O Pássaro do Gelo escrita por MaNa


Capítulo 29
Capítulo 27


Notas iniciais do capítulo

Oi!! Finalmente consegui postar mais um! A faculdade tem sugado todo o meu tempo, mas eu não vou parar essa história de jeito nenhum. Gostaria de saber o que estão achando... Por favor, comentem!
Aproveitem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/539097/chapter/29

O tempo passou. Elvira e Vougan se afastaram consideravelmente desde a coroação.

O rapaz se encontrava sentado no mesmo galho em que um dia beijara Mayta. Seus pensamentos, no entanto, voavam em direção a noiva. Correção: ex-noiva. Ainda não tinha se acostumado a isso.

“Ex”. Era como se uma faca fosse enfiada em seu peito toda vez que lembrava que a expressão tornara-se realidade.

Logo que Alana contou as novidades, os sobrinhos tiveram uma longa discussão. Discussão que o rapaz não cansava de repetir mentalmente, tentando entender... Pois ainda não conseguira assimilar nada daquele dia!

Mais uma vez as lembranças o atormentaram.

—El...- Tentara chamá-la de volta a razão logo que a Rainha recebeu a notícia.

—Estou livre...- A garota olhava para a parede como se ali estivesse vendo grades se abrindo.

Um frio terrível percorreu a espinha de Vougan.

—Sim, está querida! Mas agora tenho de ir, preciso conversar com Marlon e... Tenho a impressão de que vocês também precisam de um tempo sozinhos. – Alana acenou para os dois, olhando para o sobrinho com pena e dando meia volta para sair do quarto. “Ele precisa passar por isso”, pensou antes de fechar a porta.

Nenhum dos dois se mexeu nos primeiros segundos, até que Vougan quebrou o silêncio.

—Elvira, nós não precisamos...

—Nos casar! - Ela o olhou com uma expressão esquisita, como se estivesse em dúvida sobre o que sentir.

—Eu ia dizer que não precisamos deixar de nos casar por causa disso. Era o que nossa mãe queria.- Falou pausadamente, testando onde pisava. Sentia que a qualquer momento algo iria explodir.

—Não.

—Não o quê?

—Não era o que ela queria. Ela queria que fossemos felizes. Armou esse casamento porquê não havia outro jeito!

Vougan começou a se irritar.

—Sempre existe outro jeito...

—Ah é? E qual seria?- A noiva agora o encarava com aquele típico fogo nos olhos que somente ela possuía.

—Mayta. Ela nasceu para isso.- Respondeu rápido. Estava transtornado. Não entendia o comportamento de Elvira: como ela podia, simplesmente, terminar com tudo o que tinham, todo o compromisso mantido durante anos, por causa de uma gravidez surpresa? Não, não, não!

—E eu não.- A Rainha engoliu em seco. Não acreditou no que tinha escutado, de novo isso...

Vougan percebeu seu erro. Não tivera a intenção de sugerir aquilo, sabia que era um tema delicado para El. “Droga”, pensou.

—Não foi o que eu quis dizer! Me desculpe El, você é a nossa Rainha legitima. Sabe disso...

Ela ficou em silêncio, o que o assustou. Normalmente Elvira teria esperneado, batido nele ou até tentado puni-lo com olhares fulminantes. Em vez disso, a mulher o fitou calma. Resoluta. Tinha decidido algo e, pelo visto, Vougan teria preferido levar uma surra.

—Está acabado.

—O quê?

—Nós dois. Acabou Vougan.

Silêncio.

—Por quê?

—Hã?

—Por que você quer acabar? Você sempre disse que me amava, não entendo como uma gravidez poderia ser razão o suficiente para terminarmos tudo, qual o motivo...?

Ela não o deixou terminar.

—Eu o amo. Muito. Sempre amei. Mas não posso ficar com alguém que não sente o mesmo por mim.

—Elvira... De novo isso!

Ela desviou os olhos para o lençol. Não queria encara-lo.

—Eu não o amava a princípio, sabe? Percebi que me apaixonei a medida que o tempo passava. A medida que eu confiava em você.

A expressão do rapaz suavizou.

— Eu...

