O Pássaro do Gelo escrita por MaNa


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Bem ai está! Esse capítulo é mais lento, porém paciência! Já, já eu acelero.

Espero que gostem.



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Capítulo 3

— Por hoje está bom, Camila.

— Como assim? A senhora vai parar agora???

— Preciso dormir. Tenho que aplicar prova amanhã, o que significa acordar cedo para estar às sete na faculdade.

— Mas, mas... mãe!

— Camila, não insista.

— Mas...

— Boa noite. Te amo.

E saiu do quarto sem dizer mais nada.

Camila apenas deitou, revoltada, e dormiu.

O dia seguinte pareceu arrastar-se. A menina olhava insistentemente para o relógio desejando que as horas não fossem tantas. Era frustrante escutar a história desse jeito, como uma novela ou série. Queria que fosse um livro cujas páginas pudesse controlar e devorar sem interrupções.

Já era sexta feira. Ela deveria estar planejando como resolver a sua simulação de redação para o ENEM, texto que deveria entregar na segunda de manhã. Porém, o papel continuava em branco e sua mente vagava em meio aos sonhos com as fênix.

A campainha tocou.

— Conseguisse fazer a redação? Porque eu estou travada!

— Oi, Safira. Tudo bem sim. Como vai a sua vida? Obrigada por perguntar! Boa tarde para você também... — Sorriu sarcástica.

— Ah Camila, deixa de frescura — revirou os olhos—E aí? Fez ou não?

— Não. Não consigo. Minha mente está em outro lugar.

— Ah... olha eu sei que o Bruno é um fofo e tudo mais, mas ele não vai passar você de ano, então, pare de pensar em garotos e foque nos estudos, além do ma...

— Quem disse que estou pensando em Bruno? De onde tirou isso, criatura?

A amiga deu um risinho de cumplicidade.

— Fala sério, vocês estão tããããooo óbvios que dói. De verdade.

Safira se jogou na cama da melhor amiga e folheou os rascunhos mal feitos da redação.

Camila, por sua vez, sentiu o rosto corar. Sim, ela tinha saído com Bruno. Ido ao cinema algumas vezes, contudo nada acontecera... Ainda. Eles só ficavam naquela paquerinha, no vai ou não vai. Vai e vem que, por sinal, já estava começando a incomodar a menina.

— Safira, nada aconteceu.

— Mas vai acontecer. Está claro como o dia!- Respondeu sem nem mesmo tirar os olhos do que estava lendo —Bom, isso não importa agora. Nesse instante, a única coisa que importa é a nota! Venha, vamos fazer essa redação, que tal se começássemos com algo assim...

As duas passaram a tarde fazendo o texto, de vez em quando perdendo o foco e discutindo sobre Bruno. Em algum momento do dia Camila contou a amiga sobre a história que a mãe estava narrando, que essa era a causa da sua desatenção, não o rapaz. Apesar de que, de vez em quando, seus pensamentos eram sim direcionados ao garoto... com uma frequência desconcertante na realidade.

Quando enfim terminaram, estava tarde para Safira ir para casa sozinha e naquele momento não tinha ninguém que pudesse buscá-la. Sendo assim, ambas resolveram que era melhor para a garota ficar e passar a noite.

Quando sua mãe chegou para contar-lhe a história percebeu, com surpresa, a nova ouvinte.

— Então Camila, acho que devemos deixar esse capítulo para amanhã.

— Ah, não.

— Tia, não se incomode comigo! Pode contar a história. Camila já me deu um monte de spoilers mesmo...

— Safira!

— Mas você deu!

A mais velha sorriu.

— Está bem então. Vamos lá. Onde eu parei mesmo?

(...)

Naquela noite a Rainha saiu preocupada da casa da irmã mais nova onde a sobrinha acabara de nascer. O vento batia forte em suas imensas asas e ela teve de fazer um esforço a mais para voar. Quando enfim chegou ao chão e transformou-se em humana, olhou para cima.

Todas as casas eram construídas nos galhos das árvores mais altas. As fênix só gostavam de morar perto do céu.

“Tendência natural para pássaros”, pensou Almira. Suspirou alto, decidindo seguir andando pela vila. Por alguma razão estranha não queria voar. Resolveu observar tudo ali de baixo. Se um desavisado passasse por aquele lugar e não olhasse para o alto com bastante atenção, não seria capaz de notar a existência de uma pequena comunidade de fênix no local. Pareceria a ele apenas mais um trecho desabitado da floresta.

As casas eram feitas de madeira, suas paredes cobertas de plantas proporcionavam uma camuflagem natural às pequenas moradias. Sem um olhar cuidadoso, as casas aparentariam fazer parte das árvores.

A Rainha estava nervosa. Logo elas chegariam. As Damas das outras vilas. Almira era a Rainha de todo o reino das fênix, mas cada comunidade tinha a sua representante, essa escolhida por voto. Em geral, era a mais velha da tribo. A mais sábia. Entretanto ela soubera que, recentemente, uma fênix de trinta e cinco anos havia conseguido o posto. Escolhas assim ocorriam vez por outra... eram raras, mas ocorriam. Almira em si tinha apenas quarenta anos, desde os quinze governava. No seu caso não tivera escolha, era hereditário: ela nascera para ser a Rainha assim como sua mãe.

