O Pássaro do Gelo escrita por MaNa


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá, mais um capítulo para vocês!



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Capítulo 6

—E então? Conseguiu convencê-la?

—Não, Safira, eu disse que não adiantaria.

A amiga murchou com a resposta de Camila.

—Continue tentando! Por favor...

—Não sei. Ela ameaçou parar de vez com a história.

—Isso é tão injusto.

—É...

—Mas tente mesmo assim.

Camila resolveu não prometer nada, em vez disso começou a contar o capítulo narrado na noite anterior. Safira escutou tudo atentamente.

Naquela dia a menina e a mãe sentaram juntas na sala e, após um bom filme acompanhado de chocolate, a mais velha continuou de onde tinha parado.

O tempo foi passando, assim como Mayta crescendo. Durante toda sua infância só tivera dois amigos: Vougan, seu primo, e Sabrina a neta de Aryana que tinha a mesma idade da fênix negra. Elas tinham onze anos quando a amizade nasceu. Não foi algo rápido. As duas aproximaram-se durante as aula com a anciã. No início Sabrina mostrou-se desconfiada, porém com o tempo percebeu que Mayta era bastante sozinha e isso a sensibilizou. Ela ia sempre visitar a idosa quando tinha um tempinho livre, por isso era normal as duas meninas se encontrarem na casa de Aryana. Outro fator importante, cuja influência nessa amizade foi grande, era a curiosidade nutrida por Sabrina pela “aluna estranha de sua avó”. Curiosidade que ajudou bastante na formação de um laço forte de amizade verdadeira.

Uma conversa levou a outra e elas, por fim, tornaram-se confidentes.

Infelizmente o destino, o acaso, a maldição (se perguntarem a Mayta ela não saberia dizer qual desses era o responsável) as separaram.

Naquela noite fatídica a lua iluminou a floresta e os humanos a enxergaram mais uma vez. Um pequeno grupo de caçadores já esperava por aquele momento, tinham escutado rumores sobre a noite mágica. Seus arcos estavam prontos, suas espadas preparadas, suas armadilhas armadas. Caçavam por pura diversão.

Durante a noite em que o véu entre os mundos estava mais tênue e os humanos podia passar para a floresta encantada, as fênix saiam das Vilas escondendo-se em cavernas subterrâneas, descobertas há alguns anos e equipadas para serem esconderijos.

As tochas foram acesas, o aperto era grande, todos estavam armados menos as crianças menores. Até as maiorzinhas carregavam uma faca. Mayta com seus doze anos, no entanto, fora proibida de levar qualquer ferramenta. Marlon e Alana protestaram, contudo não só Almira como toda a Vila declararam que uma arma na mão de Mayta era um risco que poderiam, e iriam, evitar.

—Eles pensam o quê? Que minha filha vai enlouquecer e sair matando todo mundo?

—Calma Alana.

—Não fale assim comigo Marlon! Sabe que estou certa.

Por fim a menina escondeu-se desprovida de armas.

—Não se preocupe Mayta, eu te protejo. - Prometeu Vougan com um sorriso maroto.

Não se preocupe Mayta, eu te protejo— Imitou Elvira em tom de desprezo.

—Cala a boca, Elvira- Sabrina sibilou.

Os quatro estavam sentados juntos na caverna. Elvira só estava ali por causa de Vougan. Por trás das discussões intermináveis, os dois se davam bem. Ele era o único que tratava a princesa como se fosse uma garota normal, não a futura rainha. Ela gostava disso, tanto que suportava a presença irritante da bela prima de cabelos pretos que Vougan insistia em seguir para todos os lados.

Sabrina estava com medo e desconfortável. De fato, nenhuma das fênix gostavam de estar ali, enclausuradas, sua natureza exigia a liberdade. A neta de Aryana era, no entanto, de longe a mais incomodada, seus cabelos ruivos ralos estavam mais despenteados que o normal e os olhos completamente perdidos. Antes do fim da noite a pequena não aguentou e saiu de fininho.

“Ora a noite já está chegando ao fim, não fará mal sair um pouco antes, para respirar.” Pensou.

Mayta a viu esgueirar-se para fora. Seguiu-a na intenção de impedi-la, mas quando finalmente a alcançou já era tarde: dois caçadores estavam rodando perto do esconderijo.

A menina caíra em uma armadilha.

Eles a encurralaram atirando flechas, acertando de raspão o braço da garota. Mayta escondeu-se atrás de uma grande pedra e assistiu a cena  tão assustada quanto a amiga, não sabendo o que fazer para ajudá-la.

Ela viu quando Sabrina correu em direção a caverna secreta, viu quando ela pisou em um tipo de armadilha que a pendurou pelo pé antes que pudesse alcançar a entrada do esconderijo, assistiu-a transformar-se em pássaro no desespero e, por fim, viu-a ser engaiolada e levada.