—Escute! Me apaixonei por você com a mesma velocidade que as flores se abrem na primavera. Devagar, quase sem perceber. Em um dia o sentimento estava lá, como um broto e no outro floresceu. Com mais alguns anos, de fato, deixei que a paixão virasse amor. -As lágrimas subiram aos olhos da Rainha- Manso, como a brisa nas árvores. Como o vento em minhas asas... E eu o amo desde então.

Vougan apertava a perna da cama com a mão. Todo o corpo estava tenso.

—Eu fiquei feliz porquê, afinal, iria casar com você. Melhor casar com amor, certo? – Riu com as lágrimas já rolando pelo rosto. -Mas, percebi que não era recíproco. Que você desejava outras mulheres. Ou mesmo uma outra.

—Elvira...

—Deixe-me terminar, Vougan! - Tomou fôlego e prosseguiu- Eu continuei insistindo e tentando. Tentando porquê não queria ser infeliz. Tentando porquê sabia que iria casar e, já que não havia saída, tentaria fazê-lo me amar. Até o fim dos meus dias. – Soluçou escondendo o rosto nas mãos- Mas eu não mereço isso. Eu sou MAIS do que tudo isso. Eu sou uma mulher criada para ser Rainha. Nunca dependi de ninguém. Sou inteligente, sou bonita, sou dona de mim. Escolhi lhe entregar meu coração, pois era o melhor jeito de viver com as regras que me foram estabelecidas. – Respirou fundo, descobrindo o rosto e percebendo que as lágrimas já haviam secado. Encarou Vougan- Mas não preciso mais.

—Elvira, você está alterada, vamos conversar sobre isso...

—Acabou.

—Não, não acabou!

— Acabou, Vougan!

A essa altura os dois já estavam de pé se encarando. O príncipe deu os três passos que faltavam para acabar com a distância entre eles e fitar Elvira nos olhos. A Rainha não se moveu um milimetro. Estava nervosa, porém decidida. Ele não conseguiria fazê-la mudar de ideia.

—Elvira, você e eu já não somos capazes de nos envolver com outras pessoas...- Disse em um tom baixo, devagar, tentando não deixar a raiva e o desespero que o tomavam transparecer em seus olhos.

—Fale por você.- Respondeu- Se está tão acostumado a nossa relação, que nem conseguirá criar laços mais fortes com mulheres para quem tenha vontade de dizer que ama, então tenho pena de você.

Elvira sentiu o coração, já machucado, terminar de partir quando verbalizou o que pensou. No entanto, precisou falar. Ele não a amava, nunca amou. Nunca pôde dizer as três palavras mágicas para ela, enquanto para outra afirmava sem problema algum. Como podia dizer que não conseguiria se relacionar com mais ninguém? O compromisso que sua mãe criara entre os dois não era razão suficiente.

Vougan sentiu como se a noiva o estivesse matando.

—Você conseguirá? Amar outro?

Elvira ficou tensa. Todo o corpo paralisou. A magoa sumiu de seus olhos e ela o fitou com tristeza.

—Talvez. Se surgir a chance, por que não tentar?

—Você não amará mais ninguém, Elvira. - Sussurrou. O simples pensamento dela amando qualquer outro o enlouquecia. Seus rostos estavam muito perto. Os olhos travavam uma luta silenciosa.- Seu coração já me pertence há muito tempo. E eu não pretendo entregá-lo a mais ninguém.

Raiva. Como ele podia?

— Eu lhe odeio! Vougan eu lhe odeio! Nada meu pertence a você, entendeu? Nada! Se lhe entreguei meu coração, foi porque eu quis. E você só o tem enquanto eu quiser que tenha.

Ele sorriu.

—A nossa sociedade pode dizer que você é quem manda, minha rainha, mas nem a criatura mais poderosa, homem ou mulher, é capaz de controlar os sentimentos. O seu amor sempre foi ,e continuará pela eternidade, sendo meu.

Ele a beijou. Foi mais rápido do que Elvira pôde prever e tão pouco conseguir controlar. Seus lábios se abriram automaticamente para os dele e as línguas começaram a travar uma luta. Os dois pareciam estar queimando, seja por raiva, mágoa, ou desejo. Sempre tinham desejo...

O problema é que nessas batalhas nunca havia um vencedor.

Elvira se libertou, devagar, do beijo e tocou-lhe a face. Seus dedos passearam pelos cabelos do noivo. Sorriu.

Vougan respirou aliviado. Conseguira convencê-la, afinal!

