O Pássaro do Gelo escrita por MaNa


Capítulo 30
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu estou revisando a história. Sei que tem vários erros de português, vocês podem me sinalizar o que perceberem? Obrigada!
Me digam o que acharam!
p.s: vou ficar postando uma vez ao mês, tá?

Bjs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/539097/chapter/30

Camila continuou a leitura.

Naquele dia fariam três meses que Mayta estava presa. Desde então todas as tardes eram permeadas por torturas extremas, que a levavam ao limite entre a morte e a vida. De noite, ainda precisava arranjar forças para lutar contra a transformação espontânea.

Ícaro assistia a tudo impotente. Ele bem tentara ajudar, mas a garota o repelira. Antes, ao menos, conversavam: ela demonstrava o que sentia, mesmo desconfiando dele. Mostrava que estava viva. Agora já não existiam palavras. Ìcaro tentava puxar assunto, a provocando. Contudo, parecia que a prisioneira nem sabia que ele estava no mesmo cômodo que ela.

“Não existe apenas uma forma de morrer”, Mayta dissera uma vez. Na hora ele não a levou a sério, porém, já não conseguia negar: as palavras estavam tornando-se realidade bem em frente ao rapaz.

 O pássaro negro não chorava mais, não sorria, não reclamava... nem sequer falava. O corpo coberto pelo vestido sujo permanecia encolhido no canto da cela e o olhar estava sempre perdido em lugar nenhum. Ela estava morta por dentro.

A única reação que ele ainda conseguia perceber vinha somente durantes as noites quando, agora religiosamente, Mayta lutava contra a própria transformação. Nesses momentos, a determinação aparecia em seu rosto e Ícaro percebia o quanto aquilo era importante para ela.

 Diariamente o açougueiro a levava ao limite entre a morte e a vida e mesmo assim Mayta não cedia, não assumia a forma de pássaro.

Em algum lugar dentro do jovem caçador a admiração pela força da mulher, que de frágil só tinha a aparência, começou a tomar conta de seus pensamentos, e vê-la morrer da pior maneira possível (entrar naquele estado em que pouco importa se o corpo vive ou não) o deixava indignado, irritado... furioso! Não concordava com o que estavam fazendo com ela. Aquela tortura era demais até para ele que já estava acostumado a caçar pássaros de fogo.

Era desumano.

Além de tudo, por alguma razão estranha, o pânico começava a tomar seu espírito sempre que percebia o brilho dos olhos claros desaparecendo aos poucos.

Naquela noite, enquanto ficava de guarda, Ícaro observou-a tendo os espasmos habituais, como se o corpo inteiro estivesse sentindo dores insuportáveis. Mayta nada dizia, mas, se estivesse em seu estado normal, descreveria aquela sensação como a de ossos sendo incinerados: seu corpo queria modificar-se até tomar a forma de pássaro. Conter aquilo era ir contra sua natureza, era impedir que seus ossos, de fato, mudassem. Era uma dor enorme.

Os gritos dela começavam a aterrorizar os pesadelos de Ícaro.

—Pare!- Gritou e demorou um pouco para reconhecer onde estava. Tinha cochilado por um instante e, novamente, sonhara com aquele som triste e até assustador. Se ajeitou encostando as costas de forma confortável na lateral da grade, ao mesmo tempo em que buscava, com os olhos, a bela prisioneira. 

Do lado de dentro da cela Mayta ainda sentia os últimos espasmos de uma transformação contida. Seu corpo estava estirado no chão, os olhos arregalados e ensopada de suor.

Ícaro suspirou. Não acreditava que faria o que estava pensando em fazer. Levantou-se e saiu da prisão. De longe Mayta o observou ir e, um lado esquecido seu, foi tomado de curiosidade. Ele nunca deixava a cela enquanto a lua permanecesse no céu. Contudo, seu lado cansado logo tratou de ignorar os pensamentos, não tinha porquê se importar. Fechou os olhos e tentou dormir, mesmo sabendo que sonharia com ele de novo.

O açougueiro.