O sol raiou. Mayta foi encontrada horas depois chorando encolhida atrás da mesma pedra em posição fetal. Só conseguia pensar em como a menina tinha sido levada, no desespero estampado no rosto de Sabrina, principalmente quando os olhos vermelhos encontraram os seus próprios. Dizem por aí que quando duas fênix são muito amigas elas podem trocar pensamentos em casos de muita adrenalina ou perigo.

“Saia daqui Mayta! Fique quieta não deixe que a vejam.” – A voz de Sabrina soara em sua mente.

“Tudo vai ficar bem.” - Ela afirmou em pensamento para a amiga sem saber o que responder.

Sabrina deixou uma lágrima cair e ela escorreu até o seu bico.

E Mayta chorou em silêncio.

Quando seus pais a acharam ela estava paralisada. Marlon a pegou no colo, com cuidado, e a levou para casa. A menina passou uma semana sem esboçar reação, apenas ficava deitada, no quarto, olhando para o teto.

Vougan tentava conversar, mas nada a animava. Nem mesmo os insultos de Elvira a faziam ter raiva suficiente para responder.

Quando enfim voltou a si e saiu pela Vila, observou que os olhares estavam mais hostis que o normal. Então percebeu: eles a culpavam pelo que tinha acontecido.

—Foi ela. É a maldição!

—A menina era amiga dela e veja o que aconteceu!

—Ela é uma praga, praga!

—Saia daqui, nojentinha amaldiçoada. Saia daqui! Era você quem devia ter sido levada, não a pobre menina. – Um homem em torno de vinte e cinco anos a provocava. Porém, nesse instante, Marlon apareceu atrás da filha com um olhar nem um pouco gentil.

—É melhor você retirar o que disse, meu rapaz, ou pelo menos correr se ama sua vida. O garoto se foi, contudo, não antes de olhar com certo rancor para a criança.

A mãe de Mayta também não estava feliz com a situação. Na verdade, Alana estava quase avançando nos moradores da Vila de tanta raiva (e o teria feito com prazer!), mas Almira intercedera procurando acalmar a irmã.

—Ninguém vai fazer nada contra sua filha Alana. – Prometeu.

Mayta culpava-se. Fora sua culpa. Ela não fizera nada para impedir... Nem tentara.

—Você não tinha arma alguma, Pássaro do Gelo - Vougan argumentou enquanto seguiam para a casa de Aryana. Mayta queria conferir se a anciã também a detestava.

—Mesmo assim... Vai ver eu sou mesmo uma praga. – Sussurrou.

O garoto achou melhor não falar nada.

Quando chegaram à casa da professora, os pais de Sabrina também estavam lá.

—Você, sua, sua...- A mãe da amiga levantou-se avançando em Mayta que se escondeu atrás do sofá, com medo e vergonha.

—Não encoste nela, filha!

—Mas mãe ela é a culpada! Eles levaram minha filha, sua neta, por causa desse monstro!

—Não. Você sabe que não foi isso que aconteceu.

—Mãe..

—Cale-se. Se quer ficar em minha casa, terá de respeitar a menina.

A filha levantou-se e, com um olhar repleto de ódio misturado ao desespero, fitou a garota. Parecia direcionar toda a sua raiva para a Mayta, como se acreditasse que assim poderia fazer a garota explodir ali mesmo. Porém, vendo que isso não funcionária, transformou-se junto com o marido, saindo voando da casa.

Aryana fechou a porta. Logo em seguida trouxe um pouco de chá. Os primos sentaram no mesmo sofá, forrado com panos de algodão, esperando. A garota olhou fixamente para a xícara perdida em pensamentos.

—Não a odeio, se é isso que teme, criança.

Mayta fitou a mulher idosa enquanto essa sentava em uma cadeira de balanço.

—Na verdade, estava me perguntando como você está. Não deve ter sido algo bom de se assistir.

Mayta largou a xícara que espatifou-se no chão. Olhou nos olhos da senhora de cabelos branquinho, permitindo que as lágrimas enfim descessem e correu para os seus braços se agarrando a eles como se fossem o seu último apoio no mundo.

Vougan apenas assistia a tudo calado.

—D-d-desculpe, - ela soluçava- me desculpe, eu sou um monstro.

—Não criança, não, nem pense nisso. Você não é um monstro, nunca foi. - A mulher a consolou balançando o corpo bem devagar.

A senhora começou, por fim, também a chorar baixinho e as duas ficaram daquele jeito durante um bom tempo.

Quando enfim separaram-se Aryana a olhou séria.

—Sabrina a amava, Mayta, você era sua melhor amiga. Ela jamais a culparia por isso, entendeu?

A menina assentiu.

Ela e Vougan então foram para casa. Já era noite, Mayta observava a lua durante todo o caminho. Uma mágoa muito grande crescia em seu peito.

“Por que você nos amaldiçoou fênix negra? Eu não sei se a entendo e não sei se posso perdoá-la.”

Seus pensamentos eram todos sobre a antepassada. Contudo, nenhuma resposta viria naquela noite.


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Notas finais do capítulo

Estou com um pouco de pena de Mayta... Será que estou sendo muito má? Bom, fazer o que... E então, o que acharam?

Bjs