Com calma ela se afastou, andou um pouco pelo quarto e pegou o copo de barro na cômoda, o analisando.

—El?- Ele inquiriu desconfiado. O quê...?

A mulher olhou para o príncipe e decidiu que era uma boa ideia jogar o recipiente no rapaz. Assustado, Vougan pulou para o lado desviando do objeto por segundos.

—Elvira!- O que estava acontecendo?

—Tem razão, Vougan, nós não escolhemos quem amamos! Mas, deixe-me lhe explicar uma coisa: ninguém pertence a ninguém. Eu escolho com quem quero estar e, definitivamente, não é com você.- Respirou fundo- Se vou conseguir amar outro ou não, o tempo dirá. Mas prefiro ficar solteira para sempre a permanecer com alguém que não é capaz de dizer "eu te amo" para a própria noiva!

—Pessoas dizem que amam sem amar. São só palavras.- Ele procurava no olhar dela alguma pista, alguma coisa que dissesse que estava errado, que aquilo era uma pegadinha, que ela não o deixaria.

—Verdade, ações valem mais do que palavras, não é? - Sorriu irônica.- Pena que as únicas que vi eram todas direcionadas para a sua prima! O beijo no galho, as palavras que para ela já o ouvi dizer milhares de vezes, o cuidado, o carinho... As atenções quase todas!

—Isso é mentira, Elvira, eu sempre estive com você. Sempre estivemos juntos.

—Por obrigação, Vougan! Sempre porquê você se sentia obrigado.

—Elvira...

—Chega! Saia daqui, Vougan. Saia!

Os dois ainda discutiram muito naquele dia, mas Elvira estava irredutível. E o relacionamento entre o príncipe e a Rainha das fênix chegou ao fim.

A notícia se espalhou rápido pelo reino. Todas as Vilas já estavam cientes, principalmente o rapaz que estivera na coroação.

Aliás, aquele homem estava dando uma baita dor de cabeça para Vougan.

—Eu o odeio. – O rapaz resmungou para ninguém.

Quando o relacionamento terminou, o príncipe chorou muito escondido entre as árvores. Primeiro queimou algumas, descontando a raiva, ( queimar é eufemismos, incinerou-as na verdade) e depois chorou.

Em pouco tempo (após um mês tentando se acalmar) resolveu que deveria cumprir sua promessa e ir atrás de Mayta. Agora que não tinha nada que o prendesse a floresta, Elvira poderia cuidar de tudo. Ela não permitia que ele se aproximasse para ajudar em nada, de qualquer forma... Sua prima, por outro lado, poderia estar precisando dele.

Foi quando Alana lhe chamou a razão.

—Você não vai!- Ela invadira o quarto do sobrinho onde o mesmo revisava mentalmente o que poderia levar naquela viagem.

—Nada me prende aqui.- Respondeu calmo enquanto separava a roupa que tinha conseguido no “mercado-negro” do reino. Eram, principalmente, fênix que roubavam coisas e trocavam por outras de seus interesses. Tinham uma Vila “clandestina”, sem Damas, que se movia constantemente para nunca serem pegas. Roupas eram o mínimo comparado com outras mercadorias...

—Mayta não precisa de você.- Respondeu a tia sentando em uma cadeira perto da porta.

—Como sabe? Ela pode estar em perigo.

A princesa suspirou.

—Tenho certeza que lá fora não é seguro, mas ela tem mais chances sem você.

O rapaz finalmente parou o que estava fazendo e olhou para a mulher com atenção.

—O que quer dizer?

—Quero dizer que Mayta não parece uma fênix. Ela pode se passar por humana. Você, por outro lado, não teria como fingir! Seus olhos são da cor do fogo. Se, por uma sorte tremenda ou puro milagre, conseguisse chegar até Mayta, a estaria entregando para os humanos. Você a prejudicará!

Vougan sentou na cama e fechou os olhos. Não pensara daquela forma. Estava tão desesperado por ajudar a prima que nem tinha refletido sobre coisas tão básicas. Alana estava certa. O que faria então?

Vendo o desespero do sobrinho a tia suspirou e resolveu se meter mais um pouquinho.

—Em vez de se preocupar com quem não pode ajudar, que tal lutar pelo que você quer?

—O quê?

—Elvira.

Ele ficou mudo.

—Não venha me dizer que não se importa com a Rainha.

