido Henrik todo apaixonadinho pela Lara (e a treta da Dinamarca com o Império Soviético como fica? e.e). Foi um capítulo com vários momento shippáveis! Quero logo a Lara na Dinamarca pra rolar ship de verdade! Não sei se vocês sabem, mas eu sou uma shippadora doidona kkkkk Shippo tudo que respira!
Agora os recadinhos:
1- Já recebi as provas de quase todas as matérias e passei em tudo. Menos em Literatura, porque não recebi ainda hehe
2- Estou aqui na casa do meu avô e o computador dele não tem a letra Q por algum estranho motivo. Tentei colocar essa letra em todas as palavras que ficaram sem, mas alguma pode ter passado despercebida. Então, se vocês encontrarem um "UE", "UANTO" "UALUER" ou coisa do tipo, me avisem que eu arruo kkkk
3- AMANHÃ VOU NA BIENAL DO LIVRO!!! Estou muuuuito animada! Nunca fui numa e só ouço dizer que é muito legal. Vou abrir uma banca pra mim e fingir que sou uma escritora mundialmente famosa pelo romance Rainha dos Corações e distribuir autógrafos da versão impressa inexistente do meu livro. Ashaushaushua. Alguém mais vai?
Acho que é isso!
Até o próximo capítulo!
xoxo



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