Atualmente seus sonhos eram sempre assim: um emaranhado de torturas, imagens de casa e, principalmente, os olhos de Ícaro. Por alguma razão estranha o subconsciente da Pássaro do Gelo insistia em fazê-la reviver a tortura dos dias em seus sonhos e, por fim, admirar os olhos do rapaz. Era a única parte realmente boa daquilo tudo. Talvez fosse alguma espécie de loucura em seu cérebro (estaria condicionada a procurar alento em lugares vazios?), o problema é que aqueles olhos não lhe pareciam vazios. Na verdade, eram as únicas coisas que demonstrava algo que não fosse ódio. Ícaro detestava a raça dela e fora ele quem a acertara com a flecha, mas Mayta não sentia como se lhe quisesse mal. O rapaz nunca a torturava e parecia discordar dos métodos do chefe.

Quando já estava sendo levada pelo cansaço, percebeu que algo mais acontecia: seu corpo começava a parar. Já não conseguia se mexer, a respiração ficava cada vez mais difícil e os olhos não queriam abrir. Pânico.

Estava morrendo.

Finalmente estava morrendo. Um lado dela refletiu sobre como aquilo era irônico. Chegara perto de morrer diversas vezes, mas sempre o torturador a trazia de volta com as lágrimas de fênix. Agora, o próprio corpo atendia ao seu pedido silencioso e lhe dava o fim que a alma almejava tanto. O outro lado  ( o que cuidava de seus instintos mais primitivos) teve medo, tanto que até pensou em lutar contra a desistência, mas foi por pouco tempo. Ela já tinha decidido ir, não existiam motivos para viver.

E ela teria ido (estava quebrada o suficiente para isso) se uma voz não a tivesse chamado de volta.

—Mayta, não se atreva a morrer! Não agora.  

“Me deixe”, ela pensou enquanto sentia o ar inflar os seus pulmões, alguém tentava reanima-la.

—Você não pode ir, Mayta. Você é mais forte que isso.- Mais ar. “ Deixe-me em paz, por que não me deixa? Quero descansar...”, mas, seja quem fosse que estivesse tentando trazê-la de volta, não conseguia escutar os pensamentos da garota.

—Pássaro teimoso...- A voz estava ofegante- lute pela sua vida!

“Ícaro?”

Sim, a voz era dele. Era Ícaro que a chamava. Ela devia responder? Dizer que a deixasse em paz? Por que ele tentava trazê-la de volta?

—Volte Mayta!- Uma pressão em seu peito... Ele estava fazendo uma massagem cardíaca? - Eu... Eu errei. Errei com você. Volte, me desculpe...

E agora ela já não queria morrer.

Em vez disso, desejava ardentemente entender o que aquele rapaz estava dizendo. Errou? Oh sim, ele tinha errado ( bastante!), mas por que se arrependera? Com muito esforço lutava para manter a consciência. Tentava voltar.

Após poucos minutos, os olhos claros encontraram as orbitais escuras de Ícaro: ela estava viva. O caçador a abraçou aliviado, encostando-a junto ao peito.

—Obrigada! – Ele riu enquanto deixava seu rosto se perder em meio aos cabelos negros- Obrigada por voltar. Tudo vai ser melhor agora, Mayta! Essa dor vai passar... Vou fazer com que passe.

Ainda muito fraca ela apenas assentiu suavemente, mas não sabia ao certo como ele faria isso. Era dor demais, a alma doía muito mais do que o corpo, e ela não achava que alguém fosse capaz de curar aquilo. Contudo, por hora, apenas deixou que Ícaro a abraçasse, fingindo, por aquele pequeno espaço de tempo, que estava segura.

Após um tempo abraçados, ele a colocou deitada novamente e se levantou indo até o lado de fora da grade. Mayta o observou voltar trazendo um balde com água e um pano.

—Posso lhe limpar?

Ela pensou por um instante antes de consentir.

 Fechou os olhos enquanto o sentia dar um banho-de-gato em seu corpo com o pano úmido. Eles não falavam nada enquanto o pano fino subia e descia pela pele dela, tirando a poeira acumulada.

Às vezes, os dedos de Ícaro roçavam a pele fria de Mayta e ela estremecia levemente com o contato.

Subitamente ele pareceu tenso. Com uma expressão de dúvida no rosto.