—Eu me importo, mas ela está decidida, ela...

—Está saindo com outro.

—O quê? Com quem? - O príncipe se exaltou. Seus punhos se fecharam tentando controlar a raiva que o invadia com a novidade. A ideia de Elvira saindo com qualquer um que não fosse ele o deixava maluco!

—Você sabe... Aquele garoto da coroação.- Deu de ombros.

—Ela não perdeu tempo.- Um sorriso sinistro se abriu em seus lábios e os olhos queimaram perigosamente.

—Ela quer esquecê-lo. Você já judiou demais daquele coração.- Afirmou Alana, sem medo algum do olhar homicida no jovem. Conhecia bem o sobrinho e sabia que, para ela, ele não apresentava perigo algum. Já para o concorrente... Não estava tão certa.

A raiva começou a ser substituída pela culpa e ele abriu as mãos, as encarando firmemente, em uma tentativa falha de evitar o olhar da tia.

—Não fiz por mal.

—Mas fez.- A mais velha o encarou curiosa. Ela já sabia a resposta, mas perguntou mesmo assim- Vougan, querido, você a ama?

Ele riu sem alegria alguma.

—Por que todos me fazem essa pergunta?

— Talvez porquê você nunca a responde.

—Eu sempre respondo.

—Então responda mais uma vez, por favor, porquê não ficou claro. – Alana começava a perder a paciência.

—Eu faria tudo por ela. Morreria por ela. – Ele ainda não a encarava .

—E você continua sem me responder.- Usou a mesma voz que empregava quando o príncipe era uma criança e aprontava algo. Começou a bater o pé.

—Como se pode morrer por alguém sem a amar?

A tia suspirou.

—Pessoas morrem por reis e rainhas que nem conhecem. Pela fé em algo. Amam uma figura. São leais e morrem por essa lealdade. A minha pergunta foi se você ama Elvira como mulher. Se morreria por ela, não como guerreiro ou príncipe, mas como homem.- Ela esperou, porém ele continuava calado. Perdeu a paciência e tentou mais uma vez- E então? Qual é a resposta?

Vougan ainda demorou alguns minutos, porém, por fim, a fitou nos olhos. A irmã da falecida Rainha pôde enxergar ali todo o peso que saia dos ombros do rapaz ao finalmente admitir em voz alta o que ambos sabiam há anos.

—Eu a amo mais do que jamais amarei qualquer outra mulher.

A tia riu com os cantos dos lábios satisfeita. Enfim!

—Pois então lute por ela! Ao invés de fugir atrás de sua irmã...

O príncipe sabia que a irmã a quem a tia se referia era Mayta. Sorriu para Alana.

Desde então Vougan dedicara os últimos tempos a tentar reconquistar a mulher que sempre o amou, mas não teve sucesso. Elvira o evitava a todo custo. Passava a maior parte do dia dedicada a seus deveres de Rainha e o resto do tempo entre passeios com o novo pretendente ou cuidando de assuntos pessoais. Não queria ver Vougan nem pintado de ouro.

—O que eu faço, meu Sol?

Questionou antes de se transformar em pássaro e voltar para a Vila.

OoOoO

Longe dali, Marlon levava o antigo berço de Mayta para o quarto do casal. Começava a arrumar as coisas para a nova bebê que chegaria. No entanto, seus pensamentos não eram de felicidade. Já se passara mais de um mês desde que a filha fora banida e o pai do pássaro do gelo ainda não conseguia se conformar. Na época se revoltara e quisera ir tirar satisfações com a nova Rainha, mas Alana não permitiu. Os dois já haviam chorado e brigado muito desde que toda a confusão aconteceu.

Entretanto, ultimamente sua mulher nem parecia mais sentir falta da filha mais velha e Marlon estava muito incomodado com isso. Por que Alana estava tão indiferente? Mesmo que o bebê fosse uma alegria que o Sol concedeu aos dois, não era suficiente para que Marlon esquecesse a outra benção de sua vida que fora, ele tinha certeza, injustiçada.

Entrou no quarto e encontrou Alana sentada no parapeito da janela. Seus olhos, antes perdido no céu, encontraram os do marido e ela sorriu.

—Olá, querido.

Ele nada respondeu. Apenas colocou o berço ao lado da cama.

—O que foi, Marlon? – Alana se levantou calmamente e aproximou-se do companheiro. Alguma coisa estava errada.