Caminhou mais um pouco. Haveria uma discussão perigosa no dia seguinte. Ao todo eram vinte comunidades, sem contar a vila onde ela própria residia; nessa não existindo uma Dama (já que a Rainha estava presente). Todas as representantes chegariam perto do sol raiar, provavelmente com os primeiros raios, se a notícia fosse espalhada (e ela se espalharia, não existiam dúvidas quanto a isso). Julgando a velocidade dos pássaros e o medo presente em sua Vila, tinha certeza absoluta de que quase todas as outras já sabiam.

A fênix negra voltou.

Uma pequena dor de cabeça começou a se formar, fazendo com que levasse as mãos a testa e respirasse fundo mais uma vez.

De repente uma Fênix enorme, tão grande quanto Almira, pousou em um galho próximo a fitando respeitosamente. Após alguns segundos baixou a cabeça lentamente em uma reverência. Bastou um leve acenar, quase imperceptível, de cabeça da Rainha para o pássaro transformar-se.

Era um homem belo. Os longos cabelos negros e a barba malfeita conferiam a ele um ar misterioso. O mesmo ar que encantara Almira anos atrás.

— Senhora.

— Olá, meu amor.

— Já estou sabendo da notícia. Como você está? — Ele aproximou-se devagar ao passo em que a Rainha, normalmente tão calma, jogou-se em seus braços, deixando as lágrimas cheias de preocupações finalmente rolarem.

— E-e-eu estou com medo, Breno. Mas não posso deixar ninguém ver. Vão me achar fraca. Não sei o que fazer! Essa menina, ela é um risco, mas continua sendo minha família. Tenho medo de minha decisão arruinar a vida de muitos.

O esposo a abraçou, envolvendo-a de um modo reconfortante. Quando as lágrimas cessaram, ela o fitou nos olhos. Aqueles lindos olhos vermelhos.

— Algum conselho? Você já foi um Cavalheiro e as Damas estão vindo...

Breno fora o único representante homem de uma Vila na história das fênix. Sua mãe fora uma Dama antes dele e quando esta faleceu em um ataque dos humanos, o rapaz manteve o controle, salvando o resto das pessoas de sua Vila. Depois disso, o elegeram Cavalheiro. Ele tinha apenas dezesseis anos.

Na primeira reunião das Vilas, conheceu Almira. A bela, temida e amada Rainha. Uma mulher extrovertida, calma, admirada, além de perigosa em batalha.

Não houve dúvidas. Apaixonaram-se rapidamente. Quatro reuniões depois ele a beijou. Bastou um beijo para saber que se amavam. Casaram-se em três anos e desde então ele era seu consorte. A Vila que representava teve de encontrar uma nova Dama. Contudo, se como Cavalheiro ele fora um ótimo líder (de causar saudades a seus representados), como consorte ele era melhor ainda, pois aconselhava a Rainha diretamente e era quase tão respeitado quanto ela. Quase.

— Respire fundo. Defenda o que achar certo.

— Esse é o problema. Não sei se acho certo deixar aquela criatura viver. A mulher que nos rogou a praga é sua antepassada, perdemos muitas pessoas por causa daquela... e se perdemos de novo?

— Minha querida, Alana vai criar a menina. Acha mesmo que alguém criada por Alana poderia fazer mal a alguém? – Ele sorriu tentando animá-la.

A Rainha deu um pequeno sorriso que não chegou aos olhos dourados.

— Mesmo assim... Não consigo amar uma menina que pode trazer catástrofes gigantescas ao meu povo.

— Mas Alana pode e ama. Ela é a mãe.

— Eu sei. Por isso, resolvi dar uma chance a criança. Por isso e por acreditar que também fomos culpados aos expulsarmos a primeira fênix negra. Nós tivemos nossa parcela de culpa.

— Uma parcela considerável.

— Mesmo assim, a praga não era necessária e...

Uma outra fênix menor pousou perto dos dois. Novamente a Rainha deu um leve aceno e a ave transformou-se em humano: um adolescente bem afobado.

— Senhora!

— Sim, meu rapaz? — Respondeu a soberana.

O garoto estava inquieto.

— Elas chegaram, senhora, as Damas.

A Rainha gelou nos braços do marido, olhando o céu. Ela errara nos cálculos, o sol ainda não dava sinais de vida.

— Obrigada. Pode ir.

O menino transformou-se em pássaro e se foi. Ela então fitou o marido.

— Estará presente, meu querido?

— Como sempre, minha senhora.

Ela sorriu para ele.

— As crianças estão dormindo?

— Elvira deu trabalho, acho que sentia sua falta, mas consegui fazê-la pegar no sono.

— E Vougan?

— Um ano e já é virado. Você bem sabe! Por um milagre apagou fácil.

Almira sorriu aliviada, pelo menos as crianças dormiam.

“Hora de enfrentar os corvos ”, pensou ao mesmo tempo em que se transformavam em fênix e seguiam para a tão temida reunião.

 


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam? Desculpem-me se houver algum erro de português, escrevi morrendo de sono.
Bjs



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