—Se você permitir, posso... Posso tirar o seu vestido? –Mayta o fitou curiosa- Para lavar o resto do corpo! Não entenda de forma errada.- Disse apressadamente.

Ela riu. Por que entenderia de forma errada? Para o povo dela estar nú era o natural. Nunca entendera a razão dos humanos ficarem tão “empacotados” até nos dias mais quentes.

—Pode.

—O quê? - Ele parecia constrangido. Achou que ela não deixaria. De fato, só pretendia limpar as feridas recentemente cicatrizadas e o corpo cansado, mas não sabia se ela acreditaria.

—Pode me dar o banho.

Ele assentiu sério e a ajudou a despir-se.

Enquanto o vestido saia do corpo da mulher, dando a Mayta uma sensação de liberdade quase esquecida, outras coisas começaram a acontecer. Coisas que Mayta nunca tinha experimentado.

Os dedos dele roçavam a pele branca dela, gerando os longos arrepios que percorriam a coluna da prisioneira, um atrás do outro. O pano usado por Ícaro descia e subia com uma cadencia cuidadosa, lenta... “Lenta até demais”,  pensou Mayta. Em dado momento, o rapaz pediu que sentasse para que ele pudesse limpar suas costas. Ela assentiu.

O banho prosseguiu.

Mayta podia sentir a respiração acelerada em seu pescoço. Eles estavam muito próximos. Pela primeira vez na vida a Pássaro do Gelo se perguntou se realmente deveria estar nua. Começou a respirar fundo, seu coração (que quase parara tão recentemente) batia descompassado, sentiu o rosto corar. Ela estava estranhamente quente. O pano continuava o seu caminho de forma cuidadosa, deslizando suavemente, como se o corpo da prisioneira fosse frágil.

Ícaro arrumou os cabelos negros de Mayta para o lado, de modo a deixar o pescoço exposto para que pudesse limpar alí também. A respiração do rapaz estava mais forte, ela podia sentir o sopro quente em sua nuca a medida que o pano deslizava pela coluna. A boca dele devia estar a milímetros de sua orelha.

"Lua!", ela pensou ao se dar conta que desejava o toque dos lábios dele em seu pescoço. Por que estava pensando naquilo? Não podia estar fantasiando com Ícaro! Mas estava. A medida que o pano avançava pelas curvas da mulher, Mayta começava a sentir tudo mais intensamente. Era como se suas terminações nervosas estivessem, todas, subitamente acordadas. Os dedos, que ocasionalmente roçavam o corpo dela, faziam sua barriga revirar de ansiedade por algo que ela não entendia. Ou fingia não entender.

A garota permaneceu imóvel, com medo de fazer qualquer movimento que quebrasse aquela situação delicada. O pano agora subia por suas pernas e estava chegando perto da virilha, mas muito devagar. “Lento demais”. Ela fechou os olhos. Privada de um de seus sentidos, concentrou-se apenas nas sensações do pano e do hálito quente em seu pescoço, provocando sua pele, prometendo lábios que nunca encostavam.

Uma tortura.

O pano seguiu pelo pescoço, costas, pernas, barriga, seios....

—Acho que já está bom.

—O-o que?-  Estava aturdida. Quente.

—Acho que já está limpa. Deite-se, precisa descansar.- Ele não  a fitava nos olhos. Procurava focar em qualquer outra coisa no aposento.

Mayta não queria descansar, era a última coisa que queria agora! Tentava entender o que tinha acontecido e porquê algo, que ela só pôde descrever como um desejo estranho, esquentava perto de seu ventre. Acalmou a respiração.

Estava cansada. Ele estava certo. Quase tinha morrido, pelo amor da Lua!

—Sim, preciso.- Concordou enquanto deitava novamente.- O que vai acontecer  Ícaro?

Ele a fitou sério.

—Eu prometi que a ajudaria não foi? Durma, não se preocupe com isso agora.

Ela assentiu calma, o sono já a dominando. A última imagem que viu antes de adormecer completamente foi a de Ícaro sentado, a observando. Os belos olhos negros.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Foi quente o suficiente?
Bjs



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Pássaro do Gelo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.