Ele se virou para ela e os dois se encararam.

—Não aguento mais, Alana.

—O quê? Aconteceu algo? - Ela o fitou preocupada.

—Não, esse é o problema.

—Não estou entendendo.- Arqueou as sobrancelhas curiosa.

—Eu é que não estou entendendo nada! Não entendo você, Alana, como consegue? Como está tão calma sabendo que nossa filha está por ai perdida no mundo, provavelmente sofrendo? Como consegue ser tão indiferente? E não venha me dizer que é por causa do novo bebê!- Sem perceber Marlon começou a gritar.

—Se acalme.

—Não, Alana, chega de calma. Eu não SUPORTO mais calma! Me diga, o que está acontecendo com você?

Nesse momento a irmã de Almira começou a chorar. Escondeu as mãos no rosto e parou de tentar controlar o que estava prendendo com tanto cuidado. Marlon imediatamente se arrependeu e tentou abraçar a esposa.

—Não encosta em mim! - Ela gritou o empurrando.- Não ouse, depois de me acusar assim, encostar em mim! Como pôde? De todas as pessoas do mundo, como você pode não saber o quão desesperada estou por Mayta? Você, que supostamente me conhece melhor do que qualquer um?

—Alana... Você anda tão calma, tão estranha, eu não sabia o que achar, não...- Marlon começou a se desesperar. Pelo Sol, o que fizera?

Ela se segurou na mesa de cabeceira e o marido observou os dedos da mulher começarem a queimar a madeira. Ela também percebeu e respirou fundo tentando se acalmar.

—Eu estou muito preocupada, na verdade estou ficando maluca de preocupação e raiva! Penso em nossa filha em todos os segundos de minha vida. Penso e tenho vontade de sair voando na mesma hora para trazê-la de volta para casa, além de dar uma boa surrar em Elvira por deixar essa injustiça acontecer!

As lágrimas finalmente pararam e Alana encarou o marido mais uma vez.

—Mas eu não posso fazer nada, Marlon, NADA. Essa impotência está me matando. Brigar com Elvira não adiantaria e ir atrás de Mayta poderia prejudica-la! Você estava muito alterado, talvez tivesse feito uma besteira. Eu tive de manter a razão...- Respirou fundo- Eu tive de dar suporte aos meus sobrinhos que perderam os pais e assumiram o governo de todas as Vilas. Eles precisam de alguém que dê um norte para o dois. Eu perdi uma irmã no mesmo dia que tive minha filha banida e precisei manter essa família funcionando! Eu quase perco a sanidade...

As lágrimas voltaram.

— E agora... Agora vou ser mãe de novo. Carrego mais um bebê. Tenho que ter cuidado na minha condição, evitar emoções fortes. Não posso falhar como mãe de novo. Não posso perder mais uma filha... Eu não suportaria... Eu não...

Ele finalmente enlaçou a mulher em um abraço e ela, após poucos instantes de hesitação, escondeu o rosto em seu ombro. Como não percebera o desespero de Alana? Que ela sentia tudo aquilo tanto quanto ele? Que fingia a calma? Que estava suportando todo o peso sozinha?

—Me desculpe.- Ele sussurrou.- Nós vamos fazer isso funcionar. Nós vamos conseguir.

—Eu sinto tanta a falta dela...

—Fui idiota, Alana, deveria ter percebido seu sofrimento.

Ela suspirou.

—Não, meu querido, você está preocupado com Mayta também. Eu entendo, é muito para processar...

O homem negou com a cabeça.

—Eu estava errado. Devia ter percebido a sua dor. Fui egoísta.

Os dois se abraçaram mais forte.

—Nós vamos vê-la de novo, Marlon? Algum dia?

O marido pensou um pouco para em seguida sussurrar.

—Ela é forte. Com certeza está bem.

—Você não respondeu.- Fitou o companheiro nos olhos.

—Nós vamos vê-la, Alana. Eu prometo.

E pediu ao sol, silenciosamente, que não estivesse mentindo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Muitas lágrimas... E agora? Será que Vougan vai conseguir Elvira de volta ou é tarde demais? Finalmente Alana admitiu a dor.
O que acharam do capítulo? Onde preciso melhorar? Várias perguntas... Comentem e deixem essa autora feliz.
Bjs



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Pássaro do Gelo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.